EDITORIAL
Reconhecimento e despedida
Quem elegeu a busca não pode recusar a travessia.
Alfredo Bosi
No início do próximo ano, serão celebrados cinco anos de criação da revista Vigilância Sanitária em Debate. Esse projeto foi pensado e sonhado por profissionais sanitaristas que acreditaram na importância da divulgação do conhecimento científico nesse campo, que abrangia um enorme hiato.
Do pensamento à consecução, a própria revista escreve sua narrativa de resistência e desafios, principalmente neste período em que vive-se a gravidade política, econômica e sociocultural, a inversão de valores humanísticos e o contingenciamento substancial nas verbas para a saúde coletiva e para a pesquisa, entre outros.
Assim, urge repensar a pesquisa, o conhecimento e sua divulgação, e novamente sonhar em outras bases que creditem a esse conhecimento a capacidade de induzir transformações necessárias ao seguimento da vigilância sanitária em um país que definha.
Em tempos de invalidação de políticas públicas essenciais, como o Sistema Único de Saúde, de regulação nem sempre em concordância com os ideais sanitários, de inquietude existencial e desesperança acumulada, esta via chamada conhecimento e seus necessários debates poderão resgatar e incitar a velha pergunta que não quer calar:
O que e quanto o conhecimento produzido contribui para a melhoria das condições de vida da sociedade? Como isso ocorre?
Como esse conhecimento pode qualificar as políticas públicas? Como a pesquisa divulgada em acesso aberto subsidia a decisão de um gestor?
O que espera-se de uma revista ainda recente – em tempos como os atuais – além das classificações e imposições da ciência estrangeira à peculiaridade dessa revista?
São desafios que devem mobilizar o tempo e os melhores intentos de pesquisadores, técnicos e gestores. Afinal, uma revista se faz no coletivo para o coletivo. Um conhecimento científico que se quer para um mundo em crescente virtualidade, artificialidade, desordem e transformação só pode se estabelecer se for além do próprio núcleo, abarcando outros coletivos.
Em tempos nos quais as mudanças atingem também a publicação científica, desejo que a revista capture mais e mais o interesse dos leitores, responda aos nossos mais antigos questionamentos e ganhe cada vez mais reconhecimento. Que seja pensada – além da busca da internacionalização e do desafio da profissionalização – uma forma de dar resposta aos questionamentos acima.
Como editora-executiva, aproveito o ensejo para me despedir da equipe da revista e da instituição que a abriga – o INCQS – no qual, tive o privilégio de trabalhar por mais de três anos.
Despeço-me e agradeço a atenção dos leitores e a colaboração laboriosa dos editores científicos e avaliadores e de todos que apoiaram o crescimento da revista.
Desejo que o trabalho pelo conhecimento em vigilância sanitária continue instigando mais e mais nossa inteligência cidadã e seja sempre um exercício humanístico que englobe solidariedade e firmeza, ciência e paixão, tenacidade e amor à causa pública.
Um grande abraço nos companheiros de percurso da Fiocruz com os quais aprendi e sonhei.
Boa leitura do número de agosto!
* E-mail: daniella.araujo@incqs.fiocruz.br