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A agonia de Eros: manifestações autocríticas
Adilson Cristiano Habowski; Elaine Conte; Carla Milbradt
Adilson Cristiano Habowski; Elaine Conte; Carla Milbradt
A agonia de Eros: manifestações autocríticas
The agony of Eros: self-critical manifestations
La agonía de Eros: manifestaciones autocríticas
Revista Educação em Questão, vol. 57, núm. 54, 2019
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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Resenha

A agonia de Eros: manifestações autocríticas

The agony of Eros: self-critical manifestations

La agonía de Eros: manifestaciones autocríticas

Adilson Cristiano Habowski
Universidade La Salle, Brasil
Elaine Conte
Universidade La Salle, Brasil
Carla Milbradt
Universidade La Salle, Brasil
Revista Educação em Questão, vol. 57, núm. 54, 2019
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Recepção: 20 Agosto 2019

Aprovação: 13 Dezembro 2019

HAN, Byung-Chul. Agonia do eros. Tradução de Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2017.

A obra Agonia do eros discute o sentido que a sociedade do desem- penho confere às dimensões humanas, em termos de negação do bem viver e da ausência de sensibilização do eros com respeito a alteridade. A obra é constituída por sete capítulos que se articulam nos seguintes títulos: Melancolia, Não-poder-poder, O mero viver, Pornografia, Fantasia, Política do eros, O fim da teoria.

Desde o primeiro capítulo Melancolia, Byung-Chul Han afirma que vivemos em uma cultura da comparação, do sempre igual, cuja positividade de consumo elimina a alteridade, a negatividade e as diferenças em virtude da incapacidade de realizar experiências com o outro. Compreende que estamos desconectados com o tempo do amor, em nossas possibilidades ilimitadas de escolha, o que acaba gerando preconceitos e equívocos. A racionalização e neutralização das emoções, pela ampliação das tecnologias de escolha sufoca o amor, contribuindo para a sua crise. O autor diz que nos tornamos cada vez mais narcisistas e nisso reside a dialética do desastre, da melancolia, da depressão pelo sucesso, além de outras síndromes (Burnout), como impossi- bilidade de amar. Na verdade, “[...] o sujeito do amor próprio estabelece uma delimitação negativa frente ao outro em benefício de si mesmo” (HAN, 2017, p. 9-10). Para o autor, o eros vence a depressão no momento em que permite uma experiência estética com o outro em sua alteridade, pois a “[...] atopia do outro mostra ser a utopia do eros” (HAN, 2017, p. 13). A experiência estética é original e livre em relação ao regramento moral, ético, político e científico, pois tem um nível de complexidade expressiva que não consegue neutralizar a (inter)subjetividade.

O capítulo dois aborda o Não-poder-poder da sociedade do desem- penho, em contraposição à sociedade disciplinar, cujas proibições agora são conjugadas pelo dever de produtividade. O homo economicus empreendedor de si desconhece a violência estruturada e as(auto)coerções massivas do capital. Han (2017) aponta que se trata de um projeto capitalista inculpador de submissão e responsabilização pelo próprio fracasso (dado o esgotamento mental e físico) e estima pelo outro, visto que a absolutização do poder aniquila o outro. A totalização do mundo digital elimina o sentido da relação com o outro, bem como a sua força de ação e tendência de mimetizar ideias devido a coisificação econômica dos outros.

No capítulo três, intitulado O mero viver, Han (2017, p. 39) descreve por meio de Platão que “[...] a comunicação erótica da Antiguidade está longe de ser algo ameno”, pois é uma metáfora viva de transformação de si no ser afetado pelo outro, estranho, enquanto narração vivificadora, perfazendo uma negatividade para além do consumo domesticado ou romantizado. Contestando a análise do amor feminilizado, revela-se agora uma perspectiva diferente, de total carência, em termos de “transcendência e transgressão”, tornando a própria vida sinônimo de escravidão pelo trabalho. Assim, “[...] a defesa do mero viver se intensifica e vai se transformando numa absolutização e fetichização da saúde. O escravo moderno a prefere frente à soberania e à liberdade [...]”, cuja vivência reside na imediaticidade e artificialização da própria vida (HAN, 2017, p. 40 e 42).

No capítulo quatro, Pornografia, Han (2017, p. 55) explicita que “[...] a pornografia serve ao mero viver exposto. É o exato contraposto de eros. Ela aniquila a sexualidade. Nesse sentido, é muito mais efetiva que a moral”. Tal exposição aniquila justamente a possibilidade de uma comunicação erótica porque é desprovida de mistério e expressão, exibindo tudo como mercadoria. “A desritualização do amor se realiza na pornografia” (HAN, 2017, p. 62).

O quinto capítulo do livro examina a Fantasia que estaria carregada de informações e levaria a supervalorizar alguém ou a idealizá-lo. As imaginações atuais dispõem de muitas informações, o que leva a uma racionalização das emoções, sem condições de guardar certos desejos ou anseios amorosos em relação aos outros, pela submissão a mecanismos para sonhar acordado. O descompasso entre a produção estética (construção do outro) e a racionalização das emoções não está condicionada a informação visual, mas interdepende da negatividade da retração do outro que o gera em sua alteridade atópica. “A grande quantidade de informações, sobretudo a visual, acaba sufocando a fantasia. A hipervisibilidade não pode ser acrescida e não se coaduna com a força da imaginação” (HAN, 2017, p. 69).

No capítulo seis desenvolve análises da Política do Eros que assegura um gérmen do universal na perspectiva do autor. É importante frisar que não há uma política do amor (ela permanece antagonista), mas “[...] as ações políti- cas possuem um nível que se bifurca distante e se comunicam com eros” (HAN, 2017, p. 78). A perspectiva do amor é um palco do diverso, do encontro com a experiência diferenciada, que cria o mundo a partir do ponto de vista do outro e no agir solidário, porque provoca uma ruptura e abertura ao novo.

No último capítulo (sete), é problematizado O fim da teoria para lançar novas inquietações de Eros às aporias da linguagem, que acendem a uma cupidez erótica no pensar misterioso, superando a atrofia de mero trabalho, que reproduz o sempre igual. Enquanto o pensar necessita de silêncio, “a massa de informações eleva massivamente a entropia do mundo [...]”, a proliferação de informações e a estagnação espiritual, o que coloca em xeque a teoria, a literatura, a vivacidade da comunicação e da arte (HAN, 2017, p. 88). O perigo do barulho social e da ausência de inquietação humana mostra que falta-lhe o eros, que transforma.

Na perspectiva de Adorno (1985), o amor evidencia um sentido transformador relativo à arte de educar ligada ao processo de criação humana e implica uma expressão utópica voltada à emancipação. Importa que se plante o amor para manter-se aberto, com todos os sentidos e sentimentos, para o discurso alheio, livre, a favor da cultura do diálogo com a pluralidade, as diferenças e o reconhecimento dos outros. O amor é um fenômeno do sentir humano e batalha com uma espécie de encantamento tecnológico, de hegemonização e colonização das culturas por padrões de desempenho. A complexidade desta obra serve para resgatar a necessidade de descentralização e humanização das relações na vida cotidiana, para o reconhecimento da sociedade multicultural com os outros.

Adorno (1985, p. 64) afirma que “[...] para haver formação cultural se requer amor; e o defeito certamente se refere à (in)capacidade de amar [...]”, porque formar é um ato de respeito ao outro, que implica (re)conhecimento, ou seja, o nascer de uma experiência conjunta e manifestada pela pertença cultural, baseada na autorreflexão crítica e na íntima intercomunicação entre os sujeitos e os mundos. Para Freire (1999, p. 52), “[...] a educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa”. A arte de educar tem a ver com a (re)criação humana, é um ato ético, estético e político de busca pelo conhecimento (Eros que transforma o mundo), que se torna impregnado de sentido ao ser posto em prática no encontro formativo com o outro. Diante de uma realidade extremamente violenta contra os outros e suas diferenças em todas as esferas da vida, precisamos exercer a liberdade para pensar sobre a nossa formação cultural, sob a perspectiva da resistência autocrítica, enfrentando as visões hegemônicas dos processos de colonização. Nesse sentido, a Agonia do Eros nos aponta para a necessidade de pensar a educação como prática de liberdade, para resistir ao endeusamento do desempenho, porque estamos condenados à autoexploração da vida pela desumanização dos outros e do eros sensível.

Material suplementar
Referências
ADORNO, Theodor Ludwig Wiesengrund. Educação e emancipação. Tradução Wolfgang Leo Maar. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 23. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.
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