Resumo: Estes apontamentos crítico-reflexivos problematizam a conjuntura comunicativa, a partir da análise da investida conservadora da última década. Nesse período, os rearranjos estratégicos dos monopólios midiáticos têm desenhado estratégias eficientes de criminalização, restrição, espionagem e desprestígio das vertentes democrático populares na América Latina. O objetivo central é contribuir para o fortalecimento do pensamento crítico em comunicação. Os argumentos são construídos em diálogo com Sartre, Mattelart, Assange, Harnecker, Chomsky, Ianni, Eco, Verón, Ford, Toscani, Harvey, Clausewitz, Giap, Hobsbawm, Gates Jr. e Marx. As investigações críticas confirmam a ofensiva das oligarquias, na sua pretensão de manter as atuais configurações de poder, excludentes, autoritárias e injustas.
Palavras-chave:Pensamento críticoPensamento crítico,investigação transformadorainvestigação transformadora,cidadaniacidadania.
Resumen: Estos argumentos crítico-reflexivos problematizan la coyuntura, a partir del análisis de la ofensiva conservadora de la última década. En ese período, las reformulaciones estratégicas de los monopolios mediáticos han diseñado estrategias eficientes de criminalización, restricción, espionaje y desprestigio de las corrientes democrático populares en América Latina. El objetivo central es contribuir al fortalecimiento del pensamiento crítico en comunicación. Los argumentos son construidos en diálogo con Sartre, Mattelart, Assange, Harnecker, Chomsky, Ianni, Eco, Verón, Ford, Toscani, Harvey, Clausewitz, Giap, Hobsbawm, Gates Jr. y Marx. Las investigaciones críticas confirman la ofensiva de las oligarquías, en su pretensión de mantener las actuales configuraciones de poder, excluyentes, autoritarias e injustas.
Palabras clave: Pensamiento crítico, investigación transformadora, ciudadanía.
Keywords: Critical thinking, transformative research, citizenship
Ensayo
Transmetodologia em tempos de fascismo social
Transmethodology in social fascism times
Transmetodología en tiempos de fascismo social
Recepção: 21 Setembro 2016
Aprovação: 08 Dezembro 2016
As pesquisas que embasam esta argumentação mostram que os 625 milhões de latino-americanos1 são confrontados no dia-a-dia com intensa produção dos sistemas midiáticos oligárquicos. Os casos paradigmáticos de Brasil, Argentina, Venezuela e México comprovam as estratégias de poder simbólico, político, econômico e social realizadas. Constata-se que, não obstante as mudanças de enquadramento jurídico, em especial na Argentina e na Venezuela, os grupos oriundos do poder tradicional têm conseguido manter uma presença decisiva, constante e efetiva, nas formações sociais latino-americanas. É esclarecedor o caso do jornalismo oligárquico que utiliza recursos retóricos milenares, técnicas contemporâneas (enquadramento, agendamento, novos modos de montagem, estrutura sintética cartesiana do texto, modelos midiáticos mistos, recursos multimidiáticos e transmidiáticos), e articulações transnacionais (econômicopolíticas) para desenvolver suas estratégias e suas táticas de poder.
Uma visualização diacrônica desse processo no século XXI comprova que, com o início das mudanças socioculturais e políticas na Venezuela, os sistemas midiáticos oligárquicos latino-americanos e transnacionais programaram uma guerra simbólica sistemática e cotidiana para desprestigiar, desestabilizar e destruir os processos de democratização participativa e popular na região. Foi assim, que de maneira precursora organizaram e realizaram o golpe de estado de abril de 2002 na Venezuela; fato histórico muito bem documentado pelos documentaristas irlandeses que produziram A revolução não pode ser televisionada2, e que depois os comunicadores e pesquisadores venezuelanos aprofundaram e ampliaram no documentário Puente Llaguno, claves de una masacre3. Esse momento de ruptura permitiu que o governo democrático-popular compreendesse a importância da existência de meios de comunicação comunitários e alternativos nas sociedades em processo de mudança; lamentavelmente, os obstáculos burocráticos, as artimanhas dos poderes tradicionais e as limitações técnicas e organizativas dos coletivos comunicativos não permitiram a estruturação de um processo de ampla penetração nos diversos setores sociais da formação social venezuelana.
Argentina passou em inícios do século XXI por uma das piores crises da sua história, as políticas neoliberais, aplicadas pelos governos ditatoriais e pelo governo Menen, levaram a economia do país à bancarrota em 2001; os altos índices de pobreza, mantidos sob controle, no caso desse país, se expandiram e alcançaram um expressivo setor da população; as empresas quebraram; a poupança foi sequestrada; a fuga de capitais foi intensa; cinco governos foram constituídos em dez dias, a partir de 19 de dezembro de 2001. O desemprego afetou a 70% dos argentinos, entre 18 e 29 anos. As antigas políticas nacionalistas de industrialização, distribuição de riqueza, organização social forte, tinham dado passo às receitas inspiradas na Escola de Chicago: conversibilidade peso/dólar, valorização financeira, facilidades aos capitais especulativos, concentração intensiva da riqueza, liberalização de circulação aos grandes capitais transnacionais. O resultado foi catastrófico em termos sociais e econômicos.
Nessa conjuntura, o peronismo democrático-popular presidido por Néstor Kirchner e Cristina Fernández resgatou Argentina da falência, reformulou as políticas econômicas, sociais e midiáticas, e ofereceu para América Latina uma alternativa, jurídica democrática justa, sobre o ordenamento midiático nacional. De fato, a distribuição de frequências eletromagnéticas passou a ser paritária, entre os setores governamental, privado e comunitário. Foram constituídos meios de comunicação educativos, de ampla cobertura multimidiática, como o Canal Encuentro4, que tem oferecido um conjunto valioso de produções para estudantes, professores, comunicadores e cidadãos argentinos e latino-americanos. Essa experiência comprova a fortaleza de arranjos midiáticos, bem produzidos, para comunicar dimensões de difícil acesso para o cidadão comum, como a Filosofia aqu. y ahora . Mentira la verdad, que no caso do Encuentro obtiveram amplo reconhecimento dos e das internautas.
As políticas de democratização da comunicação provocaram reações violentas dos setores oligárquicos da região. No caso argentino, o grupo El Clarín que havia estruturado, em cumplicidade com os governos ditatoriais, um monopólio midiático (Cfr. Kalikoske, 2014, p.145-154) – disposição comercial impedida na nova legislação –, iniciou uma confrontação simbólica, jurídica e política intensa contra os governos democráticos. É relevante apontar que a retórica, desses meios, seguiu as orientações definidas nas organizações transnacionais, de poder hegemônico, neoconservadoras e neoliberais, que orientam a produção discursiva de suas afiliadas na América Latina. Os operadores semânticos: corrupção, totalitarismo, ditadura, caos econômico, terrorismo, ausência de liberdades, têm sido operacionalizados nas publicações de maior cobertura regional. Os telejornais, as revistas, os jornais impressos, os blogs e os sistemas multimídia, ao serviço das corporações oligárquicas, têm articulado uma produção simbólica concentrada na fabricação de acontecimentos e pseudo-realidades que t.m favorecido os interesses dos grupos tradicionais de poder oligárquico. Na atual conjuntura, as teorizações sobre o príncipe eletrônico de Octavio Ianni (2000, p. 139-166) se atualizam com vigor, mostram seu dinamismo e eficiência na fabricação de mentiras que parecem verdades (Eco & Bonazzi, 1980, p. 15-67). O fato, é que os sistemas midiáticos oligárquicos conseguem, temporalmente, neutralizar a indignação da maior parte dos cidadãos conscientes. Os grupos de poder continuam a produzir grandes abusos contra regimes democráticos, como o último golpe de Estado ao governo Dilma Rousseff no Brasil, o qu. demonstra a fragilidade das estruturas políticas republicanas na América Latina; e, concomitantemente, a perversidade e as limitações das oligarquias regionais para aceitar e conviver em sociedades democráticas.
As intervenções repressivas, do governo conservador de Maurício Macri na Argentina, e do governo golpista ilegítimo de Michel Temer no Brasil, nos meios de comunicação públicos, o desrespeito às legislações democráticas sobre mídias, que foram formuladas mediante processos de reflexão e aprovação democrática, comprova que, para as elites tradicionais latino-americanas, os modelos autoritários, antidemocráticos e exploradores devem ser atualizados e fortalecidos na região; em profunda contradição com os interesses do conjunto das formações sociais. Nessa linha, a desmontagem da EBC, do Canal Encuentro, da Tal.tv, e de outros, numerosos, projetos de democratização comunicacional, está na ordem do dia dos governos neoconservadores latino-americanos.
Na atual conjuntura de investidas do fascismo social transnacional (Harnecker, 2014, p. 64-73; Mattelart, 2015, p. 6-26; Chomsky, 2004, p. 77-112; Assange, 2014, p. 13-73), que expressa seus interesses nas organizações neoliberais e neoconservadoras das oligarquias midiáticas nacionais, é crucial e estratégico, retomar a valorização da reflexão, da análise, da pesquisa, da realização de projetos que ampliem e aprofundem a crítica das estruturas sociomidiáticas e políticas tradicionais; as quais impedem a democratização da comunicação, afetam ao conjunto social com a instauração de regimes e modos de vida que atentam contra o bem-viver e promovem a redução das capacidades inventivas humanas, mediante a proliferação de culturas lixo, em especial a presença das culturas da violência contemporâneas.
Em concreto, é necessário trabalhar confluências entre a produção de conhecimento estratégico, sabedorias ancestrais, étnicas, comunitárias e pesquisa multimidiática atual. Os processos comunicacionais renovados precisam de pensamento, investigação e projetos que incentivem a transformação cultural integral da realidade midiática hegemônica atual. Pesquisa epistemológica, pesquisa teórica, pesquisa metodológica, pesquisa de sujeitos comunicantes, pesquisa de culturas midiáticas, pesquisa da produção publicitária, jornalística, de ficção. Quer dizer, a pesquisa multidimensional dos processos transmidiáticos e multimidiáticos tem que ser feita com rigor, entusiasmo e compromisso ético-político de mudança numa perspectiva transmetodológica.
Os processos de midiatização das sociedades, produzidos de modo acelerado, intenso e tecnológico-industrial aconteceram durante o século XX (Mattelart, 2009, p. 151-204; Verón, 2004, p. 239-263; Ford, 1999, p. 169-223; Martín-Barbero, 2002, p.383-454). No entanto, cabe considerar como antecedentes a emergência das revoluções tecnológicas, acontecidas a partir da segunda metade do século XVIII, a instauração dos modos de produção capitalista e a estruturação política de sociedades regidas por modelos de democracia liberal representativa no século XX. Esse conjunto confluiu em lógicas que situaram as inter-relações entre os sistemas midiáticos e os sistemas econômicos como necessárias, centrais, decisivas e funcionais (Maldonado, 2013, p. 31-57). A circulação dinâmica do capital precisou, cada vez mais, da indústria da publicidade, das suas técnicas, dos seus discursos, das suas artes, das suas retóricas, das suas artimanhas e das suas criações para estruturar sociedades de intenso e dinâmico consumo de bens simbólicos e de bens materiais (Toscani, 1996, p. 161-172).
Na América Latina, em poucas décadas, experimentou-se a mudança de modos de vida rural para modos de vida urbanos, no período 1960-1990. As estruturas pré-capitalistas, importantes na maioria dos países da região até os anos 1950 foram articuladas, modificadas e funcionalizadas em modos de vida “modernos”, ao serviço dos grandes capitais transnacionais e das oligarquias locais, mediante a intensa exploração do trabalho assalariado das populações latino-americanas (Furtado, 2011, p.127-159). O dinamismo do setor de serviços, majoritário na região, só é compreensível pela ampla produção de publicidade, que apoia e constrói as culturas de consumo, estreitamente vinculadas aos usos e apropriações das pessoas em interrelação com os sistemas midiáticos. Os aprendizados, as competências, as alienações, as reduções, os condicionamentos e os costumes cotidianos de existência são configurados em estreita relação com os sistemas midiáticos (Mattelart, 1991, p. 115-125). Esses, para nossa época, alcançaram níveis de penetrabilidade, funcionalidade, condicionamento, formação de gostos e definição de preferências, que os constituíram no príncipe eletrônico; intelectual orgânico das oligarquias, em seu agir cotidiano para manter as estruturas anacrônicas de exercício político e de vida cultural. Na dimensão econômica, a péssima distribuição da riqueza, muito bem demonstrada pelos mais importantes núcleos de pesquisa do mundo (Piketty, 2015, p. 9-34; Harvey, 2014, p. 89-186); atualizam Karl Marx na sua argumentação sobre o caráter selvagem, perverso, injusto e destrutivo do capital (Marx, 2011).
Na última década e meia, que compreende o século XXI vivido, os avanços comunicacionais, socioculturais, políticos e econômicos construídos na América Latina, pelos setores transformadores de diferentes classes sociais, permitiram a constituição de movimentos sociocomunicacionais relevantes e de plataformas multimidiáticas de comunicação de qualidade (educomunicativas, informativas, artísticas, lúdicas, opinativas e de entretenimento fecundo). Essas mudanças têm afetado significativamente aos poderes oligárquicos – dos “latifúndios midiáticos” –, que até finais do século XX estavam costumados a controlar uma altíssima porcentagem da produção simbólica e informativa da região. Cabe salientar que, com a invenção da internet (rede de redes), a circulação de mensagens quebrou o controle e a exclusividade dos grandes grupos midiáticos transnacionais e regionais sobre a informação. Não se trata, contudo, do fim de sua hegemonia, que continua vigente e atua no dia-a-dia das sociedades latino-americanas; porém, seu poder tem sido diminuído pela constituição de milhares de meios de comunicação alternativos, os quais oferecem visões de mundo distintas ao pensamento único, concentrado na matriz cultural nomeada como american way of live (modo de vida estadunidense).
Nas novas configurações midiáticas, a diversidade cultural latino-americana, e mundial, é apresentada de múltiplas formas e modos para milhões de latino-americanos. O cinema, a produção audiovisual, a produção musical e as produções multimídia baseadas em referentes importantes, da arte e da cultura latino-americana, chegaram às comunidades nas quais os sistemas midiáticos industriais analógicos das oligarquias impediam sua presença. Os amplos e ricos processos de compartilhamento e de socialização intercultural tiveram, nestes primeiros lustros do século, uma significativa penetração, apropriação e valorização que atingiu aproximadamente 1/3 da população regional (mais de 200 milhões de cidadãos). Esse indicador “inexato” se expressa na postura crítica, transformadora, que os movimentos sociocomunicacionais fabricam na confrontação midiática com as oligarquias e seus porta-vozes. Com efeito, a maioria da população, nos diferentes países, ainda acredita na ilusão capitalista de que qualquer um pode ser rico (econômico); supõe que há uma vida livre para as escolhas (midiáticas, simbólicas, políticas); acha que os problemas centrais das formações sociais não são estruturais, mas sim circunstanciais (fabricação oportunista de “celebridades do mal”). A cultura política do senso comum é carente de conhecimentos e experiências democráticas; a “política” consumida no dia-a-dia é a do espetáculo, que as mídias comerciais fabricam sobre os jogos de poder contemporâneos, obliterando as causas, os fatores, as classes, os sentidos e as realidades por trás dessas operações.
Na fase histórica atual, de investida do fascismo social, que se expressa politicamente nas mídias, nas organizações e nos partidos neoconservadores e neoliberais, que o imperialismo e os grupos oligárquicos atualizam e trabalham mediante recursos de ciberwar . cibernet (Mattelart, 2015, p. 488-550; Assange, 2014, p. 25-43) para manter o controle sociopolítico e cultural das pessoas/midiatizadas em formatos combinados de caráter digital e analógico. A conjuntura no Brasil é esclarecedora: uma observação sistemática da produção midiática durante os últimos 13 anos mostra que os grupos hegemônicos desenharam estratégias jornalísticas de ataque sistemático a toda atividade de gestão governamental local, estadual ou federal, de caráter democrático popular. O objetivo estratégico central, dessas ações, tem sido deslegitimar as políticas sociais, as políticas de apoio à economia solidária; as políticas de ajuda aos setores excluídos; as políticas de inclusão de etnias e de classes populares na educação superior; as políticas de fortalecimento da unidade latino-americana; e as políticas de soberania internacional, que têm fomentado a diversificação de mercados, as inter-relações sul-sul e as trocas e aprendizados comuns com as potências emergentes.
Os discursos midiáticos de criminalização, de distorção, de manipulação, de redução e de mentira sistemática foram assumidos pelos grandes grupos de mídia oligárquicos, no Brasil e na América Latina, de maneira coerente com o seu caráter de príncipes eletrônicos que atuam para garantir seus exorbitantes privilégios econômicos, políticos e sociais. Essas produções midiáticas têm afetado significativamente os processos de socialização e democratização da América Latina; em alguns casos, como o venezuelano, a guerra midiática é combinada com guerra econômica . guerra política (Harnecker, 2014, p. 64-73). No caso da Argentina, Brasil, Paraguai, Equador, Bolívia, Honduras, Colômbia, México e Cuba a guerra midiática é preponderante, e produz conjuntos de efeitos de sentido no campo econômico e no campo político, que mostram a eficiência dos estrategistas neofacistas, na posta em cena dos seus programas de fabricação do autoritarismo, da alienação, da violência e da pobreza (Assange, 2014, p. 13-31; Chomsky, 2004, p. 220-240; Maldonado, 2015, p. 217-236; Mattelart, 2015, p. 92-152).
Uma visão histórica desses processos mostra como as lógicas da guerra, da política, da economia e da cultura se misturam na estruturação, funcionamento e dinamização das formações sociais (Hobsbawm, 2011; Chomsky, 2004, p. 17-55; Clausewitz, 1972, p. 135-157; Giap, 1976, p. 13-67). Na história latino-americana, desde a época colonial, a intervenção das potencias do hemisfério norte tem afetado intensamente a vida das pessoas na região (Galeano, 1999, p. 15-90; Ribeiro, 2007, 463-478; Ianni, 2000, p. 33-63); as maiores e mais sangrentas guerras e genocídios foram arquitetados, produzidos e apoiados pelos poderes mundiais, que desde o século XVI trabalharam para a acumulação origin.ria do capital centrada na usurpação das riquezas materiais e culturais dos povos, indo e afro-americanos (Marx, 1973, p. 623-686; Hobsbawm, 1995, p.29-219; Chomsky, 2004, 17-55; Harvey, 2014, p. 281-304; Galeano, 1999; Gates Jr., 2014, p. 208-250). Nesta primeira década e meia do século XXI, quando América Latina constituiu a UNASUL (União de Nações Sul-Americanas), a CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) e articulou a interrelação democrática entre os diversos países da região, ao promover políticas de negociação em benefício mútuo, os grupos de poder mundial, e seus sócios latino-americanos, reagiram com virulência provocando crises, conflitos, confrontos e violência cotidiana. As dezenas de milhares de vítimas dessas ações constam como prova histórica de sua perversidade. Nos nossos dias, ecologistas, mulheres, indígenas, professores, jornalistas, estudantes, ativistas das lutas relacionadas ao gênero, artistas, militantes de movimentos sociais, e cidadãos pacifistas são agredidos, desaparecidos, torturados, assassinados pelas lógicas da violência promovidas pelos centros de poder local, regional e transnacional.
Não é possível mudar os modos de vida anacrônicos, perversos, misóginos, oligárquicos, racistas, xenofóbicos, patriarcais e injustos nos quais existimos sem atividades sistemáticas de produção de conhecimento, de educação pela libertação e de pesquisa transformadora em ciências da comunicação. O príncipe eletrônico, na sua soberba midiática, precisa ser confrontado por investigações, análises, observações, compreensões e desestruturações a partir do comunicacional e midiático como eixo de articulação de teorias e de pesquisas interdisciplinares, que necessitam combinar conhecimentos diversos, em confluências fecundas, para desestruturar os poderes oligárquicos contemporâneos.
Para isso é imprescindível o exercício epistemológico contínuo, sistemático, inventivo e amplo, que torne possível uma crítica metódica, densa, profunda e transformadora das estruturas e modos de existência capitalistas (Sartre, 2012, p. 159-187). Os sistemas midiáticos e os processos de midiatização não devem ser pesquisados fora dos (macro) contextos contemporâneos (Mattelart, 1994, p. 195-219; Santos, 2002, p.171-212); investigar fatos, mensagens, discursos, símbolos, técnicas, dispositivos, instrumentos e culturas midiáticas de modo fragmentado . próprio do conservadorismo intelectual e acadêmico. A pesquisa crítica necessita visualizar a integralidade dos processos e dos fenômenos; precisa também, definir as limitações, as carências, e os obstáculos comunicativos. A investigação crítica requer, igualmente, esclarecer os entraves à produção de conhecimentos e demanda, para sua superação, a compreensão do sistema mundo contemporâneo; nele, a pesquisa da comunicação mundo é crucial para entender os modos de pensar, de agir, de usufruir, de sofrer, de conversar, de produzir, de imaginar e de se alienar das pessoas e de nosso tempo.
Os sistemas midiáticos oligárquicos vigentes penetram o cotidiano da grande maioria dos latino-americanos de maneira intensa, eficiente e reiterada. Esses complexos industriais, empresarias e tecnológicos produzem milhares de discursos, que enquadram, agendam, formatam, condicionam, delimitam e reduzem as possibilidades comunicativas da sociedade. Os resultados dessa ação, depredadora, são constatados nas opções políticas: é ilustrativa, nesse sentido, a eleição em 2014 de um congresso, no Brasil, que, pelo seu conservadorismo, poderia ser do século XVII. E as vitórias de candidatos neoliberais/ conservadores na Argentina, no Peru, no México, no Panamá, em Honduras, no Paraguai, na Guatemala e na República Dominicana. Também são verificadas correspondências entre a lógica midiática oligárquica e os comportamentos violentos, enganosos, não solidários, xenofóbicos, racistas e segregacionistas de um número expressivo de pessoas vinculadas ao golpe contra o governo democrático de Rousseff. Nesse processo, têm sido frequentes ataques a artistas, intelectuais, produtores culturais, ativistas sociais, religiosos, cidadãos comuns e pensadores que ousam questionar o sistema de privilégios seculares das elites oligárquicas no Brasil. Os valores e ideologias excludentes e retardatários, dos donos da mídia5 se manifestam com força nas atitudes, condutas e comportamentos de fascismo social, expostos em opiniões dos públicos, em especial nas mídias digitais.
O poder conservador, que soube muito bem ocupar os espaços televisivos com seus pregadores/vendedores, desenhou estratégias de ocupação dos ambientes digitais que têm provocado a proliferação de meios radicais neofacistas, amplamente financiados pelas oligarquias. As forças das direitas políticas no Brasil retomaram o ativismo, a rua, as mobilizações e a presença prepotente, de épocas ditatoriais, a partir de 2013 no Brasil; e conseguiram confrontar às esquerdas políticas mediante grandes mobilizações, promovidas de forma intensa pelos sistemas midiáticos hegemônicos e pela alta burguesia financeira. Os espetáculos planejados, preparados e realizados com setores subservientes do judiciário, vinculados ao que de mais perverso e retardatário tem no país, mostram a convergência midiática articulada em estratégias muito bem estruturadas, que seguem as orientações concebidas e desenvolvidas nos centros de poder mundial (Assange, 2014, p.220-231; Chomsky, 2004, p.189-219; Wallerstein, 2006, p.97-140).
A superação histórica do capitalismo selvagem, sistema que o complexo informacional/militar industrial e as elites conservadoras mundiais sustentam em seu proveito, requer, entre seus principais componentes, da definição de estratégias de produção de conhecimento transmetodológicas, que problematizem a complexidade do real histórico com densidade, força e inspiração transformadora. A transmetodologia propõe a junção dialética de estratégias de conhecimento provenientes de todos os campos científicos, mediante processos que desenhem as necessárias reformulações, reconstruções, invenções e operacionalizações. Para isso, a dimensão epistemológica necessita atravessar todos os níveis de pensamento e ação, tanto em termos de concepção quanto de realização construtiva de projetos. Em combinação com o anterior, a dimensão metodológica exige problematizações desestabilizadoras, que questionem os esquemas, as receitas, os modelos, os paradigmas e as estratégias hegemônicas que se constituíram em ciência oficial positivista, proclamada como pensamento único na construção estratégica de projetos, pesquisas, estudos e programas de formação de investigadores. A transmetodologia argumenta, assim, a favor do metodológico vivo, construtivo, inventivo, processual, experimental e transformador; ao propor a desconstrução (reconstrução, construção) dos arranjos metodológicos em todas as pesquisas, desde os mais simples até aos mais complexos, para definir estratégias e operacionalizações em profunda sintonia com as necessidades das classes subalternizadas, das etnias segregadas, dos setores socioculturais excluídos e do conjunto dos cidadãos.
Nos afazeres transmetodológicos a dimensão teórica é o núcleo aglutinador dos conjuntos de argumentos produzidos mediante a pesquisa teórica e é nessa perspectiva de recriação e reinvenção periódica de categorias, conceitos, noções, ideias e percepções que as definições e configurações teóricas cobram vida e sentido de transformação; a práxis exige uma existência fluída, em nutrição constante, em abertura rigorosa, em compromisso renovador dos afetos, das sensibilidades, das inteligências e das formulações. Em termos transmetodológicos o estudo organizado, sistemático e rigoroso de teorias é necessário; porém é insuficiente, a pesquisa requer, a partir da investigação teórica, que se trabalhe uma genealogia das ideias, dos conceitos, das categorias, dos modelos e das estratégias. A dimensão teórica exige problematizações que inter-relacionem o mundo concreto, real, histórico com os argumentos construídos na problematização dos problemas/objetos; simultaneamente, é necessário que esses construtos teóricos tenham autonomia, relevância, rigor; mas, ao mesmo tempo, que sejam atravessados pela vida, pela natureza, pela história, pelas exigências éticas, políticas e ecológicas da contemporaneidade.
A dimensão técnica, construída e pensada como teorias e metodologias em ato (Sartre, 2011, p. 80-143), torna possível operacionalizar os conceitos, as estratégias, as concepções, as táticas, os arranjos instrumentais. Os procedimentos técnicos, portanto, são condensações epistemológicas que possibilitam a concretização dos conhecimentos. A dimensão técnica reclama densidade, profundidade, e inteligências materializadas; ela resiste a ser reduzida a meros instrumentos fragmentados. A dimensão técnica é o locus metodológico da construção operativa de conceitos, procedimentos, táticas, estratégias, arranjos, ambientes, experimentos, observações, intervenções, participações, imersões, desconstruções, reconstruções e invenções concretas de conhecimento. O transmetodológico, por conseguinte, critica as concepções e práticas de pesquisa que limitam os afazeres técnicos à aplicação de receitas pré-estabelecidas; se bem há um conjunto valioso de propostas técnicas interessantes e fecundas, todo problema/objeto de investigação solicita desenhos e combinações próprios que garantam contribuições à produção de conhecimentos. Em sentido contrário, o costume generalizado nas práticas de pesquisa acadêmica, institucional e empresarial é naturalizar fórmulas “consagradas”, repetir procedimentos de moda, reduzir a problemática técnica à ordem instrumental das aplicações utilitaristas. Na perspectiva transmetodológica, é na dimensão técnica que o conhecimento mostra a riqueza de confluências epistemológicas, teóricas e metodológicas; é na técnica que se concretizam as estratégias, tácticas, opções e decisões construtivas em interrelação com o real, com o empírico. O problema/objeto/empírico é construído pelas técnicas; e, simultaneamente elas são constituídas pelas necessidades do objeto/empírico. Desse modo, a lógica dicotômica positivista tradicional é quebrada, superada, questionada; assim, também, é proposta uma alternativa metodológica que exige a fabricação de técnicas pertinentes a cada projeto, mediante a reflexão produzida pela investigação-da-investigação que nutre a formulação técnica com as experiências, desenhos e conhecimentos teóricos e metodológicos de pesquisas anteriores.
As cidadanias acadêmica e científica estão à ordem do dia, são opções necessárias na atividade investigativa, acadêmica, teórica e intelectual. No campo da comunicação, e dada sua relevância estratégica na estruturação das sociedades, é urgente promover uma cultura acadêmica de solidariedade que seja fecunda e confronte o instrumentalismo positivista com energia ao gerar resultados promissores para a transformação das sociedades. Na perspectiva transmetodológica a cidadania comunicacional é um componente importante da construção de novos mundos; primeiro, porque problematiza as estruturas midiáticas vigentes, que são uma expressão central da hegemonia oligárquica na América Latina. É assim que a produção de argumentos pertinentes e o exercício da cidadania comunicacional buscam desestabilizar a lógica de concentração da propriedade dos meios, em poucas famílias; essa aberração socioeconômica, de origem colonial e de caráter burguês conservador, estrutura enquadramentos jurídicos e econômicos que têm servido de base à construção dos seus oligopólios e monopólios midiáticos. Propor um exercício de cidadania, específico para o mundo social da comunicação, implica em conceber essa dimensão como decisiva nas relações, alicerces e configurações sistêmicas das formações sociais contemporâneas. Em termos socioculturais, o comunicativo delimita os encontros simbólicos produzidos por meio de processos, que configuram ambientes, contextos, campos, esferas, mundos, cenários (tempos/espaços) de troca, de compartilhamento, de comunhão ou de concorrência, situados historicamente em realidades contraditórias.
A cidadania comunicacional compreende, assim, aspectos de pertença e participação na construção das formações sociais e dos modos de vida comunicativos. Nessa ótica, as potencialidades, os talentos, os direitos, os acessos, as normas, os deveres, as competências, os conhecimentos, as tecnologias, os comportamentos, as culturas e as concepções, do âmbito comunicativo, requerem compreensão da problemática teórica de cidadania comunicativa, como um recurso importante de conhecimento e de construção de poder popular. Destarte, o agir político científico para a elucidação dos modos e das formas de configuração da cidadania comunicacional contribui para a construção de novos mundos de via social. E constitui uma dimensão indispensável dos processos de transformação sociocultural demandados pelas sociedades latino-americanas.
Na trama sociocomunicativa (política) contemporânea é imprescindível a produção teórica de conjuntos de argumentos sobre a interrelação estratégica entre o campo da comunicação e o campo científico. Os dois estão sob o controle dos poderes hegemônicos capitalistas e, portanto, é necessário desmascarar os significados políticos, econômicos, sociais e ecológicos que a tecnociência define, na sua atividade sistemática de produção de mais-valia, de destruição da natureza, de exploração do trabalho e de devastação do hábitat humano. Na ordem epistemológica, essa tarefa passa pela crítica rigorosa e sistemática do paradigma positivista, hegemônico academicamente e na ciência oficial, o qual captura a maioria dos recursos destinados à pesquisa estratégica, financiando projetos que garantem os interesses das oligarquias transnacionais e locais. Na dimensão comunicativa, a crítica passa pela desconstrução das lógicas, das práticas, das culturas e dos sistemas midiáticos oligárquicos, que se constituem em príncipes eletrônicos (intelectuais orgânicos da burguesia transnacional) produtores de ilusões, distorções e retóricas a favor dos interesses das elites imperiais e dos seus cúmplices locais.
Os processos históricos contemporâneos mostram claramente o caráter antidemocrático, conservador, autoritário, repressivo e neofacista do complexo informático/militar-industrial e dos seus sócios na América Latina. O golpe de estado contra o governo democrático de Dilma Rousseff, no Brasil, é a síntese do fazer conspirativo, do agir imperial neocolonial contra os povos latino-americanos. O desrespeito às eleições de 2014 com a imposição de um governo ilegítimo na formação social brasileira, esclarece qualquer dúvida em relação aos modos de ação das burguesias conservadoras e do poder transnacional em nossos territórios. Essa realidade reforça nossos argumentos sobre a necessidade de construir concepções e práticas de cidadania científica . cidadania comunicativa em interrelação fecunda. Nessa perspectiva, os cientistas críticos precisam assumir seu papel histórico de trabalhadores intelectuais estratégicos para a formulação de conhecimento transcendente para a transformação do mundo.
Na vertente transmetodológica os cientistas, como sujeitos históricos que exercitam sua cidadania, necessitam mudar as culturas acadêmicas (instrumentais, superficiais, performáticas, funcionais, tecnicistas); transformar as culturas de pesquisa (utilitaristas, dependentes, subservientes); e modificar as culturas sociais que os situam como uma “elite” desconexa em relação com os interesses do conjunto das formações sociais. O cultivo e o exercício de uma cidadania científica que pense e investigue o mundo, em todas as suas dimensões, é uma condição relevante da transformação geral da sociedade. Os cientistas comprometidos com a vida e com a humanidade, que trabalham pela superação da ordem mundial imperial, precisam produzir pensamento cidadão, orientar suas pesquisas em benefício das pessoas, reflexionar sobre os sentidos éticos de sua práxis, ampliar suas fronteiras disciplinares, e participar nas decisões políticas que definem novos modos de vida sociocultural para os cidadãos dos dos conglomerados transnacionais e do mundo. A vida científica não deveria estar restrita a aspectos técnicos, particulares e disciplinares, que reproduzem a tecnociência oficial ao serviço das transnacionais capitalistas; é necessário retomar as problematizações da filosofia da ciência (Bachelard, 2010; Cassirer, 1972; Sartre, 2011; Norris, 2007), da sociologia da ciência (Mills, 1995; Santos, 2002; Ianni, 2000; Bourdieu, Chamboredon & Passeron, 2003) e da antropologia da ciência (Koyré, 1991; Bateson & Bateson, 2000), que orientam para um agir cidadão transformador na vida científica.
Na perspectiva transmetodológica o exercício da cidadania comunicativa supõe um domínio dos saberes, dos processos, das experiências, dos conhecimentos, das condições, das culturas e dos modelos que regem a vida comunicativa contemporânea. Nessa lógica, a cidadania científica entra na cidadania comunicacional, ao orientar epistemologicamente suas práticas, seus exercícios de pensamento, suas operacionalizações e suas atividades comunicacionais. Essa perspectiva vai a choque com o senso comum acadêmico e investigativo, que reduz a problemática da cidadania à ordem liberal burguesa, que pensa os seus domínios nos termos jurídicos e políticos do século XVII. Pensar cidadania não implica tratar só de direitos, nem só de deveres; se é pensada em uma concepção transmetodológica, a cidadania combina várias dimensões de estruturação; ela tem como premissa o exercício de estruturação de mundos pelos sujeitos históricos comunicantes, os quais realizam processos conscientes, participativos e decisivos de construção (micro e macro) de configurações socioculturais (políticas, interculturais, cosmopolitas, econômicas, sociais, jurídicas, científicas, educativas, filosóficas, éticas, étnicas, sexuais).
Os grupos humanos constroem modos e formas de comunicação; estruturam meios, organizam intercâmbios, fabricam mensagens, geram processos, produzem encontros (de sensibilidades, percepções e sentidos), fabricam ambientes, cenários e dimensões de comunicação. Na atualidade, esses processos estão hegemonizados pelos sistemas midiáticos oligárquicos transnacionais e regionais; não obstante, há um amplo campo de exercícios de emancipação comunicacional; no qual, há redes de produtores de software livre, circuitos de informação mundiais, meios de comunicação críticos (de abrangência global), e processos tecnológicos fecundos de comunicação popular e alternativa que têm tido uma expansão quantitativa e uma estruturação qualitativa notáveis. Para a cidadania comunicativa é um desafio inventivo crucial socializar esse processo para o conjunto das formações sociais; é necessário quebrar a hegemonia dos sistemas midiáticos oligárquicos e para isso há condições favoráveis de produção comunicativa transnacional que devem ser aproveitadas. Porém, é indispensável gerar um questionamento estrutural das lógicas reprodutivas, dos métodos preponderantes, de formação dos comunicadores, dos pesquisadores, dos profissionais e dos professores. É incumbência da cidadania comunicacional trabalhar a pesquisa dos modos de interrelação dos sujeitos com os sistemas midiáticos; para desestabilizar seus costumes repetitivos, para agudizar suas fraquezas e para diminuir seus poderes de penetrabilidade nas mentes (na dimensão psíquica) e nos corações (na dimensão sensível) dos públicos.
É um desafio urgente formular e realizar projetos que trabalhem as interrelações entre cidadania científica . cidadania comunicacional como requisito indispensável para o desenvolvimento de projetos de transformação do mundo.
As concepções e os exercícios de cidadania requerem ampliação, aprofundamento e inventividade para se tornar uma cultura de amplo reconhecimento social nas formações contemporâneas. O agir transformador demanda uma práxis científica e acadêmica, que trabalhe no cotidiano da vida institucional, grupal e associativa culturas de solidariedade e de desestabilização da ordem burocrática da ciência oficial.
A produção coletiva de conhecimento precisa questionar estrategicamente os modelos hierárquicos e os costumes investigativos contemporâneos. O trabalho intelectual exige reformulações que o situem no mundo da vida, das sociedades contemporâneas, para quebrar os modelos de aristocracia intelectual, muito comuns na nossa época.
O esforço pela constituição de uma cidadania comunicacional expandida beneficiará, estrategicamente, os processos de transformação social e cultural. E, consequentemente a construção de um campo fecundo, de cidadania científica, é decisiva para o conjunto de mudanças necessárias nas formações sociais contemporâneas. A combinação de processos de construção e interrelação de cidadania científica e cidadania comunicacional, podem produzir novos ordenamentos, concepções e modos de vida de grande renovação para a humanidade.
E, por fim, a formação de comunicadores, pesquisadores, professores e de cidadãos interessados em trabalhar processos sociais de comunicação, necessita incluir, nos seus programas e projetos, o conhecimento organizado, profundo e crítico dos sistemas midiáticos oligárquicos e dos sistemas midiáticos e de informação transnacionais. Sem esse conhecimento os golpes de estado casuísticos, a cultura da violência sistêmica e o conservadorismo continuarão proliferando. Os movimentos sociocomunicacionais que têm feito um trabalho crítico relevante de confrontação com o poder político e midiático das oligarquias de Nossa América poderiam fortalecer estrategicamente seus coletivos e sua produção estabelecendo alianças, e compartilhando processos, com grupos, núcleos e equipes de pesquisa avançada para produzir combinações de cidadania comunicacional e de cidadania científica, que sejam fortes e estratégicas para a transformação.