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Violência doméstica e saúde das mulheres: uma análise da experiência do município de São Gonçalo
Alessandra Serrão Albuquerque; Mariana Frizieiro Silva Cruz Freire; Rachel Gouveia Passos
Alessandra Serrão Albuquerque; Mariana Frizieiro Silva Cruz Freire; Rachel Gouveia Passos
Violência doméstica e saúde das mulheres: uma análise da experiência do município de São Gonçalo
O Social em Questão, vol. 17, núm. 31, pp. 117-136, 2014
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
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Resumo: O presente artigo visa problematizar o atendimento das mulheres vítimas de violência doméstica nos estabelecimentos de saúde do município de São Gonçalo. Apresenta a im- prescindibilidade de expansão da rede de proteção social para viabilizar os direitos das mulheres e expõe a necessidade da efetiva implantação da notificação compulsória da violência cometida na esfera privada.

Palavras-chave:GêneroGênero,Violência DomésticaViolência Doméstica,SaúdeSaúde.

Abstract: This article aims to discuss the care of women victims of domestic violence in health facilities in São Gonçalo. Shows the absolute need for expansion of the social safety net to enable the rights of women and exposes the need for effective implementation of manda- tory reporting of violence committed in the private sphere.

Gender; Domestic Violence; Health.

pg 117 - 136

O Social em Questão - Ano XVIII - nº 31 - 2014

118 Alessandra S. de Albuquerque, Mariana Frizieiro da S. Cruz Freire e Rachel G. Passos

Keywords: Gender, Domestic Violence, Health.

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Artigos

Violência doméstica e saúde das mulheres: uma análise da experiência do município de São Gonçalo

Alessandra Serrão Albuquerque
Centro Universitário Plínio Leite, Brasil
Mariana Frizieiro Silva Cruz Freire
Centro Universitário Plínio Leite, Brasil
Rachel Gouveia Passos
PUC/SP, Brasil
O Social em Questão, vol. 17, núm. 31, pp. 117-136, 2014
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Violência doméstica e saúde das mulheres: uma análise da experiência do município ...

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a partir de metodologia aplicada a um grupo ou comunidade. Em segunda instân- cia, em escala micro/focal a não notificação atinge diretamente a vida da mulher, pois não desperta a rede de proteção para a segurança a sua vida e seus filhos, bem como traduz sentimento de descrédito no serviço público oferecido.

A lacuna existente neste processo contribui para o adoecimento das mulheres vítimas de violência que além de sofrerem pela violação dos direitos humanos, ainda sofrem por não alcançarem a cidadania plena ao acionarem o serviço públi- co de saúde e demais órgãos.

Os impactos sociais que refletem na socialização dos sujeitos com a sociedade podem ser facilmente percebidos nas relações sociais estabelecidas em diferentes espaços sociais, a mulher no processo histórico ocupou durante décadas o espaço privado da sobrevivência, o lar. Quando a paz do espaço doméstico vem sendo ameaçado por violência a mulher manifestará dificuldades no estabelecimento de novos vínculos sociais com a comunidade.

Diante deste cenário, é possível realizar uma análise dialética do espaço priva- do com a totalidade societária que afirma que as relações conjugais provenientes de ações violentas no âmbito doméstico acarretam o adoecimento das mulheres, pois atingem sua autoestima e a relação familiar tornando mais difícil o relaciona- mento com os demais familiares e com a comunidade.

Considera-se a própria violência sofrida pelas mulheres um dos principais motivos para seu adoecimento e apatia social, colocando-as em situação de desigual, aumentando o sentimento de angústia e impotência diante da rea- lidade vivenciada.

A “revitimatização” das mulheres no longo processo percorrido para a noti- ficação é notória nos casos analisados, mesmo quando acionados os órgãos inte- grantes da rede de proteção competentes para os atendimentos especializados nos casos de violência, pois sofrem novamente no processo de garantia de sua vida.

A garantida dos direitos humanos das mulheres na busca da plena cidadania fica à mercê das ações pontuais e compensatórias oferecidas pelo Estado. Na análise de gênero a desigualdade pode ser constatada quando o percurso da mulher inclui o acesso à porta de entrada do SUS, DEAM, Instituto Médico Legal, Centros Espe- cializados de Atendimento, o acolhimento institucional (quando necessário)19 em contrapartida o homem, na maioria dos casos, resta apenas o aguardo da delibera- ção da justiça, não vivenciando o processo doloroso do acesso a rede de proteção.

Assim como maioria dos Estados e Municípios do Brasil, a cidade de São Gonçalo não disponibiliza de atendimento específico para os autores de violência

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doméstica para que os mesmos possam participar de reflexões de gênero e aten- dimentos psicossociais na busca pela reeducação de gênero.

A experiência no país vem funcionando endogenamente sem ampla divul- gação e conhecimento da população, desempenhando o papel de monitorar o cumprimento da medida estabelecida pela justiça. O objetivo da proposta corro- bora para ação punitiva sem perspectiva educativa que possa contribuir para uma cultura de paz efetivando eficácia no enfrentamento da violência.

A morosidade no processo judicial e na expedição de medidas protetivas também contribui para o adoecimento das mulheres, pois os desdobramentos pós-notificação, a falta de agilidade nos processos já judicializados implicam em demora nas respostas que deveriam ser urgentes. Segundo a Lei Maria da Penha, a medida de proteção deve ser despachada em 48 horas.

A ausência de serviços e ações do Estado que garantam a segurança das mulheres pós-denúncia tem sido fator agravante que traz implicações sérias à saúde emocional das mulheres, ocasionando ansiedade, depressão em diver- sos casos, retardando o processo de elevação de autoestima e superação da situação de violência.

Devido à falta de dados sistematizados sobre a violência doméstica contra mulheres em São Gonçalo, não foi possível realizar a caracterização e análise do perfil destas mulheres, não sendo possível identificar os principais agravos à saúde das mulheres vítimas de violência no município. Nesse sentido, torna-se relevante a continuidade de novas pesquisas acerca do cenário do atendimento à mulher em São Gonçalo.

Material suplementar
Referências
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Notas
Notas
3 Assistente Social – Doutoranda em Serviço Social pela PUC/SP, Docente do Curso de Serviço Social do Centro Universitário Plínio Leite – Anhanguera. E-mail: rachel.gouveia@gmail.com. 4 O Plano de Ação Emergencial para o Município de São Gonçalo: Investimentos na Reestrutu- ração das Famílias Atingidas pelas Chuvas – 2010, foi elaborado pela prefeitura de São Gonçalo após as inundações que ocorreram no município no início deste ano, com o objetivo de nortear as atividades, programas, obras, restaurações, cuidados e atenção na área da saúde, política assistencial, habitacional, educacional e de meio ambiente para a reestruturação das famílias atingidas e dos bairros mais afetados. 5 Sobre a configuração dos espaços no estado do Rio de Janeiro ver Oliveira, Débora Santana. Região Metropolitana do Rio de Janeiro: Confluências e Disparidades - A evolução da se- gregação sócio-espacial no contexto da RMRJ. Rio de Janeiro, 2005. Trabalho enviado para o IV Encontro Nacional sobre Migrações a ser realizado no Rio de Janeiro – RJ nos dias 16- 18 de novembro de 2005. Disponível em http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/ outros/4EncNacSobreMigracao/ST5-3.pdf. Acesso em 30/08/2010. 6 A pesquisadora do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli, da Fio- cruz, Simone Gonçalves de Assis foi entrevistada em 05/07/2007 pela FAPERJ (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro). Para ler a entrevista na íntegra acesse http://www.faperj.br/boletim_interna.phtml?obj_id=3773. Acesso em: 20/08/2010. 7 Neves (2008, p. 40), define esse clientelismo como “clientelismo de massa, corporativo e par- tidário” que “é aquele presente nas organizações coletivas, Partidos e Sindicatos”. De acordo com a autora esse tipo de clientelismo vai além do benefício econômico. A autora trabalha com a perspectiva de que este clientelismo não anula o clientelismo didático, que se caracteriza pela “troca de favores entre duas pessoas, favorecendo os interesses pessoais e privados”. (Neves, 2008, p. 39) O que haveria é uma complementação entre ambos. 8 O estudo elaborado por Julio Jacobo Waiselfisz, Diretor de Pesquisas do Instituto Sangari, ana- lisa a mortalidade causada por homicídios em geral, com foco especial nos homicídios juvenis, por acidentes de transporte e por armas de fogo.Trata-se da segunda publicação sobre o assun- to que analisa a evolução das taxas de óbitos nos 5564 municípios do Brasil, ocorridos entre 2004 e 2006. O trabalho fornece subsídios estatísticos para um diagnóstico local e focalizado da realidade da violência letal. pg 117 - 136 O Social em Questão - Ano XVIII - nº 31 - 2014 136 Alessandra S. de Albuquerque, Mariana Frizieiro da S. Cruz Freire e Rachel G. Passos
9 Fonte: http://cnes.datasus.gov.br/. 10 A profilaxia é um conjunto de medicações, retrovirais e coquetéis necessários para prevenção das DST´s, HIV- AIDS e a gravidez que deve ser ministrado em todas as mulheres que foram vitimas de abuso-violência sexual.
11 Sobre as análises e dados da violência doméstica e/ou familiar o Dossiê Mulher 2012 esclarece que a partir da mudança nos registros de violência doméstica e familiar feitos pela Polícia Civil houve a necessidade de reformulação da metodologia empregada no Dossiê Mulher, nas análises desse tipo de crime. Assim, os subtítulos específicos de “Violência doméstica” nos registros de lesão corporal deixaram de ser empregados pela PCERJ a partir dos três últimos meses de 2011.
12 Os crimes de atentado violento ao pudor (AVP) e estupro foram somados e, portanto, ana- lisados conjuntamente, tendo em vista as alterações sofridas por esses dois tipos penais, em virtude da Lei nº.12.015/09, de 07 de agosto de 2009. A nova tipificação do crime de estupro não distingue o gênero da vítima, motivo pelo qual, desde então, o homem também pode vir a ser vítima desse crime.
13 No total de crimes no ano de 2011 foram registrados na DEAM-SG o número de 5.844 crimes, po- rém, para efeito deste trabalho, foram apresentados somente os crimes que têm maior possibilidade de terem vinculação com violência doméstica, já que os dados foram apresentados sem distinção.
14 Fonte: Jornal “O São Gonçalo”.http://www.jornalsg.com.br/site/geral/2012/11/8/43659/ dificuldades+para+denunciar Acesso em: 08/11/2012
15 Fonte: Movimento de Mulheres em São Gonçalo
16 A Lei Federal 10.778 de 2003 dispõe sobre a Notificação Compulsória nos casos de maus tratos e violência contra mulheres, crianças e adolescentes nos serviços públicos e privados de saúde. Em São Gonçalo, a notificação iniciou-se nos fluxos de atendimento no ano de 2006. 17 Cabe esclarecer que os serviços de atendimento especializados para as mulheres são avanço na sociedade legitimado pela luta dos movimentos de mulheres e feministas que expressam fundamental importância para o enfrentamento à violência.
18 Por ser tratar de um artigo postado diretamente na página de um portal na internet, não há numeração de página. 19 Cabe esclarecer que os serviços de atendimento especializados para as mulheres são avanço na sociedade legitimado pela luta dos movimentos de mulheres e feministas que expressam fundamental importância para o enfrentamento à violência. Artigo recebido em janeiro de 2014 e aceito para publicação em março de 2014.O Social em Questão - Ano XVIII - nº 31 - 2014 pg 117 - 136
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