Resenhas
Uma conversa sobre Fundamentos da Educação: recortes e discussões. Vol. IV

Recepção: 30 Dezembro 2015
Aprovação: 30 Janeiro 2016
A obra analisada tem como organizadores: Paulo Gomes Lima, pós-doutor pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), doutor em Educação Escolar pela Unesp, que realiza pesquisas sobre Educação Superior, Educação Básica, Políticas Públicas e atualmente é professor adjunto do Departamento de Educação e Ciências Humanas (DCHE) da Universidade Federal de São Carlos, campus Sorocaba-SP, e docente do PPGED (Mestrado em Educação) da mesma instituição; e Silvio Cesar Moral Marques, doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo (2005), que atualmente é professor adjunto da Universidade Federal de São Carlos, campus Sorocaba-SP. Silvio tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Ética, atuando principalmente nos seguintes temas: filosofia da biologia, utilitarismo e ética empresarial.
O quarto volume do livro Fundamentos da Educação: Recortes e Discussões de Lima e Marques (2015) tem como pauta central os principais objetos que a escola deveria apresentar posicionamentos: o desenvolvimento do conhecimento e produção humana e a capacidade do homem em situar-se como ator social no mundo contemporâneo marcado por tensões. Foi publicado pela Paco Editorial em 2015 e reúne 377 páginas, sendo constituído por sumário, apresentação, dezenove capítulos e referências bibliográficas.
Na apresentação da obra, os organizadores apontam que o sentido de educação em geral e da educação escolar passam por uma considerável ressignificação, na qual a interpenetração dos saberes e fazeres da escola quanto ao desenvolvimento das competências e habilidades do educando não colocam à margem os eixos axiológicos e epistemológicos, mas os recorta conforme a perspectiva de realidade e visão de mundo, como é destacado em cada capítulo desse volume.
Os professores Paulo e Sílvio, listaram um conjunto de representantes que se mostraram legítimos mensageiros do período e que em maior ou menor grau permaneceram como clássicos na literatura pedagógica e que, os leitores são brindados através de temáticas construídas por distintos autores comprometidos com a ampliação do olhar sobre os fundamentos da educação.
Esse volume de Fundamentos da Educação é aberto pelo Professor Sílvio César Moral Marques, que traz no capítulo I, Hegel e o conceito de educação/formação (Bildung), uma análise da educação em Hegel, apresentando a maneira pela qual o conceito Bildung (formação/educação) se insere em sua filosofia. O filósofo alemão crê que o ser humano se forma a partir das relações com os demais mediada pela história e inserida na sociedade civil, a qual encontra na educação o elemento central para sua formação. “Neste sentido, defende que a escola deve fornecer uma educação prática em assuntos que proporcionem às crianças a vida em sociedade, julga ser essencial auxiliar as crianças a pensarem racionalmente de modo a torná-las parte do mundo público” (p. 30).
No capítulo II, intitulado como As contribuições de David Hume ao pensamento educacional, a autora Elisângela Nunes do Nascimento de Abreu que à luz de algumas contribuições do pensamento de David Hume para a educação e à pedagogia. Explicita a autora que Hume defende a concepção de que tudo o que se tem na mente vem através das percepções e dos sentidos. Hume valoriza a pesquisa científica, o refinamento das palavras na arte da escrita, a importância do estudo de História, inclusive para as mulheres, a origem e o progresso das artes e ciências, a igualdade entre ciências matemáticas e morais e o incentivo para a ampliação do gosto pelos aspectos bons e simples da vida, auxiliando no crescimento intelectual.
A professora Adriana Aparecida Pinto, escreve o capítulo III, O pensamento pedagógico de Johann Friedrich Herbart, que tem como objetivo apresentar um estudo sobre as relevantes contribuições de Herbart ao campo da educação. De acordo com as obras do pensador e de outros escritores da área, o capítulo busca evidenciar as contribuições para o campo da educação, os estudos e formulações propostas por este autor, cujo legado apresenta reflexos nas teorias pedagógicas até os dias atuais. O modelo herbatiano de educação ficou conhecido pela divulgação dos cinco passos para a organização do trabalho em sala de aula, que consistem em: preparação, apresentação, assimilação, generalização e aplicação. O autor contribuiu brilhantemente para a configuração da Pedagogia como campo científico, ao lado da aproximação dos estudos da Psicologia, buscando compreender a mente humana.
Silmara Aparecida Lopes, no capítulo IV, O pensamento pedagógico de José Ortega e Gasset, apresenta a contribuição teórica de José Ortega y Gasset, apreendendo-se de alguns fundamentos pedagógicos a partir de sua concepção filosófica de homem, de vida e de sociedade. O capítulo tem início analisando a célebre frase de Ortega que diz: “ Eu sou eu e minha circunstância e se não a salvo, não salvo a mim mesmo”. O autor tem uma compreensão da realidade como uma constituição relacional entre o eu e a circunstância, dessa forma, ser é sempre situar-se numa circunstância.
É importante lembrar que não se deve confundir o significado de circunstância com destino, pois este não poderia ser alterado. Diante das circunstâncias na concepção orteguiana, tem-se a permissão de realizar mudanças, pois, salvar a minha própria circunstância é, antes de mais nada, compreender o que ela significa em minha vida para depois buscar meios de modificá-la. Na obra A Rebelião das Massas, o homem-massa é descrito como aquele que não atribui a si mesmo um valor, mas se sente como todo mundo; não se angustia com isso e sente-se bem por ser idêntico aos demais.
Distingue-se da minoria (homem-especial), pois esta exige mais de si mesma, acumula dificuldades, deveres e responsabilidades. Na visão de Ortega, o homem pode mudar sua vida a partir da transformação da realidade em que vive, indicando que o caminho mais simples para essa empreitada é melhorar a educação e o nível cultural das pessoas, já que são essas duas instâncias que aproximam os homens.
No capítulo V, Bertrand Russell e o racionalismo educacional, o escritor Jackson James Debona apresenta a as contribuições de Russell no campo educacional e sua missão civilizatória e pacificadora. É a partir de uma educação voltada para a liberdade e independência mental que o mundo teria por excelência homens com habilidades necessárias e distintas para ocuparem lugares também distintos de admirado labor. As brincadeiras são benéficas para o desenvolvimento de novas aptidões e seu valor educacional é imensurável, e devem ser estimuladas segundo seu nível de desenvolvimento intelectual e social. Com relação ao egoísmo e propriedade, a educação tem como objetivo desenvolver formas de hábitos e ideias de empatias nas crianças e não uma coação externa de pancadas e castigos. A virtude primada aqui é a justiça. Nos escritos de Russell sobre a educação não se nota métodos pedagógicos, mas uma preocupação com os desígnios da humanidade. Para ele, as guerras e armas nucleares são resultado de uma formação de caráter distorcido dos homens e o único meio para reverter esse mal é uma educação para a liberdade.
Vitória Azevedo da Fonseca, é a autora do capítulo VI Lepelletier e a projeção do direito à educação, que aborda a inserção de Louis Michel Lepelletier no contexto da Revolução Francesa, as condições em que seu Plano de Educação Nacional foi apresentado à Convenção Francesa e a análise do plano em si, que enfoca, principalmente, a gratuidade do ensino oferecido sob a tutela da república, aporte para se pensar a oferta de educação com essa ênfase em vários outros países. Neste capítulo, a autora destaca que “ o Plano de Lepelletier projeta e reafirma o ideal de transformação da sociedade a partir de uma educação formadora de cidadãos. Educação que o próprio autor defende a partir da gratuidade e da ampliação da educação para todos, criando condições materiais para que efetivamente possa chegar a todos”. E finaliza “ se seu plano não foi implementado, suas ideias continuam gerando ecos” (p. 128).
O capítulo VII recebe o título O pensamento pedagógico de Johann Heinrich Pestalozzi, foi escrito por Luciana Cristina Porfirio e resgata histórica e socialmente algumas das ideias de Pestalozzi, bem como sua importância na constituição da pedagogia moderna. No final do século XVIII e, sobretudo, ao longo do século XIX o pensamento pedagógico desse autor proporcionou um novo olhar sobre a criança e seu processo de aprendizagem, bem como de ensino, método e papel do professor. Suas teorias influenciaram educadores como Fröebel e Hebart e seu nome vinculou-se a todos os movimentos de reforma educacional do século XIX.
Pestalozzi ficou conhecido no Brasil pelo desenvolvimento de uma pedagogia baseada no afeto, em especial o materno, e cujos princípios foram fortemente influenciados pelas leituras das obras O contrato Social e Emílio do filósofo iluminista Jean-Jacques Rousseau. O autor propôs uma tríplice formação – moral, intelectual e física – permeado por influências iluministas, românticas e revolucionárias em que supunha ser capaz de promover a redenção dos pobres e no qual se aprenderia a fazer e a conhecer, fazendo. Para essa pedagogia o professor deveria criar todas as condições para esse pleno desenvolvimento.
Meira Chaves Pereira é quem escreve o capítulo VIII sob o título O pensamento pedagógico de Friedrich Froebel. A autora discute as contribuições pedagógicas de Friedfrich Froebel especificamente à Educação Infantil, a criação dos Jardins da Infância (Kindergarten) e a didática para a primeira infância. Meira ressalta que Froebel não vê a brincadeira como algo corriqueiro. “Para ele, brincar e falar são elementos com os quais a criança descobre o mundo e a si mesmo, portanto, a expressão da educação infantil deverá definir o curso da própria natureza, uma vez que ao descobrir o seu próprio corpo, não há uma diretiva educacional em si, mas o despertar de uma aprendizagem para e pela vida”. E finaliza destacando que para Froebel “o papel do jogo, do brinquedo e da brincadeira no desenvolvimento infantil é o eixo mais importante, visto que aproxima o indivíduo do conhecimento das coisas e de si” (p. 165).
O capítulo IX, escrito pela professora Viviane Melo de Mendonça, traz para o nosso conhecimento a Fenomenologia e educação em Edmund Husserl e discorre acerca das contribuições da fenomenologia de Edmund Husserl para a educação. A autora contextualiza a vida e pensamento do filósofo e apresenta os principais pressupostos da fenomenologia husserliana e de suas contribuições para a educação. A autora faz observações quanto ao pesquisar e ao educar de um ponto de vista fenomenológico, que implica, necessariamente, em afirmar que há coisas a serem desveladas e ditas por uma atitude perplexa que deseja reaprender a ver o mundo e que este desvelamento e enunciação de mundo acontece na intersubjetividade. A autora enfatiza que a contribuição da filosofia de Husserl para a educação é “mais do que métodos ou técnicas de ensino educativas, é uma atitude diante do mundo e de outrem e essa atitude é a fenomenológica” (p.187).
O capítulo X, O existencialismo e o processo educacional em Carl Rogers da autora Ariane Andreia Teixeira Toubia, explana a trajetória de vida de Carl Rogers e as principais obras de sua carreira que contribuíram notoriamente para a área da psicologia e seus impactos no contexto educacional. Dentre outros aspectos, a autora descreve Rogers como um psicólogo norte-americano de base existencialista, tendo a fenomenologia como método científico, precursor de estudos que se desdobraram da área da psicologia clínica para a área educacional sob o título de Aprendizagem Centrada no Aluno, abordagem que considera o aluno como um todo, no qual o ensino deixa o caráter reducionista, primando a aprendizagem “pela pessoa inteira”.
Viviani Aparecida da Silva Rodrigues no capítulo XI, Willian Kilpatrick e o método de projetos na educação, discorre sobre os métodos de projetos de Kilpatrick. O pedagogo parte da necessidade de transformação e da concepção de que a educação está na vida e é a vida e propõe o método de projetos que propicia ao aluno aprender participando, vivenciando sentimentos, posicionando-se diante de fatos e problemas em busca de alcançar os objetivos predeterminados. Para Kilpatrick, as ações educativas deveriam ocorrer a partir de um ato intencional em que as experiências viessem a se organizar em torno de um trabalho produtivo, desencadeando um processo reflexivo. Era oportuno que as intenções de mudanças estivessem voltadas ao entendimento de currículo, construção de conhecimento e infância, numa perspectiva social, política, econômica e cultural condizente com os propósitos democráticos. A autora destaca que “a relevância está no sentido de possibilitar a construção do conhecimento significativo a partir de atividades problematizadoras, que requerem a mobilização de saberes prévios e novos conceitos, provenientes de várias disciplinas, além de atividades desafiadoras que requisitem dos alunos não apenas conhecimentos científicos, mas uma postura ética, crítica e estética diante de situações adversas, previsíveis ou não, pelas quais se deparam no cotidiano” (p. 220).
No capítulo XII, Escola nova: contexto e intencionalidades, Mauro Lima de Paula apresenta a Escola Nova ou educação progressiva, um movimento que surgiu na Europa entre o final do século XIX e o início do século XX, em decorrência das transformações trazidas pela chamada primeira grande depressão do sistema capitalista iniciada nos Estados Unidos e pelas consequências da Primeira Guerra Mundial. Naquele contexto, uma crise paradigmática da sociedade acaba por levar os intelectuais da época e os diversos Estados envolvidos neste cenário a pensarem uma nova forma de entender a educação e a escola, vistos como possíveis caminhos para mudar os rumos da política e corrigir os desvios daquele modelo antes em voga.
Neste capítulo, o autor salienta que “pensadores da educação como Rousseu, Froebel, Pestalozzi, Herbart, Montessouri, Decroly já haviam acenado para a necessidade de se conceber a educação de forma renovada, ao formular e colocar em prática seus métodos de ensino. Entretanto, de todos esses educadores ou pensadores da educação, foi o americano John Dewey que, tendo conhecimento destes estudos e experiências anteriores, quem (re) formulou e sistematizou uma teoria do que ficaria chamado de pensamento escolanovista ou Escola Nova” (p. 244).
Manuel Lourenço Filho e sua ideia de escola nova para o Brasil, é o título do capítulo XIII, escrito por Alessandra Cristina Furtado, em que apresenta-se a trajetória de Lourenço Filho com relação à sua atuação e contribuição no movimento da Escola Nova no Brasil e também é possível entrever que Lourenço Filho teve a sua atuação marcada por atividades intensas orientadas pelos preceitos e princípios do movimento da Escola Nova e do Manifesto dos Pioneiros, uma vez que atuou como professor, pesquisador, administrador e escritor, influenciando o pensamento educacional e as políticas de sua época. Neste capítulo pode-se verificar que a contribuição de Lourenço Filho ao campo educacional brasileiro, foi para além de professor e administrador na reforma da educação brasileira, “pois também se dedicou de forma contínua na produção escrita, sobretudo, na área da psicologia aplicada à educação, uma criação que deixou marcas na produção didática de obras, como a construção de Cartilhas” (p. 262).
O capítulo XIV, O pensamento pedagógico de Maria Montessori, escrito por Maria Madalena Marques Gehm, aborda os elementos centrais das contribuições de Maria Montessori, uma das representantes do movimento da Escola Nova, para a reflexão e aproximações possíveis sobre sua atualidade na realidade escolar. O método ativo de Montessori tem por objetivo a educação da vontade e da atenção da criança, com o qual está tem liberdade de escolher o material a ser utilizado e desenvolver-se naturalmente. Desta forma o necessário é arranjar um ambiente e materiais apropriados para o seu desenvolvimento seguindo os princípios básicos de orientação mais biológica do que de construção social: a) Liberdade; b_ Atividade; c) Vitalidade; d) Individualidade.
Salienta-se neste capítulo que o material didático elaborado por Maria Montessori desempenha um papel importante com relação ao trabalho educativo, pois “promove a compreensão dos objetos dados a partir deles mesmos, e desta maneira contribuirá para estimular e desenvolver na criança, um impulso interior que se manifesta no trabalho espontâneo do intelecto” (p.276).
Jean Ovide Decroly e “os centros de interesse” é o título do capítulo XV, escrito pelo professor Paulo Gomes Lima, que tem por objetivo discutir as contribuições do pensamento pedagógico de Ovide Decroly, evocando como eixos de recorrência as bases epistemológicas de sua pedagogia, o método globalizante e o processo ensino-aprendizagem e a educação por meio dos centros de interesse. Embora centrado no otimismo pedagógico promovido pela Escola Nova, onde o foco seria o de preparar o cidadão para o exercício de uma cidadania liberal, portanto, sem discutir ou promover uma crítica da sociedade e das ideologias subjacentes, dentre outros, Decroly destaca a centralidade da criança no processo de aprendizagem. Além desse olhar, pode-se entender que com o desenvolvimento da Escola Nova também passa a ser enfatizado os seguintes pontos: a construção do conhecimento do aluno, o desenvolvimento das relações interpessoais em sala de aula, a ênfase psicológica sobre o desenvolvimento da criança. Em Decroly observa-se que o processo de aprendizagem, portanto, deve reunir os “centros de interesse” da criança ligados às suas necessidades fundamentais, pois para ele a necessidade gera o interesse.
Jurany Leite Rueda é a autora do capítulo XVI, Alexander Neill e a escola de Summerhill. O capítulo explana o pensamento libertário de Neill e o reflexo de sua proposta educacional em Summerhill, ponderando os pontos e contrapontos do método educacional aplicado. Alexander Sutherland Neill (1883-1973), educador escocês, conhecido como o criador da Summerhill School, destacou-se pelos princípios de liberdade e autonomia que moveram seu pensamento pedagógico, amplamente divulgado através de sua notória obra Liberdade Sem Medo. Ao instituir Summerhill, Neill enfatizava que o ambiente escolar deve ter como foco a educação que proporciona a livre escolha das crianças, pois em sua visão as crianças adquirem uma vasta noção da experiência e esse processo as conduz a quererem aprender cada vez mais.
No capítulo XVII, O pensamento pedagógico de Célestin Freinet, escrito pelo professor Rubens Rodrigues Lima, explana o pensamento de Freinet, que como crítico da escola tradicional, é um dos principais educadores que, avança em direção à uma educação popular. No conjunto de seu pensamento epistemológico, reconhece a sociedade como refletora de contradições dos interesses das classes que nela existem, considera que como instituição social a escola também explicita tais contradições, mas a despeito desse contexto também poderia apresentar pistas para a sua superação por meio da educação.
A linha de trabalho de Célestin Freinet é conhecida como “a pedagogia do bom senso ou pedagogia do trabalho, pois traz em sua essência a expressão livre do aluno onde seu objetivo é trazer as atividades na linguagem escrita oral possibilitando sua autonomia de forma crítica e participativa onde cada membro da comunidade escolar tem seu papel e finalidade, ou seja, todos são importantes na construção e aprimoramento dos saberes e fazeres dentro do ambiente escolar de forma organizada e democrática. Esta pedagogia valoriza os conhecimentos prévios de cada aluno e parte da realidade dos mesmos para construção de novos conhecimentos e trocas de saberes.
Ana Paula Rodrigues Sanches, escreve o capítulo XVIII, Karl Mannheim: pensar a educação numa abordagem sociológica. Neste capítulo a autora apresenta os elementos centrais do pensamento de Karl Mannheim e suas contribuições ao pensamento educacional. Mannheim investiga a natureza do pensamento humano a partir das condições sociais que o constitui, dessa forma, propõe uma visão sociológica da educação por meio da Sociologia do Conhecimento, postulando um novo horizonte ontológico e epistemológico do conhecimento e considera a importância da educação articulada ao planejamento social, enquanto via de acesso para a orientação do comportamento dos indivíduos. Designa esse planejamento como reconstrução social, por meio de uma modificação das instituições, dos valores defendidos socialmente e do próprio homem, assegurando o surgimento de uma nova sociedade.
O capítulo XIX, Contribuições de Darcy Ribeiro à educação brasileira, encerra o quarto volume da coletânea Fundamentos da Educação e foi escrito por Edson Segamarchi dos Santos, que nos apresenta as principais contribuições de Darcy Ribeiro no campo educacional brasileiro. Destaca o autor que Darcy foi um homem plural, tendo atuado em vários segmentos sociais: foi educador, antropólogo, indigenista, escritor de ficção e político. Daí ter sido considerado por muitos analistas um camaleão, ou como ele mesmo afirmou certa feita em um discurso proferido: ser comparável a uma cobra, pois dizia vestir várias peles, e em muitas ocasiões trajava mais de uma ao mesmo tempo. Afeito às diversidades, refutava a singularidade e defendia que a escola pública deveria oferecer aos pobres um padrão de formação, assim como as experiências culturais comparáveis àquelas que os filhos da classe média já tinham como algo assegurado pela própria condição econômica e social de origem.
Na sua visão, uma sociedade em que a mobilidade social está quase que invariavelmente vinculada ao nível de escolaridade do sujeito, o investimento em educação capaz de promover ganhos culturais efetivos e duradouros poderiam assegurar melhores condições de ascensão social aos “vindos de baixo”. No Brasil, as soluções para o campo da educação, devem ser pensadas a partir de “algumas premissas defendidas por Darcy, como por exemplo: oferecer às crianças e jovens um programa integral de instrução, um programa integral de civilização e de educação para a vida” (p. 369).
Ao concluir esta resenha, pode-se dizer que os leitores desta obra são premiados com a riqueza das temáticas abordadas pelos autores, todos comprometidos em ampliar os conhecimentos na área educacional. As informações aqui apresentadas permearam os saberes e fazeres no campo da educação a partir de recortes que elucidaram as perspectivas dos mais legítimos representantes da educação no mundo, destacados em cada um dos dezenove capítulos do livro.
O volume IV de Fundamentos da Educação reuniu clássicos educacionais no objetivo de colaborar com formação e pesquisas de qualidade àqueles que se debruçam na busca do conhecimento pedagógico contínuo pleiteando o aperfeiçoamento do papel social do educador na cena escolar. Neste volume, de modo singular, os organizadores sinalizam, como citado no início da resenha, que o sentido de educação em geral e da educação escolar passam por uma considerável ressignificação, na qual a interpenetração dos conhecimentos e realizações escolares se adequam conforme as metamorfoses mundanas.
Um livro que tem como pauta central o desenvolvimento do conhecimento e da capacidade humana de situar-se em uma sociedade marcada por tensões, é capaz de fornecer aos seus leitores, sustentos à crítica constante sobre educação, pois aborda questões relevantes da área, contempladas em todos os capítulos deste volume IV de Fundamentos da Educação: Recortes e Discussões.
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