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PERCEPÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO DO AMBIENTE ESCOLAR POR MEIO DE FOTOGRAFIAS E PRODUÇÃO DE DOCUMENTÁRIO
JEANI DELGADO PASCHOAL MOURA; WILSON APARECIDO PASCHOAL
JEANI DELGADO PASCHOAL MOURA; WILSON APARECIDO PASCHOAL
PERCEPÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO DO AMBIENTE ESCOLAR POR MEIO DE FOTOGRAFIAS E PRODUÇÃO DE DOCUMENTÁRIO
PERCEPTION AND AWARENESS OF THE ENVIRONMENT SCHOOL THROUGH PHOTOGRAPHS AND DOCUMENTARY PRODUCTION
PERCEPCIÓN Y CONCIENCIA DEL MEDIO AMBIENTE LA ESCUELA A TRAVÉS DE FOTOGRAFÍAS Y PRODUCCIÓN DOCUMENTAL
GEOSABERES: Revista de Estudos Geoeducacionais, vol. 9, núm. 17, 2018
Universidade Federal do Ceará
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Resumo: Diante da percepção de situações de descaso e não valorização do patrimônio público foram realizadas ações para sensibilização do ambiente degradado de um colégio da rede estadual pública de Londrina-Paraná. Foram produzidos, pelos alunos, registros fotográficos a partir da observação in loco sobre pontos degradados do espaço físico da escola e um documentário feito a partir de uma entrevista com o funcionário responsável pela manutenção do colégio, cujo trabalho se repete há 20 anos para manter o ambiente escolar em condições de uso, fato que era desconhecido pela maioria dos alunos. Como resultados imediatos deste trabalho, conseguimos dialogar com a comunidade escolar acerca da importância da valorização da escola como patrimônio histórico, cultural e social, além de refletir sobre a necessidade do trabalho coletivo e da participação de cada um nos cuidados com o ambiente escolar.

Palavras-chave:Degradação ambientalDegradação ambiental,Agenda 21Agenda 21,Espaços PúblicosEspaços Públicos,çç,EducaçãoEducação.

Abstract: Faced with the perception of situations of discase and non-appreciation of public heritage, actions were carried out to raise awareness of the degraded environment of a college of the public state network of Londrina-Paraná. Produced by students, Photographic records from the observation on the spot on degraded points of the physical space of the school and an documentary was made from an interview with the employee responsible for the maintenance of the school and its equipment, whose work has been repeated for 20 years to maintain the school environment in terms of use, a fact that was unknown by most students. As immediate results of this work, we have managed to dialogue with the school community about the importance of the appreciation of the schools as historical, cultural and social heritage, and reflect on the necessity of collective work and the participation of each in the care of the school environment.

Keywords: Environmental degradation, Agenda 21, Public spaces, Education.

Resumen: Frente a la percepción de las situaciones de descaso y no apreciación del patrimonio público, se llevaron a cabo acciones para sensibilizar al entorno degradado de un Colegio de la red pública estatal de Londrina-Paraná. Fueron producidos por estudiantes, registros fotográficos de la observación in situ sobre los puntos degradados del espacio físico de la escuela y un documental realizado a partir de una entrevista con el empleado responsable del mantenimiento del colegio, cuyo trabajo se ha repetido durante 20 años para mantener el ambiente escolar en términos de uso, un hecho que fue desconocido por la mayoría de los estudiantes. Como resultados inmediatos de este trabajo, logramos dialogar con la comunidad escolar sobre la importancia de la apreciación de las escuelas como patrimonio histórico, cultural y social, para reflexionar sobre la necesidad del trabajo colectivo y la participación de cada uno en el cuidado del entorno escolar.

Palabras clave: Degradación medioambiental, Agenda 21, Espacios públicos, Educación .

Carátula del artículo

PERCEPÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO DO AMBIENTE ESCOLAR POR MEIO DE FOTOGRAFIAS E PRODUÇÃO DE DOCUMENTÁRIO

PERCEPTION AND AWARENESS OF THE ENVIRONMENT SCHOOL THROUGH PHOTOGRAPHS AND DOCUMENTARY PRODUCTION

PERCEPCIÓN Y CONCIENCIA DEL MEDIO AMBIENTE LA ESCUELA A TRAVÉS DE FOTOGRAFÍAS Y PRODUCCIÓN DOCUMENTAL

JEANI DELGADO PASCHOAL MOURA
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Brasil
WILSON APARECIDO PASCHOAL
GEOSABERES: Revista de Estudos Geoeducacionais, vol. 9, núm. 17, 2018
Universidade Federal do Ceará

Recepção: 10 Julho 2017

Aprovação: 20 Novembro 2017

INTRODUÇÃO

O presente trabalho, fomentado no bojo das ações do projeto Agenda 21 Escolar, vinculado ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), financiado pela CAPES, do curso de Geografia da UEL, foi realizado em uma das escolas estaduais de periferia carente, parceiras desse programa. Ao entrarmos nas várias escolas da rede pública de ensino, desde os primeiros momentos do projeto Agenda 21 escolar, deparamos com uma série de dificuldades no tocante ao ambiente, tanto ocasionadas pela burocracia administrativa do Estado, quanto pela falta de comprometimento dos sujeitos que participam diretamente da comunidade escolar. Ao analisar a realidade da escola em estudo, percebemos, desde o início, que os alunos não se sensibilizavam pela existência de um ambiente desagradável, visto que a sujeira, a degradação e a desorganização eram vistas como uma situação normal para os padrões das instituições públicas. Algumas atitudes presenciadas demonstravam que não havia preocupação com o patrimônio público, via de regra, identificado como “terra de ninguém”. Em diálogos informais pelos corredores das escolas, observávamos que os alunos desconheciam a complexidade da estrutura física e humana necessária para manter o funcionamento e a qualidade dos equipamentos e serviços prestados à comunidade.

Pela necessidade de resolver problemas de degradação do espaço físico, na maior parte dos casos praticada pelos alunos, buscamos promover o diálogo sobre os impactos que o descaso e a falta de valorização do patrimônio público poderiam gerar. A metodologia se configura como estudo de caso, em que uma vez identificado o problema, se busca diagnosticar, avaliar e propor soluções visando a valorização do ambiente escolar como espaço científico e laboratório onde é possível compreender a essência das coisas, em meio à multiplicidade de suas manifestações cotidianas. Como estratégia de pesquisa, na perspectiva de estudo de caso, foi aplicada duas atividades para a sensibilização da comunidade escolar, com o intuito de despertar para a necessidade de se avaliar e propor soluções exequíveis para os problemas levantados, pois compreendemos que o empoderamento é uma forma para o cuidado com o ambiente escolar. Em primeiro lugar, trabalhamos com registros fotográficos e, posteriormente, sua publicação em uma rede social para socializar as impressões particulares. Em seguida, produzimos um documentário com trechos da entrevista realizada com um funcionário da mesma escola, cujos relatos demonstraram uma rotina diária de manutenção para o bom funcionamento do ambiente escolar, desde a troca de lâmpadas até a reforma de carteiras escolares. Adiante, as discussões seguem a ordem cronológica das ações implementadas, permeando reflexões teóricas com reflexões originadas de nossa prática.

O DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ESCOLAR POR MEIO DA FOTOGRAFIA

A escola se encontra localizada em um conjunto habitacional na Zona Norte do Município de Londrina – PR, mais especificamente no Conjunto João Paz, uma região constituída por uma comunidade de baixa renda - 52% das famílias ganham até 3 salários mínimos, com alto índices de violência. Os alunos são filhos de pessoas carentes que lutam para garantir a subsistência da família, delegando, muitas vezes a responsabilidade da criação e educação dos filhos a outras pessoas e, principalmente, à escola[1]. Para despertar a reflexão crítica dos alunos sobre o espaço escolar propusemos trabalhar com fotografias, procurando articulá-las aos conceitos de qualidade de vida (RIBEIRO, 2005; WALDMAN, 2005), cidadania (PENTEADO, 2012), ambiente (WALDMAN, 2005; MORIN, 2011) e paisagem (TUAN, 1983).

O conceito de qualidade de vida, na sociedade contemporânea, leva em conta uma série de fatores, como a saúde, a educação, o bem-estar físico, mental, psicológico e emocional, as relações sociais, financeiras, entre outros parâmetros, o que implica distingui-lo objetivamente, como também subjetivamente levando em conta a condição humana (RIBEIRO, 2005). O ser humano por sua natureza tende a viver em sociedade, o modo de vida desenvolvido em comunidade está associado ao conceito de cidadania, decorrente do latim civitas, que significa cidade, o habitante de uma cidade é o cidadão, indivíduo que está em pleno gozo dos direitos civis e políticos de um Estado (MICHAELIS, 2009). Penteado (2012) afirma que a escola é um local dentre outros (trabalho, família, igreja, etc), onde os professores e alunos exercem a sua cidadania, ou seja, comportam-se de alguma maneira em relação a seus direitos e deveres. A escola é um espaço da compreensão sócio-política das questões ambientais e de formação da consciência ambiental. Na escola os alunos são convidados a treinar o olhar para questões e elementos da paisagem, como forma de aprender a pensar e a propor novas perguntas frente aos problemas da contemporaneidade (MORIN, 2011). A percepção de elementos da paisagem pode trazer aspectos afetivos e especiais para o indivíduo, podendo movê-lo no campo da ação. Enxergar a paisagem sobre distintos pontos de vistas, valorizando diferentes elementos colaboram com o bem do grupo social.

Para Tuan (1983), a paisagem está atrelada ao campo da cultura e das experiências individuais do sujeito, que seleciona os elementos da paisagem que visualizará, de acordo com os valores de sua cultura

[...] tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos, como a atividade proposital, na qual certos fenômenos são claramente registrados, enquanto outros retrocedem para a sombra ou são bloqueados. Muito do que percebemos tem valor para nós, para a sobrevivência biológica e para propiciar algumas satisfações que estão enraizadas na cultura (TUAN, 1983, p. 4).

A definição de Tuan (1983) ajuda a justificar o trabalho com a categoria paisagem na educação formal. Utilizamos esses conceitos articulados à questão ambiental para organizar a proposta de trabalho com registros fotográficos realizados pelos próprios alunos. O trabalho com estes conceitos possibilitou alargar os horizontes dos alunos sobre a relação entre o visível e o invisível na produção do espaço geográfico (CHAMLET; PIANOVSKI, 2012). Os alunos fizeram registros fotográficos da escola para diagnosticar, mensurar e sensibilizar-se pelos problemas de degradação do colégio e, ao mesmo tempo, estimular o debate sobre as possíveis soluções. É importante ressaltar que na sala de aula

[...] a imagem também é um recurso didático, pois ilustra movimentos, construções, paisagens e fenômenos que são abordados pelo professor, facilita a observação de fatos e favorece a construção de conceitos pelos alunos. [...] Além de fonte de informações, a fotografia também é um instrumento de estudo. Diversos exercícios podem ser realizados envolvendo essa técnica, tanto em sala de aula como no entorno da escola. É interessante que o trabalho de registro fotográfico seja feito com os alunos reunidos em grupo para que as decisões a serem tomadas sejam realizadas de forma coletiva e o grupo possa se dividir no desenvolvimento de cada etapa do trabalho (JUSTINIANO, 2011, p. 432).

Verificamos o potencial pedagógico da fotografia enquanto uma linguagem que permite aproximar o sujeito do meio fotografado, estimulando a capacidade de olhar mais atentamente aos fatos e fenômenos cotidianos. O ato de fotografar potencializa o olhar investigativo e crítico e estimula a percepção da paisagem cotidiana: - o que se pode ver? - o que se pode sentir? É pela experiência de sentir a paisagem que a mesma vai se desvelando em sua essência, e a fotografia é uma linguagem que aproxima os atores de suas paisagens experienciadas. Ao trabalhar com esta linguagem é importante obedecer alguns princípios básicos durante os registros fotográficos:

- descrição da cena; - o que desejavam mostrar; o que apareceu em cada foto; necessidade de mais imagens para representar o tema; descrições sobre a luminosidade (natural ou artificial; forte, contratada etc.), equipamento utilizado e sua configuração (automática ou manual, sensibilidade, velocidade e diagrama); data e localização (coordenada, endereço ou outra referência, orientação). (JUSTINIANO, 2011, p. 432)

As fotos de autoria dos alunos foram postadas na rede social Facebook num perfil do projeto feito especificamente com essa finalidade. Humberto (2000) afirma que a fotografia é uma fonte de informação e comunicação das mudanças ambientais, causadas por fenômenos naturais ou pelas ações do homem. Ao observarem as fotografias postadas, os alunos participaram ativamente com comentários positivos, críticas e sugestões. Enquanto mediadores, respondíamos os pareceres, ideias, julgamentos e avaliações dos alunos com vistas à troca de diálogos e saberes[2], buscando ampliar seu nível de análise e de crítica para além do senso comum.

A fotografia é uma arte visual em que, ao captar uma determinada imagem da realidade, o fotógrafo projeta-se sobre um recorte espacial e potencializa a sua capacidade de entendimento das espacialidades, apresentando uma forma particular de interpretar o real a partir de sua diversidade geográfica.[...] o ato de fotografar se torna um meio de expressão do sujeito frente a um novo mundo reinterpretado. Esta representação nasce da captura singular do fotógrafo, marcada pela negação do olhar padrão e pela valorização subjetiva de apreensão da realidade. (MOURA; SANTANA, 2013, p. 1507)

A seguir temos os resultados da produção de fotografias associada à análise reflexiva. Os alunos produziram imagens e publicaram nas redes sociais, as quais eram comentadas pelos participantes do projeto, a exemplo dos relatos que seguem.



Figura 1 - Imagens do fundo da escola
Fonte: arquivos do PIBID/Geografia (2015).



Figura 2 - Imagens capturadas no Facebook; pontos observados no ambiente escolar
Fonte: arquivos do PIBID/Geografia (2015).

As figuras 1 e 2 mostram ambientes degradados da escola e salas de aula, em condições não adequadas ao funcionamento: fiações expostas, vidros quebrados, piso com lajotas soltas ou mesmo quebradas, carteiras quebradas com o tampão empenado e/ou cheias de cavidades que prejudicavam no momento de fazer alguma atividade sobre a mesma[3]. Tal diagnóstico foi levantado juntamente com os alunos para que eles se tornassem mais sensíveis aos problemas locais e se posicionassem criticamente diante dos problemas detectados. “Fica claro o descaso em relação aos entulhos jogados no colégio, ninguém faz questão de notar! ” (Sujeito da Pesquisa 1).

Superando o plano do mero discurso ambientalmente correto, emergiram questionamentos sobre o papel dos indivíduos na sociedade, as funções do Estado e da sociedade, o conceito de problema ambiental e social entre outros. “A sociedade só se importa com aquilo que realmente incomoda a si próprio; a visão individualista destrói os ambientes” (Sujeito da Pesquisa 2). “Se cada um fizer a sua parte, teremos um mundo mais equilibrado” (Sujeito da Pesquisa 3).

O trabalho com fotografias sensibilizou o aluno na busca pela compreensão de seu espaço de vivência a começar pelo espaço escolar. O trabalho revelou que, via de regra, os mesmos naturalizavam a depredação do ambiente escolar, como situação caótica, sem grandes perspectivas de mudança. Ao produzir suas próprias narrativas com o uso de imagens fotográficas e contemplá-las mediante exercício da crítica, acreditamos ter conseguido mudar, em algum grau, o olhar padrão, naturalizado de que a realidade está posta e não há muito o que fazer, tão pouco o que enxergar de diferente dos demais. “A nossa escola era muito feia, agora que conseguimos ver com outros olhos, vamos ajudar a melhorar o nosso pedacinho no mundo” (Sujeito da Pesquisa 4).

Para Tuan (2012, p. 22) dentre “os cinco sentidos tradicionais, o homem depende mais conscientemente da visão do que dos demais sentidos para progredir no mundo. Ele é predominantemente um animal visual”. A fotografia apresenta inúmeras possibilidades de ampliar os sentidos daquilo que se vê e que acontece ao redor. O exercício fotográfico desenvolve um olhar investigativo na medida em que possibilita desconstruir um ponto de vista único e romper com a visão de mundo padronizada. “Se a escola está assim é porque nós ajudamos a estragar tudo, precisamos mudar isso” (Sujeito da Pesquisa 5). O ato de fotografar se torna um meio de expressão do sujeito frente a um mundo ressignificado.

A imagem é entendida de várias maneiras, possui funções representativas, informativas, simbólicas, documentais, expressivas, pedagógicas, entre outras. Estas funções podem ser captadas nas mais diversas paisagens, pois a fotografia é um instrumento que a maioria dos fotógrafos profissionais utilizam para captar fragmentos da paisagem. As funções das imagens decorrem dos objetivos que se quer alcançar. Sendo assim, uma mesma imagem pode possuir diferentes funções atendendo a interesses distintos. (SILVA; MOURA, 2004, p. 180-181)

A fotografia promoveu nos alunos-fotógrafos a descoberta da paisagem que embora experienciada diariamente não era percebida. A fotografia tem caráter co-autoral, pois permite aos sujeitos que a produziram criarem suas próprias narrativas ao possibilitar um diagnóstico relativo à má conservação e depredação do ambiente fotografado. Diante disso, tornou-se necessário pensar uma prática para colaborar na conscientização e mudança de atitude da comunidade escolar em relação ao ambiente interno da estrutura física da escola. Dentre as propostas possíveis, efetivamos, com um grupo de alunos, a produção de um documentário.

O DOCUMENTÁRIO COMO MEIO DE PERCEPÇÃO O AMBIENTE

Após o diagnóstico levantado com os registros fotográficos e as discussões que se sucederam, foram feitos alguns encaminhamentos para ações efetivas no espaço escolar com o objetivo de minimizar o descaso com o ambiente, entre eles a produção de um documentário para sensibilização da comunidade escolar. O documentário se trata de uma modalidade de narrativa audiovisual marcada pelo registro direto da realidade, sem o uso da dramaturgia. Dentre as estratégias usuais para a produção do documentário, a entrevista foi escolhida por considerá-la um meio eficaz para apreender aspectos da realidade investigada. Pensada a ação, era necessário organizar um roteiro e trazer algo que pudesse articular a questão ambiental, a cidadania e a qualidade de vida. A produção do documentário seguiu os seguintes passos: discussão e elaboração do roteiro; gravação; edição; disseminação. Da ideia à produção do vídeo-documentário algumas reuniões foram realizadas para que os alunos pudessem se organizar quanto à escolha dos temas, o local onde seria a gravação, o informante qualificado para conceder a entrevista, o grupo responsável pela editoração do vídeo e o cronograma de apresentação dos resultados para a comunidade escolar. No que se refere à produção de vídeos na escola, Perón afirma que

As técnicas de vídeo podem ser praticadas dentro e fora da sala de aula, ou ainda em “estudo do meio” e trabalhos de campo. É importante que, antes da filmagem, defina-se em conjunto uma temática de interesse comum e estabeleçam-se objetivos que orientarão a construção da narrativa. Pode-se colher depoimentos de alunos, pais e professores [acrescenta-se funcionários] acerca de uma temática; [...] o acesso a equipamentos, ainda que bem simples, já viabiliza esse fundamental exercício discursivo. (PERON, 2011, p. 444)

A técnica de vídeo é uma linguagem carregada de intencionalidade, com objetivos claros da problemática tratada e dos encaminhamentos necessários para levar a uma reflexão e um posicionamento diante do assunto tratado. Após um período de reflexão sobre os caminhos práticos a seguir, combinamos de filmar o depoimento do senhor Aparecido, funcionário da escola há mais de 20 anos, que é responsável por pequenos reparos e manutenções da unidade educacional. Ele era conhecido por poucos alunos. A maioria dos alunos não conhecia ao menos a localização da sala de ferramentas onde ele passa boa parte dos seus dias. Antes da gravação da entrevista, a equipe conversou sobre as possíveis questões que poderiam orientar a mesma. A filmagem se deu com apenas uma câmera e foi feita na sala de ferramentas. Os alunos fizeram as perguntas relativas a experiência do entrevistado ao longo de sua trajetória de trabalho no ambiente escolar, suas principais dificuldades e conquistas naquele espaço, além de sua rotina de trabalho, sem um roteiro fixo novas perguntas poderiam ser inseridas na medida em que surgiam novas informações e/ou pontos interessantes para serem aprofundados. Após a entrevista, o documentário foi editado e disponibilizado a toda a comunidade escolar, com o intuito de demonstrar a importância do trabalho desse profissional para manter a escola em condições adequadas e como a comunidade poderia ajudá-lo na construção de um ambiente ideal de estudos e vivências. A figura 3 mostra uma das sessões em que foi reproduzido o documentário para os alunos de outras séries apreciarem e conhecerem o trabalho realizado no colégio diariamente.



Figura 3: Reprodução do Documentário na Sala de Projeções.
Fonte: arquivos do PIBID/Geografia (2015).

A produção e a projeção do documentário para a comunidade escolar tiveram efeitos positivos pela capacidade de sistematizar as vivências e reflexões de um ator social que vive no anonimato, repetindo, arduamente, o mesmo trabalho há 20 anos para manter o ambiente escolar em condições de uso. Em cada sessão apresentada os ouvintes foram chamados a demonstrarem seus pontos de vistas sobre o tema relativo ao ambiente escolar e a preservação de seu patrimônio e a discutirem a importância de se falar sobre tal assunto na conquista de uma escola diferente com um ambiente mais agradável para se vivenciar. Esse efeito satisfatório pode ser melhor explicado nas palavras de Perón ao lembrar que

[...] o realizador tenha algo a dizer e que o vídeo a ser realizado seja um modo de questionamento do tema em questão e não um mero registro de trabalho de campo. Está em pauta a possibilidade da construção de um discurso, de uma narrativa que encerra uma forma de conhecimento, de uma ordem do olhar que é, afinal, um tipo de questionamento. E toda pergunta já é uma resposta – uma resposta a um problema que toca o humano, pergunta que busca uma solução, redirecionando uma prática e reconhecendo, simultaneamente, a natureza contraditória dos contextos dos quais participa. Portanto, a realização de um vídeo pode resultar em simples registro ou em agudo questionamento. (PERON, 2011, p. 445)

Como resultados imediatos deste trabalho, conseguimos dialogar com a comunidade escolar acerca da importância da valorização da escola como patrimônio público, de uso coletivo, formada não apenas por bens materiais, como imóveis, móveis, erário, etc., mas também por bens imateriais, como o patrimônio histórico, cultural e social, não pertencentes ao Governo, a administração pública, ao diretor, mas sim pertencentes a pessoas indeterminadas ligadas pelo fato de ser cidadãs, o povo, ou seja, de todos, de toda a sociedade.. Á partir desse entendimento buscou-se conhecer como se dá a degradação e a preservação do espaço público escolar provocando assim a reflexão sobre a necessidade do trabalho coletivo e da participação individual nos cuidados com o local e a qualidade do ambiente de ensino.

Como reverberações do trabalho realizado, foram propostos pelos alunos mutirões de limpeza, sinalização ambiental entre outras estratégias em que o conhecimento obtido pôde ser aplicado, especialmente quando se tratava diretamente do ambiente das salas de aula e da parte interna dos prédios da escola. Os alunos questionaram a responsabilidade de cada um diante dos problemas, antes culpavam, acima de tudo, o governo e a coordenação pela morosidade nas reformas e reparos necessários. A partir das práticas efetivas no ambiente escolar, alguns dos alunos passaram a perceber a importância da política e começaram a se articular para a reativação do grêmio estudantil, por exemplo, como um meio exequível de se integrar na vida da comunidade e agir em busca de alternativas melhorativas para o ambiente vivido.

Toda prática deve ser guiada por uma teoria que a sustenta, assim, o vídeo se tornou um instrumento criativo e crítico ao permitir a observação, a descrição, a verificação empírica, o estudo teórico, o diálogo, a reflexão e a interação entre teoria e prática.

Enquanto prática pode-se afirmar que o vídeo é um grande aliado do trabalho científico, uma vez que registra fatos, experiências, fixando-as ou, de certa forma, materializando-as, o que permite o compartilhamento, essencial ao desenvolvimento científico. [...] A construção de um vídeo pode prestar-se, portanto, a um questionamento sobre a ordem do olhar. (PERON, 2011, p. 445)

A produção do documentário colocou os alunos como protagonistas da ação, se mostrou frutífero no campo pedagógico pela interação entre os pares e a possibilidade de pensar cientificamente, sem desprezar os saberes populares advindos da experiência vivida articulando a dimensão política do espaço geográfico e da questão ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentro das discussões de novos paradigmas para a ciência e para a educação (em especial a brasileira), faz-se necessário repensar as metodologias e as linguagens utilizadas em sala de aula. É fundamental que os alunos tenham experiências educativas que complementem e extrapolem o discurso teórico da sala de aula e os faça repensar sobre seu modo de vida e sua percepção do ambiente, repensando a questão ambiental em termos geográficos, éticos, morais, sociais, econômicos e culturais.

A paisagem é um conceito importante para operacionalizar esses objetivos e fornecer uma base interdisciplinar para a Educação Ambiental. Este conceito pode ser potencializado pela incorporação de linguagens como a fotografia que promoveu a socialização das impressões e das conclusões pessoais em redes sociais, possibilitando melhores resultados na construção comunitária do conhecimento e no debate crítico.

Por outro lado, as técnicas de vídeo subsidiam o desenvolvimento de diversas habilidades e competências, ensinando os alunos a produzirem um discurso e o transformarem em uma criação artística, trazendo, com isso, a reflexão sobre a produção do conhecimento no campo ambiental. Afinal, todo e qualquer conhecimento é orientado com determinado objetivo. O discurso ambiental é repleto de matrizes e matizes. Isso não pode ser esquecido quando se considera uma proposta, uma ideia ou um raciocínio ambiental.

Em síntese, a experiência ambiental pela utilização de diversas linguagens e técnicas é um amplo campo de possibilidades sendo que, a fotografia, as redes sociais e a produção de vídeos têm se mostrado eficiente em despertar os alunos para a questão ambiental, incluindo seu papel (enquanto sujeitos sociais) nos destinos da humanidade em diferentes escalas geográficas, desde que sejam planejados e organizados pelo docente.

Material suplementar
REFERÊNCIAS
CHAMLET, Daniel; PIANOVSKI, Diego. Qualidade de Vida e Cidadania: Uma proposta de reflexão por meio da observação da paisagem. XXVIII SEMANA DE GEOGRAFIA, 2012, Londrina. Anais... Londrina: UEL, 2012.
HUMBERTO, Luis. Fotografia, a poética do banal. Brasília: Editora Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000.
JUSTINIANO, Eduardo Félix. Técnicas de Fotografia. In: VENTURI, Luis Antonio Bittar (org.) Geografia: práticas de campo, laboratório e sala de aula. São Paulo: Sarandi, 2011. p. 411-434. (Coleção Praticando)
MICHAELIS, Dicionário Online. Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Editora Melhoramentos Ltda, 2009. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/. Acesso em 08 de julho de 2017.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya; 2. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, 2011.
MOURA, Jeani D. P.; SANTANA, Deisihany Armelin. A reeducação do olhar por meio de fotografias socioambientais. In: IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem I Encontro Internacional de Estudos da Imagem. Anais. Disponível em: http://www.uel.br/eventos/eneimagem/2013/anais2013/trabalhos/pdf/Jeani%20Delgado%20Paschoal%20Moura%20e%20Deisihany%20A%20Santana.pdf. Acesso em: 29 nov. 2013.
PENTEADO, Heloísa Dupas. Meio ambiente e formação de professores. 7 ed. São Paulo: Cortez, 2012.
PERON, Mauro Luiz. Técnicas de Vídeo. In: VENTURI, Luis Antonio Bittar (org.) Geografia: práticas de campo, laboratório e sala de aula. São Paulo: Sarandi, 2011.p. 435-446. (Coleção Praticando)
RIBEIRO, Wagner Costa. Em busca de qualidade de vida. In: WALDMAN, Maurício. História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2005. p. 545-561.
SILVA, Renata Martins; MOURA, Jeani Delgado Paschoal. O Uso da Fotografia no Ensino de Geografia. In: ASARI, Alice Yatiyo; ANTONELLO, Ideni T. ; TSUKAMOTO, Ruth Y. (org.) . Múltiplas Geografias: Ensino - Pesquisa - Reflexão. Londrina: Edições Humanidades, 2004. p. 175-190.
TUAN, Yi-fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983.
TUAN, YI-FU. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Trad. Lívia de Oliveira. Londrina: Eduel, 2012.
WALDMAN, Maurício. Natureza e sociedade como espaço de cidadania. In: WALDMAN, Maurício. História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2005. p. 399-417.
Notas
Notas
[1] Informações extraídas do Projeto Politico Pedagógico – PPP da escola parceira (2017).
[2] Algumas considerações sobre essa atividade podem ser encontradas em Pianovski e Paschoal (2012).
[3] Sem contar, também, que a escola que atuamos diretamente possui problemas de arquitetura, ou seja, as salas têm o pé direito baixo e janelas pequenas voltadas para o leste e sem anteparos vegetais para barrarem a penetração da luz solar matutina. Nos meses mais quentes, o ambiente torna-se abafado e sufocante, prejudicando o rendimento dos alunos.
Autor notes
Graduado em Geografia (UEL) e Pós-graduando em Ensino e Tecnologia (UTFPR), Londrina (PR), Brasil, Tel.: (+55 43) 9976 2613, wilsonpaschoal@gmail.com, http://orcid.org/0000-0003-3302-2268


Figura 1 - Imagens do fundo da escola
Fonte: arquivos do PIBID/Geografia (2015).


Figura 2 - Imagens capturadas no Facebook; pontos observados no ambiente escolar
Fonte: arquivos do PIBID/Geografia (2015).


Figura 3: Reprodução do Documentário na Sala de Projeções.
Fonte: arquivos do PIBID/Geografia (2015).
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