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Resenha "Treblinka (1942-1943): a vida e a fuga de um campo de concentração"
Júlio César Virgínio Costa
Júlio César Virgínio Costa
Resenha "Treblinka (1942-1943): a vida e a fuga de um campo de concentração"
Revista Tempo e Argumento, vol. 4, núm. 2, pp. 209-211, 2012
Universidade do Estado de Santa Catarina
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Resenhas

Resenha "Treblinka (1942-1943): a vida e a fuga de um campo de concentração"

Júlio César Virgínio Costa
Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
Revista Tempo e Argumento, vol. 4, núm. 2, pp. 209-211, 2012
Universidade do Estado de Santa Catarina

Recepção: 03 Maio 2012

Aprovação: 03 Julho 2012

TREBLINKA (1942-1943): a vida e a fuga de um campo de concentração

Uma recensão é por si só uma tarefa dificílima, pois, em poucas linhas, busca-se descortinar as tramas, os enredos e as nervuras expostas em obras escritas muitas vezes em dezenas de páginas com enorme maestria. Mas em “Eu sou o último judeu”, encontramos um aspecto facilitador dessa empreitada, o ritmo da escrita, as informações detalhadas que por vezes nos levam a um mundo permeado por mitos, dúvidas e sentimentos diversos: o interior de um campo de concentração nazista.

Como lembra Beatriz Sarlo (2010, p. 9) em seu livro: Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva, “o retorno do passado nem sempre é um momento libertador da lembrança, mas um advento, uma captura do presente.” [1] Assim, compreendemos a memória como um campo de estudo da História, mas não se confundindo com a História. A ciência História se debruça sobre a memória e obviamente sobre o passado para tentar reconstruir um discurso sobre os acontecimentos. Discurso esse sempre fragmentário e incompleto pela própria natureza dessa ciência, o que não invalida de modo algum sua condição de ciência. Assim o presente que nos inquieta nos faz revisitar o passado em busca da reconstrução de determinados eventos. A memória como instrumento de análise da História se configura como um elemento para o entendimento da diversidade, e desta maneira, a história e o ensino da história – através do uso da memória – estariam atentos ao respeito pela diversidade cultural e assim, percebendo como esse processo se desenvolve no tempo e no espaço.

A obra de Chil Rajchman é uma obra autobiográfica, e assim os esclarecimentos acima se fazem necessários. É claro que a memória é seletiva, e esquecer também faz parte da construção da própria memória, pois nem tudo o que é lembrado pode ser considerado como a única verdade existente. As visões sobre determinados fatos podem não convergir para o mesmo sentido, o que não invalida sua análise.

Chil Rajchman nasceu em Lodz, na Polônia, em 14 de junho de 1914. Lá morou com o pai, as três irmãs e os dois irmãos até a Segunda Guerra Mundial, tendo sua mãe falecido em 1931. Lodz situava-se na parte oriental da Polônia que fora anexada pela Alemanha e rebatizada de Litzmannstadt. Após a guerra, Rajchman casou-se com Lila, teve três filhos, e em 1946 trocou a Polônia pelo Uruguai, onde morreu em 2004. Foi testemunha em vários processos contra ex-oficiais da SS.

O livro está dividido em dezenove capítulos, e poderíamos afirmar que também está dividido em três partes. Os capítulos são curtos, mas potentes, nos quais a descrição do autor prima pela riqueza dos detalhes descritos e pela enorme gama de informações, que muitas das vezes nos proporciona a sensação de estarmos na trama/enredo descrito e vivido por cada homem e mulher dentro de um campo de extermínio.

Os vagões tristes me carregavam para lá. Eles vêm de toda parte: do leste e do oeste, do norte e do sul. De dia e de noite, seja qual for a estação: primavera, verão, outono, inverno. Os comboios chegam lá abarrotados, incessantemente, e Treblilnka prospera mais a cada dia que passa. Quanto mais comboios chegam, mais Treblinka consegue absorvê-los. (RAJCHMAN, 2010, p. 27)

Desta forma Chil Rachman inicia seu relato em “Eu sou o último judeu: Treblinka (1942-1943)”, obra que busca através do testemunho de um sobrevivente descrever a vida em um campo de extermínio Nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Treblinka consumiu cerca de 750.000 judeus e apenas 57 sobreviveram. Chil Rajchman foi um deles.

Os primeiros cinco capítulos fazem uma introdução à obra. Apresentam ao leitor a viagem para o campo, o desespero durante o trajeto e após a chegada, as dúvidas e a chegada a um dos lugares mais emblemáticos, trágicos e tristes da história da humanidade: Treblinka. Dentro desta primeira parte da obra, o capítulo três se destaca pela descrição do campo nos mínimos detalhes, palmo a palmo, detalhe a detalhe de cada parte.

Do sexto capítulo até aproximadamente o capítulo dezesseis, o autor relata seu trabalho e o de outros companheiros no campo. As dificuldades, a luta pela sobrevivência dia a dia contra uma lógica que muitas das vezes não possuía nenhuma lógica. Nesta parte do livro, Chil Rajchman ilustra sua descrição com um mapa muito bem elaborado do campo de Treblinka, suas divisões e subdivisões. Também nessa seção da obra, fotos ilustram a narrativa: a) a família do autor; b) as ossadas do vale de Treblinka e; 3) de alguns dos alemães no tribunal de Dusseldorf, no qual Chil Rajchman foi testemunha.

O livro, além de uma obra de História (autobiográfica), é um relato também emocionante pela vida, pelas agruras e dores por que a história da humanidade passou no período da Segunda Grande Guerra (1939-1945).

Por fim, nos dois últimos capítulos, o livro descreve com a mesma potência dos capítulos anteriores o processo de elaboração da revolta empreendida pelo próprio autor e seus companheiros e o difícil processo de efetivação. É também na parte terceira do livro que Rajchamn descreve as dificuldades empreendidas durante os mais de 14 dias de caminhada na fuga.

Ler essa obra é uma oportunidade de perceber com uma riqueza de informações como era por dentro um dos símbolos mais fortes do III Reich durante a Segunda Guerra mundial. Mas também é uma oportunidade para refletir sobre os caminhos que a humanidade trilhou até o presente momento. O passado em si não está morto, mas se torna potência no presente para uma possível compreensão do presente. Chil Rachman nos convida a uma viagem a um campo de concentração, mas lembramos sempre que a memória não é História e vice-versa.

Material suplementar
Referências
RAJCHMAN, Chil. Eu sou o último judeu: Treblinka (1942-1943). Tradução de André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010.
Notas
Notas
[1] SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
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