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Editorial
Revista Educação Especial, vol. 30, núm. 59, pp. 559-562, 2017
Universidade Federal de Santa Maria
Editado por: Carlo Schmidt; Eliana da Costa Pereira de Menezes; Clenio Perlin Berni

Editorial

A formação inicial do professor e, em especial, a sua formação continuada, tem ocupado amplo espaço no cenário da educação brasileira nos últimos tempos, especialmente com a preocupação pela construção da Educação Inclusiva. Os cursos de formação do professor têm dado destaque para a aquisição de conhecimentos sobre fundamentos da Educação e da Educação Inclusiva (legais, epistemológicos, éticos), das características do aprendiz (do desenvolvimento normal às diferentes condições que condicionam necessidades educacionais especiais) e dos recursos didático-pedagógicos (metodológicos e materiais). As pesquisas e capacitações desenvolvidas parecem pressupor que o domínio de fundamentos, técnicas e recursos didático-pedagógicos, inclusive de altas tecnologias, garantiria ação docente competente. Já os aspectos afetivos e sociais, engendrados no processo educacional, não costumam ser considerados.

É proposta deste dossiê “Variáveis pessoais do professor e a sua formação para a Educação Inclusiva” ensejar debates sobre a necessidade de se considerar, na formação inicial ou continuada do professor, outro conjunto de condições que podem estar criticamente relacionadas à qualidade do ensino que os alunos com as mais variadas características podem encontrar na sua escola e na sua classe. Trata-se das variáveis pessoais do professor que vão além de seus conhecimentos técnico-científicos.

Assim como todos os seres humanos, os professores constroem crenças e expectativas a respeito de seus alunos e de seu desempenho escolar, sejam favoráveis ou desfavoráveis. Essas podem decorrer de uma percepção aguçada do professor devido à sua experiência profissional ou sensibilidade, mas, podem também ser fruto de preconceitos, influenciados por valores pessoais e culturais específicos, ou mesmo por vivências anteriores negativas e conceitos equivocados. As concepções, crenças, expectativas e atitudes sociais dos professores influenciam suas ações e interações com seus alunos, incluindo o público-alvo da Educação Especial.

O professor em seu ofício precisa tomar ciência desses elementos que interferem em seu julgamento dos alunos e, especialmente em sua ação docente, afetam estratégias pedagógicas individuais ou coletivas, o processo avaliativo e o incentivo e modelo que oferece quanto às interações sociais em sala de aula.

Os processos de formação deveriam gerar oportunidades para o autoconhecimento dos professores e buscar produzir mudanças, no sentido de desenvolvimento de condutas mais adequadas e eficazes para o processo de ensino e de aprendizagem, tendo em vista ampla diversidade de características e necessidades dos alunos.

O professor precisa ter um conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes e outras qualidades essenciais para a construção de boas relações interpessoais, não só na Educação Inclusiva, mas no exercício do papel docente em relação a qualquer aluno. A proposta do dossiê é a de examinar algumas dessas variáveis pessoais do professor.

A inclusão educacional é para todos os alunos e não apenas para aqueles com necessidades educacionais especiais. Na verdade, educação de qualidade para todos pode ser uma designação adequada. Mais amplamente, provisão de serviços de qualidade para todos pode ser ainda melhor, considerando que há parcelas de pessoas com deficiência, com tal nível de comprometimento que necessitam de serviços que a escola não pode oferecer, e nem por isso devem ser colocadas à margem do processo de inclusão.

Há especificidades determinadas pela própria diversidade, porém os princípios gerais são comuns a alunos com quaisquer características. Ou seja, é preciso ser um bom professor para atender as necessidades de qualquer aluno, valendo-se de recursos metodológicos e materiais em um trabalho conjunto com especialistas para tratar de particularidades específicas que requeiram procedimentos suficientemente diferenciados.

A inclusão é um processo contínuo e permanente, envolvendo todos os atores da instituição escolar: professores, alunos, gestores e demais servidores. Tal constatação decorre naturalmente da simples admissão da existência da diversidade a ser considerada rigorosamente em todo tipo de empreendimento coletivo, como o é a educação escolar.

A construção da inclusão depende de muitos ingredientes. No caso da inclusão escolar, o professor é um dos principais repositórios, considerando que dele pode depender, em grande extensão, a construção de relações interpessoais com cada um dos alunos e entre eles, de tal sorte a criar um ambiente social da classe propício à aprendizagem de todos os alunos. A intencionalidade do Dossiê de propor debate sobre as variáveis pessoais do professor, não representa nenhum reducionismo na análise do complexo fenômeno da inclusão. Em algum outro momento, poderão ser discutidos outros ingredientes que estão no plano da gestão escolar, das políticas públicas e da participação de todos os segmentos da população para a construção de uma cultura inclusiva.

O presente Dossiê destaca, portanto, pesquisas, reflexões e intervenções relacionadas às características pessoais de professores, em artigos elaborados por pesquisadores titulados e de reconhecida experiência na área, vinculados a renomadas instituições de ensino do país e do exterior.

Os textos tratam da formação de professores, inicial e continuada, na realidade brasileira, espanhola e portuguesa. Os autores espanhóis Eladio Sebastián-Heredero, no artigo “Competencias personales docentes para la Educación Inclusiva: una reflexión sobre lo que está ocurriendo en España” e Yolanda Muñoz Martínez, no artigo “Algunas lecciones aprendidas sobre las variables que afectan al desarrollo profesional de los docentes para la Educación Inclusiva”, discutem aspectos da Educação Inclusiva na Espanha, enfocando as competências necessárias ao professor e experiências de processos de formação docente, respectivamente. No artigo “Formação ativa e expressiva de professores: “bagunçando o coreto” para estimular a inclusão!”, Luzia Mara Silva Lima-Rodrigues apresenta reflexões sobre um processo formativo que utilizou técnicas expressivas realizados com professores em Portugal.

Os artigos abordam variáveis como concepções em relação à inclusão e à educação, discutidas no artigo de Sadao Omote e Carla Marinho, intitulado “Concepções de futuros professores a respeito da Educação Inclusiva e Educação Especial”, e no artigo de Gislaine Semcovici Nozi e Celia Regina Vitaliano, “Saberes de professores propícios à inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais: condições para sua construção”, que abordaram professores ainda em formação e professores já em serviço, respectivamente, através de suas concepções e conhecimentos sobre Educação Inclusiva e Educação Especial.

As atitudes sociais em relação à inclusão e possibilidade de modificá-las, são discutidas por Camila Mugnai Vieira, no artigo “Mudança de atitudes sociais de professores em relação à inclusão: transformação junto com alunos”, no qual relata resultados obtidos em um processo formativo que modificou tanto as atitudes dos estudantes quanto as dos professores, de modo a torná-las mais favoráveis à inclusão.

São apresentadas outras variáveis dos professores, como as representações sociais, abordadas por Anna Augusta Sampaio de Oliveira, no artigo “As Representações Sociais sobre Educação Inclusiva e o ato de ensinar na diversidade: a pessoalidade do professor em cena”; expectativas, crenças e autoeficácia, ressaltadas no artigo “Crenças de autoeficácia de professores: um fator motivacional crítico na Educação Inclusiva”, de autoria de José Aloyseo Bzuneck; e habilidades sociais, presentes no artigo “Ensinando habilidades sociais educativas para professores no contexto da inclusão escolar”, de autoria de Andréa Regina Rosin-Pinola, Edna Maria Marturano, Luciana Carla dos Santos Elias e Zilda Aparecida Pereira Del Prette.

Os artigos do Dossiê relacionam estas variáveis pessoais dos professores a alunos com deficiências, transtorno global do desenvolvimento, como nos artigos “Transtornos do espectro do autismo e Educação Inclusiva: análise de atitudes sociais de professores e alunos frente à inclusão”, de Maria Claudia Brito; “Variáveis pessoais de professores para o atendimento a alunos com Transtorno Global do Desenvolvimento”, de Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues, Vera Lúcia Messias Fialho Capellini e Ana Paula Pacheco Moraes Maturana; e variáveis relacionadas a alunos com Altas Habilidades, como no artigo “Variáveis pessoais de professores e a inclusão de alunos com Altas Habilidades/Superdotação”, de autoria de Miguel Claudio Moriel Chacon, Ketilin Mayra Pedro, Fabiana de Oliveira Koga e Andrea Alves da Silva Soares.

O dossiê é multidisciplinar, com experiências que envolveram áreas da Pedagogia, Psicologia Social, Psicodrama, Terapia Ocupacional, Filosofia e Sociologia, discorrendo sobre pesquisas e experiências relacionadas à formação e ao contexto escolar e temáticas relevantes, como o Atendimento Educacional Especializado, trabalhado no artigo “Atitudes sociais em relação à inclusão e concepção sobre Atendimento Educacional Especializado na formação de especialistas em educação especial”, de autoria de Maewa Martina Gomes da Silva e Souza; a tarefa de casa, abordada por Mariana Dutra Zafani, Carolina Cangemi Gregorutti e Luciana Ramos Baleotti, no artigo “Concepção de professores acerca da tarefa de casa e o seu emprego junto ao aluno com deficiência física”; e a amizade, debatida no artigo “A amizade na sala de aula e a Educação Inclusiva: reflexões filosóficas”, de autoria de Alonso Bezerra de Carvalho e Fabiola Colombani.

O dossiê também aborda as variáveis dos professores relacionadas a temas um tanto desafiadores, como a sexualidade, discutida por Ana Claudia Bortolozzi Maia e Teresa Vilaça, no artigo “Concepções de professores sobre a sexualidade de alunos e a sua formação em Educação Inclusiva”, e a problemática do bullying nas escolas, discutida por Jorge Luiz da Silva e Marina Rezende Bazon, no artigo “Prevenção e enfrentamento do bullying: o papel de professores”.

Esse material pode contribuir para a elaboração de programas de formação que considerem o professor em sua singularidade e características psicossociais, favorecendo seu autoconhecimento, promovendo reflexões e, eventualmente, transformações para favorecer a aprendizagem de todos.



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