Secciones
Referencias
Resumen
Servicios
Descargas
HTML
ePub
PDF
Buscar
Fuente


EDUCAÇÃO AMBIENTAL ALIADA AO ENSINO DE GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS-EJA
AMBIENT EDUCATION COMBINED WITH THE TEACHING OF GEOGRAPHY IN EDUCATION DE YOUNG E ADULTS- EYA
AMBIENTAL COMBINADA CON LA ENSEÑANZA DE LA GEOGRAFÍA EN LA EDUCACIÓN DE LOS JÓVENES Y ADULTOS -EJA.
GEOSABERES: Revista de Estudos Geoeducacionais, vol. 7, núm. 13, pp. 67-76, 2016
Universidade Federal do Ceará


Recepção: 22 Fevereiro 2016

Aprovação: 07 Junho 2016

DOI: https://doi.org/10.26895/geosaberes.v7i13.315

Resumo: O presente estudo aborda a aliança entre Educação Ambiental e Geografia para difundir o debate sobre as questões socioambientais e superar a desvalorização da Geografia Escolar. Baseada na metodologia qualitativa realizou-se pesquisa sobre o ensino de Geografia ministrado na Educação de Jovens e Adultos da EEIEF Sete de Setembro, por meio da observação sistemática das aulas e pesquisa bibliográfica. Ademais, efetivou-se atividade geoambiental sobre a temática: trabalho, consumo e meio ambiente na turma da EJA IV. A aliança entre Educação Ambiental e Geografia na escola, possibilita a construção, pelos educandos, do saber ambiental na perspectiva da transformação e melhorias futuras.

Palavras-chave: Educação Ambiental, Ensino de Geografia, EJA.

Abstract: The present study approaches the alliance between Ambient Education and Geography as a means to raise the debate about the environmental issues and overcome the devaluation of School Geography. Based on qualitative methodology was held research on the teaching of Geography ministered on Education de Young e Adults-EYA of EEIEF Sete de Setembro, by means of the systematic observation on the classes and bibliographic research. Besides, the geoenvironmental activity was accomplished on the subject: work, consumption and environment in the classroom of EYA IV. The alliance between Ambient Education and Geography on school enables the construction by students, the environmental knowledge in the context of transformation and future improvements.

Keywords: Ambient Education, Geography Teaching, EYA.

Resumen: El presente estudio se ocupa de la alianza entre la Educación Ambiental y la Geografía para elevar el debate sobre las cuestiones del medio ambiente y superar la devaluación de la Escuela Geografía. Basada en la metodología cualitativa celebró investigaciones sobre la enseñanza de la Geografía enseñada en la Educación de Jóvenes y Adultos de EEIEF Sete de Setembro, por medio de la observación sistemática de las clases y investigación bibliográfica. Por otra parte, celebró actividad geoambiental sobre el tema: trabajo, consumo y medio ambiente dentro de la clase de EJA IV. La alianza entre la Educación Ambiental y la Geografía en la escuela, permite la construcción de los estudiantes, el conocimiento del medio ambiente en el contexto de la transformación y mejora de cara al futuro.

Palabras clave: Educación Ambiental, Enseñanza de la Geografía, EJA.

INTRODUÇÃO

Na contemporaneidade o planeta encontra-se em plena crise socioambiental (LEFF, 2012), consequência, entre outros fatores do modo predatório de consumo e produção, de excedentes da sociedade que ocasiona a degradação ambiental e o desequilíbrio do meio ambiente. Como meio, de levantar o debate sobre as questões socioambientais, tem-se a Educação Ambiental, principalmente no espaço escolar, pois representa o lócus da formação de indivíduos, intelectual e cidadã.

A integração pedagógica entre a Educação Ambiental e a Geografia, representa uma forma eficaz de inserção da Educação Ambiental na escola, pois a ciência geográfica ao estudar a relação homem-meio e as interligações entre os fenômenos físicos e humanos fornece subsídios teóricos para se discutir as questões ambientais. Ademais, a integração dessas duas áreas do conhecimento possibilita a intensificação das discussões sobre as questões ambientais, superar a desvalorização e “crise da Geografia escolar” (STRAFORINI, 2008, p. 46) e conscientizar ambientalmente os educandos sobre o papel dos indivíduos na sociedade frente à natureza¹, buscando a manutenção de um meio ambiente equilibrado e a conservação ambiental.

O presente estudo tem como enfoque principal a união entre a Educação Ambiental e a Geografia, desse modo, realizou-se uma pesquisa qualitativa sobre o ensino de Geografia ministrado na Educação de Jovens e Adultos da Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental Sete de Setembro, localizado na Avenida Dom Almeida Lustosa, 2322, no bairro Jurema, Caucaia, Ceará. A pesquisa objetivou compreender os aspectos metodológicos do ensino de Geografia através da observação sistemática das aulas, enfocando os materiais didáticos utilizados pela educadora e os educandos, o conteúdo geográfico abordado em sala de aula, a postura da educadora perante os educandos e a utilização do espaço da sala para a realização de atividades. Ademais, efetivou-se atividade de análise e interpretação geoambiental, pautada na aliança entre a Educação Ambiental e a Geografia, com a turma da EJA IV que corresponde a 8° e 9° anos do ensino fundamental, sobre a temática, trabalho, consumo e meio ambiente. Essa atividade objetivou atrair a atenção dos educandos para a intrínseca ligação da Geografia com as questões ambientais na perspectiva da transformação da realidade, bem como na conscientização do consumo racional.

Primeiramente, este estudo, discuti sobre a formação e legalização da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, seguida pela análise e debate sobre a união entre Educação Ambiental e Geografia. Posteriormente, apresenta-se o diagnóstico do ensino de Geografia ministrado na EJA IV da EEIEF Sete de Setembro, finalizando com o relato da prática geoambiental sobre a temática, trabalho, consumo e meio ambiente com os educandos da EJA IV.

A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS- EJA: BREVE HISTÓRICO

Dos primórdios da história brasileira até a Segunda República a Educação de Jovens e Adultos não era discutida como uma modalidade de ensino necessária, mas pertencente à problemática da Educação Popular, somente a partir dos anos 1930, do censo de 1940 que indicou a existência de 55% de brasileiros analfabetos acima de 18 anos (BESSA, 2013). Segundo Fávero (2009), a Educação de Jovens e Adultos (EJA) surge a partir das campanhas de alfabetização de adultos com o processo de industrialização do Brasil, onde em 1940 cria-se o Fundo Nacional do Ensino Primário que implementou a elaboração de planos de ensino supletivos para adolescentes e adultos analfabetos, culminando na Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), em 1947.

industrialização do Brasil, onde em 1940 cria-se o Fundo Nacional do Ensino Primário que implementou a elaboração de planos de ensino supletivos para adolescentes e adultos analfabetos, culminando na Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), em 1947.

A CEAA foi fruto, também, das pressões internacionais para a erradicação do analfabetismo, principalmente, as promovidas pelas Organizações das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), criada com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, esse órgão promove a ideia de educação como forma de alavancar as nações “atrasadas”. De acordo com Bessa (2013, p. 21):

A CEAA preocupou-se coma a elaboração do material didático e da orientação metodológica adequada para essa faixa da população, porém eram materiais uniformes para todo o país, ou seja, sem a preocupação com o contexto em que os educandos estavam inseridos. A campanha foi trabalhada no meio urbano e rural de forma igualitária.

Esse tratamento igual para os diferentes contextos dos jovens e adultos enfraqueceu as potencialidades da campanha, mas esta sobreviveu até 1963, porém já demonstrava sinais de falências desde 1954. A partir de 1958, as discussões acerca da Educação de Jovens e Adultos se intensificam, principalmente com as contribuições posteriores dos estudos e obras do pedagogo Paulo Freire.

Na década de 1960 surge o Movimento de Cultura Popular (MCP), que se espalha por todo o país. Esse movimento promovia vários cursos culturais, arte, música, teatro e cordel enfatizando, a partir de 1963, a alfabetização de adultos. Sistematizou-se também, nesse período, o método de Paulo Freire, iniciado no estado de Pernambuco e em pouco tempo presente em todo o país, que promovia o diálogo, o debate e o conhecimento da cultura e das experiências humanas antes do processo de alfabetização. Segundo Bessa (2013, p. 27) o processo de alfabetização da pedagogia de Freire:

Não seria um domínio mecânico das técnicas de leitura e escrita, deveria partir de situações concretas e se realizar através do diálogo, as cartilhas eram rejeitadas, optavam-se então pela utilização de palavras geradoras. Era feito um levantamento do universo vocabular dos grupos que seriam trabalhados escolhendo palavras que estivessem relacionadas as situações existenciais do grupo.

A ascensão dos militares, em 1964, interrompeu os programas relacionados à Educação de Jovens e Adultos, com apreensão de materiais didáticos e repressões aos principais educadores desse movimento, inclusive Paulo Freire. Em 1967 o governo institui o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização) que objetivada a alfabetização funcional, restrita ao ler e escrever e desvinculada da compreensão contextualizada conforme salienta Bessa (2013, p. 85):

O Mobral procurava responsabilizar o indivíduo da sua situação de analfabeto e de subdesenvolvimento do Brasil, voltando à ideia de que eles eram as causa da situação econômica do Brasil, e não efeito. O programa recrutou sem exigências na sua formação, bastando que fossem alfabetizados. O material didático destinado tanto a alfabetização como a iniciação dos neoalfabetizados continha conhecimentos relacionados ao lar, à comunidade, à pátria e a consolidação de hábitos e atitudes.

Esse programa foi amplamente criticado pelos intelectuais e órgãos relacionados à educação, UNESCO, sendo extinto em 1985, com o fim da Ditadura Militar no Brasil. Com a Constituição de 1988 que instituía o direito à educação a todos os cidadãos brasileiros e dever do Estado e da família, a Educação de Jovens e Adultos se reafirmou nos projetos educacionais. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional expressa que:

Art. 4: VII. O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência a escola (BRASIL, 1996, p. 2).

Essa mesma lei ainda ressalta, no artigo 37° que a Educação de Jovens e Adultos é destinada as pessoas que não tiveram acesso e condições para cursarem o ensino fundamental e médio na idade própria, bem como os direitos e deveres dos alunos da EJA.

ALIANÇA ENTRE O ENSINO DE GEOGRAFIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Atualmente o planeta enfrenta uma grave “crise ambiental” (LEFF, 2012, p. 15) que inflige aos indivíduos uma nova forma de enxergar e se relacionar com o meio ambiente, baseada em valores éticos, solidários e respeitoso em detrimento da maneira predatória de exploração dos recursos naturais e desequilíbrio do ambiente. Essa crise contemporânea é fruto, principalmente, da fragmentação da sociedade que ocasionam o distanciamento das pessoas e a segregação, o espírito individualista, a apologia ao consumismo e a acumulação de riquezas a partir da exploração do homem sobre a natureza e do homem sobre o homem (GUIMARÃES, 2012; RODRIGUEZ; SILVA, 2009).

Essa realidade ambiental demonstra a necessidade da inserção da Educação Ambiental em todos os seguimentos da sociedade, principalmente no berço da formação intelectual dos indivíduos, escolas e universidades. Como forma de inserir a Educação Ambiental no ambiente escolar tem-se como aliada, a Geografia que corresponde a uma ciência imprescindível para se trabalhar as questões ambientais na educação formal conforme salienta Pontuschka, Paganelli e Cacete (2009, p.134): “A Geografia possui teorias, métodos e técnicas que podem auxiliar na compreensão de questões ambientais no aumento da consciência ambiental das crianças, jovens e professores”.

Ademais, a Geografia ao relacionar as questões humanas e físicas e estudar a relação sociedade-natureza, estabelece-se uma abordagem importante, na compreensão pelos educandos, da relação dos indivíduos na configuração do meio ambiente e da importância da responsabilidade sobre os problemas ambientais. Segundo Cavalcanti (2010), a Geografia ao propiciar a compreensão da relação entre o homem e a natureza privilegia a formação de um conceito crítico de ambiente nas dimensões social, ética e política que promove a tomada de consciência sobre a responsabilidade de cada indivíduo frente aos problemas socioambientais.

No entanto, atualmente a Geografia Escolar apresenta-se em crise e desvalorizada, consequência de três caminhos: “Contexto político educacional brasileiro, relacionados à política de avaliação que diminuíram as horas de aula de Geografia²; crítica à Geografia Crítica e questões teórico-metodológicas da disciplina e da educação” (STRAFORINI, 2008, p. 47). Ademais, essa desvalorização também é reflexo do ensino tradicional, “educação bancária” (FREIRE, 1978, p 66), caracterizada pelo conformismo e pensamento pessimista pouco propício a transformações.

O ensino tradicional marcada pela preocupação na absorção de conteúdos pelos alunos e o método expositivo das aulas, onde o educador é o transmissor e o educando receptor, ocasiona a ligação, errônea, da Geografia como disciplina decoreba, baseada na memorização sem contextualização e reflexão crítica do conteúdo (CAVALCANTI, 1998).

De acordo com Leff (2012) o ensino precisa impulsionar e estimular as capacidades cognitivas, reflexivas e criativas dos educandos por meio da interligação do conteúdo ministrado ao cotidiano e contexto social e ambiental inseridos.

Nessa perspectiva, torna-se evidente a importância da união do ensino de Geografia com a Educação Ambiental, no incentivo a reflexão crítica sobre a realidade vivenciada pelos educandos, a conscientização da importância da conservação ambiental e formação da cidadania. Segundo Cavalcanti (2012), o nexo entre as questões ambientais e o ensino de Geografia proporciona a reflexão sobre os valores e comportamentos sociais na construção da ética ambiental, práticas orientadas no respeito e solidariedade com o ambiente.

É importante salientar as diferentes definições do conceito de Educação Ambiental, que se moldam de acordo com a abordagem e o contexto inserido. Para Carvalho (2012), a Educação Ambiental corresponde a uma educação de caráter crítico, diretamente voltada a cidadania dos envolvidos, por meio da formação de sujeitos crítico capazes de interpretar e analisar os problemas ambientais, bem como intervir na perspectiva de propor soluções.

Outra definição de Educação Ambiental, proposta por Leff (2012), a considera como o processo educacional que orienta os indivíduos para a aquisição de valores, habilidades e capacidades necessárias para se alcançar a sustentabilidade ambiental. Enquanto, Santos (2008) destaca a Educação Ambiental como o campo teórico-metodológico mais eficaz para sensibilizar os indivíduos sobre a degradação ambiental e promover mudanças de comportamentos sociais no enfrentamento da crise ambiental.

A junção da Geografia e Educação Ambiental proporciona aos educandos, a formação do saber ambiental que corresponde a uma nova maneira de enxergar, analisar e interpretar o mundo e as relações sociedade-natureza, na qual a construção do conhecimento não se estabelece somente por meios formais e institucionalizados, mas também através das experiências do cotidiano orientadas para o desenvolvimento sustentável³, se processa por meio da conscientização, busca teórica e científica alicerçada pela ética e racionalidade ambiental (LEFF, 2012).

A aliança entre essas duas áreas do conhecimento abre cominho para a transformação da realidade dos educandos, a partir da reflexão crítica do contexto sociocultural inserido, expandindo a tomada de consciência. Iniciada dentro dos muros da escola, com a interligação entre os conhecimentos geográficas e ambientais e voltadas para outros espaços da sociedade, onde os educandos serão multiplicadores dos conhecimentos, habilidades e práticas geoambientais, calcados em valores de solidariedade e respeito à natureza e aos indivíduos.

O ENSINO DE GEOGRAFIA NA EJA IV DA EEIEF SETE DE SETEMBRO

A metodologia escolhida para fundamentar a pesquisa sobre o ensino de Geografia ministrado na EJA IV da EEIEF Sete de Setembro foi de ordem qualitativa, conforme Marconi e Lakatos (2011, p. 269): “A metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes etc”.

Os procedimentos utilizados para o desenvolvimento da pesquisa foram: levantamentos bibliográficos sobre os temas referentes ao ensino de Geografia e Educação de Jovens e Adultos e observação das aulas de Geografia na turma EJA IV do ensino fundamental. Essa última enfocava a observação e interpretação dos aspectos metodológicos da aula de Geografia, considerando para isso, os materiais didáticos utilizados pela educadora e os educandos, o conteúdo geográfico abordado em sala de aula, a postura da professora perante os alunos, a utilização do espaço da sala para a realização de atividades.

A metodologia utilizada nas aulas de Geografia da EJA IV da EEIEF Sete de Setembro é bem tradicional, através de aulas expositivas, onde a educadora copia o conteúdo na lousa para que os educandos transcrevam para o caderno, seguido pela leitura do livro didático da EJA e culminando na explicação, pela educadora, do conteúdo. O livro didático é o principal recurso utilizado nas aulas de Geografia, no entanto esse fato é condicionado pelas dificuldades em se conseguir na escola, outros materiais didáticos como atlas, globos terrestres, mapas, computadores e data-show.

Através de conversas informais e entrevista com a docente de Geografia, percebeu-se que ela tentou inovar nas aulas, trazendo materiais didáticos diferenciados, jogos pedagógicos, jornais e filmes a fim de modificar esse caráter tradicional das aulas de Geografia, porém os educandos não lhe ofereceram retorno positivo, o desinteresse deles ocasionou decepção e a acomodação da docente. No entanto, por meio de suas falas, conversas e “broncas” com os educandos é nítido que a educadora busca despertar neles o senso crítico e a reflexão sobre a realidade vivenciada, ratificando seu ato pedagógico autônomo e consciente. Segundo Martins (1995, p. 70):

O professor consciente e politizado entende-se como o construtor de situações, organizador de situações pedagógicas onde aproxima e estabelece vínculos entre o pensar e atuar numa autêntica elaboração intelectual que passa da ciência â técnica, à realidade e da realidade à técnica, à ciência sujeitando igualmente cada uma delas à ação, em organizações sempre originais onde não é possível a repetição.

Mesmo diante das dificuldades citadas anteriormente, para a realização de sua práxis pedagógica a educadora utiliza meios criativos e dinâmicos para tornar as atividades realizadas em sala de aula próximo da realidade dos educandos, conforme expressa Pontuschka, Paganelli e Cacete (2009, p. 97):

Além de dominar conteúdos é importante que o professor desenvolver a capacidade de utilizá-las como instrumentos para desenvolver e compreender a realidade do mundo. A medida que os conteúdos deixam de ser fins em si mesmas e passam a ser meios para a interação com a realidade, fornecem ao aluno os instrumentos para que possa construir uma visão articulada, organizada e crítica do mundo.

Segundo Martins (1995, p. 72) “a práxis pedagógica é uma práxis criativa. Em outras palavras, o fato de o professor viver numa e uma realidade que ele reconhece em toda a sua problemática dá-lhe a força motivadora para que idealize um projeto que se torne real".

A docente de Geografia incentiva, nos educandos, à pesquisa, buscando unir os assuntos abordados no livro didático à realidade dos alunos e estimula a participação nas aulas de Geografia. Procura-se o diálogo que se configura como uma importante ferramenta no processo de ensino e aprendizagem de Geografia na EJA IV, em conformidade com as ideias de Pernambuco (1993) sobre a importância do diálogo entre educandos e educadores em sala de aula. A assimilação e a sistematização do conhecimento perpassam pela valorização e incentivo a participação dos educandos e da atenção aos conhecimentos prévios destes.

A partir dos pressupostos, conclui-se que mesmo por meio da metodologia tradicional, o ensino de Geografia ministrado na EJA IV na EEIEF Sete de Setembro é coerente e permite a assimilação dos conhecimentos geográficos, principalmente, através do trabalho docente da educadora de Geografia, que busca inserir atividades que aproximem essa ciência da realidade e do cotidiano dos educandos tornando o ensino de Geografia uma práxis pedagógica consciente. Além disso, a educadora exerce bem a função docente, tentando na medida do possível, tornar as aulas de Geografia atrativas e incentivando a pesquisa e a investigação.

PRÁTICA DE EDUCAÇÃO AMBIETAL NA EJA IV DA EEIEF SETE DE SETEMBRO

Por meio da pesquisa sobre o ensino de Geografia ministrado na EJA IV da EEIEF Sete de Setembro realizou-se prática geoambiental, através da união entre Geografia e Educação Ambiental, sobre a temática: trabalho, consumo e meio ambiente culminando na construção, pelos educandos, de painéis ambientais. A prática objetivou atrair a atenção dos educandos para a intrínseca ligação da Geografia com as questões ambientais na perspectiva da transformação da realidade, bem como na conscientização do consumo orientado para a manutenção do meio ambiente equilibrado.

A motivação para a escolha da temática: trabalho, consumo e meio ambiente, surgiu da própria realidade dos educandos e do assunto estudado por eles no período da realização da pesquisa. O trabalho é um tema recorrente nessa modalidade de ensino tendo em vista que a maioria dos educandos da EJA trabalham durante o dia e estudam a noite. O tema sobre consumo no período da pesquisa teve um conteúdo geográfico estudado em sala de aula com o auxílio do livro didático e o tema meio ambiente foi escolhido devido à necessidade de inserir os educandos nos debates e discussões ambientais, a fim de despertar neles uma reflexão crítica sobre a realidade e a importância do seu papel como indivíduos frente às questões ambientais.

A atividade se dividiu em duas partes, na primeira realizou-se debates com os educandos sobre a temática: trabalho, consumo e meio ambiente (Figura 1). Nessa fase, os educandos expressaram suas opiniões e vontades sobre o trabalho que realizavam e que trabalho gostariam de exercer, bem como suas opiniões e percepções sobre a forma de consumo presente na sociedade. O principal foco dessa primeira parte da prática geoambiental foi realizar a interligação dos três temas centrais da atividade, permitindo aos educandos conceberem suas próprias ideias sobre a importância do trabalho e do consumo consciente para a conservação e preservação dos recursos naturais.



Figura 1 - Debate sobre a temática: trabalho, consumo e meio ambiente
Fonte: TEIXEIRA (2014).

Posteriormente os educandos, divididos em grupos, puderam construir painéis ambientais (Figura 2) utilizando papel madeira, pincéis coloridos, revistas, jornais e colas, para desenhar, escrever e ilustrar os painéis ambientais com os conhecimentos adquiridos através da primeira parte da atividade, debates e discussões sobre a temática: trabalho, consumo e meio ambiente.



Figura 2: Construção de painel ambiental
Fonte: TEIXEIRA (2014).

A atividade realizada constituiu-se em uma ferramenta para a reflexão crítica dos educandos sobre seu papel como cidadãos na sociedade e na escola. Vale ressaltar que a atividade geoambiental contou com o engajamento e a participação ativa dos educandos da EJA IV. Têm-se como produto dessa atividade de intervenção os painéis ambientais construídos pelos alunos da EJA IV que se configuram como expressão material do conhecimento geográfico apreendido em sala de aula.

Ademais, compreende-se que somente uma atividade de Educação Ambiental não é o suficiente para inserir todos os envolvidos no processo educacional, da EEIEF Sete de Setembro: educandos, educadores e gestores, na conscientização ambiental, mas essas e outras atividades desenvolvidas com o enfoque central: aliança entre Educação Ambiental e Geografia se configura como um dos pontapés na mudança de mentalidade e comportamento desses indivíduos. É o início da construção pelos educandos do conhecimento ambiental, podendo possibilitar a ruptura com o estado de passividade e conformismo com os problemas socioambientais, representando o início da formação do saber ambiental na perspectiva da transformação e melhorias futuras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A discussão e o debate sobre a formação e consolidação da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, bem como a integração entre Educação Ambiental e Geografia servem como bases epistemológicas para se compreender o percurso histórico da EJA. Em um segundo momento também perceber os novos caminhos e possibilidades da união dessas duas ciências afins, pois a aliança entre a Educação Ambiental e a Geografia, representa uma forma eficaz de inserção da Educação Ambiental na escola e possibilita a construção, pelos educandos, do saber ambiental, mas também a difusão de valores, práticas e atitudes orientados na sustentabilidade e formação da cidadania.

Nesse sentido, mesmo através do método tradicional, pautado nas aulas expositivas o ensino de Geografia, desenvolvido na EJA IV da EEIEF Sete de Setembro apresentou-se coerente, pois buscava aliar os conteúdos geográficos com a realidade dos educandos da EJA possibilitando a assimilação do conteúdo por meio do diálogo. Fato esse, que permitiu a realização eficaz da prática geoambiental com essa turma, pois a construção do saber ambiental a partir da aliança entre Educação Ambiental e Geografia, somente é possível por meio de uma renovação do ensino, caracterizada na pesquisa através do diálogo e a busca pela interligação da Geografia com o contexto social e real dos educandos da EJA.

A inserção e aliança entre Educação Ambiental e Geografia na escola podendo possibilitar a ruptura com o estado de passividade e conformismo com os problemas ambientais e a degradação antrópica do ambiente, pois promove a discussão e reflexão crítica sobre o papel do indivíduo na manutenção do meio ambiente equilibrado e a conscientização ambiental na perspectiva da transformação da realidade e melhoras futuras.

REFERÊNCIAS

BESSA, S. F. As concepções dos professores da Educação e Jovens e Adultos sobre a construção da escrita na perspectiva o letramento. 2013. 66 f. Monografia (Graduação em Pedagogia) – Faculdade de Educação, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2013.

BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n° 9.394, 1996. Disponível em : http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf. Acesso em: 10 de novembro 2014.

CARVALHO, I. C. de M. Educação Ambiental: A formação do sujeito ecológico. São Paulo-SP: Cortez, 2012.

CAVALCANTI, L. de S. Concepções teórico-metodológicas da Geografia escolar no mundo contemporâneo e abordagens no ensino. In: SANTOS. L. C. P. et all. (orgs). Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

________. Geografia, escola e construção de conhecimento. Campinas (SP): Papirus, 1998.

________. O ensino de geografia na escola. Campinas (SP): Papirus, 2012.

FÁVERO, O. Alfabetização e educação de jovens e adultos na América Latina: Direito humano fundamental e fator essencial de equidade social. In: RIVERO, J; FÁVERO, O. Educação de Jovens e Adultos na América Latina: direito e desafio de todos. São Paulo: Moderna, 2009.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 6 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

GUIMARÃES, M. Sustentabilidade e Educação Ambiental. In: CUNHA, S. B. da; GUERRA, A. J. T. (org.) A questão ambiental: diferentes abordagens. 5 ed. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2012.

LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 9 ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 2012.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Metodologia Científica. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2011.

MARTINS, M. A. V. O professor como agente político. São Paulo: Edições Loyola, 1995.

PERNAMBUCO, M. M. C. A. Quando troca se estabelece: a reação dialógica. In: PONTUSCHKA, N. N. (org.). Ousadia ao diálogo. São Paulo: Edições Loyola, 1993.

PONTUSCHKA, N. N; PAGANELLI, T. I; CACETE, N. H. Para ensinar e aprender Geografia. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2009.

RODRIGUEZ, J. M. M.; SILVA, E. V. da. Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável: Problemática, Tendências e Desafios. 2. ed. Fortaleza-CE: Edições UFC, 2009.

SANTOS, E. da C. (org.). Transversalidade e Áreas Convencionais. Manaus-AM: Valer, 2008.

STRAFORINI, R. Ensinar Geografia: o desafio da totalidade-mundo nas séries iniciais. 2. Ed. São Paulo: Annablume, 2008.

Notas

[1] O papel do indivíduo, enquanto ser social, voltada a consciência ambiental, colabora para mitigar os problemas ambientais, embora a sociedade, no modelo de produção capitalista, reforça a crise ambiental salientada por Leff (2012).
[2] A política educacional da segunda metade da década de 1990, influenciada pelas agências de financiamento, FMI e Banco Mundial, desenvolveram políticas de avaliação que privilegiavam as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. Para conseguir resultados satisfatórios nessas avaliações as escolas amparadas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), n° 9.394 de 1996, diminuíram as horas de aula de Geografia e História para elevar a carga horária de Língua Portuguesa e Matemática (STRAFORINI, 2008).
[3] O desenvolvimento sustentável representa uma nova forma de enxergar o desenvolvimento, buscando o equilíbrio entre o crescimento econômico, baseada na economia ecológica e organização da natureza, e a conservação e preservação ambiental, culminando para a melhoria da qualidade de vida (LEFF, 2012).


Buscar:
Ir a la Página
IR
Visualizador XML-JATS4R. Desarrollado por