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Marxismo e a luta negra: o debate “classe vs. raça” revisitado.
Revista Direito e Práxis, vol. 13, núm. 3, pp. 2051-2078, 2022
Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Traduções


Recepção: 19 Outubro 2021

Aprovação: 22 Outubro 2021

DOI: https://doi.org/10.1590/2179-8966/2021/63074

Nota preliminar

Mario Soares Neto

Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil. E-mail: mario.adv.soares@gmail.com.

O presente trabalho consiste na tradução do artigo “Marxism and the Black Struggle: The ‘classe vs. race’ debate revisited” do professor Dr. August H. Nimtz Jr, publicado originalmente no Journal of African Marxists no ano de 1984. Trata-se de uma resenha crítica ao livro “Black Marxism: The Making of the Black Radical Tradition” (1983), de Cedric J. Robinson.

O material foi escrito na era pré-digital, há mais de trinta anos atrás (não obstante as reflexões aqui presentes permaneçam extremamente atuais e atuantes). O texto foi digitalizado pela University of Minnesota (instituição norte-americana de ensino a qual agradecemos), o que, porém nos exigiu realizarmos a transcrição completa do material, além de empreendermos algumas revisões, com a inserção de tópicos de leitura para uma melhor estrutura e organização do artigo. Ao longo deste trabalho confeccionamos um conjunto de notas da tradução, destinadas à sua melhor compreensão e ao aprofundamento das pesquisas pelo público leitor.

O autor desta profícua reflexão, o norte-americano August Nimtz é formado em Relações Internacionais, com mestrado em Estudos Africanos pela Howard University e doutorado na Indiana University. O professor Nimtz leciona Ciência Política, Estudos Africanos e Afro-Americanos na University of Minnesota, em Minneapolis (EUA). Suas investigações empreendidas ao longo de mais de quarenta anos de pesquisas e de intensa militância política no âmbito internacional, compreendem as áreas da teoria marxista, economia política, estudos de raça, classe, relações étnicas, política africana e afro-americana. Autor de variadas obras teóricas e de artigos científicos, Nimtz é um dos mais destacados intelectuais marxistas contemporâneos no campo da questão racial.

Neste artigo, a obra de Robinson (1983) é criticada em seus fundamentos epistemológicos e políticos, bem como em virtude dos “espantalhos da sua própria criação”. Nimtz demonstra os limites da perspectiva culturalista e nacionalista negra, questionado o conceito de “tradição radical negra”, designando-o como uma construção estéril e meramente acadêmica – não relacionada ao mundo concreto da política e da luta emancipatória em África e na Diáspora Africana. A formulação de Robinson referindo-se a intelectuais-militantes como W. E. B. Du Bois, Richard Wright e C. L. R. James, enquanto supostos integrantes desta tradição apartada, demonstra-se, segundo Nimtz, como uma articulação falha e insuficiente, visto que todos estes pensadores negros tiveram como traço comum a filiação às idéias marxistas, socialistas e comunistas.

O exemplo de Fanon é também instrutivo. Muito embora praticamente negligenciado na obra de Robinson e apesar das disputas existentes em torno do seu legado arbitrariamente categorizado como “decolonial” e/ou “pós-colonial” (em grande medida, como parte das “imposturas intelectuais” pós-modernas), não se pode olvidar que a perspectiva teórico-metodológica e político-estratégica fanoniana lastreia-se no marxismo e compreende nitidamente que “triunfando, a revolução nacional será socialista; detido seu ímpeto, a burguesia colonizada toma o poder, e o novo Estado, a despeito de uma soberania formal, continua nas mãos dos imperialistas”.1

Em sua crítica a Robinson, August Nimtz sustenta o materialismo histórico dialético enquanto projeto de crítica da economia política atrelado à noção de práxis revolucionária do proletariado. A preocupação deste autor reside em aplicar o método marxista à questão racial, destacando as contribuições da filosofia da práxis para as lutas antirracistas e anticapitalistas, questionando a hegemonia liberal e nacionalista em torno da temática.

A publicação deste artigo - até então inédito no Brasil - cumpre uma função indispensável. A iniciativa inscreve-se de acordo com a máxima presente em Lênin segundo a qual, “sem teoria revolucionária, não há movimento revolucionário”. Em outras palavras, significa afirmar, com base na reflexão crítica do professor Nimtz, um “marxista-leninista raiz” (um comunista negro, como ele próprio se autointitula), que, enquanto explorados e oprimidos pela ordem do capital, devemos nos ocupar com o problema da dialética entre a prática e a teoria da revolução. Ademais, no plano político, em tempos “onde o entusiasmo pelas formas mais limitadas da ação prática aparece acompanhado pela propaganda em voga do oportunismo”2 torna-se fundamental o aprofundamento da “batalha das idéias” e da luta pelo poder à luz da perspectiva da luta de classes.

O movimento social negro e as organizações da classe trabalhadora brasileira precisam superar as suas próprias contradições e limitações. O rebaixamento do horizonte estratégico, o déficit organizativo, o abandono da formação crítico-radical e a subordinação política aos interesses reformistas-eleitorais são aspectos constringentes que exigem cada vez mais posturas disruptivas. Cumpre forjar a “primavera nos dentes” e alimentar a “consciência para ter coragem”.

Neste sentido, a crítica de August Nimtz é uma elaboração absolutamente indispensável como contribuição para a reflexão e para a ação revolucionária em nosso tempo presente e futuro.

Prólogo

Quando os editores do efêmero (1981 a 1987?), mas influente Journal of African Marxists [Jornal dos Marxistas Africanos] solicitaram-me, em 1984, para escrever uma resenha crítica da obra Black Marxism: The Making of the Black Radical Tradition – à épocarecém-publicada por Cedric J. Robinson, eu concordei imediatamente em fazê-lo. Como o nome do jornal sugere - a publicação com sede em Londres, em inglês, francês e português, mas de alcance em todo o continente africano, procurou defender a relevância de uma perspectiva marxista para explicar as realidades africanas e contestar a visão de que a análise marxista de classe seria irrelevante para estas experiências.3

A obra Black Marxism, apesar de seu título, representou provavelmente a primeira publicação em forma de livro, pelo menos em língua inglesa, destinada a defender precisamente aquilo que o jornal estava contestando. Neste sentido, foi uma honra ter sido convidado a participar do debate. Durante quase duas décadas, eu havia participado dessas discussões na arena afro-americana. Com a ascensão da corrente nacionalista negra após 1966, identifiquei-me como Pan-Africanista. No entanto, uma temporada de vinte meses na Tanzânia entre os anos de 1969 e 1970 – a sede não oficial do movimento de libertação africano naquela época – convenceu-me de que o futuro da Revolução Africana dependia da realização de uma Revolução Socialista no coração do capitalismo, os Estados Unidos da América. Estar no mesmo ambiente e interagir com revolucionários como Marcelino dos Santos (1929-2020), A. M. Babu (1924-1996), John S. Saul (1938-) e Walter Rodney (1942-1980), um grupo da mesma geração, em Dar es Salaam, exigiu que eu reconsiderasse as suposições políticas anteriores. Regressando aos EUA, encontrei o meu caminho para o Socialist Workers Party [Partido Socialista dos Trabalhadores], em 1972.4

A partir de 1978, o SWP realizou um curso de formação política para que seus militantes lessem e estudassem as obras de Marx, Engels e Lênin nos originais. O resultado deste projeto coletivo informou a minha investigação sobre o livro Black Marxism. De extrema relevância, também, foi o mundo real da política, particularmente, a realização da Revolução de Granada em 1979 e seu trágico fim em 1983. Robinson ainda estava em meu pensamento quando escrevi no ano de 2001, “The Eurocentric Marx and Engels and Other Related Myths”[O eurocentrismo de Marx e Engels & outros mitos correlatos], informado por um mergulho ainda mais profundo nas obras de Marx, Engels e Lênin (NIMTZ JR, 2002).

Exceto por uma correção de data e algumas pequenas edições em parênteses para tornar o texto mais claro, reproduzido aqui está o artigo original.

13 de outubro de 2021

August H. Nimtz Jr.

University of Minnesota

1. Introdução.5

Há mais de dez anos atrás, Robert Allen6 escreveu em seu livro muito popular intitulado Black Awakening in Capitalist America (1969) [Despertar negro na América capitalista] que o “problema não resolvido de longa data” para os radicais afro-americanos “por um lado, reside em encontrar a relação adequada entre uma análise puramente nacional (ou racial) e um programa, e, por outro lado, uma análise e programa puramente de classe”.7 Muitos acontecimentos marcaram a luta dos negros norte-americanos desde o lançamento do livro de Allen. Mas, de uma forma ou de outra, o debate continua entre os proponentes de ambas as posições. A obra Black Marxism: The Making of the Black Radical Tradition (1983) [Marxismo negro: a formação da tradição radical negra]8 de Cedric J. Robinson9, o assunto desta resenha crítica, pode ser melhor compreendida como parte de uma discussão histórica. Ao contrário do que seu título possa sugerir, Robinson concorda, se não com uma análise “puramente nacional”, então com algo bastante próximo a isto. Por causa da intensidade do debate na última década, Robinson, assim como muitos proponentes da análise nacional tiveram que se familiarizar – apesar de nem sempre entenderem - a análise de classe. Assim, Black Marxism pode ser considerado a defesa mais informada e sofisticada da posição nacionalista. Apesar disso, no entanto, argumento que a tese de Robinson é falha; seus erros são comuns à visão nacionalista quando contrapostos a uma perspectiva marxista.

Robinson argumenta que o marxismo ou materialismo histórico é uma ideologia exclusivamente européia e, como tal, é limitada em sua aplicabilidade ao mundo além da Europa. Além disso, sua limitação é tanto no tempo quanto no espaço - a Europa do século XIX. Diante das suas origens, o marxismo está, portanto, sobrecarregado com a bagagem intelectual e cultural da Europa. O mais importante desta herança, na perspectiva de Robinson, é o racismo.10 Como intelectuais pequeno-burgueses, Marx e Engels não conseguiram explicar a persistência do racismo e, no processo histórico atribuíram erroneamente um papel progressista ao capitalismo e à burguesia na sua erradicação. Marx e Engels também superestimaram a capacidade do proletariado europeu de superar esse legado. Por não compreenderem até que ponto eles próprios eram produtos dessa herança, Marx e Engels foram incapazes de avaliar plenamente o nacionalismo dos oprimidos no mundo não ocidental e, em particular, a tradição radical negra. Por causa de suas origens africanas, esta última tem uma perspectiva radicalmente diferente daquela do materialismo histórico. O resultado é que a articulação da tradição radical negra teve que envolver uma ruptura consciente com a perspectiva marxista. Como evidência, Robinson baseia-se no desenvolvimento intelectual e político de três líderes radicais negros - W. E. B. Du Bois,11 C. L. R. James12 e Richard Wright13 - cujos “aprendizados” como marxistas “provaram ser significativos, mas, em última análise, insatisfatórios”.14

Antes de examinar criticamente este argumento, uma observação geral sobre sua validade faz-se necessária. Não está claro se Robinson pretende “provar” sua tese com esses três casos ou se a está apenas ilustrando. Se a primeira alternativa consiste na sua intenção, questões imediatas devem ser levantadas sobre a representatividade de seus exemplos. Existem outros radicais negros que obtiveram “aprendizagens” marxistas – Fanon,15 por exemplo - que também poderia ter sido analisado. Mesmo que seu objetivo seja meramente ilustrativo, ele ainda está em terreno instável, pois é discutível que dois dos três - Du Bois e James alguma vez tenham rompido com o marxismo. Du Bois morreu membro do Partido Comunista dos Estados Unidos e James, pelo que este crítico sabe ainda se considera um marxista.1617 Embora essas objeções possam constituir um golpe fatal contra o argumento de Robinson, seria um erro descartar de antemão o que ele tem a dizer. Sua história, por exemplo, das atividades radicais negras na diáspora na parte dois do livro é uma importante contribuição para a literatura.

Esta resenha crítica não pretende abordar todas as questões que Robinson levanta em seu trabalho de 452 páginas. O foco principal está em sua crítica ao que Marx e Engels escreveram em relação à sua tese geral.

2. O radicalismo europeu segundo Robinson.

A primeira parte do livro, “The Emergence and Limitations of European Radicalism” [O surgimento e as limitações do radicalismo europeu], apresenta a crítica de Robinson. Sua análise do método materialista histórico, da natureza do capitalismo, do proletariado e da questão nacional são as questões mais importantes neste tópico, a partir das quais todas as questões emergem de uma forma ou de outra ao longo da obra.

Em sua afirmação de que o materialismo histórico se limita à Europa do século XIX, Robinson cita Engels como ponto de apoio. Em sua famosa carta a Joseph Bloch em 1890, na qual descreveu as idéias básicas do materialismo histórico, Engels apontou que toda atividade humana, incluindo as idéias, são historicamente específicas, sujeitas não apenas às condições econômicas – “decisivas em última instância” - mas “às condições políticas… E de fato até mesmo às tradições que assombram as mentes humanas…” também.18 Robinson nota corretamente que essa observação poderia se aplicar igualmente às idéias de Marx e Engels. “O trabalho destes autores, propriamente a crítica da sociedade burguesa e do capitalismo industrial, num dado momento - quando as forças materiais da sociedade progrediram para além do seu estágio de desenvolvimento no século XIX - estaria sujeito à crítica (negação)”.19 O que Robinson está dizendo aqui - uma das principais suposições de seu argumento - é que o capitalismo europeu do século XIX passou por mudanças de tal forma que suas características fundamentais são qualitativamente diferentes daquelas que Marx e Engels analisaram.

Na defesa dos seus argumentos, embora Robinson cite Engels, a sua metodologia é exatamente o oposto deste último. Em uma declaração muito reveladora no início de seu livro, ele escreve que “a história do capitalismo de forma alguma se distinguiu das eras anteriores no que diz respeito a guerras, crises materiais e conflitos sociais”.20 Robinson praticamente não apresenta dados para apoiar esta afirmação tão abrangente. Ao longo do trabalho, sua tendência é atribuir baixa prioridade, se houver, ao mundo material. Seu método é o método de um idealista. Assim, as idéias raramente são testadas em termos da realidade material a que se referem.

Não há dúvidas de que o capitalismo se transformou significativamente desde a publicação de O’ Capital. Dizer, entretanto, que o capitalismo de hoje não é mais receptivo à sua análise é uma questão de fato que deve ser provada. Não é exagero afirmar que a característica mais marcante do mundo contemporâneo é a crise capitalista internacional. Tais crises, de acordo com as descobertas de Marx, são fundamentalmente crises de superprodução. Robinson pode negar que as crises de 1974-75 e a atual crise na qual a maior parte do mundo capitalista permanece são basicamente o que Marx descreveu e explicou?21

As crises capitalistas não apenas ainda persistem como são cada vez mais profundas, tal como Marx afirmou que seria o caso. Marx também previu que as crises teriam um caráter mais internacional; nenhuma área do mundo - incluindo o mundo Negro - seria imune à penetração das relações capitalistas de produção, assim como qualquer arena dentro desta sociedade. Novamente, Robinson pode negar tal realidade?

Ao argumentar que o materialismo histórico possui relevância limitada no mundo semicolonial e colonial, Robinson corretamente aponta que Marx e Engels pretendiam que sua análise sobre o surgimento do capitalismo se aplicasse apenas à Europa Ocidental. No entanto, Robinson erra ao interpretar esta advertência como significando que o método marxista não teria aplicabilidade ao chamado Terceiro Mundo. Marx considerou que as suas descobertas mais importantes foram: “(1) que a existência das classes está meramente ligada às fases históricas particulares no desenvolvimento da produção; (2) que a luta de classes conduz necessariamente à ditadura do proletariado; (3) que esta ditadura em si constitui apenas a transição para a abolição de todas as classes e para uma sociedade sem classes” (itálico no original).22

Robinson deve certamente reconhecer que existem revolucionários e intelectuais do Terceiro Mundo que conscientemente e com sucesso empregaram esta estrutura na análise de suas próprias sociedades. Esta foi a perspectiva que informou Walter Rodney,23 nitidamente em sua obra How Europe Underdeveloped Africa (1974). [Como a Europa subdesenvolveu a África].24 Um exemplo mais recente de um trabalho que também enfoca a África é intitulado African Socialism or Socialist Africa? (1981) [Socialismo africano ou Africa socialista?] de A. M. Babu25 sobre o qual falaremos mais tarde.

Mesmo que se pudesse argumentar que o materialismo histórico tem relevância limitada na análise das sociedades do Terceiro Mundo em algum estágio anterior de seu desenvolvimento, tal afirmação iria contra a realidade ao sugerir, como em Robinson, que este seria o caso da realidade atual. Quaisquer que sejam suas diferentes trajetórias históricas de desenvolvimento, estas regiões estão hoje tão profundamente sujeitas às exigências do capitalismo como os centros europeus de onde ele se originou. Tais sociedades estão subordinadas desde a reprodução da estrutura de classes da Europa capitalista até aos efeitos devastadores de suas crises; no caso deste último, de forma ainda mais decisiva.

3. “O capitalismo se originou muito antes do que Marx propôs”.

Parte do problema de Robinson é conceitualmente inadequado ao definir o capitalismo e distingui-lo dos sistemas econômicos pré-existentes. Relacionado a isso está sua afirmação de que o capitalismo se originou muito antes do que Marx propôs. Isto lhe permite substanciar um ponto-chave em seu argumento, ou seja, Marx superestimou o caráter progressista do capitalismo.

Obviamente, as relações de produção capitalistas já existiam no século XV, como afirma Robinson. Entretanto, enquanto modo de produção, o capitalismo só surge quando emerge a produção generalizada de mercadorias. Em conjunto com este processo está o surgimento do proletariado que não só tem que vender sua força de trabalho para sua sobrevivência - ao contrário de outras classes subordinadas - mas também fornece um mercado para as mercadorias. O que tornou possível a produção generalizada de mercadorias pela primeira vez na história da humanidade foi a industrialização que reduziu drasticamente os custos de produção e, assim, criou um mercado de massas. Tal realidade era significativamente distinta do capitalismo mercantil que Robinson parece igualar ao modo de produção capitalista. Como Marx descobriu, a qualidade inerente de uma mercadoria - a incorporação tanto do valor de uso quanto do valor de troca - é uma causa fundamental da crise capitalista. Enquanto as crises econômicas anteriores resultaram de sociedades que não as tinham em quantidade suficiente, aquelas formações sociais associadas ao capitalismo resultaram de muitas mercadorias que foram produzidas aos preços exigidos pelos capitalistas.

Para que esse modo de produção se tornasse realidade, tornou-se necessário que o poder coercitivo do Estado fosse empregado. Assim, embora as atividades capitalistas certamente existissem desde tão cedo como Robinson argumenta, é somente quando o capital captura o poder do Estado - impondo a ditadura da burguesia - que seu desenvolvimento bem-sucedido é garantido. É por essas razões - a industrialização e as revoluções burguesas - que Marx datou o surgimento do capitalismo como modo de produção na segunda metade do século XVIII.

Para apoiar sua afirmação de que Marx e Engels superestimaram o lado progressista do capitalismo, o que se refletiu em sua insensibilidade ao legado racista da Europa, Robinson descarta suas conquistas materiais. Ao fazer isso, Robinson despoja o materialismo histórico de um princípio essencial, pois é precisamente o que Marx e Engels reconheceram como a razão de ser do capitalismo. Suas forças produtivas superaram todos os modos de produção anteriores e existentes. Robinson pode realmente negar este fato? Mais importante do que isso, o capitalismo proporcionou pela primeira vez na história da humanidade a possibilidade de eliminar a carência e, portanto, a desigualdade. Em outras palavras, este modo de produção criou as bases materiais para a sociedade socialista.

Marx e Engels argumentaram que o capitalismo era em geral incompatível com os modos de produção preexistentes e iria miná-los ou transformá-los para suas próprias necessidades. Uma grande alegação de Robinson, no entanto, particularmente na parte dois de seu livro, é que isto não “… resultou [na] eliminação ou redução da escravidão”, o que demonstra um exemplo de seu caráter não progressista.26 O autor baseia seu caso principalmente no fato de que o capitalismo, que ele diz ter surgido no século XV, estava diretamente ligado à escravidão moderna no Ocidente. Robinson reconhece que Marx enfatizou a importância da escravidão para o desenvolvimento do capitalismo. Marx, diz ele, apenas enfatizou o papel da escravidão na acumulação primitiva, enquanto uma análise mais correta demonstraria que a escravidão constituiu-se como um componente necessário do capitalismo totalmente desenvolvido.

É fato que o capital industrial teve um papel preponderante na luta contra a escravidão iniciada no final do século XVIII. Robinson reconhece isso, mas evidentemente não vê nenhuma contradição com sua avaliação acima citada.27 De sua perspectiva, aparentemente, uma vez que o capitalismo mercantil (que ele iguala ao modo de produção capitalista) esteve por tanto tempo ligado à escravidão, o que o capital industrial fez mais tarde foi irrelevante.

Embora Robinson falhe em explicar por que o capital industrial se opôs à escravidão - mais precisamente, a escravidão de seres humanos considerados bens móveis - Marx abordou muito claramente sobre isto. A mecanização, que trouxe a produção generalizada de mercadorias, teve como objetivo a economia incessante do trabalho humano (daí o crescente interesse na robotização nos dias atuais). Enquanto a escravidão existiu, ela dificultou o uso de máquinas na produção. A disponibilidade de trabalho a baixo custo era um desincentivo à introdução de máquinas que geralmente eram mais caras do que o trabalho escravo. Uma vez que a escravidão foi eliminada, a concorrência - um elemento essencial do modo de produção capitalista - tornou-se a força motriz por trás da mecanização inovadora e, portanto, do aumento da produtividade.28

Embora Marx e Engels certamente elogiassem os ganhos gerados pelo capitalismo, eles não eram - como afirma Robinson - cegos para suas contradições ou características retrógradas. Na verdade, eles afirmaram que esta era uma de suas consequências necessárias, o que Marx denominou de lei geral da acumulação capitalista. “Ela ocasiona uma acumulação de miséria correspondente à acumulação de capital. A acumulação da riqueza num polo é, portanto, ao mesmo tempo, a acumulação de miséria, tormento de trabalho, escravidão, ignorância, brutalização e degradação moral no polo oposto, isto é, do lado da classe que produz seu próprio produto como capital”.2930 Foi neste contexto que Marx explicou a tendência do capitalismo de relegar um número crescente de trabalhadores às linhas de desemprego, ou seja, o exército industrial de reserva. (Se alguma vez houve confirmação dessa tendência, isso é visto claramente na tendência histórica do desemprego negro nos EUA).31

Destarte, não é difícil compreender por que ideologias pré-capitalistas como o racismo não apenas continuam, mas florescem sob o domínio burguês. O racismo é um meio conveniente para expandir o exército industrial de reserva e justificar sua existência. Em nível internacional, é usado de maneira semelhante em relação ao empobrecimento do Terceiro Mundo. O sexismo, que não faz parte apenas do legado cultural da Europa, também é empregado pela burguesia por essas razões e com resultados igualmente devastadores.32

4. “O proletariado da Europa comprou seu legado racista”.

O que é mais importante para entender como Marx e Engels olharam para os prós e contras da sociedade burguesa - algo que Robinson não percebe - é o reconhecimento de que tudo o que os trabalhadores e outros oprimidos ganham vem apenas por meio de seus esforços e não da boa vontade dos capitalistas.

Um elemento importante na tese de Robinson é que Marx e Engels não conseguiram ver que o proletariado da Europa comprou seu legado racista e que seu potencial revolucionário foi, portanto, enfraquecido. Esta é claramente uma deturpação em vista do que eles escreveram e defenderam sobre a questão irlandesa e a questão da escravidão nos Estados Unidos. Sobre estas questões em 1870, Marx declarou:

Todos os centros industriais e comerciais da Inglaterra agora possuem uma classe trabalhadora dividida em dois campos hostis, os proletários ingleses e os proletários irlandeses. O trabalhador inglês comum odeia o trabalhador irlandês como um concorrente que reduz o seu padrão de vida. Em relação ao trabalhador irlandês, sente-se membro da nação dominante e, por isso, torna-se um instrumento dos aristocratas e capitalistas contra a Irlanda, reforçando assim o domínio sobre si mesmo. Ele cultiva preconceitos religiosos, sociais e nacionais contra o trabalhador irlandês. Sua atitude em relação a ele é muito semelhante a dos brancos pobres para com os negros nos antigos estados escravistas dos Estados Unidos. (itálicos no original)33

Marx de fato reconheceu que o racismo havia infectado a classe trabalhadora e era um obstáculo para sua própria libertação.34 Isso significa que ele errou em sua análise anterior sobre o capitalismo e o potencial revolucionário da classe trabalhadora?

Ao contrário. O quadro geral que ele e Engels apresentaram no Manifesto e em outros lugares é em geral confirmado pelo curso real do desenvolvimento capitalista e pela luta anticapitalista no século XX.

O fato é que por mais que a burguesia tente perpetuar as identidades étnicas e raciais em seu proveito, a tendência histórica, como resultado do modo de produção capitalista e apesar da desigualdade desse processo, tem sido a criação de laços de grupo mais amplos que coincidem com a classe. O nacionalismo, de fato, um componente-chave nas revoluções burguesas, foi um passo nesse processo para além dos paroquialismos da sociedade feudal. A África do Sul fornece uma excelente ilustração dessa tendência dentro da comunidade negra, apesar dos esforços da classe dominante em sentido contrário. Em comparação com o século XIX, quem poderá negar que hoje internacionalmente há mais consciência de classe tanto para os trabalhadores quanto para a burguesia.

Além da tendência histórica, há também o que Marx e Engels chamaram de necessidades objetivas da classe trabalhadora. Em seu esforço para combater os preconceitos do proletariado inglês sobre a questão irlandesa, eles explicaram a importância desta questão a seus camaradas da seguinte forma:

[É] tarefa da “Internacional” colocar o conflito entre a Inglaterra e a Irlanda em primeiro plano e, em todos os lugares, posicionar-se abertamente ao lado da Irlanda. A tarefa especial do Conselho Geral em Londres é fazer com que os trabalhadores ingleses percebam que, para eles [os trabalhadores ingleses], a emancipação nacional da Irlanda não é uma questão de justiça abstrata ou sentimentalismo humanitário, mas a condição primeira de sua própria emancipação social.35

Em outras palavras, a solidariedade internacional de classe é o pré-requisito para a libertação do proletariado nos países capitalistas avançados, bem como no mundo colonial e semicolonial. A menos que os primeiros se identifiquem com a luta nacional dos oprimidos e colonizados, eles minam sua própria liberdade. Em certo sentido, aqui reside uma prova negativa do que Marx e Engels argumentaram. (A questão das Malvinas / Ilhas Falkland e a questão irlandesa hoje são ilustrativas desta comprovação. Na medida em que os trabalhadores ingleses apoiam as políticas coloniais do governo Thatcher em ambos os lugares, eles fornecem a esta governante o apoio político necessário para realizar suas políticas internas anti-classe trabalhadora).

5. Robinson e os “espantalhos de sua própria criação”.

Há outro lado da visão histórica mais ampla de Marx e Engels que também é verificado pela realidade do processo revolucionário no século XX. Ou seja, as revoluções na periferia só serão seguras quando o capitalismo for eliminado do centro. Em outras palavras, o futuro das lutas lideradas pelos trabalhadores e camponeses no Terceiro Mundo depende, em longo prazo, do proletariado nos países capitalistas avançados. A África Austral ilustra como este fato opera a nível regional. Como uma potência subimperialista, a África do Sul continuará a ser uma ameaça imediata às lutas revolucionárias na região até que sua classe trabalhadora (predominantemente negra) tome o poder estatal. Esta, ao que parece, é a principal lição do recente pacto de segurança África do Sul-Moçambique (o acordo de Nkomati).36

Em sua crítica a Marx e Engels, a tendência de Robinson é argumentar contra os espantalhos de sua própria criação. Em nenhuma questão isso é mais evidente do que a questão nacional e sua relação com a luta anticolonial. Robinson cita vários casos com o intuito de demonstrar que Marx e Engels estavam cientes de alguns dos problemas no quadro geral. Por exemplo, sobre a questão irlandesa, Marx escreveu:

Por muito tempo acreditei que seria possível derrubar o regime irlandês pela ascensão da classe trabalhadora inglesa. Sempre expressei esse ponto de vista no New York Tribune. Um estudo mais aprofundado agora me convenceu do oposto. A classe trabalhadora inglesa nunca realizará nada antes de se livrar da Irlanda. A alavanca deve ser aplicada na Irlanda. É por isso que a questão irlandesa é tão importante para o movimento social em geral (itálico no original).37

Robinson pode criticar corretamente Marx e Engels pelo que eles próprios reconheceram serem inadequações em sua visão mais ampla? Como materialistas Marx e Engels foram compelidos a testar seus pontos de vista com a realidade e realizar os ajustes necessários. Como Engels escreveu certa vez: “O comunismo não é uma doutrina, mas um movimento; procede não de princípios, mas de fatos” (itálico no original).38

Robinson também acusa Marx e Engels de subestimarem a importância da luta anti-imperialista e anticolonial. Isso obviamente não é verdade, como deixam claros os pontos de vista supracitados sobre a questão irlandesa. O que Robinson está realmente acusando-os é de ignorarem o que ainda eram ocorrências relativamente raras no século XIX - as lutas anticoloniais do Terceiro Mundo.39 Quando tais movimentos apareceram e quando Marx e Engels aparentemente tinham alguma familiaridade com eles, eles geralmente expressaram seu apoio.40 Isso foi particularmente verdadeiro para a rebelião Taiping na China e a revolta indiana na década de 1850. Eles não apenas apoiaram essas lutas, mas deixaram claro, ao contrário da afirmação de Robinson, que eram tão importantes, senão mais, quanto à luta de classes na Europa Ocidental. No caso do levante da China, Marx chegou a especular que ele poderia desencadear levantes revolucionários na Europa.41 Estas ideias seriam a base para as opiniões de Lênin sobre a questão nacional, ao contrário da sugestão de Robinson de que ele tinha que romper com Marx e Engels nesta questão.

Muito do que Robinson emprega como evidência para substanciar a realidade de uma tradição radical negra é a longa tradição de revoltas de escravos na Diáspora. Robinson acusa Marx e Engels de ignorar ou tratar como insignificantes essas lutas.42

Evidentemente, Robinson considera sem importância as linhas de abertura do Manifesto: “A história de todas as sociedades até agora existentes é a história da luta de classes”. As revoltas de escravos foram tão significativas para Marx quanto à revolta dos trabalhadores. É por isso que ele pôde escrever em 1860: “Em minha opinião, o que de mais importante está acontecendo no mundo hoje é de um lado o movimento de escravos na América, iniciado pela morte de John Brown, e de outro, o movimento de escravos na Rússia”.43 Marx e Engels acompanharam a Guerra Civil dos Estados Unidos (1861-1865) de muito perto. Eles defenderam que os escravos do Norte lutassem contra o Sul e, mais significativamente, eles tiveram um papel ativo por meio da Associação Internacional dos Trabalhadores (Primeira Internacional) na oposição dos trabalhadores ingleses ao apoio do governo britânico aos estados do Sul dos Estados Unidos.44 Seus seguidores alemães nos Estados Unidos desempenharam um papel importante na oposição à escravidão em estados como o Missouri.45

Outro espantalho de Robinson consiste na sua afirmação de que as posições dos seguidores de Marx e Engels refletiam suas visões reais. Um exemplo disso é a Segunda Internacional socialdemocrata e suas políticas sobre a questão colonial desde o final do século XIX. Quase invariavelmente, os partidos dessa organização apoiaram ou concordaram com as políticas coloniais de seus governos de origem. Marx e Engels, que criticaram severamente o colonialismo, devem ser culpados por isso? Foi precisamente porque a socialdemocracia falhou na questão colonial que Lênin, baseando-se no que Marx e Engels defendiam, criticou a Segunda Internacional e acabou rompendo com ela, formando a Terceira Internacional ou Internacional Comunista.46

A questão colonial está relacionada a outro espantalho de Robinson. Isso diz respeito ao lado progressista da hegemonia política burguesa. Trata-se da principal questão que Robinson enfoca em sua discussão das idéias de W. E. B. Du Bois em sua obra seminal Black Reconstruction. Robinson apoia a análise de Du Bois do Pós-Guerra Civil nos Estados Unidos, que argumenta que o governo burguês não era progressista e, de fato, era irrelevante para a luta revolucionária para derrubar a escravidão.47

Assim como Marx e Engels reconheceram que os avanços materiais trazidos pelo capitalismo acarretaram uma miséria crescente, eles compreenderam que o domínio burguês também era heterogêneo. Esta foi a principal lição para eles das revoluções de 1848 na Europa, que ocorreram cerca de seis meses depois que Marx escreveu o Manifesto.48 Os eventos revelaram que a burguesia começaria a abandonar seu papel historicamente progressista de derrubar as formas políticas e econômicas pré-capitalistas. Era como se a burguesia, em sua luta contra o antigo regime, começasse a olhar por cima do ombro para aquela classe recém-nascida, então quase invisível, o proletariado. Quanto mais se concentrava nessa classe, menos olhava para o feudalismo, eventualmente a ponto de a burguesia se encontrar aliada aos representantes da velha ordem. Tornou-se cada vez mais evidente que as tarefas desempenhadas pela burguesia nas revoluções anteriores teriam que ser executadas por esta nova classe. Como Marx observou no Dezoito Brumário..., a revolução não pararia na fase burguesa, mas seria permanente, ou seja, o socialismo estaria agora na ordem do dia.

Esta é a estrutura que empregaram na análise de levantes revolucionários. Sua ansiedade com a Guerra Civil dos Estados Unidos, isto é, se a burguesia sob a liderança de Lincoln realmente pressionaria a luta para derrubar a escravidão refletiu esta avaliação da burguesia no rescaldo de 1848. Eles até suspeitavam que depois da guerra a burguesia não concederia plena igualdade aos negros.49 Embora o veredicto ainda não fosse pronunciado sobre a burguesia americana (na época, eles estavam mais familiarizados com a situação dos Estados Unidos), eles não tinham dúvidas de que a burguesia européia havia perdido todas as características redentoras que já teve.

Ao contrário do que diz Robinson, Lênin foi capaz de liderar com sucesso a Revolução Russa porque ele absorveu estas lições de Marx e Engels. Lênin tinha até mesmo memorizado seu famoso Discurso à Autoridade Central de 1850, que traçou um curso político revolucionário baseado nestas lições.50

6. Du Bois, James e Wright segundo Robinson.

Ao discutir Du Bois, Robinson faz referência a este autor para debater as limitações da esquerda nos Estados Unidos, particularmente o Partido Comunista, por causa da debilidade desta organização em compreender a luta negra em sua completude, bem como a profundidade do racismo. As críticas de Du Bois ao Partido Comunista não são únicas. Na verdade, o que é um traço comum entre Du Bois, James e Wright são suas experiências negativas com o stalinismo na questão negra e outras questões. Du Bois aparentemente reconciliou suas diferenças com o stalinismo desde que se juntou ao PC em 1961 e permaneceu como membro até sua morte, dois anos depois. Richard Wright foi membro de 1934 a 1942. Sua adoção em torno do nacionalismo negro e seu desconforto com o caráter burocrático do partido o colocaram em desacordo com a organização e acabou levando à sua ruptura. Ao contrário dos Partidos Comunistas da Europa Ocidental, o partido norte-americano seguiu de forma mais consistente a linha política emanada de Moscou.

Embora nunca tenha se afiliado a um Partido Comunista pró-Moscou, C. L. R. James também foi afetado pelo stalinismo. Como trotskista - membro do American Socialist Workers Party até 1951 - James, evidentemente, rejeitou os princípios básicos do stalinismo, como o socialismo em um país e o frentismo popular. No entanto, James mais tarde rompeu com Trotsky por causa da análise deste último sobre a União Soviética; ademais, também tinha divergências sobre a concepção leninista do partido revolucionário.

Ao empregar essas três figuras para argumentar sua tese, Robinson sugere, especialmente no caso de Wright e Du Bois, que o stalinismo é o marxismo e / ou marxismo-leninismo. Este é um encantamento favorito da direita e de alguns críticos socialdemocratas do marxismo-leninismo. Este não é o lugar para abordar a inexatidão de tais pontos de vista. Seria útil, entretanto, olhar para essa afirmação em relação à luta negra e, mais especificamente, à tradição radical negra - o que Robinson diz que esses três tiveram que se voltar devido às inadequações do marxismo.

Em primeiro lugar, o que Robinson quer dizer com tradição radical negra? Isso não está muito claro. No centro disso, ele afirma - com base em evidências limitadas - é a “ausência de violência em massa” seja na África ou na Diáspora. Na medida em que a violência ocorreu, ela foi voltada para dentro porque o externo ou material não era importante. “Sua epistemologia concedeu supremacia à metafísica e não ao material”.51 A continuação desta tradição é “a habilidade de conservar sua consciência nativa do mundo da intrusão estrangeira, a habilidade de recriar imaginativamente uma metafísica precedente enquanto é submetido à escravidão, dominação racial e repressão”.52

Além do fato de que Robinson oferece poucas evidências para esta visão - especialmente suas generalizações sobre as origens africanas desta tradição - parece que esta tradição não é significativamente diferente da de outros povos, particularmente aqueles em contextos pré-capitalistas.

Quando Robinson aplica essa perspectiva a seus três casos, o que ele realmente quer dizer é que eles olharam para o processo revolucionário através dos olhos dos negros e atribuíram um papel de liderança às massas negras. A discussão acima sobre a questão nacional, esperançosamente, pôs fim à afirmação de Robinson de que Marx e Engels tiveram pouca relevância para a luta negra - pelo menos durante sua vida. As opiniões de Lênin sobre a questão nacional e os negros em particular, que tinham suas raízes em Marx e Engels, foram apreciadas por Du Bois, Wright e James.

7. Notas sobre Trotsky, Garvey e o nacionalismo negro.

Trotsky, cuja posição sobre a questão nacional era semelhante à de Lênin, foi capaz de analisar a evolução da luta negra entre as duas guerras mundiais. A tendência política que James liderou dentro do SWP de 1940 a 1947 declarou o seguinte sobre as opiniões de Trotsky:

Uma das maiores contribuições de Trotsky ao partido norte-americano foi sua insistência por mais de dez anos na necessidade de adaptar a política leninista sobre a questão nacional à questão Negra nos Estados Unidos... a questão Negra é parte da questão nacional no sentido marxista do termo... Lênin e Trotsky e a Internacional Comunista em seu início deram contribuições inestimáveis ​​a esta questão que são indispensáveis ​​para o fortalecimento do partido...53

Embora ele discordasse de Trotsky em outras questões, James nunca renegou essa visão. Ao contrário do que Robinson sugere James nitidamente não considerava o marxismo irrelevante para a libertação negra.

Quanto à afirmação de Robinson de que os marxistas equivocam-se sobre a autodeterminação negra, deve-se notar que, em uma discussão com James em 1939, Trotsky o repreendeu suavemente por depreciar o nacionalismo negro e argumentou, em oposição a James, que o movimento de Marcus Garvey54 era progressista.55 Trotsky fez uma série de outros pontos:

Os negros ainda não despertaram e não se uniram aos trabalhadores brancos. 99,9 por cento dos trabalhadores norte-americanos são chauvinistas, em relação aos negros são carrascos... É preciso ensinar as feras americanas... Esses trabalhadores norte-americanos que dizem: “Os negros devem se separar quando quiserem e nós os defenderemos contra a polícia americana” - são revolucionários... O argumento de que o slogan da “autodeterminação” afasta a base de classe é uma adaptação à ideologia dos trabalhadores brancos.... É possível... que os negros se tornem o setor mais avançado [na radicalização da classe trabalhadora]... Eles fornecerão a vanguarda. Estou absolutamente certo de que, de qualquer modo, lutarão melhor do que os trabalhadores brancos.56

Seria difícil concluir que as opiniões de Trotsky eram incompatíveis com as dos três indivíduos que Robinson descreve. Como no caso de Lênin, eles tiveram suas origens em Marx e Engels. As políticas de Stalin, por outro lado, tinham pouco em comum com essa tradição. O que sempre foi central para a posição stalinista na questão nacional - nos Estados Unidos e em outros lugares - é a subordinação dos interesses das nacionalidades oprimidas aos interesses da burocracia soviética. Sugerir, como faz Robinson, que isso é marxismo-leninismo é erguer outro espantalho.

As diferenças de James com Trotsky centravam-se em suas posições de que a revolução soviética havia degenerado em um regime capitalista de estado e que um partido de vanguarda leninista não era necessário para fazer uma revolução. A questão é: por que essas visões deveriam constituir um exemplo da tradição radical negra, como sugere Robinson? Os brancos, tanto à esquerda como à direita, tiveram posições semelhantes. O problema é a fraqueza conceitual que Robinson não resolveu adequadamente.

8. Conclusão.

Uma grande insuficiência em relação às teses de Robinson é que ele próprio é vítima do que ele erroneamente acusa Marx e Engels - a formulação de uma perspectiva que aborda inadequadamente a realidade histórica. É Robinson, com sua metodologia idealista estática, que tem dificuldade em lidar com novas situações. De que outra forma se pode explicar sua ignorância frente ao curso real das lutas do Terceiro Mundo e do movimento de libertação negra em particular desde os anos em que James, Du Bois e Wright eram politicamente ativos. (No máximo ele gasta cerca de três páginas para fazer comentários superficiais e às vezes equivocados sobre tais eventos). Para um trabalho que pretende desenterrar e rastrear o desenvolvimento da tradição radical negra é digno de nota que Robinson nem mesmo menciona a Revolução de Granada.

Um exemplo de trabalho que tem uma orientação completamente oposta é o já mencionado African Socialism or Socialist Africa? [Socialismo Africano ou África Socialista?] de A. M. Babu. Babu, um participante ativo na luta negra - que provavelmente mais do que qualquer coisa explica as diferenças - essencialmente traçou um balanço da revolução africana nos últimos vinte anos. Ao contrário de Robinson, ele conclui sobre a necessidade da constituição em toda a África de partidos revolucionários armados com um programa marxista-leninista. Babu dedica uma parte importante de sua análise para criticar o que é a principal controvérsia de Robinson, ou seja, a análise de classe como irrelevante para a luta negra.57

Não é suficiente afirmar a existência de uma tradição radical negra como faz Robinson. A questão chave é: qual é a sua relevância como um programa de luta para os negros hoje. Se Robinson operasse em uma estrutura materialista, ele poderia se interessar em quais perspectivas da tradição radical negra resistiram ao teste do tempo, isto é, relacionar-se com as mudanças reais na nação negra e no Terceiro Mundo, bem como na situação internacional como um todo. Por exemplo, se os cubanos tivessem aderido à análise de James da União Soviética como um regime capitalista de estado, é duvidoso que eles pudessem ter consolidado sua revolução. Armados com sua perspectiva, provavelmente teriam rejeitado a URSS como um provável aliado.

Seguir o argumento de Robinson de que a noção de Marx de um proletariado revolucionário é obsoleta é seguir um curso que contradiz a realidade viva das lutas revolucionárias em lugares como Nicarágua, El Salvador, África do Sul e Granada (até outubro de 1983). Embora Robinson possa ter descartado o proletariado nos países capitalistas avançados, os revolucionários na América Central e no Caribe certamente não o fizeram. Eles têm cada vez mais adotado medidas para apelar aos interesses de classe dos trabalhadores norte-americanos e, na maioria dos casos em que foram capazes de romper a barreira ideológica burguesa que envolve a maioria dos trabalhadores americanos, eles obtiveram uma resposta favorável.58 Finalmente, Robinson pode considerar o que o falecido Maurice Bishop59 disse em uma entrevista em Granada em julho de 1980.

Deixe-me acrescentar apenas uma coisa final. Isso quer dizer que nós, sem a intenção de ser desrespeitosos, recomendaríamos fortemente ao movimento negro nos Estados Unidos a importância de desenvolver os vínculos mais firmes e estreitos com o movimento operário branco e o movimento progressista branco. Nosso sentimento certamente é que, para vencer essa luta dentro da América, é extremamente importante que todas as forças progressistas se reúnam e travem uma luta consistente contra o verdadeiro inimigo.60

Como povo negro, nós temos a obrigação de ponderar o conselho de Bishop que liderou o que este resenhista considera ter sido a expressão máxima até agora da tradição radical negra.61

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Notas

1 FANON, Frantz. Os condenados da terra. Prefácio de Jean-Paul Sartre. Tradução de José Laurênio de Melo. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1968, p. 6.
2 LÊNIN, V. I. Que Fazer? As questões palpitantes do nosso movimento. São Paulo: Hucitec, 1978, p. 18.
3 Para uma introdução útil da revista em tempo real, ver: CACCIA, Goffredo. “Journal of African Marxists”. Monthly Review, vol. 36, September de 1984.
4 Para detalhes biográficos relevantes, Ver: “August Nimtz: History and Contingency in the Making of a Black Communist” Oct. 11, 2019, https://turtleroad.org/2019/10/11/august-nimtz-geography-of-a-black-communist/
5 O presente artigo foi originalmente publicado em língua inglesa como uma resenha crítica no Journal of African Marxists. Ver: NIMTZ JR, August H. Marxism and the Black Struggle: The ‘Class vs. Race’ Debate Revisited. Journal of African Marxists, nº 7. London, pp. 75-89, March, 1984 (Nota do Tradutor – N. T.).
6 Robert Lee Allen (1942-). Escritor e ativista norte-americano, professor de Estudos Étnicos e Afro-Americanos da Universidade da Califórnia, Berkeley (N. T.).
7 ALLEN, Robert. Black Awakening in Capitalist: An Analytic History. Garden City, New York: Doubleday, 1970, p. 265.
8 A primeira edição em inglês desta obra foi realizada pela editora Zed Press (1983), posteriormente, reimpressa pela The University of North Carolina Press (2000). A primeira edição em castelhano foi publicada recentemente em Madrid. Ver: ROBINSON, Cedric J. Marxismo Negro: La formación de la tradición radical negra. Madrid: Traficantes de Sueños, abril de 2021 (N. T.).
9 Cedric J. Robinson (1940-2016). Intelectual norte-americano, professor do Departamento de Estudos Negros e de Ciência Política da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara (N. T.).
10 Esta resenha compreensivelmente não pode abordar os muitos aspectos do argumento de Robinson. Um destes aspectos reside na sua afirmação de que os negros foram bem sucedidos sob o Islã e o domínio árabe (ROBINSON, 1983, pp. 116-25). No entanto, a minha própria pesquisa - ver, por exemplo, Islam and Politics in East Africa (University of Minnesota. Press, 1980) - sugere que os negros no mundo árabe-muçulmano encontraram problemas - senão semelhantes aos de um contexto europeu cristão - certamente racistas. Ademais, o imperialismo europeu também desempenhou um papel.
11 William Edward Burghardt Du Bois (1868-1963). Sociólogo norte-americano, ativista pan-africanista e socialista, fundador da National Association for the Advancement of Colored People (NAACP). Ver: DU BOIS, W. E. B. Black Reconstruction in America: An Essay Toward a History of the Part Which Black Folk Played in the Attempt to Reconstruct Democracy in America, 1860-1880.Oxford: Oxford University Press, 2007. Ver também: DU BOIS, W. E. B. As almas do povo negro. São Paulo: Veneta, 2021 (N. T.).
12 Cyril Lionel Robert James (1901-1989). Jornalista e historiador marxista trinidaniano. Ver: JAMES, C. L. R. Os Jacobinos Negros – Toussaint L’ Ouverture e a revolução de São Domingos. São Paulo: Boitempo, 2010. Ver também: JAMES, C. L. R. Nkrumah and the Ghana Revolution.Westport, Conn: Lawrence Hill and Company, 1977; e A history of pan-african revolt. Oakland: PM Press, 2012 (N. T.).
13 Richard Wright (1908-1960). Escritor e romancista norte-americano. Tornou-se membro do Partido Comunista dos Estados Unidos em 1932 e, em 1937, editor do Communist Daily Worker.Ver: WRIGHT, Richard. Native Son. London: Jonathan Cape, 1970; e Black Boy.New York: Harper-Collins, 2005 (N. T.).
14 ROBINSON, C. Black Marxism: The Making of the Black Radical Tradition. London: Zed Press, 1983, p. 5.
15 Frantz Omar Fanon (1925-1961). Nascido na Martinica - foi um psiquiatra e filósofo marxista e pan-africanista. Foi membro da Frente de Libertação Nacional da Argélia. Ver: FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas. Salvador: EDUFBA, 2008; Os condenados da terra. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1968. Ver também: FAUSTINO, Deivison Mendes. Frantz Fanon: um revolucionário particularmente negro. São Paulo: Ciclo Contínuo Editorial, 2018 (N. T.).
16 Ouvi James reafirmar suas credenciais marxistas em uma palestra pública no Macalester College, St. Paul, Minnesota, 1976. Ver também: MARTIN, Tony. “C. L. R. James and the Race / Class Question”.Race, 2, 1972, pp. 183-93.
17 Em abril de 1989, pouco antes do seu falecimento, C. L. R James, em sede da revista Living Marxism (fundada em 1988 como jornal do British Revolutionary Communist Party), deu a seguinte declaração: “Eu acredito que a teoria marxista é uma teoria científico-intelectual como o mundo nunca viu antes [...] No geral, podemos ver o futuro com certa confiança; temos um método que está ciente do passado, mas aberto para o futuro”. Ver: JAMES, C. L. R; FITZPATRICK, J. “You never know when it is going to explode”. IN: https://www.marxists.org/archive/james-clr/works/1989/04/interview.htmlAcessoem30/09/2021 (N. T.).
18 ENGELS, Friedrich. “Engels to Bloch, Sept. 21 (22), 1890”. IN: MARX, Karl; ENGELS, Frederick. Selected Correspondence: 1844-1895. Moscow: Progress Publishers, 1975, p. 395.
19 ROBINSON, Cedric. Op. Cit., p. 53.
20 Ibid., p. 9.
21 Ver: MANDEL, Ernest. The Second Slump: A Marxist Analysis of Recession in the Seventies. London: New Left Books, 1978.
22 MARX, Karl. “Marx to Weydemeyer, March 5, 1852”. IN: MARX, Karl; ENGELS, Frederick. Selected Correspondence: 1844-1895, p. 64.
23 Walter Anthony Rodney (1942-1980). Historiador, acadêmico e ativista político guianense. Doutorou-se pela School of Oriental and African Studies (SOAS), em Londres. Ver: RODNEY, Walter. Como a Europa Subdesenvolveu a África. Lisboa: Seara Nova, 1975 (N. T.).
24 O autor faz referência à seguinte edição, Ver: RODNEY, Walter. How Europe Underdeveloped Africa. Washington, DC? Howard UP, 1974 (N. T.).
25 Abdulrahman Mohamed Babu (1924-1996). Intelectual marxista e pan-africanista que jogou um papel decisivo na Revolução em Zanzibar. Ver: BABU, A. M. African Socialism or Socialist Africa? London: Zed Press, 1981 (N. T.).
26 ROBINSON, Cedric. Op. Cit., p. 12.
27 Ibid., pp. 211-212.
28 Ver: MARX, Karl. Capital, Vol. I. “Appendix – Results of the Immediate Process of Production”. New York: Penguin Books, 1976, pp. 1033-34.
29 Ibid., p. 799.
30 A referente citação corresponde à versão brasileira de O’ Capital. Ver: MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Volume I. Livro Primeiro (O Processo de Produção do Capital). Tomo II. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 201 (N. T.).
31 Baran e Sweezy (1978) analisaram o processo de divisão racial do trabalho sob a égide do capital monopolista. Ao referirem-se sobre a situação dos afroamericanos, os autores afirmaram que, “mesmo quando têm nível igual de escolarização que os brancos, seu status ocupacional é mais baixo. Mesmo quando executam tipos idênticos de trabalho, recebem menor remuneração” (BARAN; SWEEZY, 1978, pp. 258-259). E, continuam – “a desvantagem relativa do negro é maior quanto mais alto se sobre na escala de ocupação e renda. Os negros [...] não melhoram seu status ocupacional relativamente aos brancos desde 1940, nem tampouco seu status de renda desde o fim da guerra” (Ibidem, p. 259). Por outro lado, ao analisarmos os dados recentes da economia norte-americana percebemos a perpetuação desta lógica. Em abril de 2020, a taxa de desemprego no país alcançou a marca de 14,8%. No mesmo período, o desemprego entre os brancos registrou uma taxa de 14,1% e entre os negros de 16,7%. Em agosto de 2021, a taxa geral de desemprego gravita em torno de 5,2%, sendo de 4,5% entre os brancos e de 8,8% entre os negros (praticamente o dobro da taxa verificada entre os brancos). Ver: Unemployment Ratehttps://fred.stlouisfed.org/series/UNRATE (N. T.).
32 O racismo é resignificado sob a égide do capitalismo, decorrendo da determinação racial do trabalho abstrato e da determinação racial da forma valor. No âmbito da formação econômico-social capitalista, a clivagem racial opera no sentido da constituição do exército industrial de reserva, tornando-se, ademais, fundamental para a reprodução das condições de exploração e superexploração da força de trabalho, exercendo influência no processo de extração e apropriação da mais-valia. O racismo consiste numa tecnologia de poder incorporada à lógica do trabalho abstrato, do trabalho assalariado e da valorização do valor. Em formações sociais como o Brasil (e, em alguma medida também nos EUA), o racismo não é decisivo apenas para constituir uma massa de desempregados. Mas, fundamentalmente, o racismo opera no sentido da superexploração dos sujeitos racializados da classe trabalhadora (negros, indígenas, imigrantes, ciganos, etc.), os quais, subsumidos ao trabalho abstrato, percebem menores remunerações e labora em maiores jornadas de trabalho, sofrendo acentuado desgaste da sua força de trabalho. Opera-se, então, a determinação negativa do valor da força de trabalho, com base em critérios raciais. Ademais, o racismo e o sexismo – como exploração e opressão - potencializam as taxas de lucro do capital. Ver: SOARES NETO, Mario. Superexploração racial da força de trabalho no capitalismo contemporâneo e o direito: Teoria Marxista da Dependência (TMD) & Crítica da Economia Política do Racismo. Por Mario Soares Neto. Orientador: Dr. Júlio César de Sá da Rocha. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Direito, 2021 (N. T.).
33 MARX, Karl. “Marx to Meyer and Vogt, April 9, 1870”. IN: MARX, Karl; ENGELS, Frederick. Selected Correspondence: 1844-1895, p. 222.
34 Ver: ANDERSON, Kevin B. Classe, Gênero, Raça, & Colonialismo: A ‘Interseccionalidade’ de Marx. [Tradução de Mario Soares Neto]. Revista Direito e Práxis, Rio de Janeiro, V. 12, N. 2, 2021, pp. 1499-1526. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaceaju/issue/view/2462. Acesso em 04/10/2021 (N. T.).
35 Ibid., p. 223.
36 O Acordo de Nkomati foi assinado em 16 de março de 1984, viabilizando a Política de Não-Agressão e de Boa Vizinhança entre Moçambique e África do Sul. O referido acordo expressou o sucesso alcançado por Moçambique no plano militar e diplomático vencendo os interesses subimperialistas da África do Sul que esperava derrubar o Governo Popular Moçambicano. Neste pacto formulou-se a política de paz mediante a qual Moçambique não realizaria agressões a outros estados; não serviria de base de agressão contra a República da África do Sul e que não permitiria que o território moçambicano fosse utilizado por um terceiro país como base de agressão. Há um importante discurso do Presidente Samora Machel realizado em 5 de abril de 1984 no IV Congresso da Partido FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) que expressa o caráter estratégico do referido acordo político-militar. Ver: MACHEL, Samora. Acordo de Nkomati: vitória da Paz, vitória do Socialismo. Maputo: Coleção “Palavras de Ordem” – Edição do Partido Frelimo, Abril de 1984. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/tematica/livros/frelimo/pdf/26.pdf Acesso em 03/10/2021 (N. T.).
37 MARX, Karl. “Marx to Engels, Dec. 10, 1869”. IN: MARX, Karl; ENGELS, Frederick. Selected Correspondence: 1844-1895, p. 218. Robinson apenas cita a quarta frase desta correspondência (p. 50) e, portanto, nega a seus leitores a oportunidade de ver como Marx e Engels reconheceram os seus erros.
38 ENGELS, Friedrich. “The Communists and Karl Heizen” (1847). IN: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx and Engels Collected Works, Vol. 6, 1845-48. New York: International Publishers, 1976, p. 303.
39 Se Robinson está se referindo apenas à América Latina, sua crítica pode ter algum mérito, já que Marx e Engels quase nada tinham a dizer sobre os movimentos de independência nesta região. Não está claro o porquê. Possivelmente, eles tinham poucas informações sobre este desenvolvimento.
40 Embora ele falhe em fazer isto, Robinson poderia ter se referido ao caso da Argélia ao fazer sua crítica. É verdade que no artigo de 1848 Engels se opôs à luta do imperialismo francês Abd al-Qadir dizendo que a “conquista da Argélia é um fato importante e feliz para o progresso da civilização” (Collected Works, Vol. 6, p. 471). Mas Robinson teria sido obrigado a admitir que nove anos depois Engels havia se revertido. Chamando a ocupação francesa da Argélia de “bárbara”, ele escreveu que os “nativos... não encontraram nenhuma vantagem na chamada civilização do novo governo” (MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. On Colonialism. Moscow: Progress Publishers, 1974, p. 159).
41 MARX, Karl. “Revolution in China and Europe”, May 1853. IN: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Marx and Engels Collected Works, Vol. 12, 1853-54, p. 98.
42 Uma obra recém-publicada no Brasil demonstra exatamente o oposto, evidenciando aspectos fundamentais da práxis abolicionista, antirracista e anticolonialista de Marx e Engels. Ver: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Escritos sobre a Guerra Civil Americana. Prefácio: August H. Nimtz. Tradução: Felipe Vale da Silva e Muniz Gonçalves Ferreira. Londrina/São Paulo: Aetia Editorial | Peleja 2020 (N. T.).
43 MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. On the United States. Moscow: Progress Publishers, 1979, p. 73.
44 Ibid., passim. Ver também os comentários de Marx e Engels sobre as revoltas escravas na Jamaica (On Colonialism, p. 322).
45 Ver: ROWAN, Steven; PRIMM, James. Germans for a Free Missouri. Columbia: University of Missouri Press, 1983.
46 Ver: LÊNIN, V. I. The National Liberation Movement in the East.Moscow: Progress Publishers, 1969, passim.
47 Parte do problema diz respeito às categorias que Du Bois emprega ao analisar os governos radicais do período de reconstrução no pós Guerra Civil norte-americana. Du Bois sugere que esses governos eram semelhantes ao governo dos trabalhadores estabelecido na URSS após a revolução de 1917. Se alguém aceita essa tese questionável - o que Robinson faz - então de fato parece que o governo burguês era irrelevante para o processo revolucionário.
48 As revoluções realmente começaram no dia em que o Manifesto do Partido Comunista foi publicado. O Manifesto veio ao mundo em 21 de fevereiro de 1848. Neste momento, já estava deflagrado o processo revolucionário e insurrecional que derrubou a monarquia francesa, proclamando-se a república em 24 de fevereiro deste ano. A revolução começou na França, mas, rapidamente, em 2 de março, chegou ao sudoeste da Alemanha; em 6 de março foi a vez da região da Bavária; em 11 de março alcançou Berlim; em 13 de março, Viena e também a Hungria; em 18 de março, alastrou-se por Milão na Itália que se encontrava em ebulição com uma revolta na Sicília. Ver: HOBSBAWN, Eric. A Era das revoluções (1789-1848). São Paulo: Paz e Terra, 2008. Ver também: HOBSBAWN, Eric. A Era do Capital (1848-1875). São Paulo: Paz e Terra, 2011 (N. T.).
49 MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. On the United States, p. 211.
50 RIAZANOV, David. Karl Marx e Frederick Engels. Nova York: Monthly Review, 1974, p. 100. Além disso, ao contrário de Robinson, Lênin aprendeu com Marx e Engels a importância da questão camponesa, que também foi fundamental para o sucesso dos bolcheviques. Ver: ENGELS, Friedrich. “The Peasant Question in France and Germany”, Marx e Engels, Selected Works. Moscow: Progress Publishers, 1970, pp. 623-40.
51 ROBINSON, Cedric. Op. Cit. p. 244.
52 Ibid., p. 443.
53 Johnson-Forest Tendency, Balance Sheet: Trotskyism in the United States, 1940-47, agosto de 1947, p. 12. Agradeço a Fred Feldman, ex-diretor nacional de formação do Partido Socialista dos Trabalhadores, por disponibilizar este documento.
54 Marcus Mosiah Garvey (1887-1940). Jornalista, escritor e ativista jamaicano, fundou a Universal Negro Improvement Association (UNIA) [Associação Universal para o Progresso Negro] e a African Communities League [Liga das Comunidades Africanas], na Jamaica em 1914. A UNIA preocupou-se com a elevação social e econômica do povo negro, adotando o lema: “Um só Deus! Um objetivo! Um Destino!”. Fundou a Black Star Line, companhia de navegação importante em seus esforços de repatriação africana. Garvey estabeleceu a UNIA na cidade de Nova Iorque em 1916 e criou o jornal da organização, Negro World, em 1918, pregando uma mensagem anticolonial: “África para os africanos em casa e no exterior”. Sua intensa atividade política desafiou as noções de supremacia racial branca e exaltou a grandeza dos africanos e da história da África. No auge da influência de Garvey e do garveyismo e de crescimento da UNIA, a organização chegou a ter mais de dois milhões de membros espalhados por diversas partes do mundo. Ver: BLAISDELL, Bob (ed.). Selected Writings and Speeches of Marcus Garvey. New York: Dover Publications, 2004. Ver também: ADI, Hakim. Pan-Africanism: A History.London: Bloomsbury, 2018 (N. T.).
55 BREITMAN, George (ed.). Leon Trotsky on Black Nationalism and Self-Determination. New York: Pathfinder Press, 1972, pp. 25-32. Robinson reconhece em uma nota de rodapé (p. 413) que ele está ciente dessas discussões, mas evidentemente não acha que elas são significativas para mencionar no corpo de seu texto. Ver também, Tony Martin.
56 Ibid., pp. 17-18.
57 Uma análise sobre a questão racial e a perspectiva de classe deve considerar a noção desenvolvida por Marx em O’ Capital e que foi posteriormente recuperada por diversos líderes Pan-Africanistas: “O trabalhador de pele branca não poderá emancipar-se enquanto o trabalhador de pele negra é marcado a ferro em brasa”. Ver: ADI Hakim; SOARES NETO, Mario. Pan-Africanismo & Internacionalismo em 1945. Revista Direito e Práxis, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, 2022 (N. T.).
58 Ver, por exemplo, a viagem de Alejandre Molina Lara, líder sindical revolucionário de El Salvador nos Estados Unidos no inverno de 1983 (The Militant, janeiro-março de 1983).
59 Maurice Rupert Bishop (1944-1983). Foi um revolucionário nascido na ilha caribenha de Granada. Dirigiu o New Jewel Movement, um partido marxista-leninista que chegou ao poder através de uma revolução em 13 de março de 1979. Bishop liderou o Governo Revolucionário do Povo de Granada de 1979 a 1983 que foi derrubado por um golpe de estado. Ver: SEARLE, Chris (ed.). In Nobody’s backyard: Maurice Bishop’s Speeches: 1979-1983. A Memorial Volume. London: Zed Books, 1984. Ver também: BISHOP, Maurice. Why the U. S. invaded Grenada. Maurice Bishop Speaks to U. S workers. New York: Pathfinder Press, 1983 (N. T.).
60 MARCUS, Bruce; TABER, Mike (eds.). Maurice Bishop Speaks: The Grenada Revolution, 1979-83.New York: Pathfinder Press, 1983, p. 119.
61 Ver: NIMTZ JR, August H. Marxismo, antirracismo e projeto revolucionário – Entrevista com o professor Dr. August Nimtz (EUA) – por Mario Soares Neto. Santa Catarina: (IELA/UFSC), 2021. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/221550Acessoem04/10/2021 (N. T.).
Versão original: NIMTZ JR, August H. Marxism and the Black Struggle: The ‘Class vs. Race’ Debate Revisited. Journal of African Marxists, nº 7. London, pp. 75-89, March, 1984.

Tradução recebida em 19/10/2021 e aceita 22/10/2021.

Autor notes

Sobre o autor August H. Nimtz Jr

É Professor de Ciência Política e Estudos Africanos e Afro-Americanos. Foi premiado com o título de Ensino Distinto, da Universidade de Minnesota. É autor de diversas obras. Ver: NIMTZ JR., August H. Islam and Politics in East Africa: The Sufi Order in Tanzania. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1980; Marx and Engels: their contribution to the democratic breakthrough. Albany: State University of New York Press, 2000; Marx, Tocqueville, and race in America: The “Absolute Democracy” or “Defiled Republic”. Oxford: Lexington Books, 2003; Lenin's Electoral Strategy from 1907 to the October Revolution of 1917: The Ballot, the Streets—or Both. New York: Palgrave Macmillan, 2014; Lenin's Electoral Strategy from Marx and Engels through the Revolution of 1905: The Ballot, the Streets - or Both. New York: Palgrave Macmillan, 2014; Marxism versus Liberalism: Comparative Real-Time Political Analysis. Bristol, UK: Palgrave Macmillan, 2019. Ver também: NIMTZ JR., August H. Marx e Engels sobre a Guerra Civil dos Estados Unidos: A “concepção materialista da história” em ação. IN: MARX; ENGELS. Escritos sobre a Guerra Civil Americana. Londrina | São Paulo: Aetia Editorial | Peleja 2020.

O autor é o único responsável pela redação do artigo
Sobre o tradutor Mario Soares Neto

É Advogado, Professor e Pesquisador. Mestre em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal da Bahia – PPGD/UFBA. Integrante do Grupo de EstudosDireitos Humanos, Centralidade do Trabalho e Marxismo, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (DHCTEM – USP). Coordenou o Curso Marxismo e Pan-Africanismo (FDUFBA, 2018; 2019). Organizou o Curso Marxismo e Questão Racial (FDUSP, 2021). Autor de: Superexploração racial da força de trabalho no capitalismo contemporâneo e o Direito: Teoria Marxista da Dependência (TMD) & Crítica da Economia Política do Racismo (NO PRELO).



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