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Seção livre: Políticas Sociais e Intersetorialidade: elementos para debate
Mônica de Castro Maia Senna; Danielle do Valle Garcia
Mônica de Castro Maia Senna; Danielle do Valle Garcia
Seção livre: Políticas Sociais e Intersetorialidade: elementos para debate
O Social em Questão, vol. 17, núm. 32, pp. 277-294, 2014
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
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Resumo: Este trabalho analisou as principais características de dois arranjos institucionais inter- setoriais desenvolvidos no Brasil nas últimas décadas: Estratégia Saúde da Família e Pro- grama Bolsa Família. Foi realizada breve sistematização da bibliografia que explora os sentidos da intersetorialidade, o resgate da construção dos programas e apontados ele- mentos do debate sobre o contexto no qual o desenvolvimento de ações intersetoriais é enfatizado nos arranjos institucionais. Os desafios à efetiva implementação de ações intersetoriais são muitos e requerem esforço de coordenação e cooperação dos atores envolvidos, tendo em vista aspectos relacionados às diversas lógicas organizacionais que regem as arenas setoriais.

Palavras-chave:Política socialPolítica social,IntersetorialidadeIntersetorialidade,SaúdeSaúde,Assistência SocialAssistência Social.

Keywords: Social policy, Cross-section initiatives, Health, Social work

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Seção Livre

Seção livre: Políticas Sociais e Intersetorialidade: elementos para debate

Mônica de Castro Maia Senna
Serviço Social da Universidade Federal Fluminense, Brasil
Danielle do Valle Garcia
Hospital Federal dos Servidores, Brasil
O Social em Questão, vol. 17, núm. 32, pp. 277-294, 2014
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Políticas Sociais e Intersetorialidade: elementos para debate

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tersetorialidade e que merecem atenção devido a sua abrangência e à relevância adquirida na agenda governamental. A diversidade tem dado o tom dos desenhos e arranjos organizacionais destas iniciativas, o que coloca o desafio de conhecer esses formatos e experiências. Interessa, neste sentido, examinar de que forma essas áreas têm construído o enfoque intersetorial, principalmente no que se re- fere aos arranjos institucionais de suas principais intervenções.

O estudo empreendido no presente artigo prioriza duas intervenções pú- blicas vinculadas às áreas de saúde e de assistência social em âmbito nacional: a Estratégia Saúde da Família (ESF), implantada como programa em 1994, mas com novo desenho e expressão nacional a partir de 1998; e o Programa Bolsa Família (PBF), principal programa social do governo federal desde que foi criado em 2003.

Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivo apresentar as principais características dos dois arranjos institucionais na saúde e na assistência social que têm a intersetorialidade como princípio organizativo, a saber: a ESF e o PBF. Para tanto, este artigo se divide em três seções, além desta introdução e das conside- rações finais. Inicia-se com um mapeamento do debate teórico conceitual sobre o tema da intersetorialidade na recente produção bibliográfica sobre políticas sociais, de forma a explorar diferentes sentidos da intersetorialidade. Em seguida, passou-se à apresentação dos elementos centrais que permitem caracterizar os dois arranjos institucionais a serem analisados para, ao final, apontar alguns ele- mentos do debate recente sobre o contexto no qual o desenvolvimento de ações intersetoriais é enfatizado nos dois programas analisados.

Alguns elementos do debate teórico-conceitual sobre intersetorialidade

O tema da intersetorialidade tem ocupado lugar de destaque no debate acadê- mico recente e constitui uma das diretrizes centrais do desenho de diversas polí- ticas sociais brasileiras na atualidade. A ênfase atribuída à temática está associada a um conjunto de fatores que convergem em direção à defesa da articulação inter- setorial como estratégia orientadora das intervenções públicas no campo social.

Um primeiro aspecto a considerar é o próprio processo de reestruturação das políticas públicas brasileiras no pós-1988. Pautadas na crítica ao padrão fragmentado da ação estatal historicamente construído no país, as recentes re- formas das políticas sociais trouxeram à tona a necessidade da integração entre diferentes setores, tanto no âmbito da gestão quanto no das práticas sociais.

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Além disso, a descentralização das políticas sociais e o protagonismo assumido pelos municípios na gestão e provisão destas políticas trouxeram a perspectiva de integração dos diferentes setores governamentais e destes com a sociedade como condição necessária para melhoria do desempenho municipal frente às novas responsabilidades assumidas.

No campo específico das políticas dirigidas a famílias pobres, diversos auto- res, entre eles Carvalho (1994), salientam a necessidade da conjugação de ações das diversas áreas setoriais como condição imprescindível para alteração das con- dições de vida destas famílias. Como defende Koga (2003), a intersetorialidade é uma qualidade necessária ao processo de intervenção, sobretudo no campo social. Programas, projetos e equipes técnicas são desafiados ao diálogo e ao trabalho conjunto com a perspectiva da inclusão social. Neste caso, há que se fazer pre- sente a participação dos membros da comunidade envolvida, na medida em que estes são os sujeitos do processo e aqueles que podem garantir a continuidade da proposta (KOGA, 2003, p. 242).

Por outro lado, nos estudos sobre a questão, também é recorrente a visão de que o planejamento das políticas sociais com base na intersetorialidade pode fa- vorecer a otimização de recursos e tornar mais eficaz a sua alocação, uma vez que os serviços são dirigidos aos mesmos grupos sociais situados num dado território geográfico (BURLANDY, 2003). Desta maneira, reconhece-se que a perspectiva intersetorial tende a potencializar os diversos recursos setoriais (físicos, huma- nos, financeiros), principalmente nos contextos locais de implementação.

Se o termo intersetorialidade é carregado de conotações positivas, é preci- so reconhecer que sua operacionalização enfrenta um conjunto considerável de obstáculos, relacionados, entre outros fatores, às diversas lógicas organizacionais que regem as arenas setoriais, à disputa por recursos e status entre os setores en- volvidos e à complexidade do processo de intermediação de interesses distintos com capacidades também distintas de influência na arena decisória. Como afir- ma Andrade (2006: 280), a intersetorialidade é marcada pela existência de “um consenso discursivo e um dissenso prático”. De fato, as análises das experiências concretas de ações intersetoriais apontam uma multiplicidade de caminhos e inú- meros desafios para sua efetivação.

Material suplementar
Referências
ANDRADE, Luiz Odorico Monteiro de. A saúde e o dilema da intersetorialidade. São Paulo. Hucitec, 2006.
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Notas
Notas
1 Assistente Social e Doutora em Ciências – Saúde Pública. Professora Associada do Programa de Estudos Pós-graduados em Política Social da Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense. E-mail: monica.senna@globo.com pg 277 - 294 O Social em Questão - Ano XVII - nº 32 - 2014 294 Mônica de Castro Maia Senna e Danielle do Valle Garcia 2 Mestre em Saúde Coletiva e Doutoranda em Política Social. Assistente social do Hospital Fede- ral dos Servidores – Ministério da Saúde. E-mail: danielledovalle@yahoo.com.br 3 O conceito de atenção básica adotado pelo MS refere-se a um conjunto de ações de saúde que englobam a promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. A atenção básica é desenvolvida através do exercício de práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios bem delimitados, pelas quais assumem responsabilidade. Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade, que devem resolver os problemas de saúde das popu- lações de maior frequência e relevância. É o contato preferencial dos usuários de saúde. Orienta-se pelos princípios de universalidade, acessibilidade (ao sistema), continuidade, integralidade, responsabilização, humanização, vínculo, equidade e participação social. A atenção básica deve considerar o sujeito em sua singularidade, complexidade, inteireza e inserção sociocultural, além de buscar a promoção de sua saúde, a prevenção e tratamento de doenças e a redução de danos ou de sofrimentos que possam estar comprometendo suas possibilidades de viver de modo saudável. (KLUTHCOUSKY, 2005). 4 O CadÚnico é um banco de coleta de dados que tem como objetivo traçar o perfil das famílias em situação de pobreza existentes no país. Artigo recebido em maio de 2014, aprovado para publicação em julho de 2014.O Social em Questão - Ano XVII - nº 32 - 2014 pg 277 - 294
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