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1 INTRODUÇÃO

Em temporalidade anterior à década de 1990, o município de Itá (SC) possuía a sua base econômica rural com mais de 70% da população residindo neste ambiente (ITÁ, 2015). Com a instalação da Usina Hidroelétrica de Itá, na década de 1990 essa paisagem humana rural passou a ser transformada em urbana, apesar da sua maior fonte de rente atual ser proveniente da agropecuária (consórcio entre agricultura e criação de suínos e aves) (IBGE, 2016). Todavia, o turismo passou a ser como uma alternativa de renda para os itaenses e para investidores regionais. Na atualidade, há uma busca constante pelo turismo sustentável, com propósito de exploração consciente do turismo em todas as esferas sociocultural, político-institucional, econômico e ambiental (FECAM, 2016).

O estudo para o desenvolvimento estratégico do turismo no município de Itá (SC) propõe investigar por meio da infraestrutura urbana e demais equipamentos turísticos as potencialidades e deficiências do turismo no município. Por meio de um olhar técnico, a pesquisa apresenta metas com objetivos estratégicos para fomentar o turismo sustentável na região do estudo. A problematização da pesquisa consiste em apontar mecanismos para identificar as fragilidades ressaltando as potencialidades do turismo no município de Itá (SC).

A pesquisa tem como objetivo desenvolver um estudo estratégico que sirva de suporte para fomentar o desenvolvimento do turismo no município de Itá (SC). Refletindo no âmbito regional e apresentando dados que possam dar suporte na tomada de decisões, principalmente no potencial do município, tal como, traçar as estratégias para elevar os índices de desenvolvimento do turismo e correções das fragilidades e deficiências do turismo local.

Buscamos nos procedimentos metodológicos descrever o cenário da pesquisa que está caracterizado no perímetro urbano do município de Itá (SC), ou seja, na área urbana edificada em função da inundação da antiga cidade pela construção da hidrelétrica. Portanto, possui uma forma de organização singular em relação às demais cidades da região. A abordagem da pesquisa se enquadra como qualitativa, tendo como tipo de pesquisa descritiva e explicativa. Como técnica e instrumento de coleta de dados se evidenciam a pesquisa documental, a Matriz de Condicionantes, Deficiências e Potencialidades (Matriz CDP) e a entrevista, que frisa uma visão dos representantes do poder administrativo, dos empresários, do setor hoteleiro e dos turistas. Estes foram orientadores na construção da Matriz CDP, facilitando a visualização dos pontos críticos e as potencialidades para o desenvolvimento dos objetivos estratégicos para o turismo no município de estudo.

Os resultados obtidos na pesquisa demonstram as potencialidades e as fragilidades das dimensões sociocultural, político-institucional, econômico e ambiental que podem ser estruturadas, implantadas e mantidas com investimentos em curto, médio e longo prazo, elevando os indicadores de desempenho sustentável do município. Também foi possível propor sugestões, como as rotas turísticas que abrangem o meio urbano e rural, o aproveitamento de seus potenciais naturais não urbanos e recomendações para futuros estudos acerca do desenvolvimento do turismo sustentável.

Além desta introdução, o artigo está estruturado por meio do referencial teórico que remete ao desenvolvimento estratégico, dando suporte literário ao embasamento do estudo. Na sequência, o estudo apresenta o procedimento metodológico adotado para análise e tabulação dos dados coletados, o diagnóstico do município, pontos fortes externos e internos como os pontos fracos externos e internos organizados em uma Matriz CDP. A última etapa do estudo dirige-se a prospecção de soluções acerca dos objetivos estratégicos propostos e as metas com possibilidades de implantação, assim como as sugestões e recomendações para o desenvolvimento do turismo sustentável, encerrando com as considerações finais do estudo.

2 O DESENVOLVIMENTO ESTRATÉGICO DO TURISMO

Nas últimas três décadas o turismo no município de Itá (SC) sofreu constantes mudanças, principalmente no cenário do planejamento e desenvolvimento sustentável. Na região do Oeste Catarinense, o turismo sempre esteve relacionado ao comércio, à visitação em agroindústrias e até pela fé (MOLINA, 2001). Na atualidade, se percebe uma profunda busca pelo bem-estar e pela qualidade de vida, resultado dos constantes investimentos em infraestrutura.

Analisando os números a nível estadual, os investimentos públicos e privados ocorridos na última década resultam em um crescimento de mais de 1,1 milhões de turistas no ano de 2015 no Estado Catarinense, aumento de 20% para 2016 (SANTUR, 2016). Este cenário tem reflexos que impactam na geração de novas atividades econômicas com o turismo passando a ser visto como uma das principais gerações de renda e emprego.

Em consequência do crescimento nos últimos anos, torna-se indispensável o avanço na implementação das políticas públicas, passando a qualificar e ampliar o turismo, sobretudo quando esta visão está voltada ao desenvolvimento sustentável (BEZERRA, 2003). Para a World Tourism Organization (2001), o setor público é o responsável pela elaboração de regras políticas, pesquisa e planejamento de infraestrutura básica que possa proporcionar atrativos turísticos, regulamentando o uso adequado do solo urbano e promovendo a educação ambiental. Segundo Silveira e Barretto (2010), é fundamental o entendimento de que todo o desenvolvimento deve ser sustentável, pois há necessidade que se mantenha a biodiversidade, a paisagem e os recursos naturais, pois somente com uma educação dedicada podemos se criar consciência sobre a necessidade de se cuidar dos recursos, tornando sustentável o turismo.

Nesse aspecto, a Federação Catarinense de Municípios - FECAM (2016), busca por meio de um planejamento estratégico a integração e a inserção dos Municípios no processo de roteirizarão regional do turismo em sintonia com Associação dos Municípios do Alto Uruguai Catarinense - AMAUC. Esta associação é um organismo de planejamento e gestão de suporte aos municípios, ou seja, o planejamento do turismo passa a beneficiar a todos os envolvidos; a comunidade, a iniciativa privada, púbica e a região onde ela está inserida, pois as decisões tomadas de forma correta proporcionam o sucesso do planejamento.

Monteiro (1995, p.45) destaca que o “planejamento é um procedimento por meio do qual elegemos, selecionamos e ordenamos ações que deverão ser realizadas durante certo tempo para alcançar os objetivos fixados”. Nesse contexto, as ações planejadas e organizadas demonstram a realidade, ficando mais claro para as partes envolvidas tomar decisões, principalmente estabelecendo medidas com qualidade e quantidade, canalizando as metas estratégicas e mobilizando racionalmente a comunidade envolvida (MONTANER, 2001).

O processo de planejamento passa a estabelecer pontos essenciais que devem estar interligados, sendo importante a sequência correta das etapas de decisão, ação e informação. É fundamental contemplar várias fases, que visam à permanência de fluxo de informação e retroalimentação almejando alcançar os objetivos. Neste caso, vinculado ao desenvolvimento equitativo do turismo regional e local (SILVEIRA; BARRETTO, 2010). É necessário que todo o planejamento para um desenvolvimento turístico tenha como um dos princípios a preservação ecológica, almejando a integração entre o social, o ambiental, o econômico e o institucional, em longo prazo de forma sustentável.

Nesse sentido, o turismo sustentável só ocorrerá se todas as dimensões da sustentabilidade estiverem em equilíbrio, sendo que a absorção ou a destruição de um dos sistemas ocasionará o desequilíbrio. O modelo de desenvolvimento do turismo planejado só será sustentável, se assegurar a sua permanência por um longo período, e deverá integrar as pessoas, comunidade e região buscando a rentabilidade acerca da gestão de forma otimizada (RODRIGUES, 1999).

Na ótica de Swarbrooke (2000, p. 19), a sustentabilidade do turismo “deverá satisfazer hoje as necessidades do turista, da indústria do turismo e das comunidades locais, sem comprometer a capacidade das (atuais) futuras gerações”, sendo assim, toda a atividade turística torna-se sustentável. Já o desenvolvimento sustentável dependerá da capacidade de submissão da sociedade e dos preceitos ecológicos, usufruindo de forma correta a natureza e conciliando as ações econômicas, conservando a natureza por meio do equilíbrio sociocultural, ambiental e econômico (OLIVEIRA; GÓMEZ; CÂNDIDO, 2013). Entretanto, passa a haver a necessidade de medidas que gerenciem as informações para as tomadas de decisões, por parte do poder público, da iniciativa privada e da própria sociedade, por meio de seus gerenciadores do turismo.

Para Veiga (2013), o desenvolvimento não será bem sucedido se o meio ambiente for demasiadamente agredido pela expansão econômica. Um dos fatores importantes está relacionado à manutenção e preservação da biodiversidade ambiental estando em equilíbrio com as outras esferas da sustentabilidade. Na ótica de Sachs (2008, p. 15), o conceito de desenvolvimento sustentável está “baseada no duplo imperativo ético de solidariedade sincrônica com a geração atual e de solidariedade diacrônica com as gerações futuras”. Permitindo que possa ser trabalhada com múltiplas escalas de tempo e espaço, instigando a buscar soluções inovadoras, eliminando o crescimento obtido ao custo de elevadas externalidades negativas na esfera social e ambiental (SACHS, 2008).

Além dos pilares do desenvolvimento sustentável, têm-se as estratégias, que irão nortear a competitividade do município no âmbito regional. Segundo Barney (1991), as estratégias de competitividade tendo o produto turismo, irá depender dos recursos raros e valiosos que o município dispõe para oferecer. Estando estes relacionados acerca do capital físico, humano e organizacional de forma heterogênea e ao mesmo tempo sensível ao aspecto dinâmico do mercado para renovação e melhoria (TEECE; PISANO; SHUEN, 1997). Nesse sentido, o turismo passa a promover oportunidades para o desenvolvimento sustentável, potencializando o desenvolvimento regional e promovendo o uso dos recursos ambientais e culturais, simplificando os setores da economia regional (LEME, 2009).

Os estudos estratégicos do turismo são imprescindíveis para o desenvolvimento da região de forma sustentável, pois as necessidades do cliente, os turistas promovem o produto, o turismo, ao mesmo tempo em que preserva o meio ambiente e explora as atividades econômicas. Tornando o processo sustentável e simultâneo em todas as etapas do desenvolvimento, sendo a distribuição de renda pelo trabalho, uma das formas importantes de reversão de quadros de estabilidade ou retração de renda regional, advindas de outras cadeias de produção.

Nesse contexto, se reconhece a importância do planejamento do turismo para obtenção completa dos benefícios e das atividades de maneira sustentável (COOPER 1996). Dessa forma, o estudo contribui de forma planejada, contemplando os objetivos estratégicos e suas metas para fomentar o turismo local, propondo a construção permanente, mantendo um diálogo acerca dos pontos fortes versus pontos fracos, oportunidades versus ameaças, avaliação versus reestruturação.

Segundo Itá (2016), “existe uma busca constante para elevar os índices de desenvolvimento [...]”, este fato demonstra a importância da busca pelo turismo sustentável gerenciando todos os recursos necessários para satisfazer a dimensão econômica e social enquanto se mantém na integralidade a cultura, o ambiental e toda sua diversidade biológica. (WORLD TOURISM ORGANIZATION, 2001).

Na visão de Butler (1980, p. 6) “[...] o turismo sustentável cresce juntamente com a preocupação ambiental, objetivando proteger o interesse das gerações presentes e futuras” É nessa ótica que o estudo busca satisfazer as necessidades atuais, abrindo oportunidades para o futuro, ao mesmo tempo em que é mantido e preservado o meio ambiente que o município se encontra, tanto no âmbito social quanto no ambiental, satisfazendo as dimensões na esfera econômica, institucional e cultural de forma sustentável.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Buscamos nos procedimentos metodológicos encontrar formas de responder nossa problemática e mensurar as potencialidades e deficiências das dimensões sociocultural, político-institucional, econômico e ambiental. Para tanto, a pesquisa descreve o cenário da onde o estudo se desenvolveu, a abordagem, o tipo de pesquisa, as técnicas e instrumentos de coleta de dados, onde se destaca a pesquisa documental, a Matriz de Condicionantes, Deficiências e Potencialidades (CDP) e a entrevista, do mesmo modo que, a técnica de análise e interpretação dos dados coletados. A pesquisa tem como cenário o município de Itá (SC), sul do Brasil, estando limitada ao perímetro urbano da cidade conforme se demonstra na Figura 1.

O estudo propõe uma abordagem qualitativa que permite diagnosticar quais são pontos fortes e os pontos fracos, assim como, os pontos estratégicos que servirão de suporte para fomentar o desenvolvimento do turismo município de Itá (SC). Ainda, identificar quais são as características das infraestruturas existentes do turismo, e a elaboração de uma Matriz de Condicionantes, Deficiências e Potencialidades (CDP) e que possa mensurar os pontos fortes e fracos propondo soluções para enaltecer o turismo sustentável no município.

Esta análise está definida como descritiva e explicativa, onde cada uma das caracterizações aborda o problema de maneira diferente (CASTRO, 1976). A abordagem descritiva exige do investigador uma série de informações acerca do estudo que busca pesquisar, como descrever fatos e fenômenos reais do turismo sustentável do município de estudo (TRIVIÑOS, 1987). A abordagem explicativa visa compreender a relação de causa-efeito, oportunidades e ameaças do objeto de estudo (LAKATOS; MARCONI, 2007). Boente e Braga (2004) descrevem a pesquisa explicativa como uma busca por meio de informar e explicar a ocorrência de algum fenômeno como os impactos causados pelas deficiências do turismo no município.

A técnica e os instrumentos de coleta de dados empregados nesta análise estão dispostos a responder os objetivos de pesquisa criando subsídios para que possamos mensurar as dimensões sociocultural, político-institucional, econômico e ambiental. A pesquisa documental permite investigar documentos que ainda não sofreram nenhum tratamento analítico ou, até mesmo, que possam ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa (HELDER, 2006). Nesse caso, tais materiais utilizados podem ser citados, como o plano diretor, código de obras, zoneamento, uso e ocupação do solo, o plano de desenvolvimento estratégico e relatórios de documentos oficiais cedidos pela prefeitura municipal de Itá (SC). Documentos que servem de base para entender a distribuição dos equipamentos turísticos no interior do espaço urbano, bem como, as restrições de usos, contidas nestas legislações municipais.

Já a entrevista cumpre a função de medir vários grupos sociais, possibilitando obter informações de um grande número de pessoas em tempo curto (RICHARDSON, 1989). Dessa forma, adotamos o diário de entrevista, o roteiro de observação e o diário de campo. As entrevistas ocorreram entre os dias 27 de setembro a 02 de outubro de 2016, tendo como critérios de seleção a escolha de representantes do poder administrativo, empresários do setor hoteleiro e turistas. Como representante do município foi entrevistado o secretário da cultura, do meio ambiente, do turismo. Do setor hoteleiro, entrevistamos cinco gerentes administrativos, dentre eles, dois proprietários de estabelecimentos. Já a escolha dos turistas foi aleatória, sendo entrevistadas 35 pessoas, com faixa etária entre 25 a 65 anos de idade.

Após a entrevista passamos para a tabulação dos dados por meio da Matriz de Condicionantes, Deficiências e Potencialidades (CDP). Este método consiste na classificação de elementos separados conforme as dimensões sociocultural, político-institucional, econômico e ambiental. É por meio desse método que quantificamos os resultados servindo como alicerce para a criação das metas e dos objetivos estratégicos.

Para Siebert (2001, p. 05), este método “trata-se de uma sistemática de organização de dados levantados que possibilita sua visão em conjunto e apresentação de forma compreensível e de fácil visualização, inclusive em forma de síntese, sendo por este motivo, um instrumento muito útil na apresentação e discussão de processos de planejamento”, pela visão integrada que permite das variáveis em evidência.

A matriz aborda três categorias, condicionantes, deficiências e potencialidades: as condicionantes consistem nos elementos da estrutura urbana. Basicamente são considerados os elementos do ambiente urbano, físico, ambiental, socioeconômico, administrativo, legal ou pertencente à estrutura urbana que determinam o uso e ocupação do solo (SANTA CATARINA, 1999). Consideramos deficiências as situações que devem ser melhoradas, problemas relacionados à gestão do turismo (SANTA CATARINA, 1999). As potencialidades, são elementos ou recursos que de alguma forma contribuem positivamente para o desenvolvimento do turismo e que em determinados casos, podem ser potencializadas (SANTA CATARINA, 1999).

O Quadro 1 traz os tópicos de verificação do caso estudado, pois nele se encontram as características do contexto do estudo, as descrições e o modo de verificação dos dados estudados.

Após a tabulação dos dados podemos desenvolver os objetivos estratégicos e as metas a serem traçadas, propondo alternativas para o futuro sustentável do turismo no município de Itá (SC). Ressaltamos que a pesquisa demonstra quatro dimensões da sustentabilidade, sociocultural, político-institucional, econômico e ambiental que englobam as oito dimensões preconizadas por Sachs (2008). O procedimento metodológico buscou uma construção permanente que possa apontar os pontos fracos e enaltecer os pontos fortes do turismo no município de Itá (SC), as quais criam oportunidades e corrige as fragilidades, explorando as potencialidades e minimizando as deficiências do turismo no município.

Acreditamos que os resultados obtidos possam dar suporte para tomada de decisões, igualmente, propondo estratégias para elevar os indicadores de desenvolvimento do turismo, em uma visão global, corrigindo as fragilidades e destacando as potencialidades do município, visando o bem-estar e a qualidade de vida da população, por meio de sua integração às atividades turísticas.

4 O MUNICÍPIO E SUAS CONDICIONANTES

Os primeiros colonizadores do município de Itá (SC), que em Tupi-Guarani significa Pedra, foram colonos de origem europeia oriundos do Rio grande do Sul (PEREIRA; VIEIRA, 1997). Nesse período, Itá (SC) pertencia à extensão territorial de Chapecó. Segundo Belanni (1991, p.16), “os limites iam desde o atual município de Joaçaba até a fronteira com a República Argentina, com um total de 14.000 km..” Atualmente, o município pertence à microrregião do Alto Uruguai, possuindo área territorial de 165.83 Km² (IBGE, 2014), com população estimada em 6.383 habitantes, sendo 2.369 pessoas na área rural e 4.014 em área urbana (IBGE, 2014). Possui uma população estática, com tendência de retração, típica de pequenos municípios da região Oeste de Santa Catarina. Em 2016, houve uma retração populacional para 6.311 habitantes (IBGE, 2016).

A principal fonte de renda é a agroindústria, com base no consorciamento entre produtores rurais de suínos, aves e gado leiteiro e indústrias processadoras. Nos últimos anos o turismo aparece como fonte alternativa, e, em alguns casos, como fonte de renda principal. A instalação da Usina Hidroelétrica de Itá, em 2000, possibilitou inúmeras formas de exploração do turismo, surgindo a partir desse momento vários atrativos, como o parque termal, festas tradicionalistas, os seminários, o filó, as trilhas, o arvorismo, a tirolesa e o turismo rural (ITÁ, 2016). Nesse sentido, o município passa a ter visibilidade no âmbito regional, devido aos inúmeros visitantes que se deslocam das cidades próximas como Chapecó, Xanxerê, Concórdia (cidades polos regionais) e do estado do Rio Grande do Sul (IBGE, 2016).

Toda a pesquisa anseia na busca de soluções estratégicas com o intuito de explorar os pontos turísticos, resgatando a cultura e o patrimônio histórico da antiga e da nova cidade (ocupada a partir de 2001). Nesse aspecto, uma das fragilidades que a pesquisa constatou foi que entre os anos de 1991 a 2010 o município passou por transformações, uma em especial foi à construção da usina hidroelétrica e a realocação de todo o espaço físico urbano do município. Esse fato elevou os índices do êxodo, sendo que nesse período o município passou a ser mais urbano do que rural. No Gráfico 1 é possível observar a migração da população do campo para a área urbanizada.

No ano de 1991, 78% dos habitantes do município de Itá (SC) estavam na zona rural e 22% em zona urbana. Já no ano 2000, os índices ficam praticamente iguais, 49% da população habitava em zona rural e 51% em zona urbana. Neste ano vários fatores podem ter interferido no êxodo, principalmente com as indenizações que muitos habitantes receberem pela construção da usina, pois viviam às margens do Rio Uruguai em espaços aptos para a agricultura por serem mais planos (várzeas) outros migraram para municípios vizinhos ou passaram a viver no interior do perímetro urbano do município (ITÁ, 2016).

No ano de 2010 a população itaense tornou a ser mais urbana que rural, pois, 63% dos habitantes passam a viver na zona urbanizada e 37% em zona rural do município. Ressaltamos que nessas três últimas décadas a população do município de Itá (SC), não variou acentuadamente, de 1991 para 2000 a população aumentou 8%, diminuindo 5% para 2010 e 0,5% para 2014, ou seja, o município passou por um grande processo de evasão rural para o ambiente urbano e para outras regiões (ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL, 2016)

Quando analisado o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) percebemos uma evolução de 29% de 1991 para 2010, sendo considerado um índice médio (IBGE, 2014), conforme mostra o Gráfico 2. É perceptível a evolução do IDHM do município nas últimas três décadas, sendo renda em 19% e a expectativa de vida em 13%. O maior destaque está na educação, que elevou seu índice em 42% no decorrer das últimas décadas.

Um dos fatores que podem ter influenciado nesse aumento dos indicadores está relacionado aos investimentos em infraestrutura gerados pela realocação do município, isto é, entre os anos de 1996 a 2000, o município passou por várias mudanças devido à instalação da Usina Hidroelétrica e a inundação do reservatório, sendo transferida a cidade na sua totalidade. Nesse período, o município recebeu toda a infraestrutura necessária, ou seja, novas edificações, praças e escolas, com infraestrutura adequada e que são utilizadas até a atualidade (ITÁ, 2016).

A análise do Índice de Desenvolvimento Municipal Sustentável (IDMS) do município de Itá (SC) demonstrou uma queda no quadro classificatório dos municípios do Estado de Santa Catarina, em 2012, o município estava na 74° colocação, caindo em 2014, para 128° apresentando um decréscimo de 54 posições conforme nos mostra o Gráfico 3(FECAM, 2014).

Por meio dos indicadores do desenvolvimento sustentável, torna-se possível evidenciar a queda na colocação, pois o IDMS teve uma queda de 2,3% no ano de 2014 em relação ao ano de 2012. Na dimensão político-institucional a queda foi de 7,5%, representada pelos indicadores de capacidade de investimento e saúde financeira. Percebe-se que a maior retração foi pela suficiência de caixa e percentual da receita comprometida com folha de pessoal.

Na dimensão ambiental a queda no indicador foi de 2,5%, que se dá pela falta de efetividade do conselho municipal de meio ambiente. Já a dimensão sociocultural a queda foi de 1,8%, causada pelo indicador educação, onde teve baixa no Índice de Educação Básica (IDEB) da rede pública nos anos iniciais e finais, também no índice de analfabetismo e no percentual de abandono escolar. Ressaltamos que nestes indicadores de educação o município de Itá (SC) possui uma das melhores posições no âmbito regional. Apenas na dimensão econômica apresentam um aumento nos indicadores de 2,9% (FECAM, 2014).

Nesse sentido, buscamos analisar os indicadores que demonstrassem dados sólidos da macroeconomia, mensurando atividade econômica do município. O Produto Interno Bruto (PIB), apesar de não ser considerado um bom indicador de crescimento, por não conter dados da distribuição de renda, expectativa de vida e nível educacional da população, pode entrar como um indicador para mensurar as atividades econômicas do município. A evolução do PIB do ano de 2001 para o ano de 2012 foi de 566%, sendo que no último triênio, o PIB subiu 10%, entre 2010 e 2011, 24% demonstrando o potencial do município e sua produtividade (IBGE, 2014).

Destacamos que a média de crescimento do Imposto Sobre Serviços (ISS) foi de 43%, passando de 6,07% em 2012 para 10,39% 2014 este, certamente vinculado à dinâmica do turismo e dos serviços de suporte à hidrelétrica. O município manteve estável o índice do percentual de domicílios em situação de pobreza que ficou em 3,79%. Já a remuneração média dos trabalhadores formais teve queda, passou de R$ 2.331,13 em 2012 para R$ 1.410,04 em 2014 (FECAM, 2014), sendo esta uma preocupação regional em que gestores, líderes empresariais, entidades representativas e instituições de ensino já buscam a motivação de novas cadeias de produção como forma de reverter este processo de retração de renda da população.

Em termos desenvolvimento, nas últimas três décadas, a pesquisa demonstrou crescimento nos índices de desenvolvimento humano e econômico. Mas o que realmente impressiona está na proporção de turistas x habitantes. Os dados levantados nos mostram que em 2014, o município de Itá (SC) recebeu 70.527 turistas uma proporção 11 vezes maior à população estimada de 2014 e em 2015 obteve um aumento de 20% (ITÁ, 2016), o que representa quase 6 mil turistas ao mês, embora a sazonalidade dos atrativos determine maiores picos de frequência no município, nos meses de verão e de inverno.

Expressiva parte da origem dos turistas que visitam o município de Itá (SC) na alta temporada no período de novembro a fevereiro, são oriundos da região Sul, sendo a maioria o público de classe C e D. Já na baixa temporada que ocorre ente os meses de março a outubro o público é da classe A e B, sendo na sua maioria da região Sul (ITÁ, 2016). O município conta com uma infraestrutura adequada com atrativos e serviços para recebimento deste público. Itá (SC) contempla 4 hotéis, sendo um resort, 7 pousadas e 3 campings, com um total de 221 leitos, tendo 7 estabelecimentos de alimentação entre bares e restaurantes, gerando aproximadamente 220 empregos diretos (ITÁ, 2016).

Tais atrativos são motivadores para o turismo e, dessa forma, as empresas que exploram o turismo passam a ser beneficiadas pelas necessidades da sociedade, cultural e ambiental (OURIQUES, 2005). Destacamos os principais atrativos turísticos do município conforme o Quadro 2.

Os atrativos descritos são responsáveis por grande parte da captação do turismo no município. Ainda há outros atrativos como as trilhas ecológicas e de paisagem cênica, pista de gelo festival de carros antigos, estes contribuem para o aumento do turismo, que mesmo esporadicamente são ofertados em período de baixa temporada.

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA

Buscamos apresentar nesta fase da pesquisa os resultados obtidos sob uma ótica do objetivo proposto pelo estudo, onde se demonstramos as evidencias dos fatos (RAUEN, 1999). Neste contexto, iniciamos o levantamento dos pontos fortes e fracos, internos e externos de forma a demonstrar suas fragilidades e o potencial para o desenvolvimento turístico municipal.

Com o levantamento dos pontos fortes internos e externos, e os pontos fracos internos e externos tornou-se possível elaborar a Matriz de Condicionantes, Deficiências e Potencialidades (CDP), que se demonstra na Quadro 3. Nela é possível identificar três dimensões, territorial, cultural e ambiental em que a pesquisa está embasada, da mesma maneira que, levantar as Condicionantes, Potencialidades e Deficiências, identificadas no estudo in loco no município de Itá (SC).

5.1 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES PARA O TURISMO SUSTENTÁVEL

Por meio do mapeamento dos elementos apresentados e levantados na Matriz Condicionantes, Deficiências e Potencialidades, propomos os objetivos estratégicos para desenvolver soluções que possam gerar as metas para cada um dos itens analisados, impulsionado o desenvolvimento do turismo. As metas e os objetivos estratégicos podem ser observados no Quadro 4, juntamente com os prazos referenciais que correspondem a uma previsão para sua implantação, curto prazo 2 anos, médio prazo 5 anos e longo prazo 10 anos.

Com base nos objetivos estratégicos traçados se propõem formas de fomentar o turismo no município de Itá (SC). Dentro das dimensões territoriais, cultura e ambiental, com base na Mariz CDP e nos objetivos estratégicos, sugere-se para o município a implantação de rotas turísticas, podendo as metas serem cumpridas em curto, médio e longo prazo. Percebemos que as rotas turísticas desdenham uma das práticas mais procuradas para fomentar o turismo regional. Sugerimos cinco rotas que podem ser exploradas para ampliar e qualificar o turismo no município.

Rota centro histórico: faz menção ao centro histórico, não por ser antigo, mas sim por possuir uma história da antiga cidade inundada pelo reservatório da usina hidrelétrica. A cidade planejada com o propósito de resgatar a história e cultura itaense, da mesma maneira que, toda a história que acompanha os mobiliários urbanos, as edificações reproduzidas da época, todo o contexto de que a cidade remete deve ser lembrada e mostrada para os visitantes.

Rota Itáeco: leva ao espírito da aventura, remete a trilhas, passeio de tirolesa e prainha, essa rota desbrava a mata, levando o turista a desfrutar da biodiversidade (mata Atlântica) encontrada as margens do lago da Usina Hidroelétrica de Itá de forma sustentável.

Rota Torres da Antiga Igreja Matriz: remete às lembranças da antiga cidade, ela leva a um passeio nas antigas torres da igreja matriz que resistiram a inundação do reservatório da hidrelétrica. Uma bela paisagem para desfrutar em um passeio de bicicleta ou caminhada. Nessa rota é possível ver parte da única edificação mantida após a mudança do local da cidade.

Rota dos Mirantes: interligar os três mirantes existentes, possibilitando ao turista fazer o passeio de carro ou de bicicleta. Nessa rota pode-se desfrutar da paisagem cênica do reservatório e dos vertedouros da usina hidroelétrica, igualmente, visualizar toda a nova cidade de Ita (SC). Esta rota pode ser integrada ao Centro de Demonstração Ambiental (CDA) do empreendimento hidrelétrico.

Rota rural: permite um passeio pelas principais propriedades do interior do município, nela, o turista poderá desfrutar a gastronomia típica, do mesmo modo que, participar das atividades agrícolas exercidas na agricultura familiar local, os modos de vida e contemplar a paisagem cênica.

As rotas entram como sugestão, ao mesmo tempo em que os objetivos estratégicos são executados, destacando os pontos com a maior urgência a serem melhorados. Destacamos que todas as rotas, os mobiliários urbanos, edificações e pontos turísticos deverão conter uma sinalização específica, que possa traduzir de forma clara e objetiva o contexto histórico, no qual o município está inserido. Devem contemplar o resgate do patrimônio histórico, cultural e ambiental, pois estas sinalizações terão o papel de reproduzir o contexto integrando o turista com o meio em que ele se encontra.

Além das melhorias a serem implantadas, como os equipamentos urbanos, as políticas públicas de incentivo, treinamentos e investimentos citados em infraestrutura, as rotas constroem formas sustentáveis para explorar o turismo consciente, focando nas dimensões abordadas nessa pesquisa. Assim, os objetivos estratégicos citados nesse estudo interligam com a sugestão de implantação dos pesquisadores, propondo um rumo consciente para explorar o turismo no município de Itá (SC).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O planejamento estratégico apresentado nesta pesquisa visa contribuir para o desenvolvimento do turismo sustentável no município de Itá (SC). Nesse sentido, o objetivo traçado acerca da elaboração de um estudo estratégico que possa servir de suporte para fomentar o turismo no município foi respondido por meio da Matriz de Condicionantes, Deficiências e Potencialidades (CDP), e dos objetivos estratégicos e metas traçados. Visou identificar as fragilidades internas e externas que formam lacunas no desenvolvimento do turismo, assim como as principais potencialidades que podem ser exploradas melhorando o desenvolvimento do turismo. Dessa forma, foram propostas medidas estratégicas que possibilitam o cumprimento das metas.

Em um último momento, se propõem as rotas turísticas, que buscam num contexto histórico o resgate do patrimônio cultural do município. As rotas foram planejadas estrategicamente como um potencial para aplicar de forma continua, planejada com os principais objetivos traçados na pesquisa, abordando o perímetro urbano e rural.

Apesar da Matriz CDP focar apenas nas dimensões territorial, cultural e ambiental foi possível levantar num contexto geral com os pontos fortes e fracos no âmbito interno e externo. Nesse sentido, o estudo contribuiu para elevar o turismo local, demonstrando os pontos mais frágeis que devem ser corrigidos, assim como, os pontos que podem ser explorados, simultaneamente atendendo as necessidades dos turistas ao mesmo tempo em que protege e amplia as oportunidades para o futuro do município.

É importante destacar que as referências utilizadas como suporte teórico frisam a exploração do turismo de forma sustentável. Buscamos trazer à tona formas de potencializar o turismo, corrigido as deficiências por meio de um plano de desenvolvimento estratégico sustentável, visando à exploração dos recursos territoriais, culturais e ambientais sem comprometer as futuras gerações.

As recomendações estão na ampliação do estudo para o meio rural, desenvolvendo as rotas que possam explorar mais o turismo rural, tal como, desenvolver ou ampliar as rotas explorando variados pontos potencialmente turísticos do município. Salientamos que o estudo para manter sua sustentabilidade deve ser constante, isto é, estruturar, implantar e manter sua continuidade, verificando constantemente se os pontos fracos demonstrados na pesquisa foram sanados e se os pontos fortes estão sendo explorados e se estão demonstrando os efeitos esperados satisfatórios.

O estudo demonstrado nesse artigo proporciona uma análise da problemática do desenvolvimento do turismo de Itá (SC), passando a transformar a pergunta de pesquisa em objetivos estratégicos, definindo as ações e propondo um resultado final aplicável, beneficiando o município para elevar seus índices de desenvolvimento e aumentar sua competitividade no cenário turístico no âmbito regional.

REFERÊNCIAS

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