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Antropologia e Turismo: Teorias, Métodos e Praxis
Anthropology and Tourism: Theories, Methods and Praxis
Rosa dos Ventos, vol. 11, núm. 3, pp. 723-726, 2019
Universidade de Caxias do Sul

Review




Pereiro, X. & Fernandes, F. (2018). Antropologia e Turismo: teorias, métodos e práxis. Santa Cruz de Tenerife, España: Pasos. Disponível: http://www.pasosonline.org/es/colecciones/pasos-edita/151-numero-20-antropologia-e-turismo

Resultado da experiência na docência e pesquisa de Xerardo Pereiro e Filipa Fernandes, Antropologia e Turismo foi elaborado como um manual didático, universitário e pedagógico ou, ainda, uma densa obra de compilação temática dentro da imbricação que envolve ciências sociais e turismo. A opção por esse tipo de organização partiu da percepção dos autores portugueses de que havia uma carência de obras de síntese nesse subcampo científico. Assim, seu conteúdo atua no sentido de reforçar como o turismo é assunto de interesse para os antropólogos e como a Antropologia traz um instrumental relevante para turismólogos e profissionais de áreas afins.

Podemos, adicionalmente, enquadrar a obra como um manifesto antropológico frente à predominância de enfoques empresariais, economicistas e de gestão nos cursos técnicos e universitários de Turismo, em Portugal e no mundo, conforme observam os próprios autores. Desse modo, o volume colabora para o alargamento do universo do discurso sobre o Turismo, tanto para o público de estudantes de Antropologia, Ciências Sociais e Turismo, quanto para outros tipos de leitores: técnicos de Turismo, investigadores de diversas outras áreas que dialoguem ou se debrucem, direta ou indiretamente, sobre essa complexa atividade humana.

A obra está composta por 16 capítulos, distribuídos em duas partes. No final de quase todos os capítulos estão disponibilizados, além das referências bibliográficas utilizadas, alguns materiais de apoio pedagógico.

Mais detalhadamente, a primeira parte do livro trata das bases do conhecimento antropológico. Nela, são abordados temas como: o que é Antropologia; Antropologia e Ciências Sociais; a Antropologia e seus campos de conhecimento. Além disso, são problematizados conceitos como a noção de cultura, identidade e alteridade, bem como alguns enfoques de investigação específicas dessa área científica, como é o caso da etnografia e outras técnicas de pesquisa, passando por reflexões a respeito da ética do trabalho de campo.

Já a segunda parte é dedicada a abordar especificamente a relação entre Antropologia e Turismo. Assim, tanto os primórdios da Antropologia do Turismo quanto à Antropologia do Turismo hoje, com seus principais eixos de pesquisa, são aspectos contemplados nessas páginas. Além disso, recebe destaque algumas de suas principais problemáticas, tal é o caso do Turismo enquanto uma prática de consumo; o Turismo como instrumento de poder; o Turismo enquanto intercâmbio sociocultural; tipologias de interação turística; os sentidos e os significados das experiências turísticas; as relações entre Turismo, Cultura e Patrimônios Culturais; o Turismo como produtor de imagens e imaginários; os efeitos do Turismo sobre os receptores, os visitantes e outros agentes do sistema turístico; o Turismo responsável e a moralização do Turismo. Por fim, o derradeiro capítulo do livro é dedicado à Antropologia do Turismo em Portugal, mais especificamente.

Diversos trechos do tomo tentam desmanchar consensos e idealizações ou, senão, alertar para naturalizações apressadas que, por vezes, podemos estabelecer quando nos defrontamos com essa temática. É o caso do capítulo A invenção social do turismo. Nele, os autores buscam contextualizar o Turismo na história das práticas contemporâneas. Para tanto, encaram-no como produto de processos que são socialmente construídos. Apoiados em vasta literatura produzida sobre o assunto, ressaltam que o Turismo é uma forma de mobilidade espacial e temporal intimamente ligada ao nascimento do capitalismo, às transformações nos transportes, à industrialização e, sobretudo, às transformações ideológicas e sociais da modernidade.

Os autores destacam, ainda, no capítulo em questão que, em se tratando de trabalho e lazer, se pensarmos na interação entre turistas e trabalhadores do Turismo, por exemplo, poderemos observar relações não só transitórias, mas também desiguais. Seguindo as argumentações de Pereiro e Fernandes, isso se aplicaria, principalmente, se considerarmos que a disponibilidade horária alargada, por vezes disfarçada sob o conceito de flexibilidade, é algo requerido em muitos empregos contemporâneos, sobretudo na área do Turismo. Assim, segundo os autores, para uma abordagem satisfatória da questão seria necessário ultrapassar algumas dicotomias como tempo livre / tempo de trabalho e tempo de lazer / tempo de trabalho. Em seu lugar, deveríamos considerar as diversas modalidades de uso do tempo vigentes nos dias de hoje.

Portanto, o que os autores defendem sobre esse aspecto é que devemos entender o tempo livre e o lazer a partir dos significados socioculturais que os grupos humanos e as pessoas atribuem às suas atividades. Além disso, Pereiro e Fernandes lembram que pensar o Turismo na sua relação com as culturas do trabalho implica também pensar na divisão internacional do trabalho, bem como no modo através do qual o sistema turístico atua na criação de desigualdades, tensões, conflitos. Destarte, esse tipo de debate é apenas um dentre tantos relevantes que estão presentes no livro; trazido aqui nesta resenha, esse tipo de debate exemplifica o esforço dos autores de Antropologia e Turismo em estabelecer, ao longo de toda a obra, uma abordagem holística e humanista.

Ademais, em se tratando de um ponto importante e atual, nomeadamente as questões que emergem mais recentemente e que envolvem sociedade e Turismo, cabe ressaltar que os autores apontam que a partir de inícios do século XXI as transformações no Turismo e nas sociedades foram inúmeras, desde a introdução de novas tecnologias de comunicação, à emergência de novas relações entre o local e o global, novas conexões entre o indivíduo e a sociedade, além de uma maior personalização do consumo turístico. Haveria, com tudo isso, uma tendência às viagens turísticas deixarem de ter um caráter homogêneo, massivo e repetitivo, para se ter uma valorização da busca pelo multiculturalismo, o que, dentre outros pontos, recairia no que chamam de “o local como capital turístico” (p. 156).

Nesse sentido, os autores argumentam que novos discursos a respeito dos deslocamentos emergem nos dias atuais, dentro dos quais, a sustentabilidade. Esse termo passaria a ser sinônimo de responsabilidade, ética e solidariedade. Por conseguinte, esses discursos também estariam sendo apropriados, mesmo que parcialmente, pelo sistema turístico, na busca por responder a demandas enraizadas em novos valores sociais [como seria o caso da ecologia, diversidade cultural, equidade, cooperação]. Todos esses fatores, ao mesmo tempo em que merecem atenção por parte dos diversos atores sociais envolvidos, mostram a importância de se estabelecer explicações que contemplem olhares antropológicos sobre esses fenômenos, frisam Pereiro e Fernandes.

Desse modo, apesar de algumas passagens pontuais do livro nos sugerirem repetições temáticas [como é o caso de haver um subcapítulo e, posteriormente, um capítulo inteiro com o tema Turismo como experiência ritual moderna], devemos ponderar que isso pode compor um dos grandes méritos de um livro que, de maneira ambiciosa, mas também de maneira detalhada e competente, se propõe a ser, conforme já dito, uma densa e necessária obra de sumarização temática, com teor crítico.

Antropologia e Turismo constituem, portanto, um instrumento educativo com potencial contextualizante e questionador. Isso porque, através de uma visão polissêmica, sintetiza e produz conhecimento ao mesmo tempo em que convida o leitor a refletir sobre a diversidade das práticas humanas, a diversidade da cultura humana, a diversidade dos sentidos das ações humanas, bem como sobre a diversidade dos conhecimentos que são produzidos a respeito disso. Por conseguinte, a obra reforça que toda essa diversidade influencia as práticas turísticas, sendo imprescindível considerá-las.



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