Resenhas
Sobre os Fundamentos da Educação - volume 1

Recepção: 10 Julho 2015
Aprovação: 25 Agosto 2015
Caracterizado como uma organização de obra, Fundamentos da Educação: recortes e discussões – Volume 1, reúne elementos ricos e instigantes no desdobramento dos eixos histórico-filosóficos da área, de maneira clara e objetiva. A obra é organizada por Paulo Gomes Lima (2014), Doutor em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista/Araraquara, SP e Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de São Carlos – Campus Sorocaba da Grande Dourados e do Departamento de Ciências Humanas e Educação (DCHE) da mesma instituição.
O volume em tela, por seu percurso, não necessariamente, cronológico, mas com riqueza detalhes temporais, propõe-se, dentre outros, a contribuir como elemento de conscientização do pesquisador, do professor, dos estudantes e estudiosos da educação como uma possibilidade de atuação intencional numa sociedade conflituosa contribuindo para transformações sócio-histórica e política de reflexão-na-ação sobre a realidade vivida (p.5).
Lançado pela Paco Editorial, o livro contém 240 páginas, organizadas em treze capítulos, a respectiva bibliografia e informações sobre o organizador e todos os autores de cada capítulo e reflete recortes sobre o pensamento pedagógico de “alguns” representantes da história da educação concernente à época moderna em diante.
O itinerário de cada capítulo apresenta as contribuições históricas que auxiliam na contextualização da educação contemporânea num movimento condicionado pelo homem e por forças que podem ou não justificar as intencionalidades e cunhagens ideológicas que lhes sustentam, daí ser necessário o “olhar” para cada representante do pensamento pedagógico em destaque, conhecer um pouco de sua história pessoal, o seu conceito de educação e maneiras de conduzi-la na escola, suas principais obras e em que grau o seu pensamento se aproxima da validação dos saberes e fazeres da educação na atualidade (p.7).
O capítulo I, “O Pensamento pedagógico de René Descartes”, Lima desdobra a dúvida metódica de Descartes. Destaca que no pensamento metódico do autor o que não é certo e evidente é falso. Uma única razão para duvidar de determinado princípio, o mesmo será considerado como falso em sua totalidade, pois, não é próprio à luz natural confiar em quem já lhe enganou, mesmo uma única vez. Nesta diretiva, todos os conhecimentos sensíveis são considerados falsos, pois nos dão razões para deles duvidarmos; mesmo das coisas concretas é possível duvidar. A defesa cartesiana não é de uma inteligência construída, mas inata, diferente das proposições centrada no empirismo.
O capítulo II, escrito pela Professora Lilian Tatiane Candia de Oliveira, destaca a contribuição de Jean-Jacques Rousseau para a educação, seus pressupostos sobre a concepção de sociedade política e sua concepção e proposta educacional de educação.
O capítulo III, de Ribamar Nogueira da Silva, trata do pensamento pedagógico do filósofo Immanuel Kant. Este capítulo discute o caminho para o uso prático da razão em Kant; para na sequência, tratar da educação moral, entre os conceitos de disciplina e liberdade; e por fim, suas convicções e orientações pedagógicas.
No capítulo IV, Telma Elizabete de Moraes, debate o pensamento pedagógico de Marx. O propósito do capítulo é conhecer as contribuições do pensamento pedagógico marxiano, numa perspectiva de articulação com o trabalho: instrução intelectual, educação física e o treinamento tecnológico. Destaca a Professora Telam que, dentre as contribuições sinalizadas por Marx destaca-se a defesa do ensino universal, público, gratuito, obrigatório e laico para todos que inspiraram propostas revolucionárias na pedagogia contemporânea, como a Pedagogia Histórico-Crítica.
Kleyton Carlos Ferreira é autor do V Capítulo, onde discorre sobre o pensamento pedagógico de Jean Piaget (1896-1980). O capítulo tem como foco o entendimento de que a inteligência para Piaget, não é produto da hereditariedade, mas uma possibilidade humana. Destacou quatro estágios no pensamento e comportamento infantil, os quais são caracterizados pelas denominações: sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal.
O capítulo VI, de Cristiane de Sá Dan, contextualiza o pensamento pedagógico de John Dewey e faz conhecer as suas concepções educacionais em três eixos: 1) os fundamentos do pensamento pedagógico de Dewey, 2) a educação como reconstrução da experiência e a 3) concepção de professor reflexivo de John Dewey.
O capítulo VII, “O pensamento pedagógico de Vigostski” de autoria da Prof. Dra. Izabella Mendes Sant'Ana e do Professor Caio Cesar Portella Santos, apresenta uma breve introdução acerca da vida e do pensamento de um relevante teórico da Psicologia e da Educação, fundador da Teoria Histórico-cultural: Lev Seminovitch Vigotski e algumas das principais contribuições de sua teoria para a área educacional.
O capítulo VIII, escrito por Carolina Aparecida Rosa discute algumas conceituações acerca da proposta educativa de Antônio Gramsci, traduzida esta pela Escola Unitária. O texto discute que a linha de raciocínio gramsciana destaca as relações de trabalho no processo de educação e a luta de classes é vista pela sua dimensão político-educacional, assim; a constituição de um novo homem e de um novo intelectual.
Angélica Bellodi Sant’Ana Furlan é a escritora do capítulo IX, “O pensamento pedagógico de Pierre Bourdieu”. Esse trabalho aborda o pensamento pedagógico de Bourdieu enquanto contribuição para uma Sociologia da Educação que anuncia como cultura, poder e ensino estão articulados para a reprodução e manutenção da forma como a sociedade está organizada. Este capítulo discute num primeiro momento, a trajetória de vida do autor e suas produções, bem como suas contribuições para a esfera educacional, abordando os principais termos cunhados por Bourdieu para explicitar sua teoria da reprodução cultural e da violência simbólica exercida pelas instituições escolares.
O pensamento pedagógico de Anísio Teixeira, capítulo X, escrito por Flávia Leila da Silva discute as concepções pedagógicas desse expoente da educação brasileira, um dos principais representantes do movimento escolanovista, com importante atuação no cenário educacional como intelectual e gestor de sistemas educacionais e. finalmente, são consideradas as críticas que o pensamento de Anísio Teixeira recebeu e ponderou-se sobre os pontos e contrapontos presentes em sua concepção pedagógica e influências no cenário educacional contemporâneo.
O capítulo XI, da professora Ester Chichaveke, problematiza a Teoria da Complexidade sistematizada por Edgar Morin. A crítica ao paradigma da simplificação caracterizado pela departamentalização e disjunção do conhecimento em disciplinas e a proposta de superá-lo, por meio do pensamento complexo, balizarão as discussões aqui propostas. A reforma da consciência, exigência central da abordagem moriniana, suscita o desafio de desenvolver uma visão amplificada da realidade considerando-a em seus variados desdobramentos além de propor a transposição das verdades absolutas arrogadas pelo conhecimento clássico e supervalorizadas pelo racionalismo científico. No entanto, destaca a autora, as novas formas de pensar e agir postuladas pela abordagem complexa, ainda não se fizeram suficientes para provocar a superação da desigualdade social e as contradições dela originada.
Gabriel Ribeiro Demartini, no capítulo XII, delineia um percurso com relação a algumas dimensões do pensamento pedagógico de Paulo Freire, uma plataforma simples, mas que permite um primeiro passo para a compreensão de um autor de tamanha magnitude para o contexto educacional brasileiro e mundial. Para isso, inicia com uma introdução à sua biografia (Conhecendo um pouco de sua história), perpassando alguns pontos de sua concepção educacional assumidamente política, dialógica e humanizadora (A pedagogia de Paulo Freire), promovendo a crítica à educação bancária (A “educação bancária”), atingindo a estruturação dos conteúdos programáticos, no momento em que se adentra no conceito de tema gerador como espinha dorsal da estruturação curricular (O conteúdo programático em Freire), quando então engloba a continuação do pensamento por outros autores a partir da obra freireana (Contribuições ao pensamento freireano a partir da literatura especializada), e por fim, conclui que o pensamento pedagógico de Paulo Freire é atual, recorrente e pertinente frente à escola brasileira em meio a problemática da divisão social de classes.
No capítulo XIII, escrito pelo Prof. Dr. Fabrício do Nascimento são apresentadas algumas informações sobre o educador e pesquisador Dermeval Saviani, assim como suas principais ideias a respeito do papel da educação escolar no contexto da sociedade capitalista. A corrente pedagógica a qual Saviani denomina como Pedagogia Histórico-Crítica é uma proposta pedagógica transformadora, tendo por horizonte o desenvolvimento de uma práxis revolucionária, oposta às tendências pós-modernas que emergiram no âmbito da reestruturação produtiva do capital e do avanço da ideologia neoliberal, a qual desvaloriza a educação pública e o saber escolar sistematizado.
Por sua coerência interna, escolha de ênfases e atualidade, o livro Fundamentos da Educação: recortes e discussão – Volume 1, é atual e indicado para todos aqueles que desejarem aprofundamento em discussões epistemológicas concernentes à área educacional. Em síntese, a obra apresenta contribuições relevantes e recomenda-se a sua leitura e utilização, inclusive em cursos de graduação, em nível de graduação, além de estudos de aprofundamento em nível stricto sensu.
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[Artigo corrigido , vol. 1, 154-156] http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/29/605