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Poesia e guerr: Uma conferência de Erich Auerbach e seus estratos históricos
Literature and War: A Lecture of Erich Auerbach and its Historical Strata
Varia Historia, vol. 41, e25009, 2025
Pós-Graduação em História, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais

DOSSIÊ: FORMAS TEXTUAIS, IMAGINAÇÃO E HISTORICIDADE


Received: 7 March 2024

Revised document received: 4 November 2024

Accepted: 1 November 2024

DOI: https://doi.org/10.1590/0104-87752025v41e25009

RESUMO: O artigo comenta aspectos explícitos e implícitos do texto-conferência de Erich Auerbach Poesie et guerre (Poesia e guerra), publicado no dossiê Formas textuais, imaginação e historicidade da revista Varia Historia. Procura situar a problematização de Auerbach no contexto de sua fatura e no contexto do pensamento de seu autor, destacando os aspectos mais decisivos de seu enfoque e de suas dimensões de atualidade, pensada em distintos estratos históricos.

Palavras chave: Erich Auerbach, guerra, literatura.

ABSTRACT: The article comments on explicit and implicit aspects of the conference text of Erich Auerbach, Poesie et guerre (Literature and War), published on Special Issue: Textual Forms, Imagination, and Historicity on Varia Historia. It aims to situate Auerbach’s problematization in the context of its time and in the context of its author’s thinking, highlighting the most decisive aspects of its approach and the senses of its actuality, thought of in different historical strata.

Keywords: Erich Auerbach, War, Philology.

“The Real War Will Never Get in the Books”

Walt Whitman

(Whitman, 1963, p. 116)

“Pois a escrita da história repousa sobre a própria experiência da história” (Auerbach, 1951, p. 8). Essa afirmação de Erich Auerbach, que assume o estatuto de um postulado, ilumina de modo preciso e incisivo a sua própria atividade: ele nada mais pretendia, mas também nada menos, que “escrever história” (Auerbach, 1958, p. 20).

Por essa razão, é válido, e mesmo necessário, indagar pelas experiências históricas que condicionam, informam e iluminam a sua escrita da história e o modo como ela é formulada.1 Eis porque falo de estratos históricos, que vão do singular e pessoal ao coletivo, do particular ao universal, do concreto ao abstrato, do esquecido ao relembrado e rememorado, do trauma ao trabalho de reelaboração.

E, nesse sentido, poesia e guerra, em sua seriedade, problematicidade e dramaticidade, circunscrevem duas das experiências mais radicais vividas por Auerbach (1892-1957). Essa constelação acentua a singularidade do texto Poesia e guerra, publicado nesta edição de Varia Historia, originalmente uma conferência realizada durante o período do exílio na Turquia (1936-1947). Se ao primeiro olhar poesia e guerra parecem antitéticas, são na verdade experiências que entretecem, desdobram e concretizam toda uma humaine condition — o ponto de convergência de todos os esforços de Auerbach, o tema de seu magnus opus e de sua vida. (Waizbort, 2012).

Erich Auerbach exprimiu-se sobre a guerra como experiência e cesura biográfica, até onde sabemos, apenas nos três currículos que nos legou.2

Com a deflagração da guerra tornei-me soldado e estive no campo de batalha de dezembro de 1914 até abril de 1918, de início no 2º Regimento de Ulanos, depois no Regimento de Infantaria 466 (Auerbach, 1929, p. 199).

Com efeito, ele voluntariou-se já em agosto de 1914, como tantos judeus alemães que se julgavam assimilados, e em dezembro estava no campo de batalha.3 Em dezembro de 1917 foi transferido para o Regimento de Infantaria 466 e “gravemente ferido em abril de 1918.” (Auerbach, 1921, p. 197). Auerbach foi então transferido para um hospital militar e condecorado com a “Cruz de Ferro” de 2ª Classe.4 Alguns meses depois, ele pode retomar os estudos de filologia românica em Berlim, que havia iniciado pouco antes da eclosão da guerra. Uma conhecida passagem de Walter Benjamin (1977, p. 439) .exprime a experiência comum:

Com a Guerra Mundial tornou-se manifesto um processo que não cessou desde então. Não foi observado que, ao final da Guerra, as pessoas voltavam emudecidas do campo de batalha? Não mais ricas, mas mais pobres em experiências comunicáveis?

Ao final de Poesia e guerra Auerbach fala a respeito de uma literatura que procura, de algum modo, narrar essa pobreza; esse foi seu modo de elaborar as barreiras e bloqueios de seu próprio trauma. E então ele fala da miséria, do sofrimento e do terror da Grande Guerra, que viveu, como um “soldado desconhecido”, em meio a tantos outros.5

Embora não seja possível estabelecer com precisão a data da conferência, ela deve ter ocorrido em 1941, em uma época em que, segundo seu filho Clemens, “meu pai estava extremamente deprimido com o curso adverso da guerra e não realizou nenhum trabalho criativo entre 1940 e 1942” (Clemens Auerbach citado por Jørgensen, 1996, p. 83). Esse curso adverso da guerra indica não somente as dificuldades do enfrentamento às potências do Eixo, mas também diz respeito, especificamente, à situação geopolítica e estratégica da Turquia naquele momento (voltarei ao ponto). Apesar disso, pouco depois o estado de espírito alterou-se e Auerbach iniciou a escrita de Mimesis — que, como consta em seu pórtico, foi escrito de “Maio de 1942 a Abril de 1945” (Auerbach, 1946, p. 4). Tal inscrição evidencia, em meu juízo, em que medida a escrita de Mimesis foi uma espécie de resistência à situação de seu tempo presente e, sobretudo, uma arte de sobrevivência. Em uma época de trevas, temor e terror, Auerbach encontrou um modo de exprimir a sua profunda confiança no humano e seu enraizamento na humaine condition.

Simultaneamente à escrita de Mimesis (publicado em 1946), Auerbach também escreveu um livro didático para seus estudantes turcos, Introduction aux études de philologie romaine (escrito em francês, vertido e publicado em turco em 1944, publicado em francês na Alemanha em 1949). As duas obras possuem passagens que reforçam e trabalham o tema e as experiências mencionadas. No livro didático, Auerbach destaca a enorme crise de adaptação do século XIX, que levou à Guerra.

[…] a imensa maioria dos europeus esperava que a adaptação se realizasse como uma evolução tranquila. Mesmo quando eclodiu a guerra, em 1914, a maior parte das pessoas, por mais assustados que estivessem com o fato de que tal coisa tivesse ocorrido, não imaginava a multiplicidade de crises latentes que viriam à tona, nem a série de catástrofes que se desencadearam sobre a Europa e todo o mundo. Eles não imaginavam em que medida a vida mudaria (Auerbach, 1965 [1949], p. 216. Passagem equivalente em Auerbach, 1946, p. 490).

Tudo isso foi cuidadosamente retrabalhado e modulado no capítulo final de Mimesis — um capítulo caracterizado pela singularidade de relatar acerca de seu próprio tempo. Não é possível, aqui, retraçar em detalhe as modulações sutis, as referências ali presentes e as chaves de seus segredos. Basta-nos reler uma única passagem:

Nos anos ao redor da Primeira Guerra Mundial e logo a seguir, em uma Europa transbordante de formas de vida e de uma massa incomparável de ideias, uma Europa insegura e que gestava a calamidade, alguns escritores excepcionais, por instinto e penetração, encontraram um procedimento que dissolve a realidade em uma pluralidade de reflexos da consciência, em múltiplos planos de sentido. Não é difícil de compreender a origem do procedimento nesse momento histórico (Auerbach, 1946, p. 491; ver p. 490-493).

Com isso gostaria de enfatizar que Erich Auerbach encontrou, anos depois, um modo de comunicar as suas próprias experiências da Grande Guerra, e de um modo muito próprio, revelador e particular. Ademais, o próprio procedimento do autor de Mimesis é referido e aproximado, nesse mesmo capítulo final, ao procedimento dos narradores que investiga, traçando um claro arco de continuidade entre eles e ele, entre a escrita deles e a sua escrita — um arco que remete às experiências comuns da época (Cf. Auerbach, 1946, p. 488).

Eis que o silêncio rompeu sua interdição. E, nesse ponto, é imprescindível lembrar que A cicatriz de Ulisses6é uma referência velada, mas decisiva, ao ferimento que Auerbach sofrera na Guerra. Tanto o primeiro como o último capítulo de Mimesis estão impregnados e estruturados por uma mesma imagem: a imagem de uma mulher que se curva sobre a perna e os pés de um homem, em um ato de amor e cuidado. Auerbach, intencionalmente, abriu e fechou o seu livro maior lembrando, de modo cifrado, o seu próprio pé ferido na Guerra, uma cicatriz que o acompanhou por toda a vida.

Ao mesmo tempo, em um plano mais geral, a experiência pessoal foi focalizada na “vida comum dos seres humanos sobre a Terra” (Auerbach, 1946, p. 493; cf. Auerbach, 1958, p. 259) e com isso transfigurada, e o livro pode encontrar o seu “fim” na busca de seus leitores e leitoras7 — uma comunicação, que deságua do pessoal e individual para o coletivo, enraizado e assentado naquilo que é “o elementar e o comum dos seres humanos” (Auerbach, 1946, p. 493): a condição humana. Uma condição humana, seja enfatizado, que nada tem de abstrato, de ideal ou de imaterial: ela constitui-se das condições materiais e concretas das vidas e existências dos seres humanos. É, portanto, intrinsecamente histórica.

Não sabemos muito acerca da conferência Poesia e guerra e sequer consta um título no texto datilografado, em francês.8 A datação pode ser inferida ao redor de 1941, em função de algumas referências. É sabido que os professores alemães na nova Universidade de Istanbul estavam contratualmente obrigados a ministrar conferências públicas para um público mais amplo.9Poesia e guerra foi pensada, sem dúvida, para um público turco, composto não somente de estudantes. Ao mesmo tempo, indica o esforço em conectar a literatura e a filologia aos acontecimentos críticos da época. O texto, originalmente em língua francesa — assim como o manual já mencionado e outros textos de professores estrangeiros da época —, foi traduzido e publicado em língua turca. É possível conceber uma série de palestras sobre o tema da guerra, muito presente, pois mais ou menos ao mesmo tempo Alexander Rüstow, outro professor alemão exilado, colega e amigo de Auerbach, palestrou sobre “A técnica da guerra e sua significação sociológica” e, a seguir, ambas as palestras foram publicadas.10

A conferência de Auerbach desenvolve sua história literária levando em consideração uma história de orientação social e política (nesse aspecto, similar ao manual escrito para os estudantes turcos). Por essa razão, povo e nação são duas categorias centrais, que conduzem a argumentação. Auerbach dá especial relevo aos modos como o povo aparece e desaparece nas figurações literárias — um tema que ele já havia explorado em seu último trabalho publicado na Alemanha, antes do exílio forçado: seu estudo magistral sobre “O público francês no século XVII”. (Veja-se Auerbach, 1933, assim como Auerbach, 1927). Desta feita, Auerbach procura investigar em que medida a base das literaturas nacionais — indicando já, portanto, como a noção carece de enfrentamento crítico — remete a uma poesia de guerra e como um sentimento nacional foi fomentado por essa poesia. Isso vale sobretudo para as antigas epopeias nacionais, populares. Somente muito mais tarde constitui-se uma cesura, durante a época do absolutismo; com Rousseau e a Revolução Francesa o povo emerge novamente, transformado, em especial vinculado à nação.

Encontramos argumentação similar tanto em Mimesis como em Introduction aux études de philologie romaine; mas, agora, o problema é tomado em forte conexão com o tema da guerra. Aparecem então em Poesia e guerra muitos poetas e prosadores que Auerbach analisa em outros momentos de sua obra, alguns mais intensamente, como Stendhal, Courier, Schiller ou Goethe, ou apenas menciona rapidamente, como Tolstoi, Thackeray, Keller.

Vale destacar que, na ocasião, a menção a Guerra e paz de Tolstoi possuía um sentido muito concreto e atual, pois no verão de 1941, o ano em que Auerbach ministrou sua palestra, foi deflagrada a “Operação Barbarrossa”, na qual as tropas de Hitler atacaram a União Soviética.11 Naquele momento, a “repetição” do fracasso da invasão ocidental ainda não havia se revelado (antes, Napoleão; agora, Hitler). Tudo era expectativa, temor e incerteza. De todo modo, é evidente que essa conexão de literatura e história, e seus sentidos cambiantes em função de seus momentos e contextos de recepção, vibram ali.

Com a ocupação ou a anexação da Grécia, da Bulgária, da Romênia e da Ucrânia pela Alemanha, em 1941 Hitler estava às portas da Turquia e a poucos quilômetros de Istanbul, onde Auerbach vivia, assim como muitos outros refugiados do regime nacional-socialista. (Somente em primeiro de março de 1945 a Turquia entrou na guerra ao lado dos Aliados, embora já desde 1944 estivesse a eles alinhada). Dessarte, por volta de 1941 havia grande temor de que as forças alemãs pudessem atingir Istanbul, gerando considerável apreensão dentre os exilados e refugiados na Turquia. (Veja-se p.ex. carta de A. Rüstow, citada em Meier-Rust, 1993, p. 70). Ao que se soma o fato dos burocratas turcos, naquele mesmo ano, antecipando a expectativa de uma invasão alemã, terem realizado uma espécie de “deportação preventiva” dos emigrantes judeus para a Anatólia; ao que consta, foi graças a uma iniciativa de Alexander Rüstow que os professores judeus não foram incluídos nesse “procedimento” (Cf. Meier-Rust, 1993, p. 71; Konuk, 2010, p. 127-128). Konuk (2010, p. 98-99, 127) destacou o forte anti-semitismo presente na Turquia, naquele momento.

O relato de Clemens Auerbach acerca da depressão de seu pai naquele momento certamente enraíza-se nessa situação. Também nas burocracias consular e acadêmica as coisas foram se complicando, porque os emigrados, a partir de 1938 — Auerbach havia emigrado em 1936 — tiveram que enfrentar mais dificuldades na renovação de suas permissões e contratos. (Cf. Dietrich, 1998, p. 351). E, além disso,

A guerra transformou a vida em Istanbul e suas “regras de jogo”. Muitos habitantes compartilhavam o temor da chegada das ações de guerra à cidade. […] Determinados territórios foram declarados como zonas restritas ou interditas e não podiam mais ser acessadas por estrangeiros. Estudantes turcos passaram a ter treinamento de defesa e a população foi ensinada a agir em caso de alarme de bombardeio. Os museus foram fechados e as peças mais valiosas foram em parte armazenadas. Por conta da ordem de desligamento da iluminação, os horários dos bancos etc. foram alterados. Os habitantes de Istanbul foram preparados para uma possível confrontação com a guerra e, indiretamente, já eram afetados. O café, tão importante na Turquia, tornou-se escasso e racionado, assim como outros produtos estrangeiros, e um mercado negro desenvolveu-se em Istanbul. A partir de agosto de 1941 só era possível comprar gasolina com cupons de consumo. E a partir de 1943 até mesmo o pão só podia ser comprado com selos de racionamento. A guerra perturbou e impediu a circulação internacional de mercadorias e tornou necessário um trato cauteloso dos alimentos básicos e da energia.” (Dietrich, 1998, p. 357-358).

Esse depoimento evidencia um pouco das condições da vida material e psíquica em que Auerbach, sua família, seus amigos e muitos outros viveram, e da presença da guerra na vida cotidiana da cidade.

Patrícia Reis (2024), em seu texto no presente dossiê “Formas textuais, imaginação e historicidade”, destacou a situação contínua de guerra vivenciada pelo Império Otomano e, a seguir, pela República Turca entre o final do século XIX e meados do século XX. A literatura turca elaborada na época, coetânea à palestra de Auerbach, também não deixou de tematizar a guerra. Paisagens humanas de meu país, de Nâzim Hikmet (2015), obra escrita simultaneamente a Mimesis, tematiza as guerras do Império e da República, vivenciadas por personagens muito diversas, de modo a oferecer um mosaico fragmentado da história turca do período — na qual, como se disse, a guerra esteve continuadamente presente.12 Esse é o contexto da palestra de Auerbach.

Comentarei ainda um único caso presente em Poesia e guerra, importante e prenhe de consequências: Goethe. Lembremos de início a discussão em Mimesis, quando Auerbach, sobre os ombros de Friedrich Meinecke, apresenta Goethe como, no final das contas, um autor distante de uma percepção e compreensão reais do movimento profundo das forças históricas. (Cf. Auerbach, 1946).13 Trata-se de um aspecto controverso de Mimesis. (Cf. Pieckerodt, 1998). Auerbach afirma que Goethe tende a privilegiar os processos que se gestam lenta e organicamente e a repudiar o que a isso se opõe, assim como as rupturas. Seus escritos e sua mentalidade seriam pouco abertos às “forças dinâmicas” (históricas), para a “dinâmica das lutas sociais” e para o “fundamento econômico”, para as “forças históricas” (Auerbach, 1946, p. 392-394). Em suma, quando trata das “relações sociais do presente”, os personagens de Goethe vivem fora dos “movimentos políticos e econômicos profundos da época” (Auerbach, 1946, p. 395). Isso no livro escrito entre 1942 e 1945.

É, pois, surpreendente que pouco antes, em Poesia e guerra, ocorra algo bastante distinto, quando Auerbach refere-se ao escrito de Goethe “A campanha na França em 1792”.14 Auerbach enfatiza então o realismo de Goethe, assim como sua capacidade de identificar e reconhecer a emersão do povo (como apontado, um tema importante para Auerbach). Em que radica tal realismo? Provavelmente, na atenção e incorporação dos “acontecimentos e das condições da época”. O próprio Goethe, como biógrafo de si e relator dos acontecimentos, está “inserido de modo consequente e fundante na história concreta da época” (Auerbach, 1946, p. 39 e 403, assim como p. 413, 415, 426, 437 etc.) e a prova mais clara disso é a célebre passagem de Goethe, naquele texto, sobre a “nova época da história do mundo”, que Auerbach não deixa de lembrar e mencionar em Poesia e guerra (Cf. Goethe, 1822, p. 235). No posfácio ao texto de Goethe, os organizadores da edição assinalam:

No Prefácio a Poesia e verdade, Goethe indicou como tarefa de sua biografia “expor o homem em suas relações epocais”; com isso, “devem receber especial atenção os movimentos gigantescos do curso político do mundo” que “exerceram a maior influência” sobre ele, “assim como à grande massa dos contemporâneos”. Mas enquanto em Poesia e verdade os motivos histórico-políticos aparecem isoladamente em um contexto multicolorido, a Campanha na França adentra nos “movimentos gigantescos” dos inícios da época da Revolução. Quando o volume apareceu, em 1822, um contemporâneo ajuizou: “de todos os fragmentos de sua vida, essa nova parte possui o interesse mais geral e mais cativante. A história da época não é alinhada aos eventos individuais, mas sim neles entranhada […]” (Loos; Trunz, 1988, p. 661).

O horror, a destruição e o terror da guerra são incorporados na narrativa da campanha militar, entretecidos com a vida cotidiana do narrador, de seus companheiros e do conjunto das pessoas envolvidas nos acontecimentos, nas mais diversas posições e situações.

Na verdade, há variadas passagens em Mimesis em que a guerra aparece, de modo mais ou menos explícito e em diferentes graus de aproximação. Logo no capítulo inicial Auerbach fala “da história que nós mesmos vivemos” e então menciona “o comportamento dos povos e estados antes e durante a guerra atual (1942)”, inserindo uma vez mais literalmente no texto a data de sua composição, a reforçar o seu enraizamento histórico (Auerbach, 1946, p. 25). Na sequência, chama a atenção para as dificuldades envoltas na “escrita da história”, reverberando portanto, em diferentes estratos, a passagem com que abrimos este artigo. No capítulo seguinte, ao tratar de Petrônio, menciona a Primeira Guerra Mundial, e também Thackeray no contexto das guerras napoleônicas (Cf. Auerbach, 1946, p. 39). Com efeito, a discussão acerca das distintas modalidades de realismo dá ensejo à ancoragem, ou à sua falta, “em um lugar determinado, um tempo determinado, uma situação política e econômica determinada” (Auerbach, 1946, p. 39), ecoando agora a passagem antes citada de Epilegomena a Mimesis. No terceiro capítulo, as perturbações no Império Romano dão margem à revolta e à guerra civil; no quinto, trata-se justamente dos Francos em guerra. O capítulo dez, Madame du Chastel, trata da guerra, e é um momento especialmente importante para o argumento que desenvolvo.

Assinalei que Mimesis abre-se e fecha-se com uma mesma imagem, de forte teor biográfico. Isso é significativo por revelar e enfatizar a preocupação em entrelaçar escrita da história e história vivida. No capítulo dez, que é o capítulo situado exatamente no centro do livro,15 encontramos uma família sitiada em meio à guerra: pai, mãe e filho — que espelham o casal Erich e Marie Auerbach e seu filho Clemens, sitiados na Turquia. Resulta, pois, que na abertura e ao final o autor entrelaçou ao argumento uma referência autobiográfica, que ademais remete à guerra; e no centro, uma situação familiar também vinculada à guerra.

No capítulo sobre Rabelais, Pantagruel também vai à guerra; no capítulo sobre o século XVII francês também ouvimos falar da guerra. Enfim, referências pontuais ocorrem ao longo de Mimesis; ao final ele antecipa a afirmação que vimos em “Epilegomena”: “a investigação foi escrita durante a guerra, em Istanbul” (Auerbach, 1946, p. 497).

Esses curtos apontamentos servem-nos para evidenciar em que medida Poesia e guerra está conectado e entrelaçado aos grandes temas de Auerbach, ocupando lugar próprio no interior de sua obra. Leitores e leitoras podem agora, com a publicação do texto em Varia Historia, facilmente tirar a prova e suas próprias conclusões.

A questão da nação e do nacionalismo oferece ainda um último tema. Mas também aqui ressoam notas pessoais, pois que, em especial para os assim chamados judeus assimilados, a Grande Guerra foi uma espécie de “cristalização simbólica da entrega de si à nação” (Becker, 2006, p. XLVII).16 Ao menos desde Hugo Grotius há uma ligação forte e mútua entre guerra e nação. (Cf. Anderson, 2008, p. 195; Janssen, 2004, p. 582-607). Mas é precisamente na adesão voluntária das massas, que se deixam morrer pela pátria, que radica a singularidade extraordinária das guerras do século XX (Cf. Mann, 2023; Wimmer, 2014). Essa questão é investigada em Poesia e guerra em uma constelação das literaturas nacionais. Elas são crias dos nacionalismos do século XIX. As línguas nacionais impressas formaram a base para o fomento das consciências nacionais (Anderson, 2008, cap. 2); a literatura tratada por Auerbach apresenta-se sob essas condições. Pois a literatura de guerra da qual ele fala está sólida e necessariamente enraizada na nação. Trata-se de uma literatura que pressupõe e concretiza uma “comunidade imaginada”. Ela fomenta um sentimento de solidariedade e de comunidade, que circunscreve todos os partícipes — “ce sont les grandes épopées nationales”, as grandes epopeias nacionais. Elas desempenham um papel importante na formação de uma nação. Auerbach nos fala de poesia, guerra e nação; possui inteira consciência da medida em que esses três elementos formam uma tríade de enorme potência e consequências históricas. Embora não escreva a palavra “ideologia”, as representações que emergem dessa tríade possuem o sentido de formações ideológicas.

Auerbach, escrevendo em plena guerra, diz-nos que ainda é cedo para ponderar acerca do modo como a literatura tematizará a tragédia. Hoje, 80 anos passados, já podemos muito bem vislumbrar isso. Basta lembrar o impressionante romance de Vassili Grossman, Vida e destino, algo inspirado em Guerra e paz — ou a obra de Primo Levi, ou de Sebald, ou de Thomas Mann —, para mencionar um autor já do universo de Auerbach. Esses nomes bastam para indicar o quão variada, rica, dramática, cruel e terrível pode ser a figuração literária da barbárie da guerra e de suas crias. Vimos, aqui no Brasil, a poesia de guerra florescer, na voz de Drummond, de Murilo, de Cecília, de Oswald, como tão bem nos mostrou Murilo Moura (2016) em seu O mundo sitiado.17 Isso sem falar do cinema, da música, da pintura — pois Guernica talvez seja a mais disseminada figuração da guerra no século XX —, na dança, no teatro, em que a guerra levou a criações tão memoráveis quanto terríveis.

Há, decerto, muitas outras dimensões que oferecem atualidade, em diversos estratos temporais. Por exemplo, a menção, logo ao início de Poesia e guerra, a um canto de vitória do povo judeu, em um momento em que os judeus europeus eram expulsos da Europa (pelo que Auerbach então sabia) e exterminados (pelo que soube depois), é certamente uma manifestação de confiança na história de seu povo e de crítica à barbárie daquele presente. Por outro lado, os conflitos hodiernos entre israelenses e palestinos oferecem nova caixa de ressonância para aquela antiga passagem bíblica. Em um tempo como o nosso presente, tão fortemente marcado por nacionalismos, guerras, conflitos e catástrofes, Poesia e guerra reatualiza a sua atualidade.

Essas questões devem nos levar de volta à epígrafe de Walt Whitman, uma asserção lancinante sobre o tema da conferência de Auerbach, feita muitos anos antes, e que certamente lhe era desconhecida. A asserção de Whitman é e não é verdadeira. Nasceu de sua experiência da Guerra Civil, que testemunhou e registrou, e que lhe deixou a convicção e a força do inexprimível e do inenarrável. E ele tem razão, e sua asserção é verdadeira. Mas o trabalho de Auerbach, por seu lado, permite-nos vislumbrar que mesmo o inexprimível e o inenarrável podem entrar nos livros, a seu modo. É possível encontrar maneiras de transfiguração do real que sejam modos de transportar a expressão do inexprimível e do inenarrável para formas de expressão e narração. O caso de Guernica parece-me ser uma forte e boa evidência. As obras e autores mencionados acima também. O argumento de Whitman é que, mesmo assim, algo, possivelmente o principal, continua faltando. E decerto sempre faltará. Creio que Erich Auerbach, em sua obra, e em especial em Mimesis, encontrou um modo de transfiguração, forjado pelo seu sermo humilis, pelo seu amor à humanidade, pelo seu conhecimento dos assuntos de que tratou, pelo arrojo analítico e ousadia dos encadeamentos, pela trama narrativa do livro, pelo destemor face ao terror, pela confiança nos feitos humanos e, por fim, pelo enraizamento da condição humana — creio que oferece a seus leitores e leitoras, caso os encontre, (Cf. Auerbach, 1946, p. 498) até mesmo aquilo que Whitman julgou impossível.

Essas mesmas leitoras e leitores de Auerbach sabem, ademais, que ele investigou essas questões todas não apenas nessa chave. Um contraponto necessário e enriquecedor de Poesia e guerra é o texto Filologia da literatura mundial, no qual Auerbach vê a superação da nação em favor da Terra como pátria do ser humano. A conjunção europeia pré-nacional, medieval, latina surge novamente como uma imagem que possibilita vislumbrar uma nova e outra realidade, totalmente transformada: não mais do pré-nacional, mas seguramente do supra-nacional, talvez do pós-nacional (Cf. Auerbach, 1967, p. 310).18 Poesia e linguagem tornam-se então, como antes, justamente um meio possibilitador e fomentador da comunicação. O que significa igualmente: mesmo durante e mesmo após o terror, permanece ao ser humano a possibilidade de transmitir experiências. Essa é precisamente a arte da sobrevivência.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Patrícia Reis o estímulo para reviver este texto e a Joseph Jurt e a Martin Vialon por indicações valiosas para sua escrita.

REFERÊNCIAS

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Notes

1 Conforme as palavras finais do texto “Epilegomena zu Mimesis: Mimesis é, de um modo inteiramente consciente, um livro que foi escrito por um ser humano específico, em uma situação específica, no início dos anos 1940.” (Auerbach, 1953, p. 18). As traduções presentes no texto são sempre do autor.
2 Os três currículos, de 21/5/1921, 1923 e 27/4/1929 foram reproduzidos em: (Barck, 2007, p. 197-199).
3 Sobre a questão da assimilação dos judeus alemães e das percepções e autopercepções do fenômeno, veja-se Scholem, 1984 e Waizbort, 2000, p. 535-567.
4 Apesar de esforços, não foi possível obter mais informações sobre a atuação de Auerbach durante a Grande Guerra. O Arquivo Militar Alemão, em Freiburg i.B., não possui nenhum material arquivado sobre o Regimento de Auerbach ou suas fichas e históricos pessoais, que queimaram durante a Segunda Guerra Mundial, em Potsdam ou Berlim. Sobre o Regimento de Infantaria 466 e, portanto, sobre os últimos meses de Auerbach como soldado, pode-se ver: Meinborn e Probst, 1925.
5 Aproximadamente 10 milhões de soldados morreram na Grande Guerra, além de 20 milhões de feridos. Veja-se os números e a discussão no verbete “War Losses”. International Encyclopedia of the First World War 1914-1918 Online. Disponível em: https://encyclopedia.1914-1918-online.net/article/war_losses. Acesso em: 16 fev. 2024.
6 Assim o título do capítulo de abertura de Mimesis, que foi concebido como uma introdução. Cf. Auerbach, 1953, p. 2; Auerbach, 2017.
7 Veja-se Auerbach, 1946, p. 498. De forma similar, Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, tanto na Dialektik der Aufklärung (1947) como na Philosophie der neuen Musik (1949), utilizam a analogia de uma “garrafa jogada ao mar” — todos eles livros escritos mais ou menos simultaneamente por judeus alemães em exílio forçado durante a guerra.
8 Deutsches Literaturarchiv Marbach, Alemanha. AUERBACH, Erich. Poesie et guerre. Texto datilografado, sem data. Espólio de Erich Auerbach.
9 Uma cópia do contrato encontra-se no Espólio de Erich Auerbach, depositado no Deutsches Literaturarchiv em Marbach, Alemanha. Veja-se Konuk, 2010, p. 150 e uma fotografia do contrato em Konuk, 2010, p. 205-207.
10 Auerbach, 1941, assim como Rüstow, 1941. Os textos “turcos” de Auerbach foram publicados, em tradução alemã, em Auerbach, 2014.
11 Sobre a “Operação Barbarrossa” pode-se ver Hartmann, 2011 e Kershaw, 2000.
12Paisagens humanas não tem um herói singularizado; seu herói é um ‘lutador’ e a ‘guerra’ inclui a Primeira Guerra Mundial, a queda do Império Otomano, a ocupação aliada da Turquia, a subsequente Guerra de Independência da Turquia e o estabelecimento da República, a Segunda Guerra Mundial, na qual a Turquia foi mobilizada, mas não entrou, e a ‘guerra’ civil na qual os prisioneiros políticos de Hikmet estavam engajados.” (Konuk, 2002, p. XI).
13 Capítulo Musikus Miller, com referência a Die Entstehung des Historismus de Friedrich Meineke, publicado em 1936.
14 Campagne in Frankreich 1792, publicado em 1822 como parte de sua obra autobiográfica.
15 Mimesis tem 19 capítulos e um posfácio; um capítulo foi acrescentado posteriormente por razões exógenas (Cf. Waizbort, 2007, p. 11-12).
16 Refiro-me intencionalmente ao caso de Marc Bloch (1886-1944). Bloch, como Auerbach, um homem da “geração de 1914”, oferece um interessante contraponto a Auerbach. Veja-se Bloch, 2006, que arrola uma grande variedade e riqueza de materiais (p.ex. p. 113, 977).
17 O livro de Moura (2016) oferece, ademais, um instrutivo balanço da discussão a respeito da poesia de guerra, com indicações poéticas e bibliográficas que auxiliam a situar o empenho de Auerbach.
18 A mesma questão também em Auerbach, 1958, p. 254-259. Escrevi “transformada” para que não haja dúvida de que Auerbach não pensa em um “retorno” a uma unidade anterior, ou o “restabelecimento” de uma unidade perdida. Ele está enraizado em seu presente histórico e atento ao movimento das forças históricas, que delineiam os rumos dos futuros possíveis.

Author notes

Editor responsável: Ely Bergo de Carvalho


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