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O serviço social na educação de marisqueiras
Hugo Silva Caetano
Hugo Silva Caetano
O serviço social na educação de marisqueiras
O Social em Questão, vol. 17, núm. 31, pp. 225-236, 2014
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
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Resumo: O artigo trata do serviço social na educação de marisqueiras, evidenciando a proble- mática da educação formal (e não formal) na vida destas mulheres, bem como a relação dessas modalidades de educação com o trabalho feminino na pesca, especificamente o trabalho das marisqueiras. As questões abordadas referem-se, basicamente, a aspectos li- gados ao cotidiano das marisqueiras na maré, na escola, nas associações e nas colônias de pescadores(as), às dificuldades de permanência delas na escola, a ausência de políticas pú- blicas para a resolução desse problema, o desenvolvimento do currículo em comunidades pesqueiras e a importante mediação do assistente social nos conflitos existentes entre a escola e o mundo da vida dessas mulheres.

Palavras-chave:ss,<<,ff,ii,nn,bb,>>.

Keywords: Social services, Education, Seafood

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Seção Livre

O serviço social na educação de marisqueiras

Hugo Silva Caetano
Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Brasil
O Social em Questão, vol. 17, núm. 31, pp. 225-236, 2014
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

O serviço social na educação de marisqueiras

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tipo de especialização do trabalho coletivo, profissão inscrita na divisão social e técnica do trabalho, intervindo no âmbito da produção e reprodução da vida social” (BOLORINO, 2007, p. 184).

O horário das aulas, para as marisqueiras é, de fato, um tema bastante com- plexo. Como dito anteriormente, o período em que a maré se encontra em baixa-mar é o horário mais adequado para a mariscagem. Como o fluxo marí- timo é bastante sazonal, as marisqueiras, por esse motivo, não têm um horário fixo para mariscar, como acontece com a escola. Por conseguinte, sendo o tem- po da escola divergente do tempo da mariscagem, nem sempre as marisqueiras estão em condições físicas de permanecer em uma aula que dura em torno de três horas. Em uma comunidade pesqueira tradicional (DIEGUES, 1983), essa é uma questão que a escola precisa considerar, se quiser garantir o acesso dessas mulheres à educação formal.

Outra questão a ser considerada nesse processo é a questão curricular. O cur- rículo da escola regular tem se mostrado fixo, fechado, urbano,

desconectado do mundo real e preso a um modelo único que não oferece alter- nativas de percursos diferenciados àqueles que não desejam seguir o currículo acadêmico ditado pelas universidades (e consagrado pelo atual ENEM) [...], outra das principais causas do abandono e da evasão (CASTRO, 2013, p. 460).

Compreender esse quadro perpassa não somente pela mudança de método pedagógico. Mais amplamente, essa questão envolve um posicionamento político, uma abertura para conectar a escola com os anseios das marisqueiras, trazendo à tona as complexidades do mundo da vida, identificando os entremeios que as fazem desistir da escola e relacionando este cenário às necessidades de aprendi- zagem que elas precisam ter para enfrentar o cotidiano e dar condições de eman- cipação frente a uma sociedade que secundariza o seu trabalho e a sua existência profissional e social. O currículo, nesse sentido, implica uma postura crítica do mundo, da cultura, das subjetividades, colocando a pedagogia a favor dos silencia- dos (GIROUX e SIMON, 2011), nos quais se incluem as marisqueiras.

São problemáticas que, tanto a escola, como a associação, a colônia de pescadores(as) e os movimentos sociais presenciam cotidianamente e não po- dem se furtar em discutir. A presença das marisqueiras nas comunidades pes- queiras, principalmente no nordeste brasileiro (MANESCHY, 2000), é um acontecimento visível, assim como a situação educacional em que a grande

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maioria delas se encontra. Se ainda não é possível conceber efetivamente as causas deste cenário, vale à pena as interrogações sobre essa realidade. É o que intentamos realizar nesse trabalho.

Considerações Finais

O presente trabalho discutiu a inserção do serviço social na educação de ma- risqueiras. De modo geral, nossa perspectiva intencionou versar sobre a parti- cipação do(a) assistente social, como mais uma alternativa, na mediação multi- disciplinar dos conflitos de ordem sócio-familiar e pedagógica existentes entre a escola e o cotidiano dessas mulheres. Para este fim, nos apoiamos em autores que já discutem essa problemática e em depoimentos das próprias marisqueiras. Concluímos, depois dessa reflexão, que pensar as relações existentes entre ser- viço social e educação, principalmente no caso das marisqueiras, implica pensar o cenário social em que essas mulheres estão inseridas. Diferente da pedagogia tradi- cional, a escola, para elas, deveria ser pensada a partir do cotidiano da mariscagem e suas complexidades. Nesse sentido, numa comunidade pesqueira, o currículo, os horários de aulas, os afazeres domésticos e a educação do corpo no trabalho devem ser considerados elementos pontuais de discussão pedagógica. A escola, sozinha, pode não estar preparada para o diagnóstico sócio-familiar dessas mulheres. Ain- da que tenha conhecimento da realidade social das marisqueiras, prioritariamente, não é tarefa da pedagogia lidar especificamente com essa questão. De forma que a inserção de um(a) profissional como o(a) assistente social possibilita ver a situação de exclusão educacional das marisqueiras mais amplamente e, através de estratégias

multidisciplinares, promover a permanência dessas mulheres na escola.

Se a educação é direito de todos, como expresso na Constituição Federal (CF/1988) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB/1996), é papel da escola viabilizar formas de inserção e permanência das marisqueiras neste espaço. O cumprimento desse princípio legal favorece a autonomia dessas mulheres, possi- bilitando mais autonomia, o pleno gozo dos seus direitos e o exercício da cidadania.

Material suplementar
Referências
ALMEIDA, Ney Luiz Teixeira de. O Serviço social na Educação: novas perspecti- vas sócio-ocupacionais. Texto elaborado para Simpósio Mineiro de Assistentes Sociais, realizado em maio de 2007, em Belo Horizonte. Disponível em:www. cress-mg.org.br/Textos/textos_simposio/2007.05.19_plenaria8_neyteixeira. doc. Acesso: 06/09/2013.
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MOTA. Sueli, R. (Org.). Fenomenologia e Educação. Salvador: Editora da Universi- dade do Estado da Bahia, 2012.
SOUZA, Iris de Lima. Serviço Social e educação: uma questão em debate. INTER- FACE - Natal/RN - v.2 - n.1 - jan/jun, 2005.
Notas
Notas
1 Graduado em Filosofia pela Faculdade Batista Brasileira (FBB). Mestre em Educação e Con- temporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). E-mail: hugogicaetano@ yahoo.com.br
2 Tanto a jornada de trabalho na mariscagem (a caminhada, a coleta, o cozimento e a catagem dos mariscos), como do período em que uma marisqueira consegue trabalhar durante a vida.
3 Repelentes fabricados pelas próprias marisqueiras, composto de querosene, azeite de dendê, alho e/ou hidratante.
4 Período em que a maré está baixa por volta da madrugada. Recebido em dezembro de 2013, aceito para publicação em fevereiro de 2014.O Social em Questão - Ano XVIII - nº 31 - 2014 pg 225 - 236
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