Resumo: A área da Educação Inclusiva contempla um amplo público de estudantes que apresentam necessidades educacionais específicas, as quais exigem do professor conhecimento e estratégias variadas para o desenvolvimento de atividades pedagógicas. No caso dos estudantes com altas habilidades/superdotação (AH/SD), a grande problemática não está no processo inclusivo, mas na atenção educacional suplementar necessária a eles, uma vez que professores e equipe gestora se preocupam mais com os estudantes que se encontram abaixo da média do rendimento escolar do que com aqueles que se sobressaem em áreas acadêmicas, desportivas ou artísticas. Este artigo tem por objetivo verificar, por meio da revisão de literatura, como as produções acadêmicas nacionais sobre formação de professores têm tratado as variáveis pessoais que estes devem possuir, para promover a inclusão escolar de estudantes com AH/SD. Com base nas produções encontradas e nas discussões realizadas, verificamos que algumas variáveis foram constantes nos estudos sobre a formação de professores para a área da AH/SD. Observamos que variáveis pessoais, como dedicação, flexibilidade e criatividade foram elencadas por diferentes estudos. Além destas, destacamos que primeiramente o professor precisa dominar os conhecimentos e as técnicas sobre aquilo que irá ensinar, pois, só com esse domínio, o profissional será capaz de flexibilizar o ensino e pensar em atividades que atendam às especificidades educacionais de estudantes com AH/SD. Uma das variáveis principais é a sensibilidade do educador em perceber a necessidade educacional de seus estudantes, buscando, dessa maneira, formação e práticas pedagógicas que visem a uma educação equitativa.
Palavras-chave:Altas HabilidadesAltas Habilidades,SuperdotaçãoSuperdotação, Capacitação de professores Capacitação de professores, Variáveis pessoais do professor Variáveis pessoais do professor, Revisão de literatura Revisão de literatura.
Abstract: The Inclusive Education is destined to a large target audience of students that have specific educational needs requiring the teacher knowledge and varied strategies to perform pedagogical activities. In the case of students with high-abilities/giftedness, the big problem is not the inclusive process itself but the supplementary educational attention to be given.Teachers and leading team are more concerned with students with low academic achievement than those who exceed in academic, sport or artistic activities. In this perspective, this paper aims to perform literature review about national and international academic productions concerning teacher training and their personal variables required for high-abilities/giftedness students inclusion. Based on the bibliographical productions and the discussions accomplished, we found out that some variables were constant in the studies about teacher training in the high-abilities/giftedness field. We observed that variables such as dedication, flexibility and creativity were highlighted by different studies. Besides these, we emphasize that first the teacher needs to master the knowledge and techniques about what he/she will teach, because only with this domain the professional will be able to make flexible the teaching and reflect about activities that fulfill the requirements of educational specificities of students with high-abilities/giftedness. One of the main variables is the educator’s sensitiveness to perceive the educational needs of his students, thus seeking formation and pedagogical practices aimed at an equitable education.
Keywords: High-abilities, giftedness, Teachers training, Teacher's personal variables, Literature review.
Demanda Contínua
Variáveis pessoais de professores e a inclusão de alunos com altas habilidades/superdotação
Teachers’ personal variables and the inclusion of high-abilities/giftedness students
Incluir os estudantes com altas habilidades/superdotação (AH/SD) nas escolas regulares brasileiras tem-se mostrado um novo paradigma para os sistemas regulares de ensino e para os professores, principalmente após as alterações apresentadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9394/96 (BRASIL, 2015).
Cabe destacar que, no ano de 2013, a LDB incluiu os estudantes com AH/SD como público-alvo da Educação Especial, assegurando-lhes currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos para atender às suas necessidades; a terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental; a aceleração de estudos para concluir em menor tempo o programa escolar, para os superdotados, e professores capacitados para atuar junto a eles (BRASIL, 2015).
De maneira geral, notamos que os professores brasileiros ainda apresentam muitas dificuldades para atuar junto aos estudantes com AH/SD, seja em decorrência de seu processo de formação inicial deficiente, seja em virtude da falta de mecanismos de formação continuada que satisfaçam suas necessidades e demandas (SILVA, L. G. S., 2016).
Renzulli (1978, p. 11-12) afirma que, para atuar junto aos estudantes com AH/SD, os professores precisam entender que o fenômeno da superdotação:
[...] consiste nos comportamentos que refletem uma interação entre os três grupamentos básicos dos traços humanos - sendo esses grupamentos habilidades gerais e/ou específicas acima da média, elevados níveis de comprometimento com a tarefa e elevados níveis de criatividade.
Nas afirmações de Renzulli (2014), fica evidente a necessidade de ofertar, cada vez mais, melhores serviços aos estudantes com AH/SD, além de possibilitar que eles se engajem, se encorajem e se motivem, expondo todo o seu potencial criativo elevado. Porém, para isso, o autor enfatiza ser preciso que o professor seja alguém disposto, que goste de ensinar e que aprecie desafios, porque, caso contrário, não conseguirá motivar os estudantes com AH/SD e nenhum outro. Afinal, o trabalho com estudantes com AH/SD requer modificações no currículo regular, participação em tutorias e atividades suplementares/enriquecimento, além da necessidade de trabalhar de modo cooperativo com outros profissionais envolvidos no processo e estar em constante formação, uma vez que vivemos em uma modernidade líquida que exige de nós atualização constante.
Ainda para Renzulli (2014), os estudantes com AH/SD necessitam de oportunidades e recursos adequados para que possam se desenvolver plenamente. Assim, o fenômeno multifacetado das AH/SD deve ser observado por todos que atuam na escola, já que o mesmo só se faz presente em certas pessoas, momentos e contextos, manifestando-se conforme o ambiente e as oportunidades que forem sendo disponibilizadas.
Renzulli (2014) também afirma que algumas pessoas podem ter um potencial notável para matemática, natação ou para tocar um instrumento musical, que não será percebido se o estudante não manifestar algum tipo de desempenho superior na escola. O autor assinala que o maior desafio dos professores é criar condições que possibilitem aos estudantes mostrarem seu potencial, convertendo-o em desempenho.
O mesmo autor ainda destaca a importância de os professores estarem dispostos a fazer as modificações curriculares necessárias, participar de cursos de capacitação que os preparem para promover o enriquecimento e a tutoria junto aos estudantes com AH/SD, além de desenvolver a capacidade de trabalhar de modo cooperativo, com todo e qualquer funcionário capaz de colaborar com o programa diferenciado a ser oferecido para os referidos estudantes.
Nessa perspectiva, Alencar e Fleith (2001, p. 52) salientam que, para atuar junto aos estudantes com AH/SD, os professores necessitam reconhecer, inicialmente, que a superdotação é um “conceito ou constructo psicológico” a ser considerado a partir de um conjunto de traços ou características de uma pessoa, sendo que identificar esse conjunto de traços não é um processo simples, exigindo um conhecimento mais aprofundado por parte dos professores.
Martins e Alencar (2011, p. 33) ressaltam que a atuação eficiente pressupõe que os professores apresentem/desenvolvam algumas características, o que permitiria aos mesmos se desligarem de antigos paradigmas, “[...] apresentando atitudes e utilizando estratégias pedagógicas que atendam às necessidades de seus alunos”.
Ainda asseveram que a formação inicial e continuada deve considerar e abordar questões voltadas à inclusão, articulando teoria, prática e oferecendo “[...] informações sobre comportamentos típicos de alunos superdotados e estágios para observação e regência em instituições que ofereçam atendimento especial a estes alunos” (MARTINS; ALENCAR, 2011, p. 43).
Diante do exposto, este artigo tem por objetivo verificar, por meio da revisão de literatura, como as produções acadêmicas nacionais sobre formação de professores têm tratado as variáveis que estes devem possuir para promover a inclusão escolar de estudantes com AH/SD.
Espera-se, a partir do levantamento realizado, promover uma reflexão e discussão sobre as variáveis pessoais que esse professor deve ter, tendo em vista as especificidades e as necessidades educacionais dos estudantes com AH/SD.
Para subsidiar a discussão sobre as variáveis pessoais de professores, no contexto das AH/SD, efetuamos uma revisão de literatura no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e na base de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO). O estudo de Jacob e Jacob (2013) evidencia o grande rigor científico da base de dados SciELO e destaca os seus rigorosos critérios de avaliação.
Como não há um consenso na área sobre a nomenclatura que deve ser utilizada, optamos por descritores que contemplavam as variadas terminologias empregadas em nosso país: Dotação AND Talento e Altas Habilidades/Superdotação. Destacamos que, para obter maior precisão nas pesquisas, adotamos o operador booleano AND.
No Portal de Periódicos da CAPES, encontramos um total de 125 produções acadêmicas, sendo que apenas sete versavam sobre a temática deste artigo. Na base de dados SciELO, encontramos nove artigos, mas apenas três discutiam variáveis relacionadas à equipe docente.
Com o intuito de complementar a revisão de literatura realizada, acessamos também a homepage da Revista Educação Especial, uma vez que o referido periódico é expressivo no cenário nacional, mas não se encontra indexado no SciELO. A pesquisa foi feita nos volumes dos últimos cinco anos, tendo revelado apenas duas produções ligadas com a temática deste artigo.
Após a realização da revisão de literatura, comparamos o título das produções encontradas nas diferentes bases, com o intuito de eliminar aquelas repetidas. Ao organizá-las, observamos que estas foram publicadas entre os anos de 2005 e 2016.
Para fins de análise dos dados, apresentaremos, no próximo item, os principais resultados de cada produção acadêmcia obtida e, com base na discussão teórica sobre o tema, discorremos sobre as variáveis pessoais de professores, no contexto da AH/SD.
O estudo de Ramalho et al. (2014) teve por objetivo verificar o conhecimento de licenciandos de matemática sobre o fenômeno das AH/SD. Os resultados coletados evidenciaram que a maioria dos participantes não estudaram a referida temática ao longo do curso, e que estes desconhecem as principais características desse alunado.
A pesquisa desenvolvida por Cianca e Marquezine (2014) identificou a percepção dos coordenadores dos colegiados dos cursos de licenciatura da Universidade Estadual de Londrina sobre a AH/SD. Por meio de uma entrevista semiestruturada, concluiu-se que a percepção dos participantes sobre a temática das AH/SD ainda é insuficiente, sendo que esses ainda exibem conhecimentos pautados no senso comum. As autoras verificaram também que, embora os conhecimentos dos coordenadores sobre a área da AH/SD fossem insuficientes, estas foram capazes de apontar indicadores em estudantes dos cursos nos quais atuavam.
Valentim et al. (2014) desenvolveram uma pesquisa que tinha como foco discutir a afetividade entre educadores e educandos com AH/SD, cujos resultados revelaram que a formação de professores não deve focar apenas no aspecto cognitivo dos estudantes, mas também nos aspectos emocionais e afetivos. As autoras destacam que a negligência em relação à afetividade pode ocasionar consequências negativas para a vida adulta das pessoas com AH/SD.
O estudo de Leonessa e Marquezine (2016) objetivou traçar o perfil dos profissionais que atuam na Unidade de Apoio à Família dos Núcleos de Atividades de AH/SD. Os resultados da investigação apontaram a falta de formação específica para atuar junto às famílias de pessoas com AH/SD, a escassez de recursos financeiros, materiais e parcerias com outras instituições de ensino, como os institutos e universidades.
Guenther e Rondini (2012) realizaram uma sondagem sobre o conceito de AH/SD e termos afins. Para responder ao objetivo de pesquisa, as autoras contaram com 80 professores interessados na temática e 107 professores da rede pública de ensino. As autoras afirmam que ambos os grupos não indicaram diferença significativa com relação ao conhecimento e domínio dos termos que designam as AH/SD e demonstraram confusão com relação às diferentes terminologias e teorias que embasam o significado desse conceito. Foi apontado também que, embora houvesse conflitos de significados conceituais, os dois grupos mostraram familiaridade ou algum nível de conhecimento com relação às AH/SD. Diante disso, as autoras comprovaram a importância de conhecer minimamente o fenômeno das AH/SD e conceitos adjacentes, para que seja possível identificar indivíduos à frente de seus pares nas salas de aulas.
Wechsler e Suarez (2016) avaliaram cursos de graduação em Educação/Pedagogia destinados à formação de professores. Nesses cursos, as autoras averiguaram a presença e o nível de ensino voltado para o trato com estudantes AH/SD. A amostra da pesquisa contou com 170 participantes, dos quais 145 eram mulheres e 25 homens. Foram averiguadas duas instituições privadas e três públicas (estaduais). As autoras utilizaram um questionário com seis perguntas abertas referentes às AH/SD. Os resultados apontaram que os futuros professores possuem muitas dúvidas com relação ao fenômeno das AH/SD, inclusive questionam se realmente esse público é de responsabilidade deles e/ou da equipe gestora. A pesquisa evidencia que os futuros professores não estão preparados para atuar com esses estudantes.
Martins e Alencar (2011), por outro lado, investigaram a formação desejável de um docente para atender educacionalmente estudantes com AH/SD. As pesquisadoras dispuseram de uma amostra de 20 professores da rede pública de ensino, sendo 10 atuantes no Ensino Fundamental I e 10 docentes do curso de Pedagogia. Por meio de entrevista semiestruturada e análise de conteúdo, as pesquisadoras concluíram que os professores apresentam poucas informações sobre como aplicar a teoria na prática, além de concepções errôneas sobre as AH/SD. Os professores pesquisados ainda declararam que o docente, cuja formação é desejável no trato com estudantes AH/SD, é aquele que possui atributos personológicos (traços de personalidade, habilidade intelectual e características profissionais).
Também salientaram que a formação desejável para os professores se tornarem eficientes, no trabalho com os estudantes com AH/SD, deve incluir as “[...] características pessoais/sociais, qualidades intelectuais e uso de práticas pedagógicas promotoras do desenvolvimento do aluno” (MARTINS; ALENCAR, 2011, p. 33).
Pérez e Stobäus (2005) entrevistaram, aplicaram questionários e estabeleceram diálogos informais com estudantes com AH/SD dos 7º anos de duas escolas estaduais, de um bairro de Porto Alegre. O objetivo da pesquisa foi analisar as características dos professores apontadas pelos estudantes com relação ao convívio em sala de aula em termos de ensino. A pesquisa apontou a importância da formação específica do professor, preparando-o para a identificação e enriquecimento dos sujeitos com AH/SD, além da existência de alguns atributos que devem estar presentes no educador, como a capacidade de visualização da possibilidade de concretização/efetivação da inclusão e atendimento à diversidade.
Valentim, Vestena e Neumann et al. (2014) examinaram a importância do desenvolvimento afetivo dos estudantes com AH/SD, uma vez que o seu desenvolvimento cognitivo, muitas vezes, ocupa um lugar preponderante no ambiente escolar, a ponto de esse estudante receber menos atenção educacional que os demais em sala de aula. Diante disso, o objetivo da pesquisa foi discutir a importância da afetividade, no processo de aprendizagem dos estudantes AH/SD. Para alcançar esse objetivo, as autoras utilizaram questionário e entrevista semiestruturada e, por meio desses instrumentos, puderam comprovar a necessidade do desenvolvimento afetivo e a formação dos professores para atuação nessa área.
A pesquisa contou com uma amostra composta por adultos com AH/SD, os quais afirmaram que foram negligenciados afetivamente, no ambiente escolar, situação que trouxe para a vida adulta uma sequência de consequências negativas, que não conseguiram superar. Por fim, as pesquisadoras ressaltaram que, minimamente, os educadores deveriam ser capazes de identificar estudantes com AH/SD, porque isso já seria um primeiro passo para o acolhimento e atenção educacional a esses estudantes.
Mattei (2008) realizou uma discussão baseada na teoria de Foucault, a qual considera a relação de poder e saber que há entre educadores e estudantes e que, historicamente, vem permeando e regendo a vida social, ética e educacional dos sujeitos. Posto que o estudante ocupa seu lugar de estudante e o saber concentrado no professor, a autora sublinha a mudança dessa dinâmica, uma vez que os estudantes com AH/SD colocam à prova o conhecimento e a autoridade do professor.
Procópio et al. (2010) apresentam o paradigma da inclusão e a reestruturação dos sistemas de ensino a partir da formação docente. Para essa investigação, os autores analisaram relações discursivas entre um grupo de professores, em uma rede colaborativa focada nas AH/SD. Os resultados indicaram a importância de uma identidade docente investigadora capaz de repensar continuamente a sua prática, com a finalidade de ser cada vez mais eficiente e eficaz no trato com estudantes com AH/SD.
Por fim, em face dos resultados de pesquisa das produções acadêmicas encontradas, trazemos para a discussão alguns autores internacionais que também abordam variáveis pessoais de professores. De acordo com Louis (2004), em seus estudos, professores podem se sentir desamparados diante de um estudante com AH/SD, em virtude da inteligência elevada, da curiosidade insaciável, motivação e altos níveis de criatividade.
Segundo o autor supracitado, esses estudantes podem passar para o professor um clima de exigência de saber, muitas vezes, estabelecendo rivalidade com o docente, expondo sua capacidade para lecionar determinado conteúdo, ou seja, os estudantes com AH/SD podem desestabilizar a autoestima do professor. No entanto, isso não é tudo, pois os estudantes com AH/SD podem desencadear no professor a sensação de impotência, por não conseguir suprir todas as suas necessidades.
Nessa perspectiva, as pesquisas de Pereira (2000) atestam ser necessário que os educadores busquem cada vez mais se informar e se formar, na área das AH/SD. Para isso, a autora enfatiza que é preciso esforço, sensibilidade e disponibilidade a fim de que se possa tornar real o mapeamento desses estudantes, promovendo a colaboração para elaborar e implementar programas educativos individuais, com base na área de domínio e interesse do estudante, propiciando um ambiente de excelência que colabore para que ele se envolva e se motive, possibilitando a instrução aos pais sobre como podem ajudar a criança com AH/SD e, por fim, saber quando é hora de buscar apoio colaborativo específico e especializado.
Nos estudos de Renzulli (2000), é destacado que o mais importante para a formação continuada específica é a compreensão do professor referente à importância de acompanhar e instruir o estudante com AH/SD. De acordo com o autor, o Modelo de Enriquecimento seria a possibilidade real, na qual a escola poderia se basear para adaptar o seu currículo para esse estudante com necessidades educacionais específicas. Cabe ao docente também sugerir leituras complementares, websites, atividades extracurriculares, divulgar serviços especializados para o estudante e sua família etc. O autor acrescenta que o papel preponderante do professor é ajudar, dentro do possivel, o estudante com AH/SD, oferecendo possibilidades e recursos que, sozinho, o estudante não poderia conseguir acessar.
Renzulli (2008) apresenta três principais características que o perfil de um professor de estudante com AH/SD precisa acumular. Para o autor, a intersecção de três indicadores representa a variável de um docente de estudante AH/SD, os quais seriam: conhecimento das disciplinas, técnicas instrucionais e amor pela disciplina. Para o autor, se o professor não tem “paixão” pelo que faz, se ele não demonstrar envolvimento, não será capaz também de envolver o estudante adequadamente nas atividades escolares.
O referido autor ainda defende a necessidade de os professores se sentirem empoderados para trabalhar com os estudantes AH/SD, destacando que estes precisam desenvolver habilidades para concretizar atividades escolares, por meio de metodologias ativas de ensino, que coloquem os estudantes como protagonistas do próprio processo de ensino-aprendizagem.
Na obra de Pérez e Stobäus (2005), é possível identificar apontamentos similares aos de Renzulli (2008). Essa pesquisa abordou as características de um professor ideal apontadas pelos participantes: ter conhecimento sobre a disciplina, ser dedicado e esforçado, flexível, criativo e desafiador, demostrar autoridade e despender atenção aos estudantes. Ao observar os dados originados nessa investigação e correlacioná-los com as afirmações de Renzulli (2008), é possível sustentar que o conhecimento sobre aquilo que se ensina, a dedicação e a motivação pelo ensinar e a atenção para com os estudantes seriam elementos fundamentais para o processo de ensino-aprendizagem, os quais, nesse estudo, se identificam por variáveis pessoais do professor.
A pesquisa de Martins e Alencar (2011) aponta que são muitos os desafios quando se pensa no professor que atuará com estudantes AH/SD, porém o ponto principal em tudo isso seria a falta de informação e conhecimento a respeito das AH/SD, o que significa que a formação seria um dos aspectos imprescindíveis. Paralelamente, as autoras identificaram ideias equivocadas e conhecimentos superficiais a respeito das AH/SD, de maneira a concluir que as iniciativas de formação de professores deveriam levar em conta o estudo da temática das AH/SD de modo específico, com o intuito de proporcionar aprofundamento na temática, além de um pequeno período de estágio com outro docente que tenha experiência no trabalho em sala de aula com estudante AH/SD.
Pesquisas como a de Santos (2016), a qual entrevistou professores especialistas e atuantes na Educação Especial, indicam que os professores não consideram sua formação suficiente, em função de sua baixa qualidade, e abordam, de maneira superficial, algumas temáticas. Outro apontamento levantado nessa pesquisa é a insegurança do docente para trabalhar com a diversidade.
Conforme Santos (2016), desde a graduação, deve-se desmitificar e imprimir nos estudantes, futuros docentes, que não há preparo suficiente, porque o conhecimento é inesgotável e se modifica constantemente, em decorrência das demandas do meio e das transformações constantes, tanto no âmbito histórico quanto social. Para a autora, deveriam ser trabalhadas, desde a graduação, as incertezas que o terreno da docência proporciona e a necessidade de estar sempre em busca do conhecimento, ou seja, estudar continuamente.
Nesse sentido, as equipes de gestão são de grande importância na organização e otimização de espaços, para que o professor possa realizar sua formação continuada. Além disso, não basta empenho somente por parte das equipes gestoras, mas os professores precisam estar dispostos a despender tempo para tal tarefa. A formação dos professores, na área das AH/SD, é tão urgente quanto em todas as áreas da Educação Especial, de sorte que Guenther e Rondini (2012) e Santos (2016) apontam a mesma problemática que se refere ao desconhecimento, por parte dos professores, sobre o público-alvo da Educação Especial e os fenômenos por esse público evocados.
Guenther e Rondini (2012) apontam ambiguidades na terminologia que designa o fenômeno multifacetado das AH/SD, mais um motivo para que haja maior intervenção, desde os cursos de graduação até os cursos de formação continuada. Para as autoras, o momento das Aulas de Trabalho Pedagógico Coletivo (ATPCs) deveria primar por estudos verticais e de cunho mais científico, promovendo discussões e debates que pudessem contribuir para o afloramento de variáveis pessoais favoráveis aos estudantes AH/SD, além de melhor entendimento sobre o fenômeno, ainda que haja controvérsias e discussões referentes a terminologias. Por essa razão, determinar epistemologicamente o fenômeno torna-se algo fundamental e pode ser determinado pelas discussões em ATPCs, coletivamente.
Ademais, pensando sobre a formação do professor, observa-se, por meio do estudo de Anna e Silva (2016), uma grande dificuldade em reconhecer a existência dos estudantes AH/SD, em sala de aula. Conforme as autoras, é preciso uma modificação na Educação, de tal modo que se crie um novo sistema, capaz de considerar cada estudante não como um problema, mas como uma oportunidade de aprendizagem por meio das diferenças.
Diante das discussões realizadas até o momento, surgem reflexões adjacentes com relação ao papel da escola e do professor no desenvolvimento dos estudantes, principalmente com AH/SD. Aita et al. (2015) focalizam a importância da escola para o processo de humanização dos estudantes, destacando que esse processo contribui para o desenvolvimento de aptidões humanas, uma vez que se criam, no espaço escolar, condições para que o sujeito se aproprie dos instrumentos, ideias e conhecimentos historicamente construídos. De acordo com os autores, isso somente se torna possível porque a escola é um ambiente regido por processos educativos sistematizados que têm por objetivo ofertar aos estudantes os conhecimentos historicamente produzidos.
Ainda na perspectiva das discussões suscitadas por Aita et al. (2015), observa-se um ponto importante, quando os autores afirmam que as crianças, antes e mesmo depois do ingresso para a escola, trazem consigo conceitos obtidos de sua realidade empírica, experiência imediata baseada em descrições singelas e limitadas. Nesse sentido, os estudantes com AH/SD não são diferentes: eles seguem o mesmo percurso que podem levá-los a uma aproximação dos conceitos científicos, não completamente, mas superficialmente, já que os estudantes ainda não possuem a instrumentalização necessária para tratar a informação que acessam, de maneira autônoma, por meio da internet. Nesse sentindo, o papel do professor é preponderante, de forma que este deve capacitar o estudante para uma busca e tratamento adequado das informações. Não se trata apenas de atribuir certo ou errado, mas realizar uma mediação que possa desconstruir o pensamento internalizado equivocadamente, em direção a um pensamento consciente e de cunho mais científico, porque o professor, nessa relação, é o único capaz de agir intencionalmente para que o estudante avance em seu conhecimento de outro modo; se não houver a mediação e acessibilidade ao professor, esse estudante terminará desmotivado, infeliz e aquém do seu real potencial.
O estudo de Silva R. C (2016) mostra o cenário da formação de professores, em diferentes lugares do Brasil. Em sua pesquisa, fica evidente a necessidade de aquisição de novos conhecimentos, por parte dos professores, reflexões frente à inclusão e a necessidade de flexibilização das práticas pedagógicas; além disso, o autor aponta a necessidade de conhecimento de outras realidades, da socialização de experiências diversificadas e de aprofundamento em cada uma das especificidades da Educação Especial. Em acréscimo, o autor enfatiza a necessidade de conhecimento sobre teorias e metodologias que possam sustentar as práticas docentes e, por fim, dinamicidade e compromisso, desde a equipe gestora até os professores em termos de formação e ação no lócus do ensino.
Diante das reflexões e discussões apresentadas no texto, notamos que algumas variáveis foram constantes nos estudos sobre a formação de professores para área da AH/SD. Observamos que variáveis pessoais, como dedicação, flexibilidade e criatividade, foram elencadas por diferentes estudos. Além destas, destacamos que primeiramente o professor precisa dominar os conhecimentos e as técnicas sobre aquilo que irá ensinar, pois só com esse domínio o profissional será capaz de flexibilizar o ensino e pensar atividades que atendam às especificidades educacionais de estudantes com AH/SD.
Consideramos preponderante que o professor leve em conta o cenário contemporâneo e seja capaz de propor atividades que coloquem os estudantes com AH/SD como protagonistas do próprio processo de ensino-aprendizagem, valorizando as áreas em que o estudante apresenta domínio e o incentivando a desenvolver o próprio potencial cada vez mais.
Reconhecemos que as variáveis realçadas ao longo do artigo são importantes para todos os professores, mas são imprescindíveis para aqueles que atuam com estudantes que demonstram habilidade acima da média, envolvimento com a tarefa e altos níveis de criatividade, os quais podem ser tomados como a reserva social de um país.
Por fim, acreditamos que estamos longe de termos cursos de formação inicial que contemplem toda a especificidade do fenômeno da superdotação, no entanto as variáveis aqui apresentadas podem ser desenvolvidas em outros espaços, como grupos de estudo/pesquisa, momentos de estudo individual, congressos e cursos de formação continuada. Enfatizamos que uma das principais variáveis é a sensibilidade do educador em perceber a necessidade educacional de seus estudantes, buscando, dessa maneira, formação e práticas pedagógicas que visem a uma educação equitativa.