Resumo: Este trabalho analisa o projeto educacional desenvolvido no âmbito do Estágio Supervisionado em Geografia, do Curso de Geografia da Universidade Estadual da Paraíba, numa turma do 8° ano do Ensino Fundamental de uma escola pública da cidade de Boqueirão-PB, em que o continente americano foi abordado a partir de diferentes estratégias e recursos didáticos. Teve como objetivo promover uma análise crítica da América, a partir dos elementos que permearam o seu processo de produção espacial e as consequências deste em sua organização atual. A partir das atividades, além do interesse que foi despertado, os discentes compreenderam que as diferenças existentes entre a América Latina e América Anglo-saxônica, são resultantes do modo como se inseriram na Divisão Internacional do Trabalho, desde a colonização, demonstrando que a Geografia pode contribuir para uma formação crítica e reflexiva.
Palavras-chave:Ensino de GeografiaEnsino de Geografia, Estágio Estágio, América América, Recursos didáticos Recursos didáticos.
Abstract: This work analyzes the educational project developed under the Supervised Internship in Geography, of the Geography Course of the Universidade Estadual da Paraíba, in a group of the 8th year of Basic Education in a public school in the Boqueirão-PB town, in which the American continent was approached from different strategies and didactic resources. It aimed to promote a critical analysis of America, from the elements that permeated its spatial production process and the consequences of this in its current organization. From the activities, in addition to the interest that was aroused, the students understood that the differences existing between Latin America and Anglo-Saxon America, result from the way in which they have been inserted in the International Division of Labor, since the colonization, demonstrating that Geography can contribute to a critical and reflective formation.
Keywords: Teaching Geography, Internship, America, didactic resources.
Resumen: Este trabajo analisa el proyecto educacional desarrollado en el Estágio Supervisionado en la Geografia, en el Curso de Geografia da Universidade Estadual de la Paraíba, en el año de la clase 8 "A" del Ensino Fundamental de una escuela pública de Boqueirão- PB, en que el continente americano fue abordado a partir de diferentes estrategias e recursos didáticos. Tuvo como objetivo promover una analise crítica de la América, a partir de los elementos que permearon su proceso de producción espacial e las consecuencias deste em su organización actual. A partir de las atividades, además de el interés que fue despertado, los discentes comprendieron que las diferencias entre a América Latina y América Anglo-Saxônica son resultantes de la forma en que se inserta en la División Internacional del Trabajo, demonstrando que la geografía puede contribuir a una formación crítica y reflexiva.
Palabras clave: Enseñanza de la geografia, Escenario, América, Recursos de enseñanza.
O CONTINENTE AMERICANO NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA A PARTIR DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM GEOGRAFIA
THE AMERICAN CONTINENT IN FUNDAMENTAL TEACHING: A METHODOLOGICAL PROPOSAL FROM THE STAGE SUPERVISED IN GEOGRAPHY
EL CONTINENTE AMERICANO EN LO ENSEÑANZA FUNDAMENTAL: UNA PROPUESTA METODOLÓGICA DE ENTRENAMIENTO SUPERVISADO EN GEOGRAFÍA
Recepção: 16 Setembro 2016
Aprovação: 20 Julho 2017
A Geografia, ciência que analisa as relações entre a sociedade e a natureza, enquanto disciplina escolar, através de seus subsídios teóricos e metodológicos, permite que o discente desenvolva um olhar espacial questionador e crítico, capaz de compreender o mundo. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, no 3° e 4° ciclos do Ensino Fundamental, há necessidade que o mundo se amplie ao olhar discente, não se restringindo apenas ao seu lugar de vivência, fazendo com que o aluno perceba que faz parte de um mundo mais amplo (BRASIL, 1998, p. 30). Desta forma, há a necessidade de se trabalhar os continentes. Contudo, Kaercher (2010) aponta:
Os alunos, no geral não têm mais paciência de nos ouvir. Devemos não apenas nos renovar mais ir além, romper a visão cristalizada e monótona da Geografia como a ciência que descreve a natureza e/ou dá informações gerais sobre uma série de assuntos e lugares (ibidem, p. 223).
Tendo em vista as considerações do mencionado autor, os continentes não devem ser ministrados como se consolidou o ensino de Geografia, conforme os preceitos de uma metodologia tradicional, abordando meramente seus aspectos naturais, sociais, culturais e políticos, de forma fragmentária e descritiva, pois, desta forma, as aulas se tornarão monótonas e não será formulado um pensamento espacial, fortalecendo a visão estereotipada da Geografia como uma disciplina inútil e maçante.
Nesta perspectiva, o continente americano não deve ser ministrado com base em um inventário dos fenômenos naturais e sociais desarticulados. Para contribuir com a formação dos discentes, há a necessidade de uma análise crítica do processo de produção espacial deste continente e seus reflexos no cotidiano dos discentes, cabendo ao professor à função de planejar suas aulas e, além de torná-las dinâmicas e atrativas, seja capaz de articular as escalas geográficas, a partir de uma relação dialética para que percebam que habitam um local que, ao mesmo tempo, também é global.
Diante do exposto, foi desenvolvido um projeto educacional no Estágio Supervisionado em Geografia II, em uma turma do 8° ano do Ensino Fundamental, na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Conselheiro José Braz do Rêgo, Boqueirão, PB, abordando o processo de produção espacial da América, desde os traços históricos do processo de colonização até as influências deste processo na organização do espaço atual, utilizando de recursos e estratégias didáticas que permitissem a formulação de um raciocínio crítico, como os mapas, imagens, charges e jogos.
Vislumbra-se que os discentes compreendam o processo de produção espacial ocorrido no continente americano e suas influências em seu país, em seu cotidiano, uma vez que o Brasil consiste em um país que faz parte deste continente e apresenta características que foram construídas a partir de um longo processo, cujos antecedentes consistem no processo de colonização estabelecido, no qual se inseriu na Divisão Internacional do Trabalho em uma perspectiva subalterna, sendo a origem de inúmeros problemas vivenciados pelos discentes em seu dia a dia. Desta forma, a compreensão dialética das interações e contradições no continente americano apresenta uma relevante contribuição para a formação discente.
O projeto de intervenção implementado na turma teve como objetivo auxiliar o processo de ensino e aprendizagem da disciplina de Geografia, dotando o discente de uma análise crítica do continente americano, compreendendo os elementos que permearam o processo de produção espacial e suas consequências. E como objetivos específicos, discutir as paisagens naturais do continente americano e as formas de exploração estabelecidas; compreender os traços culturais e históricos que resultaram em uma regionalização; relacionar a organização do espaço atual da América Latina e América Anglo-saxônica.
Mediante o exposto, este artigo tem por objetivo principal analisar as experiências do projeto de intervenção/colaboração desenvolvido no âmbito do Estágio Supervisionado em Geografia II, do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual da Paraíba.
Para Santos (1996, p.81), o espaço geográfico consiste no resultado da conjugação entre sistemas de objetos e sistemas de ações, permitindo transitar do passado ao futuro, mediante a consideração do presente. Desta forma, a materialidade e as ações da sociedade atual, correspondem à atuação da sociedade ao longo da história, propiciando o entendimento da organização do espaço atual, bem como o estabelecimento de apontamentos futuros.
Este pressuposto permite que se compreenda a complexidade que é a América. Atualmente, esta se encontra regionalizada em dois grandes blocos, a América Latina e América Anglo-Saxônica, resultante do processo de colonização diferenciado que fora estabelecido no passado. De acordo com Corrêa (2007, p.45):
A região pode ser vista como um resultado da lei do desenvolvimento desigual e combinado, caracterizada pela sua inserção na divisão nacional e internacional do trabalho e pela associação de relações de produção distintas.
Assim, tais regiões apresentam características de uniformidade, a partir de heranças históricas e culturais que imprimiram marcas no processo de produção espacial, tornando-as um único continente em duas áreas que apresentam organizações espaciais bastantes diferenciadas entre si. O elemento principal responsável pela homogeneidade em algumas características atualmente para cada região foi estabelecido, pelo modo de participação na Divisão Internacional do Trabalho que, ao mesmo tempo, as diferencia e as integram com as demais no sistema capitalista. De acordo com Galeano (1981, p. 5):
Há dois lados na divisão internacional do trabalho: um em que alguns países especializam-se em ganhar, e outro em que se especializaram em perder. Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta. Passaram os séculos, e a América Latina aperfeiçoou suas funções. Este já não é o reino das maravilhas, onde a realidade derrotava a fábula e a imaginação era humilhada pelos troféus das conquistas, as jazidas de ouro e as montanhas de prata. Mas a região continua trabalhando como um serviçal. Continua existindo a serviço de necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro, cobre e carne, frutas e café, matérias-primas e alimentos, destinados aos países ricos que ganham, consumindo-os, muito mais do que a América Latina ganha produzindo-os.
Desse modo, no caso da América Latina foi estabelecido o modelo de colônia de exploração, em que as metrópoles Portugal e Espanha, exploraram seus recursos naturais para enriquecimento próprio, subjugando os povos nativos e os escravos africanos. Assim, com a independência dos países latino-americanos, persistiram na forma subserviente na Divisão Internacional do Trabalho, pautando-se no modelo agroexportador para regulação da balança comercial e aquisição de produtos industrializados, investimentos, dentre outros. Isto é, persistiu a dependência das nações desenvolvidas e a exploração sofrida. Este processo resultou em uma série de aspectos negativos, que caracterizam a organização espacial desta região, como a estrutura fundiária concentradora, a exclusão dos grupos que foram oprimidos no processo de colonização, o inchaço dos grandes centros urbanos com a industrialização, dentre outros.
Na América Anglo-saxônica se originou a partir da colonização pautada no povoamento pelos povos de origem inglesa, em que se estabeleceram utilizando os recursos naturais disponíveis para o desenvolvimento econômico interno, acumulando o capital que, posteriormente, fora investido na industrialização. Com este desenvolvimento econômico autônomo, no decorrer do tempo, os dois países que compõe esta região, os Estados Unidos e Canadá, se tornaram nações ricas com elevado Índice de Desenvolvimento Humano, em que a população de um modo geral apresenta elevada qualidade de vida.
Para que isto seja abordado no ensino, é possível realizar análises destes aspectos característicos destas regiões a partir da paisagem, descrevendo-as e explicando-as através da trajetória da construção do espaço, uma vez que revela através das formas que estão dispostas, temporalidades referentes ao processo de construção do espaço, como mostra Santos (1996):
A paisagem existe, através das formas, criadas em momentos históricos diferentes, porém coexistindo no momento atual. No espaço, as formas de que se compõe a paisagem preenchem, no momento atual, uma função atual, como resposta ás necessidades atuais da sociedade. (ibidem, p.84)
Por isso, a paisagem precisa ser apreendida para além do que é visível, buscando as explicações do que está a detrás da mesma através de uma reflexão das relações entre os fenômenos que se encadearam para sua formação. Desta forma, sua análise deve ocorrer a partir de um vaivém constante entre a descrição, as relações, as explicações do aparente e a busca de justificativas da aparência de tais formas (CALLAI, 2009, p.97-99).
Portanto, deve–se ultrapassar a sua visualização para que encontre o seu significado, sua história, entendendo que esta é resultado de uma articulação de diversos componentes espaciais. Assim, se explicam as formas aparentes na paisagem, entendendo as forças que atuaram para a construção do espaço atual, para além das aparências, encaminhando a compreensão da realidade espacial deste continente, compreendendo sua essência.
Os recursos didáticos são elementos que concedem relevante contribuição para o ensino de Geografia, pois além de favorecer em sua dinamização, auxiliam o processo de ensino e aprendizagem, conforme os pressupostos teóricos e metodológicos da disciplina. Desta forma, não constituem em um fim, mas um meio para que sejam alcançados os objetivos do ensino de um determinado conteúdo, isto é, as contribuições que podem fornecer à formação discente. Portanto, o desempenho positivo que concede é resultado do atendimento das necessidades dos discentes.
Para se trabalhar um continente, faz-se imprescindível o uso das linguagens da Geografia. Estas são as diferentes formas de linguagens humanas que o conhecimento do espaço pode ser expresso, compreendido e assimilado pelos indivíduos. As linguagens que podem expressar informações sobre o espaço são inúmeras, a exemplo dos mapas, as imagens, charges, dentre outras.
De acordo com Almeida e Passini (2010):
Uma vez que a geografia é uma ciência que se preocupa com a organização do espaço, para ela o mapa é utilizado tanto na investigação quanto para a constatação de seus dados. A cartografia e a geografia caminham paralelamente [...] para que as informações colhidas sejam representadas de forma sistemática e, assim, se possa ter a compreensão “espacial” do fenômeno. (ibidem, p. 16)
Assim, os mapas como um produto da Cartografia, configuram como uma importante linguagem do espaço geográfico, haja vista que através de suas técnicas permitem a formulação de representações da superfície terrestre e, por conseguinte, a leitura e interpretação de informações das geográficas. Desta forma, subsidiam a investigação da organização espacial através da interpretação em que os conteúdos estudados são articulados com a representação dos mapas.
Em relação ao uso de imagens, como aponta Morais (2013, p. 259), no ensino de Geografia este recurso pode ampliar a compreensão da produção e reprodução do espaço, oportunizando a leitura e interpretação dos processos responsáveis por sua configuração, desvendando as lacunas, rugosidades, sobreposições e coexistências relativas às ações, formas, funções e tempos que comporta. Desta forma, permite através da descrição e explicação de sua configuração atual, construir uma imagem do mundo. Neste sentido, a imagem como recurso, subsidiará análises das paisagens presentes no continente americano, em um posicionamento investigativo e reflexivo, para que seja compreendida a origem das formas e funções que a imagem comporta.
O gênero charge, ao ser empregado no ensino de Geografia, articula as duas linguagens, a verbal e a não verbal. Ela demonstra que o sentido da comunicação é construído na oscilação entre o que se sabe, ou seja, o conhecimento público e divulgado e os aspectos subentendidos. Desse modo, corresponde a uma boa estratégia para utilização com fins didáticos, no espaço da sala de aula, como opção viável para o ensino da leitura e da escrita das diversas disciplinas, dentre elas a Geografia. Ao leitor, é dada a possibilidade e construir sua posição sobre determinado fato, ou firmar uma ideia até então duvidosa, pois a utilização do humor produz uma interação entre autor e leitor (ALVES et. al., 2010, p.421).
Neste sentido, a partir das exposições dos conteúdos, permite que os discentes expressem suas reflexões que foram construídas ao longo das aulas. Na análise de uma charge, o discente sistematizará suas compressões e aprendizagens permitindo o desenvolvimento de uma análise crítica de espaço. Desse modo, este recurso permite que os discentes externalizem suas reflexões, sendo um recurso ideal para que os discentes, através de uma produção textual, desenvolvam uma análise crítica.
Para desmistificar o estereótipo de que a Geografia é uma disciplina “enfadonha”, além dos recursos já mencionados, para tornar a aula de Geografia dinâmica e que a aprendizagem seja estimulada, o professor pode valer-se de estratégias didáticas que estimulem o estudo, haja vista que o processo de ensino e aprendizagem é algo que exige um esforço do docente para ensinar e do discente para aprender. De acordo com Klimek (2011, p.118),
A realidade que vivenciamos na escola nos mostrou que os alunos, de forma geral, estão desmotivados a aprender. Na regência que realizamos notamos que a Geografia continua “enfadonha” para muitos alunos. As possibilidades de o professor ser um problematizador para incentivar a busca do conhecimento exige que ele seja atualizado, leitor crítico e tenha acesso a novos métodos e tecnologias.
A partir da exposição do mencionado autor, faz-se necessário um estímulo para que o discente estude a Geografia. Como meio para que seja alcançado este propósito, devem ser traçadas estratégias adequadas ao nível cognitivo dos discentes e de seus anseios, conforme a fase de seu desenvolvimento. Alunos do ensino fundamental estão em uma fase intermediária, entre a juventude e a infância, ou seja, a adolescência. Assim, as atividades lúdicas são adequadas a esta fase da vida, podendo estimulá-los a estudar e aprender Geografia, além de possibilitar a melhorar a relação professor-aluno, tornando o momento da aula em algo prazeroso.
O uso de jogos pode corresponder com esta necessidade do ensino de Geografia, haja vista que os “jogos e brincadeiras em situações-problemas podem possibilitar um ambiente sem fluência a se tornar descontraído e vivo porque motiva os participantes a concentrarem as metas” (KLIMEK, 2011, p.119). Desse modo, o jogo deve servir previamente como instrumento de pesquisa, a fim de que sejam construídas aprendizagens significativas e duradouras, em que o indivíduo assuma a autonomia de construir seu conhecimento, sendo possível “ultrapassar o mito da Geografia descritiva e trabalhar com uma Geografia analítica e interpretativa na formação do cidadão crítico” (MALYSZ, 2011, p. 24).
Portanto, tais recursos didáticos visam aproximar a Geografia ao aluno, para que possa compreender o mundo em que vive e, assim, refletir sobre as possíveis ações para superar os desafios existentes que afetam a sua vida enquanto cidadãos em um mundo tão complexo. Desta forma, descobrirá a importância de se estudar a Geografia e, principalmente, que o que a torna muitas vezes maçante é uma metodologia equivocada e não representa a essência do conhecimento geográfico.
O projeto de intervenção, objeto da presente análise, foi desenvolvido na Escola Estadual de Ensino de Fundamental e Médio Conselheiro José Braz do Rêgo, localizada no Bairro do Centro, da cidade Boqueirão, PB.
O recorte espacial da proposta de atuação é a turma 8° “A” do Ensino Fundamental, no turno da manhã, composta por 22 discentes. As atividades na turma se iniciaram no Estágio Supervisionado em Geografia I, entre os meses março e maio do ano letivo de 2016, com a observação e a aplicação de um questionário, a fim identificar o perfil da turma, conhecendo as dificuldades que os alunos apresentam em relação à disciplina de Geografia, além de identificar propostas de metodologias que poderiam tornar as aulas mais dinâmicas e atrativas. Posteriormente, durante o Estágio Supervisionado em Geografia II, entre os meses de agosto e setembro, foi desenvolvido o projeto durante a realização da regência.
A metodologia proposta foi composta por cinco etapas:
a) Inicialmente, com o uso de slides na sala de multimídia foi desenvolvida uma aula expositiva e dialogada apresentando o continente americano e suas regionalizações. Em seguida, deu-se sequência a discussão das paisagens naturais da América Latina. No dia seguinte, sob orientação da professora supervisora os discentes confeccionaram mapas das regionalizações do continente americano e produções textuais, explicando-as.
b) Em sequência, desenvolveu-se uma aula participativa referente aos processos de colonização na América Latina e seus reflexos na organização do espaço atual desta região. Para tanto, foi feito um círculo na classe e cada discente recebeu uma imagem, mapa ou gráfico, em que conforme se desenvolveu a discussão dos tópicos da lousa pela estagiária, os discentes participaram discutindo o recurso que estavam em mãos e, em seguida, o fixando no local correspondente no mapa correspondente a América Latina. Posteriormente, foram realizadas atividades de análises de charges sob orientação da supervisora na aula seguinte.
c) Referente ao quadro natural da América Anglo-saxônica foi desenvolvida uma aula expositiva e dialogada a partir da utilização de slides contendo mapas e imagens.
d) Posteriormente, foi feito um círculo na classe e os discentes receberam, cada um, uma imagem para produção de um mural de imagens referente à colonização e a organização do espaço atual da América Anglo-saxônica, sendo produzido a partir da explicação dos tópicos na lousa e de um mapa da América Anglo-saxônica e cada discente, conforme os tópicos, explicou a imagem que estava em mãos e fixou em seguida no mural.
e) Por fim, foi realizado o jogo “Trilha Geográfica: Continente Americano”, em que a turma foi divida em dois grupos, cada grupo elegeu um representante para responder as perguntas com seu auxílio. O jogo consistia em um tabuleiro em que cada representante lançava o dado e deveria responder a pergunta levantando a placa com a opção correta para que pudesse avançar.
Neste sentido, o projeto baseia-se de modo predominante no método dialético, buscando o desenvolvimento de um pensamento crítico, tendo por base uma metodologia participativa e reflexiva. A pesquisa desenvolveu-se através de uma pesquisa-ação com uma abordagem qualitativa, tendo em vista os objetivos propostos para a intervenção.
A princípio, ao introduzir a discussão referente ao Continente Americano, fez-se o uso de slides com mapas e imagens, para que os discentes conhecessem a origem do continente vinculada aos povos nativos e, seu posterior, “descobrimento” pelos navegadores europeus, que colonizaram as novas terras descobertas, anexando-as ao controle pelas metrópoles europeias.
Em seguida, foram abordadas as regionalizações do continente e seus respectivos critérios. A divisão do continente em três Américas, que corresponde a América do Norte, Central e do Sul, sob o critério físico. E a regionalização das duas Américas, que corresponde a América Latina e Anglo-saxônica, baseada no critério histórico-cultural. Assim, para o desenvolvimento de uma análise crítica do continente, direcionaram-se as discussões posteriores, a partir do enfoque na América Latina e Anglo-saxônica.
Para a consolidação aprendizagem, no dia na semana em que não era realizado o estágio, foi deixado sob orientação da professora supervisora o desenvolvimento de uma atividade de confecção de mapas, em que os discentes deveriam colorir os mapas, espacializando na representação cartográfica os dois tipos de regionalização do continente e, em seguida, a produção de textos explicativos de ambas (Figura 1). Assim, o estágio se deu sob a forma de auxílio mútuo, permitindo a troca de conhecimentos e experiências.
Para despertar o interesse dos discentes, a explicação ao longo da aula foi articulada aos conhecimentos prévios dos discentes, desenvolvendo uma participação efetiva, através de questionamentos e colocações, além de problematizar de forma conjunta com os discentes a importância de se estudar a América. Desse modo, este posicionamento reflete a necessidade de mostrar aos discentes o significado de se estudar a Geografia, para que estes percebam a importância de tal disciplina para sua vivência.
Com opção pelo critério histórico e cultural, fez-se em dois momentos a abordagem do continente. A princípio, se trabalhou a América Latina e, em um segundo momento, a América Anglo-saxônica, para que, ao final, os discentes compreendessem a origem das diferenças existentes entre tais regiões.
Em relação à América Latina, inicialmente, trabalhou-se a partir de slides com imagens referentes à suas paisagens naturais, em que foram destacados seus aspectos naturais, bem como os recursos naturais que foram preponderantes para o modo como esta região do continente fora colonizada.
Em sequência, deu-se início a segunda etapa, que se pautou na necessidade de que os discentes entendessem o modo como se deu a colonização na América Latina a partir do uso de seus recursos naturais e seus reflexos na organização do espaço desta região, atualmente. Para tanto, foi elaborada uma estratégia didática, que constituiu no uso de diferentes linguagens, como imagens, mapas ou gráficos, em que cada discente apresentava um destes recursos em mãos para discuti-lo ao longo da aula, conforme a discussão dos tópicos organizados na lousa. Assim, os discentes foram estimulados a ter a atenção à explanação dos conteúdos, a reflexão e a participação nas discussões a partir da interpretação de tais linguagens não verbais e, em seguida, ao final da discussão de cada recurso no local correspondente no mapa, isto permitiu que associassem os fenômenos a sua representação e localização no mapa (Figura 2).
Deste modo, a estratégia elaborada conduziu ao desenvolvimento de uma aula dinâmica e participativa, em que os discentes através das diferentes linguagens puderam contribuir com a construção do conhecimento coletivo da turma, bem como compreender que aspectos que são característicos da organização do espaço da América Latina são produtos do modo que se estabeleceu a colonização desta região, que colocou tal região na condição de explorada e dependente, até os dias atuais.
Ressaltando as imagens utilizadas, estas representavam de forma contundente elementos característicos das paisagens da América Latina. Destacando-se a concentração de terras, a condição de exportador de bens agrícolas e minerais, os problemas do campo, os problemas urbanos. Assim, durante a realização desta atividade, desenvolveu-se a análise da paisagem com a observação, descrição e explicação das formas espaciais visualizadas. Com isso, os discentes perceberam os elementos históricos que estão por trás das marcas das paisagens, haja vista que estas se constituem como consequências do modo de colônia de exploração estabelecida.
Dessa forma, a adoção do uso das diferentes linguagens, permite uma fundamentação científica nas práticas desenvolvidas no ensino da Geografia, propiciando uma melhor abordagem, que contribui para uma maior compreensão da sociedade e do processo de ocupação dos espaços naturais, baseado nas relações do homem com o ambiente, em seus desdobramentos políticos, sociais, culturais e econômicos (ALVES, 2016, p.3).
Em seguida, sob orientação da professora supervisora, foi produzida a análise de uma charge que apresenta um teor crítico em relação à exploração sofrida pela América Latina no passado (Figura 3).
A seguir, os trechos das análises da charge por discentes:
Pelo que entendi a charge quis mostrar um navegador dentro de um navio, e ele está gritando “Lucro a vista”. Ou seja, com certeza devia ser um terra fértil, cheio de riquezas e matéria-prima e seu pensamento com certeza seria de exportar e ganhar mais dinheiro, ou seja, lucro em cima do suor e cultura dos outros, Como foi o caso do Brasil, nosso pais .(Aluno A, 13)
A charge ilustra os colonizadores Europeus que chegaram na América que observou o espaço e percebeu que a América era uma terra cheia de riquezas naturais que eles podiam explorar e, assim, ficaram ricos a custas da América, por isso que ele fala lucro a vista.(Aluno B, 14)
A partir dos trechos analisados, é perceptível que os discentes realizaram uma análise coerente da charge, uma vez que conseguiram articulá-la aos conteúdos estudados, haja vista que se tornou evidente que o interesse dos colonizadores era explorar, uma vez que, a serviço dos reis “cronistas, tinham a função de inventariar a natureza com fins à sua ulterior exploração” (SOUSA NETO, 2000, p.10). E, desta forma, lucrar com a colônia, em especial com os minerais, ouro e prata, e demais gêneros tropicais. Além disso, os discentes conseguiram relacionar esta região do continente, com o Brasil, isto é, articularam as escalas geográficas.
Desta forma, corrobora com os resultados obtidos por Almeida et al. (2013, p.8), em que foram resultados alcançados foram positivos, os discentes mesmo apresentando limitações, conseguiram interpretar a charge de acordo com seu objetivo, que era criticar as disparidades sociais. Ver-se aí que, a partir de uma simples atividade, os alunos conseguiram desenvolver o senso reflexivo, por meio do qual a utilização de uma charge foi essencial para tornar a aula mais interessante e construtiva. Desta forma, as aulas de Geografia poderiam ser percebidas pelos discentes de outra forma, se ações como essas fossem colocadas em prática
Contudo, houve um número considerável de discentes que não relacionaram o conteúdo estudado à charge e plagiaram entre si a resposta. Isto revela dois aspectos que podem ser refletidos, o primeiro é a dificuldade que apresentaram em relacionar aquilo que haviam discutido na aula com a charge e, por sua vez, a dificuldade de escrever. E o segundo aspecto, é a cultura escolar, em que o discente não á estimulado a refletir o conhecimento, apenas se pautando em práticas de memorização e reprodução. Desta forma, para que estes percalços sejam sanados é importante uma orientação e presença efetiva do docente no desenvolvimento destas atividades, bem como o uso de um texto complementar para que seja facilitada a reflexão dos discentes, ou seja, uma correlação entre a linguagem verbal e não verbal.
Tais constatações corroboram com os resultados obtidos por Brambila et. al.(2014, p.11), em que o trabalho com as charges demonstrou que os discentes apresentaram dificuldades na análise deste recurso mediante a interpretação e a escrita, uma vez que os alunos apresentam uma baixa proficiência em Língua Portuguesa, que dificulta, assim, a expressão verbal, haja vista que necessita de uma sistematização das ideias.
Em sequência, iniciando a terceira etapa, a partir de aula expositiva e dialogada referente ao quadro natural da América Anglo-saxônica, fez-se uso de slides contendo mapas e imagens. Para facilitar a discussão e participação dos alunos, o conteúdo foi ministrado sendo associado aos seus conhecimentos prévios, haja vista que embora não vivenciem a realidade abordada, através de filmes, desenhos, séries, reportagens e dentre outros, já visualizaram tais paisagens, assim, a aula foi sendo construída de forma bastante participativa.
Posteriormente, para vincular tais recursos naturais ao modo como se estabeleceu o processo de colonização, bem como a relação deste processo com a organização do espaço atual da América Anglo-saxônica, desenvolveu-se a quarta etapa, em que a partir os tópicos na lousa e da utilização de um mapa, foi sendo orientada pela estagiária a construção de um mural de imagens pelos discentes (Figura 4).
Desta forma, através das imagens, a paisagem foi sendo investigada, a partir de seus elementos constituintes que refletem as consequências da colônia de povoamento estabelecida, bem como os processos estabelecidos a partir deste contexto. Dessa forma, as imagens empregadas revelaram o processo de industrialização, o papel das Grandes Guerras para a expansão industrial estadunidense e o seu o poderio bélico, o setor agropecuário avançado, o alto investimento tecnológico, áreas especializadas em tecnologias de ponta, dentre outros. Em seguida, foi realizado um exercício de fixação para consolidar a aprendizagem desenvolvida.
Assim, a dinâmica estabelecida com o uso das imagens como um recurso didático para reflexão do conteúdo ministrado, pode-se perceber que os discentes participaram da aula de forma ativa, ao discutir as imagens, além de alcançar os objetivos das propostas iniciais, haja vista que se tornou evidente que a condição que esta região apresenta atualmente expressa através das imagens, foi sendo construída ao longo da história como um processo que teve seu início com a colonização. Assim, as imagens subsidiaram a interação do conhecimento geográfico com os discentes e, assim, a construção do conhecimento de forma prazerosa, estando em consonância com os resultados obtidos por Araújo (2012 p.42-43)
Percebe-se uma grande necessidade em trabalhar utilizando outros recursos na Escola Estadual de ensino Fundamental Castro Pinto - Jacaraú-PB, principalmente para quebrar a rotina diária de exposições de conteúdos. Vendo o quão é prazeroso trabalhar com as diversas formas de imagens, esta proposta de utilização possibilita facilidades tanto para o docente quanto para o discente no processo de aprendizagem, contribuindo para uma melhor qualidade do processo educativo.
Por fim, foi realizado o jogo “Trilha Geográfica: Continente Americano”, composto por questões referentes aos conteúdos ministrados e dialogados com os discentes (Figura 5). Para a construção deste jogo, as questões não foram escolhidas aleatoriamente, de modo que o teor das questões se vinculou ao eixo central do projeto educacional, isto é, a compreensão da organização espacial do continente americano e, assim, permitissem a compreensão das diferenças entre a América Latina e Anglo-saxônica. Com isto, conforme fosse se desenvolvendo o jogo essa reflexão construída.
Com a realização do jogo, foi possível analisar o empenho dos discentes, haja vista que cada grupo discutiu entre si as questões com o interesse de acertar a pergunta e avançar as casas do jogo. Dessa forma, a cada questão que era lida, os discentes a escutavam atenciosamente, buscando refleti-la antes de respondê-la e, assim, recordavam as aulas que haviam sido ministradas.
Ao final da atividade, foram vinte as questões respondidas, em que apenas duas foram respondidas incorretamente. Isto demonstra que o jogo, além de estudar de forma lúdica possibilita revisar o conteúdo já ministrado, retirando possíveis dúvidas e, principalmente, serviu para uma avaliação das estratégias didáticas desenvolvidas nas aulas anteriores, tornando-se evidente um excelente desempenho na aprendizagem.
Nascimento (2016, p.10), em uma proposta de jogo semelhante, dividiu uma turma do 8° ano do Ensino Fundamental em dois grupos cada um tinha seu representante para andar sobre o tabuleiro, para se abordar a Globalização no espaço de vivência, constatou que os discentes se portaram altamente participativos e com um bom desempenho ao final, que permitiu o alcance dos objetivos, uma vez que o bom desempenho perpassa pela compreensão acerca da temática.
Desta forma, a dinâmica de jogos é uma estratégia promissora para o ensino de Geografia, haja vista que quando construído a partir de uma intencionalidade pautada nos objetivos, estes podem ser alcançados, pois os discentes se mostraram empenhados para o desenvolvimento da proposta, além de que permite que os discentes coloquem a sua aprendizagem em evidência com o resultado do jogo, além de mostrar aos discentes que aprender Geografia pode ser algo divertido e prazeroso.
Ao término das atividades, foi possível constatar que o trabalho obteve resultados positivos, em que se observou a interação dos alunos e os conhecimentos trabalhados em sala de aula a partir dos recursos e estratégias empregadas. Dessa forma, a dinâmica participativa e coletiva despertou interesse dos discentes nas discussões. Durante todas as aulas, a turma se mostrou interessada em cumprir as tarefas sugeridas.
Com o uso mais frequente da sala de vídeo, revelou que uma simples atividade, como ministrar uma aula com slides, pode desenvolver a participação. Os exercícios desenvolvidos permitiram estimular à escrita que consiste em uma atividade primordial para exposição de um pensamento crítico. Contudo, na análise da charge foi notada que muitos discentes ainda apresentam os percalços das velhas práticas copistas, bem como revelam dificuldades dos discentes em meio a uma estrutura escolar que não os leva a refletir o conhecimento. Desta forma, há necessidade de refletir sobre o uso deste recurso para que alcance um bom desempenho.
O modo como foram desenvolvidas as aulas mostrou-se eficiente, mostrando que no Ensino Fundamental há necessidade de uma dinamicidade para que as aulas não se tornem monótonas. O aluno deve ser levado a refletir as diferentes linguagens da Geografia, fazendo com que o momento da aula se transforme em algo prazeroso.
Em relação aos conhecimentos proporcionados pela abordagem do continente americano, este permitiu que compreendessem que seu o espaço atual de concretiza a partir das interações estabelecidas entre os componentes espaciais ao logo da história, resultando em contradições, haja vista que as diferenças existentes entre as suas regiões no contexto atual, são fruto de um posicionamento diferenciado na divisão Internacional do Trabalho.
Desta forma, tornou-se nítida que a origem de inúmeros problemas que assolam o Brasil está na perspectiva subalterna que América Latina se inseriu nas relações comerciais e produtivas. E, por sua vez, para que sejam minimizados/resolvidos os problemas existentes, perpassa pela esta superação da condição de exportador de produtos primários e da exploração de seus recursos pelas multinacionais no contexto atual.
Portanto, este trabalho demonstra que é possível tonar o ensino de um continente em algo significativo, seja do ponto de vista de uma formação crítica voltada para o exercício da cidadania, seja no despertar o interesse dos alunos, que desconstruiu o estereótipo de a Geografia ser uma disciplina enfadonha e sem importância. Desta forma, espera-se que este trabalho colabora com pesquisas futuras com novas propostas de se trabalhar o continente americano e os demais continentes no Ensino Fundamental.
A partir de tais experiências vivenciadas ao longo do estágio, é possível afirmar que este contribuiu de forma contundente para a formação inicial do professor de Geografia. As contribuições foram amplas, permitindo desde o contato com o lócus do ofício, congregando o espaço escolar como um todo e a sala de aula com o alunado e, principalmente, a articulação entre teoria e prática para a construção de metodologias e avaliações coerentes com as finalidades do ensino da disciplina.
Ao final, com os resultados obtidos, pode-se perceber que é possível a construção da prática de ensino, que seja coerente com o significado social da disciplina, além de das inúmeras possibilidades de desenvolvimento de aulas de Geografia prazerosas, a fim de estimular os alunos. Logo, no âmbito da licenciatura em Geografia, é fundamental que o Estágio seja assumido como eixo central da graduação para uma formação de qualidade, compromissada com a efetivação do papel da disciplina na educação básica. E, dessa forma, contribua para que o futuro docente dê prosseguimento à atividade de forma reflexiva, refletindo as reais possibilidades de construção de práticas para o ensino da disciplina em cada contexto que este se insira.