DOSSIE
Recepção: 15 Agosto 2020
Aprovação: 30 Setembro 2020
DOI: https://doi.org/10.22481/rg.v4i3.7489
Resumo: Interessamo-nos pela práxis sociopolítica tendo como ponto de partida um giro hacia dentro, um movimento sankofa que nos coloca, novamente, numa arena intragrupo e nos leve ao encontro dos cimarronajes realizados em redes der mulheres negras no território da diaspora afrolatina. Nesse itinerário, alinhamo-nos com o campo de pesquisa sobre redes formativas. Apoiamo-nos em um deslocamento epistemológico contrahegemônico para situar movimentos de cimarronajesmultifacéticos e exploramos os itinerários que se constituem mesmo em condições desfavoráveis, indicando a capilaridade de uma agenda intergeracional.
Palavras-chave: Epistemologias das redes de mulheres negras, Cimarronajes, Movimentos pedagógicos.
Abstract: We are interested in sociopolitical praxis having as a starting point a hacia giro inside, a sankofa movement that puts us, again, in an intragroup arena and takes us to meet the cimarronajes carried out in networks of black women in the territory of the Afrolatina diaspora. In this itinerary, we align ourselves with the field of research on training networks. We rely on a counter-hegemonic epistemological shift to place multifacetic cimarronajes movements and explore the itineraries that are even in unfavorable conditions, indicating the capillarity of an intergenerational agenda.
Keywords: Epistemologies of black women's networks, Cimarronajes, Pedagogical movements.
Resumen: Nos interesa la praxis sociopolítica que tiene como punto de partida un giro hacia adentro, un movimiento sankofa que nos pone, nuevamente, en una arena intragrupal y nos lleva al encuentro de los cimarronajes hechos en redes de mujeres negras en el territorio de la diáspora afrolatina. En este itinerario, nos alineamos con el campo de la investigación sobre redes de formación. Nos apoyamos en un giro epistemológico contrahegemónico para ubicar movimientos de cimarronajes multifacéticos y explorar los itinerarios que incluso se encuentran en condiciones desfavorables, lo que indica la capilaridad de una agenda intergeneracional.
Palabras clave: Epistemologías de redes, Cimarronajes, Movimientos pedagógicos.
Introdução
O processo colonial adotou como ferramentas principais, práticas de violência de toda ordem, na América Latina e Caribe, e com essas características, tornou-se um dos marcos históricos, para o mundo inteiro. Efetivamente, precisa ser considerado no fomento de outras narrativas históricas que facilitem a compreensão das agruras do tempo presente. Diferentes grupos sociais dependem, hoje de maiores condições de acesso à ambiências formativas, espaços de politização e de criticidade. Para interpretarmos as destruições em grande escala, em regiões já sacrificadas com as chamadas “conquistas europeias”, é indispensável avaliar a multiplicidade de desafios nesse território do qual fazemos parte, mas como insurgentes, já que a racialização foi eficaz como estratégia colonial.
Vejamos a situação de dois territórios ocupados pelas populações racializadas. Palenque San Basílio (Colômbia) e Quilombo dos Palmares (Brasil) são exemplos de comunidades autônomas, criadas por grupos de líderes (mulheres e homens) responsáveis por revoluções silenciadas, nas narrativas hegemônicas. Desde as travessias promovidas por países europeus e que incluíram a escravidão de africanas (os), a criatividade e desenvolvimento de modos outros de existir, são traços das insurgências afrodiaspóricas. Como territórios de gente negra, (assim como demais países das Américas e Caribe), apresentaram descaminhos para se pensar as suas respectivas existências. Falta, a nosso ver, avaliarmos algumas importantes pistas, sobre outros resultados de cimarronajes e, com elas, sustentarmos análises críticas sobre o tempo presente.
Apoiamo-nos em um deslocamento epistemológico contrahegemônico para situar movimentos de cimarronajes de afrolatinas e esses são multifacéticos. E se dão em condições desfavoráveis, indicando a capilaridade de uma agenda intergeracional onde os Feminismos Negros sustentam suas travessias. A situação socioeconômica das afro-latinas é a pior, e dados sobre as funções2 que ocupam, na Colômbia, Argentina, Brasil, Cuba, Equador (entre outros contextos), mostram aspectos do seu empobrecimento, ao longo das últimas décadas. Essas fissuras estão invisibilizadas nos estudos sobre Geografia humana e não podem seguir sem problematização, tendo em vista os riscos que afetaram (e afetarão) as sociedades, com um alto percentual de mulheres racializadas. A década dos (as) afrodescendentes (2015-2024) da Organização das Nações Unidas inclui os temas do reconhecimento, justiça e desenvolvimento e sobre a situação de mulheres e meninas destaca:
En el programa de actividades pide a los Estados que incorporen una perspectiva de género en la formulación y supervisión de las políticas públicas, teniendo en cuenta las necesidades y realidades específicas de las mujeres y las niñas afrodescendientes, incluso en la esfera de la salud sexual y reproductiva y los derechos reproductivos (ONU, 2015, p.6).
No mesmo documento, o que se vê é a preocupação com os conflitos armados na A. L. e a vulnerabilidade das populações femininas e negras. Também chama a atenção as preocupações com as especificidades que marcam suas vidas: “(…) el Estado debe tener en cuenta las múltiples formas de discriminación a que se enfrentan las mujeres afrodescendientes y ayudar a facilitar su participación en las políticas relacionadas con sus derechos humanos” (ONU, 2015, p.6). Com essas esses alertas, passa a ser relevante incorporarmos a demanda que apresentam, sendo esse um dos mais graves problemas para os estudos recentes das Ciências Humanas e Sociais.
Aprendemos dos estudos de Edizon León Castro (2015) e, um aspecto sobre resistência, é que já se sabe que um pequeno grupo de pessoas escravizadas (17 homens e 6 mulheres), alcançou certa hegemonia em uma dada região, compreendida entre Equador e Colômbia. Indo além, acentua aspectos sobre o lugar de importância dos cimarronajes e, nos direciona para repensarmos, a partir da exemplaridade contida nessa agência coletiva:
El pasado no sólo es un cúmulo de hechos que no volverán a repetirse de la misma manera, sino que también es un acumulado de experiencias que tienen articulación directa con un presente. En el caso del cimarronaje, en particular, esta conexión con el presente se da en la lucha continua por la existencia, por la vida, y por la libertad frente a sistemas y momentos de opresión. La experiencia de lucha del cimarronaje […] merece una mirada histórica y filosófica profunda. Tiene una vigencia importante si sabemos leer de manera crítica esa práctica política. (CASTRO, 2015, P. 328)
Não é exagero considerarmos que os corpos das afro-latina, são territórios de sustentação de travessias cimarronas e ao mesmo tempo, territórios onde se elaboram planejamentos e perspectivas insurgentes que nos trouxeram ao século XXI. Assim, nos alinhamos com noções mais amplas sobre pertença e território e, deslocamos quadros conceituais que precisam ser tensionados. Em primeira instância, a tarefa nos obriga a entrelaçar desafios do passado com as demandas do tempo presente.
A avalanche trazida com a crise sanitária mundial, com o ethos genocida, de estados violentos e, a capilaridade do fascismo, são alguns desses problemas. Ao mesmo tempo, os prognósticos e diagnósticos já levantados, incluindo o impacto dessa “onda de devastação em massa”, mostram como as negras são as principais vítimas do empobrecimento e da perda de direitos básicos. Para se entender a sobreposição de camadas que caracterizam esse estado de coisas, teremos que situar o segmento. Pelo tipo de enfrentamento vivenciado, nos territórios de gente negra, o segmento populacional afrodescendente em diáspora, desenvolveu diversas táticas vislumbrando a organização que está baseada na coletividade.
Betty Ruth Lozano Lerma (2016, p.82) converteu a Costa do Pacífico colombiano, em referente central para se compreender a luta política do movimento social negro/afro colombiano e desloca a análise dessa temática quando entende o corpo das mulheres negras/afro colombianas como o seu primeiro território, como lugares desde os quais se produz conhecimento. Com esse achado do quadro conceitual de Lerma, redirecionamos nossos esboços sobre temporalidades e espacialidades para recompor a noção de territórios insurgentes.
O corpo feminino e negro passa a ser entendido como território de insurgência e de reinvenção da vida, um espaço de cimarronajes e de criação de camadas protetoras para assegurar a própria integridade física. Corpos representados como desautorizados sustentam travessias realizadas em coletividades, na diáspora. Tomando o caso da Colômbia, aprendemos sobre as texturas dos enfrentamentos na afrodiáspora: “La población negra proveniente del territorio–región del Pacífico se ve enfrentada en Cali al racismo debido a: el color de su piel, su lugar de origen y el barrio en el que vive en Cali” (LERMA, 2016, p.130). No Brasil, o mesmo desafio se faz presente. Alguns traços da fixação colonial/patriarcal/escravocrata são alarmantes em toda a região da qual fazemos parte. O feminicídio é um dos agravantes no quadro situacional. Em muitos casos, a sobrevivência se dá pela imigração e nesse itinerário, é preciso suportar o perigo extremo e as agruras das travessias a serem feitas.
Pela visão de Lorand J. Matory (1998, p.264) a Diáspora Africana passa a ser uma nação transatlântica e, ao explorar as heranças Iorubas, o especialista situa essa presença em lugares como Lagos, Ibadan e Oyo (Nigéria), Havana (Cuba), Oyotunji (vila situada na Carolina do Sul), Nova Iorque, Chicago, Los Angeles e Miami (Estados Unidos) e, no Brasil, Salvador, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. As nuances desse apanhado são centrais e podem direcionar análises futuras sobre a Geografia humana mas privilegiando aspectos sobre a invenção do gênero, como vimos nos interstícios da pesquisa de Rita Laura Segato (1984) no âmbito do Culto a Xangó, no Recife. Referimo-nos aos processos engendrados nas travessias dos inúmeros grupos populacionais africanos.
A pesquisa sobre as Américas e Caribe são fundamentais e fazem parte das estratégias descolonizadoras. E isso se dá, justamente por proporcionarem oxigênio e outros aspectos sobre as formas de resistir em um mundo marcado por retrocessos. O discurso “pró vida” de setores fascistas, no Brasil, é um exemplo do cenário atual. Acompanhamos, no mês de agosto de 2020, a situação enfrentada por uma família empobrecida, com uma menina de 10 anos, vítima de violência sexual (cometida por um tio), desde os 6 anos de idade. O quadro revela nuances dos problemas que passaram a emergir, sobretudo nos últimos 5 anos. A mobilização de núcleos fascistas, incluiu vigília, na entrada do hospital, designado para a interrupção da gravidez involuntária. Nessa cena, podemos avalir que a regulação dos corpos, mais uma vez, se impoe como pauta para os fóruns sobre desigualdades socioeconômicas e educacionais.
Por tudo isso, faz sentido indagarmos sobre como nossos territórios estão invisibilizados e como as diferentes gerações de mulheres negras e empobrecidas, seguem pagando a conta da ausência de políticas sociais. Ao mesmo tempo em que pensamos os territórios é tarefa obrigatória realizarmos escavações epistemológicas para compreendermos o acúmulo e as bases dessa batalha pela vida. Assim, interessamo-nos pela práxis sociopolítica tendo como ponto de partida um giro hacia dentro, um movimento sankofa que nos coloque, novamente, numa arena intragrupo. E, nesse itinerário, esbarramos em vultos e, sombras que, no campo da pesquisa sobre territórios negros, já se materializam.
Ampliamos nossas lentes para recriar narrativas sobre outros protagonismos e reavaliarmos os lugares de memória onde se vê alternativas para a afro-existência encontradas por estratos silenciados. Dessas viradas conceituais, emergem engrenagens e gambiarras que traduzimos como parte das tecnologias de re-existência. São arcos do improviso, sobreposições feitas por grupos de afrolatinas atuantes nas dinâmicas descolonizadoras enfrentadas, por séculos de disputa pela vida.
Localizamos interfaces para os estudos dos Feminismos Negros e os estudos sobre cuidados. Sobre o cenário brasileiro, foram incluídas modalidades reveladoras como a “ajuda” e, essa definição é produzida por sujeitas implicadas nesse campo que é também performático, a nosso ver. Para Nadya Araújo Guimarães (et al, 2020, p. 93) o termo “ajuda” enfatiza “la dimensión del afecto, el celo y la atención a las necesidades de quienes la demandan, en detrimento de la idea de transacción económica”. E, as atividades abarcadas, são desempenhadas entre e para indivíduos com os quais se mantêm vínculos engendrados nas relações de afeto e intimidade.
Com essas primeiras impressões, defende-se a visibilização de movimentos comunitários, alinhados com as epistemologias diaspóricas. Sendo assim, examinar esses inúmeros aspectos significa avaliar que foram essas protagonistas transformadas em coadjuvantes, as que sofreram com as formas de abuso e de exploração de toda ordem. Esses são alguns dos pontos trabalhados, nos estudos que desenvolvemos como partícipes de movimentos insurgentes. A partir de uma atuação na contramão do instituído, onde tanto o território como os seus desafios nos convocam a rever os percursos da pesquisa sobre territorialidade e espacialidade na diáspora, exploramos o legado das redes femininas e negras como movimentos pedagógicos que se constituem mesmo em condições desfavoráveis.
A nosso ver são movimentações colaborativas em redes de mulheres que se reinventaram promovendo a afro-existência e impulsionando outras formas de organização social. Suas dinâmicas são interpretadas como cimarronajes. Nos territórios de gente negra, famílias inteiras se conectaram para garantir a subsistência e esses espaços devem ser interpretados como desafiadores para os grupos diversos. Nesse mosaico interpretativo, deve-se problematizar a centralidade do segmento populacional. As lutas do tempo presente estão conectadas com esse formato de sociedade alcançado a contrapelo. Sobre esses rastros, importa o que apresenta Aníbal Quijano no trecho abaixo:
Desde el siglo XVIII, en la América hispánica muchos de los mestizos de españoles y mujeres indias, ya un estrato social extendido e importante en la sociedad colonial, comenzaron a participar en los mismos oficios y actividades que ejercían los ibéricos que no eran nobles. En menor medida y sobre todo en actividades de servicio o que requerían de talentos o habilidades especiales (música, por ejemplo), también los más "ablancados" entre los mestizos de mujeres negras e ibéricos (españoles o portugueses), pero tardaron en legitimar sus nuevos roles ya que sus madres eran esclavas. La distribución racista del trabajo al interior del capitalismo colonial/moderno se mantuvo a lo largo de todo el período colonial. (QUIJANO, 2000, p.205)
As análises do pensador peruano sobre a colonialidade do poder se encontram com a nossa compreensão acerca das formas de violência que atingiram (atingem) populações que foram racializadas. E se assim considerarmos, é nessa arena que podemos pinçar outros nós sobre as camadas que envolvem o tipo de afetação que as afrolatinas sofreram (sofrem). São efeitos que, por longos períodos da história, passaram a ser naturalizados. Quijano explora o fenômeno da invenção de outras identidades territoriais e remonta a arquitetura colonial onde a vida dos povos originários, é interrompida e a escravização bem sucedida. Partimos da percepção sobre um ordenamento hierarquizante e subalternizador, que exige novas formas de violação da vida nos setores mais vulneráveis:
En el curso de la expansión mundial de la dominación colonial por parte de la misma raza dominante -los blancos (o a partir del siglo XVIII en adelante, los europeos) - fue impuesto el mismo criterio de clasificación social a toda la población mundial a escala global. En consecuencia, nuevas identidades históricas y sociales fueron producidas: amarillos y aceitunados (u oliváceos) fueron sumados a blancos, indios, negros y mestizos. Dicha distribución racista de nuevas identidades sociales fue combinada, tal como había sido tan exitosamente lograda en América, con una distribución racista del trabajo y de las formas de explotación del capitalismo colonial. Esto se expresó, sobre todo, en una cuasi exclusiva asociación de la blanquitud social con el salario y por supuesto con los puestos de mando de la administración colonial (QUIJANO, 2000, p.205).
Distribuição racista de novas identidades e distribuição racista do trabalho são essenciais para o ordenamento no território explorado. Com o foco acima podemos, faz sentido avaliar o tema das assimetrias de poder entre as mulheres racializadas e, portanto, indicarmos alguns achados das tecnologias adotadas para a transgressão desenvolvida ao longo da história recente, onde a superação dessas marcas segue como grande utopia mobilizadora. É importante entender as relações hierárquicas a partir dos estudos sobre o controle dos corpos femininos, conforme a pesquisa realizada por Silvia Federici (2017) sobre a caça às bruxas. A autora conclui que também no continente africano (Nigéria e África do Sul), esse processo de apagamento foi estratégico, já que garantiu a criação de formas eficazes de diferenciação/subalternização de estratos populacionais. Sobre o caso nigeriano e especificamente, os impactos dessas empreitadas, na cultura Ioruba, Oyèronké Oyewùmí (2017) localiza as tramas e prejuízos deixados para as novas gerações.
Petrônio Domingos (2004, p.104) fez escavações sobre o percurso das agremiações, núcleos e organizações do Movimento Negro (MN) e, sobre a presença e dinâmica feminina, nesse conjunto das associações, menciona que: “Havia associações formadas estritamente por mulheres negras, como a Sociedade Brinco das Princesas (1925), em São Paulo, e a Sociedade de Socorros Mútuos Princesa do Sul (1908), em Pelotas”. Em uma perspectiva histórica, o autor recupera dados acerca da experiência feminina na Frente Negra Brasileira – FNB (1931- 1937) e defende “a necessidade de novas pesquisas acerca da história das mulheres negras no pós-Abolição, particularmente daquelas que se engajaram nos movimentos sociais do meio negro e levaram a cabo a luta anti-racista no país” (p.371). Um dos pontos do seu argumento, é a performance feminina:
A atuação das mulheres negras foi imprescindível para manter a união e coesão dos associados da FNB. Em vista disso, caberia a elas parte importante do crédito pelo sucesso da entidade. Com uma postura vanguardista, as mulheres estiveram presentes em todo período de existência da FNB. Na sede central, elas criaram dois agrupamentos específicos: as Rosas Negras e a Cruzada Feminina. Em algumas delegações do interior e de outros Estados, a entidade organizou um departamento feminino. Mas não se pode ter ilusão: a FNB tinha um indubitável predomínio masculino. As mulheres ocuparam um papel que muitos interpretavam como subsidiário. Elas não assumiram, por exemplo, nenhum cargo de monta na entidade; todos os organismos que lhes eram reservados realizavam apenas aquelas atividades que os homens consideravam de menor relevância: as recreativas e as de assistência social (DOMINGUES, 2004, p.370-371).
A produção já existente, sobre as principais instâncias do Movimento Negro do Brasil, indica a FNB como uma das mais impactantes pela sua capilaridade em todo o território nacional. O Brasil é o país fora do continente africano, com o maior número de afrodescendentes e, essa posição o deixa como destaque nas engrenagens transatlânticas concebidas para mover as batalhas pela vida negra. A lupa que adotamos, ao escavarmos e produzirmos contra narrativas, indica as urgências que seguramente, Domingues já indicou e rever as pegadas das lideranças femininas e negras, é parte dessa tarefa. As movimentações de coletividades femininas (no final dos anos de 1990) fazem parte das percepções comunitárias acerca das formas possíveis de impulsionarem suas vidas, lutarem pela sobrevivência. Reconhecer as desvantagens e partir da politização social, foi decisivo e assim, outras dinâmicas organizacionais sociais emergiram.
A cena latino-americana e caribenha foi impactada com a internacionalização do debate sobre luta de mulheres negras. Outras adesões acontecem em consequências desse encontro pluridimensional e as pontes estabelecidas exigem presença efetiva dos países com forte presença afro diaspórica. Nos seminários dedicados ao temário aqui tratado, o esforço para reconhecer idiossincrasias da colonialidade, discutida nos termos de Quijano (2000), tem favorecido outras imersões. Como resultado desse exercício coletivo e, em rede, localiza-se o legado de pensadoras negras pela sua contribuição multidimensional para a formação de novos/as pesquisadores/as. Cartografamos algumas dessas especificidades com ênfase nos subtemas de um temário que inclui tecnologias de insurgência, crítica ao racismo institucional, violência epistêmica versus narrativas outras, diferentes concepções de libertação, entre outras problemáticas.
Um grupo de pensadoras chama a atenção, já que nele, estão mulheres autoras de argumentos solidificados para a reescrita da história de resistência. As formas de participação feminina e negra tem sido um aspecto relevante nesse modo de atuação merecendo, portanto, forte contorno, para o valor de seus estudos. Entendemos a presença de mulheres negras nas instituições universidades como parte de um movimento crescente e afirmativo.
Nos estudos sobre cuidado, por exemplo, chama a atenção as insuficiências, na avaliação feita sobre o Brasil:
As cuidadoras de crianças, especialmente numerosas [...] são muito pouco estudadas, seja por aqueles que investigam a creche ou por aqueles que analisam o emprego doméstico, onde aparecem diluídas. Integrá-las no campo dos estudos do cuidado, como veremos em seguida, contemplando a diversidade das relações de trabalho que estabelecem (seja pagos ou não, em creches ou lares, entre outros), tem sido objeto de esforços recentes (GUIMARÃES, et al, 2020,p.81).
Com as pesquisas comparadas, garante-se novas brechas e metodologias, como apontaram as autoras. e, se assim pudermos acompanhar, faz mais sentido pensar a situação das afro-brasileiras, nesse conjunto de demandas. Advertem que:
Persisten, en el mismo sentido, las desigualdades entre grupos raciales, y las mujeres afrodescendientes son las más afectadas al trabajo domiciliario no remunerado de cuidado. Tales desigualdades se profundizan cuando se trata del trabajo no remunerado de cuidado de personas, a diferencia del cuidado del ambiente doméstico (GUIMARÃES, et al, 2020, p. 90).
Também indicam que, juntamente com África do Sul, Argentina, Uruguai e Venezuela, o Brasil se destaca no informe global sobre cuidados, no mundo.
Transgressão no pensamento de intelectuais afro diaspóricas
Ao tratar a problemática dos discursos ocidentais sobre diferentes culturas africanas e, os impactos dessas representações na própria Cultura Iorubá (Nigéria), Oyèronké Oyewùmí (2017) problematizou os mais desafiadores dos efeitos da colonialidade entendidos como sendo de longo prazo. Desenvolveu um estudo sobre aspectos fundamentais da colonialidade e, essa invenção é examinada como um fundamento epistemológico ocidental e colonial. Em Concepualizando el género: los fundamentos eurocêntricos de los conceptos feministas y el reto de la epistemología africana (OYĚWÙMÍ, 2010, p.25), observa:
La idea de la modernidad evoca el desarrollo del capitalismo y la industrialización, así como el establecimiento de los Estados-Nación y el crecimiento de las disparidades regionales en el Sistema Mundial. El periodo ha sido testigo de una serie de transformaciones sociales y culturales. Significativamente, las categorías de género y raciales surgieron durante esta época como dos ejes fundamentales a lo largo de la cual las personas eran explotadas y las sociedades estratificadas.
Complementa que, um dos efeitos deste eurocentrismo é a “racialização do conhecimento: Europa está representada como a fonte de conhecimento e os europeus como conhecedores” (Ibidem). Na cultura da modernidade, se consagra o privilégio de gênero masculino como uma parte essencial do espírito europeu. Oyewùmí preocupou-se com as consequências quando se mantém uma divisão do trabalho baseada no género, na família nuclear onde a mulher é a mãe. Essa configuração, interfere nas trajetórias psicológicas para os filhos e filhas e, além disso, produz seres e sociedades baseadas no gênero. Nessa incursão, insere o gênero como uma transferência conceitual dissonante com a cultural Iorubá. Sua pesquisa denuncia essa transferência e questiona os danos causados.
Em Tejiendo con retazos de memorias insurgencias epistémicas de mujeres negras/afrocolombianas: aportes a un feminismo negro decolonial Betty Ruth Lozano Lerma (2016), inclui questões sobre o exercício de um ideário compartilhado por outras intelectuais- ativistas. Os resultados do trabalho incluíram as seguintes análises:
Lo que he tratado de mostrar en estas páginas tejidas con retazos de memorias cimarronas es que las mujeres negras afrocolombianas han sido desde su llegada forzada, a América, sujetas productoras de prácticas-conocimientos: locales, ancestrales, colectivos y desde luego políticos. Son prácticas generadas desde los espacios en los cuales las mujeres negras despliegan su agencia para la vida, y desde las diversas experiencias coloniales, por lo que se han construido en cimarronismo con las ideas e intereses dominantes. Son saberes “para” y no saberes “sobre”, que le devolvieron a la población negra su condición de seres humanos plenos (LERMA, 2016, p.233).
A pergunta geradora, para Lerma é “Qual é o pensamento/conhecimento que as mulheres negras produziram para a vida desde a sua experiencia/condição/insurgência? Modos de saber, fazer e pensar, de sujeitas negras são modos afrodiaspóricos de re-existência. Na pesquisa, a palavra escrita (ou cantada) emerge como fios epistêmicos de uma comunidade que resiste, sendo essa situação, um dos resultados da violência colonial-patriarcal. A preocupação, gira em torno da teorização sobre a experiencia do seguimento de mulheres e o aporte à solução dos graves problemas que vivem na região do Pacífico da Colômbia (LERMA, 2016, p.4). Tempo versus histórias, trajetórias de vida comunitária e, passado versus presente, são imbricações que localizamos, nessa cartografia sobre as afro-colombianas da Costa do Pacífico. Não são coadjuvantes mas sim colocadas como tal e quando situamos as outras temporalidades, lá estão: são esses figuras sociais responsáveis pela sustentação da afro-existência diaspórica.
Para o mosaico analítico, sobre redes de investigação na América Latina e o papel das mulheres negras é preciso considerar que essas sujeitas “han sido constructoras de mundos a través de diversas prácticas culturales (oralidad y poesía) y sociales (familia, comadrazgo, partería) con sentidos pedagógicos y espirituales que se constituyen hoy día en alternativas al desarrollo hegemónico depredador” (LERMA, 2016, p.4). Ao aprender “em rede”, outros constructos são inseridos e esses revelam contribuições filosóficas desenvolvidas em co-autoria e assim, geram subsídios nas estratégias engendradas localmente, por aquelas que vivem em confraria. O fluxo de trabalho nas bases sociais, exige que as novas gerações de mulheres ativistas se fortaleçam e se lancem na agenda antirracista e antissexista. Que formem outras jovens e que possam atuar influenciando as trajetórias formativas do segmento afro-feminino na América Latina e Caribe.
Sueli Carneiro tem insistido com algumas importantes possibilidades de ampliarmos a compreensão das camadas e espessuras que nos afetam mas que ao mesmo tempo nos reposicionam. Com essas ênfases, nos convoca a rever o legado da luta do MN do Brasil e, ao problematizar as insuficiências que afetam a sua intervenção política, acrescenta a seguinte ideia:
Nunca fizemos um exercício efetivo de avaliar a potencialidade política do Quilombismo de Abdias do Nascimento. Esquecemos as lutas de liberação dos países africanos, não nos inspiramos nas teses de Kwame N’Krumah, de Amilcar Cabral, de Agostinho Neto, de Patrick Lumumba. Perdemos a perspectiva expressa na tradição pan-africanista (CARNEIRO, 2002, p. 214).
Nossas pesquisas expedicionárias se desenvolvem sob essa orientação descolonizadora feita por uma pensadora responsável pela interconexão já em curso no campo dos Feminismos Negros. Como principal inspiração, nos alinha com as alternativas epistemológicas e os efeitos são concretos, no trabalho que vimos realizando. Para a autora,
[...] É possível afirmar que um feminismo negro, construído no contexto de sociedades multirraciais, pluriculturais e racistas – como são as sociedades latino-americanas – tem como principal eixo articulador o racismo e seu impacto sobre as relações de gênero, uma vez que ele determina a própria hierarquia de gênero em nossas sociedades (CARNEIRO, 2013, p.2).
O planejamento de uma proposta coletiva e fluida do curso Feminismos Negros apresentou desdobramentos reveladores sobre a adesão de diferentes feministas negras da nossa região. Portanto, concebemos a agência coletiva alcançada como um território insurgente e multifacetado.
Feminismos Negros como território de cimarronajes na A. L. e Caribe
A luta pela afro-existência feminina, na América Latina e Caribe, exige maior visibilidade e problematização, mas, incluindo, primordialmente, as mais impactadas pelas desvantagens e formas de violência colonial/patriarcal. As releituras e levantamentos que fizemos, sobre as condições com as quais se atravessa fronteiras, com corpos racializados, e, consequentemente, violados - por serem corpos de mulheres -, indicam importantes interlocuções e debates sobre deslocamentos epistemológicos. Nesse sentido, o trabalho de composição feito por Betty Ruth Lozano Lerma (2016, p.133) estão no centro de nossa reflexão sobre outras territorialidades:
En términos de las inequidades de género, las mujeres negras además de tener de forma exclusiva la responsabilidad de sus hijos e hijas, tienen mayor número de personas que dependen de ellas, lo que significa que lo que logran producir en condiciones muy desfavorables de empleabilidad deben repartirlo entre más cabezas. A esto le llaman en demografía la razón de dependencia. Las personas en dependencia son los menores de 15 años y los mayores de 64. La tasa de dependencia de la población afrocolombiana es mayor que la de la población no étnica tanto en lo rural como en lo urbano según el Censo del 2005.
O caso colombiano é apontado como um dos mais graves na região. Essa foi, sem dúvida, uma das nossas conclusões para um primeiro estado da arte, sobre as formas de nfrentamento em redes e movimentos produzidos nas bases comunitárias. Corpos femininos e racializados não precisam somente de proteção. São responsáveis pela vida de outros segmentos como crianças e idosos e esse traço nos reconecta como região afro-diaspórica. As responsabilidades que Lerma menciona, são assumidas pelas afro-brasileiras e esse modo de fixação, são analisados juntamente com as relações precarizadas no mundo do trabalho.
Sobre as travessias realizadas no Brasil, no campo dos Feminismos Negros, Claudia Miranda (2013, p.18) aponta:
Apesar de reconhecermos os obstáculos impostos ao protagonismo das intelectuais do MN, vimos que a história da sua atuação vem gerando impacto entre estudantes universitárias e pesquisadoras/es que trabalham com o tema do feminismo negro, entre escritoras, cineastas, e outras estudiosas do campo das Artes e das Literaturas. Interessa registrarmos o modo como se deu essa forma de participação nos fios condutores de uma insurgência marcada por uma agenda universal que de algum modo vai impondo novos contornos para a luta dessas intelectuais. Pode ser essa uma primeira percepção sobre uma performance invisível nas lutas contra o racismo e o patriarcado.
Com esse apanhado, pode-se constatar a existência de um continuum ancorado no reconhecimento do acúmulo alcançado com tramas cimarronas exigidas no embate político realizado no interior das instâncias do MN. Essas são ambiências que formaram as mulheres e afetaram suas percepções quanto as hierarquias nas relações raciais e de gênero. Em outros termos, os cimarronajes das mulheres do MN, no Brasil, são reações que tiveram ao experimentarem as desvantagens intragrupo.
O compromisso com a formação de novas gerações de pesquisadoras (es) de grupos populacionais racializados, nos convoca. Os obstáculos descritos acima, promoveram outros projetos de intervenção. Atentas aos fluxos gerados com a ebulição de temáticas que incluem as desigualdades que afetam, sobremaneira, a vida das populações racializadas, fomos chamadas a participar de mudanças exigidas pelo tempo presente. A elaboração/execução do “Seminário Feminismos Negros: perspectivas críticas desde América Latina y el Caribe”, no ambiente virtual do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais-CLACSO, vem junto com a proposta mais ampla de formação “Especialización y Curso Internacional em Estudios afrolatinoamericanos y caribeños” coordenada por Rita Laura Segato (Argentina), Mara Viveros (Colômbia) e Nilma Lino Gomes (Brasil).
No ano de 2019, iniciamos3, com a adesão de cerca de 47 cursistas - dentre esses, tivemos um pesquisador afro-uruguaio e um grupo de mulheres - que se autodeclaram afrodescendentes (mulheres negras). A diversidade incluiu cubanas, colombianas, venezuelanas, argentinas, brasileiras, equatorianas, peruanas, mexicanas, uruguaias, costarriquense, dominicanas entre outras. Para melhor compreendermos a centralidade da proposta de curso, o seminário foi elaborado em perspectiva decolonial y antirracista. Seu desenho incluiu os feminismos negros analisados como processo, as suas contribuições teórico- metodológicas, as investigações em rede, análises comparativas acera da luta político- partidária, a perspectiva formativa, o movimento de mulheres negras, a perspectiva de politização de jovens ativistas da América Latina e Caribe, o papel político e formativo das Yalorixás, as formas de organização dessas sacerdotisas nas Casa de Axé, as alternativas de resistência e agendas frente ao apontado pela Década Internacional dos Afrodescendentes (2015-2024).
Como um dos encaminhamentos, analisou-se os estágios de desenvolvimento do temário que compõe os Feminismos Negros com base em genealogias críticas. Incluímos o significado histórico e político para a América Latina e o Caribe reconhecendo as transmutações necessárias e situadas. Nosso intuito foi alinhar aspectos sobre a disputa epistemológica travada nos interstício da vida nas coletividades de mulheres atuantes em diferentes zonas e contextos e para tanto, convidamos as cursistas para desenharem a proposta em conjunto. No âmbito do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais experenciamos novos territórios e demos novos passos coletivamente, revisitando as possibilidades de transversalizar as pesquisas do grupo reunido, com as inúmeras avaliações que realizamos sobre o quadro situacional de cada país estudado, coletivamente. Dos diagnósticos que fizemos, a partir dos fóruns temáticos, vimos como essa proposta formativa nos orientou a pensar as urgências, nos nossos respectivos territórios.
Considerações finais
Pelo tipo de demanda que assumimos, como pesquisadoras do campo acadêmico mais também do ativismo político e formativo, nos desafiamos a reelaborar bem como recriar conceitos. Por isso, ousamos em pensar esse território negro como sendo um território de corpos femininos que se lançam em prol da afro-existência. Com essas inspirações, se recriam sociedades cimarronas intergeracionais instituídas com tessituras e arcos epistemológicos multifacetados em um “movimento sankofa” e casa adentro.
São esses alguns resultados do exercício descolonizador que vimos no percurso de uma coletividade que se reinventa, e anima outras práxis políticas. São descaminhos e desmundos experenciados por lideranças comunitárias, educadoras populares, intelectuais orgânicas, pensadoras-ativistas que conhecem atmosferas diversas com as tecnologias encarnadas em seus corpos racializados. Inspiram um sistema alternativo para pensarmos outras fissuras com a crítica ao racismo, ao patriarcado, ao feminismo eurocentrado e a todas as formas de opressão. Portanto, cimarronajes para a afro-existência feminina na A.L. e Caribe, tem sido possível a partir das outras vias de agrupamento e, as escavações epistemológicas, as investigações expedicionárias que Miranda vem defendendo (2019) podem ser um traço dessa abordagem. Quando vislumbramos a movimentação de redes femininas e negras, estabelecemos outros elos com as narrativas sobre resistência e sobre territorialidades. As sobras, os vultos, as paisagens patriarcais e coloniais, exigem escavações e essas devem ser promovidas contemplando as urgências do tempo presente. As desvantagens para a vida do segmento feminino da América Latina e Caribe, estão anunciadas nos documentos e gráficos adotados nos diagnósticos e prognósticos sobre o ethos genocida e os alvos escolhidos.
Agradecimentos
Agradecemos ao CNPq pelo apoio com o recursos financeiros para o desenvolvimento das pesquisas em curso e ao CLACSO pela estrutura que nos auxilia na práxis investigativa no âmbito da América Latina.
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Notas