Investigación

Recepção: 21 Agosto 2017
Aprovação: 01 Setembro 2017
Resumo: Este estudio cualitativo descriptivo busca comprender el significado y el sentido de la intersubjetividad en la vida profesional de los profesores. Partió del presupuesto que la Intersubjetividad es una experiencia de coparticipación interpersonal, caracterizada por la forma como las personas se encuentran realmente y se entregan recíprocamente, según concepciones de autores como: Marcel (1953) y Barten (1998). Siendo esta una temática propia de la fenomenología recurrió también Husserl (2001), Schutz (1979). La metodologia de la investigación sigue la fenomenología y como técnica de coleta de dados uso la encuesta no estructuradas en sujetos seleccionados intencionalmente con alumnos de los cursos de maestría y doctorado en Ciencias de la Educación en la sed de la UTIC, siguiendo los criterios del análisis de contenido y se concluyó que la intersubjetividad en la vida profesional de los docentes significa compartir de conocimientos y conciencia de colectividad en función de los objetivos educacionales.
Resumen: Este estudio cualitativo descriptivo busca comprender el significado y el sentido de la intersubjetividad en la vida profesional de los profesores. Partió del presupuesto que la Intersubjetividad es una experiencia de coparticipación interpersonal, caracterizada por la forma como las personas se encuentran realmente y se entregan recíprocamente, según concepciones de autores como: Marcel (1953) y Barten (1998). Siendo esta una temática propia de la fenomenología recurrió también Husserl (2001), Schutz (1979). La metodologia de la investigación sigue la fenomenología y como técnica de coleta de dados uso la encuesta no estructuradas en sujetos seleccionados intencionalmente con alumnos de los cursos de maestría y doctorado en Ciencias de la Educación en la sed de la UTIC, siguiendo los criterios del análisis de contenido y se concluyó que la intersubjetividad en la vida profesional de los docentes significa compartir de conocimientos y conciencia de colectividad en función de los objetivos educacionales.
Palabras clave: intersubjetividade, significados, sentidos, vida profesional, docentes.
Abstract: This descriptive qualitative study seeks to understand the meaning and meaning of intersubjectivity in teachers' professional lives. It was based on the budget that Intersubjectivity is an experience of interpersonal co participación, characterized by the way in which the people are really and reciprocally given, according to conceptions of authors like: Marcel (1953) and Barten (1998). Husserl (2001), Schutz (1979). The methodology of the research follows the phenomenology and as data collection technique I use the unstructured survey in subjects intentionally selected with students of the master's and doctorate courses in Education Sciences in the thirst of the UTIC, following the criteria of the analysis Of content and it was concluded that intersubjectivity in the professional life of teachers means sharing knowledge and collective consciousness in function of the educational objectives.
Keywords: intersubjectivity, meanings, senses, professional life, teachers.
A intersubjetividade dos professores que cursam mestrado e doutorado na Universidade Tecnológica Intercontinental, UTIC de sua vida profissional docente: um estudo qualitativo ano de 2014, Assunção, Paraguai.
1. -Introdução.
Permite-se iniciar este trabalho com uma questão essencialmente existencialista e que nos remete a um instante longínquo, marco do pensamento racional e científico, de onde emergiram questões sobre o universo, a natureza e sobre o próprio homem.
“Quis ego sum?”, Quem sou eu?
Entende-se que os seres humanos, constituem-se como “pessoas” a partir das interações sociais, através das quais internalizam valores, normas sociais e de conduta, crenças e a cultura de uma sociedade de uma forma processual que se inicia desde o nascimento.
O mundo interior de cada indivíduo, a sua subjetividade, se constrói e também se manifesta na interação com o outro. A existência do “eu” é dependente de um “tu” que em mútua interação se constroem e refletem um ao outro.
O estudo buscou compreender o significado e o sentido da intersubjetividade na vida profissional dos professores que cursam mestrado e doutorado na Universidade Tecnológica Intercontinental UTIC. Partiu-se do pressuposto que a Intersubjetividade é uma experiência de coparticipação interpessoal, caracterizada como as pessoas se encontram realmente e se doam reciprocamente, conforme concepções de autores como Marcel (1953) e Barten (1998), sobre a intersubjetividade na construção do ser Freire (2011), Buber (1977), Vygotsky (1989), Piaget, Freud. Sendo está uma temática própria da fenomenologia recorreu-se também a Friedrich Hegel, Edmund Hursserl (2001), Sartre (2009), como teorias de apoio.
Quanto à perspectiva epistemológica optou-se pela fenomenologia uma vez que, objetivou-se compreender o sentido e significado de um fenômeno que reside na consciência dos docentes.
A pesquisa se justifica nos seguintes argumentos: nos dias atuais temos nos distanciado cada vez mais daquilo que nos torna humanos: o contato consigo mesmo e com os outros. Seja no ambiente de trabalho, na família e nos demais grupos sociais, percebe-se que as rotinas de vida se estabelecem em um ritmo cada vez mais acelerado, no qual as atividades laborais têm dominado quase que a totalidade do tempo vivido para a maioria dos profissionais nas mais variadas áreas. E quanto à educação? A educação é um fenômeno intersubjetivo por natureza e requer que os partícipes de seus processos estejam disponíveis para o outro, pois ensinar transcende a técnica: mobiliza aquele que ensina a partir do resgate do que aprendeu, vivenciou, das suas relações, afetos e, assim, provoca a transformação no outro.
Os Professores, gestores, alunos, família, comunidade refletem as transformações sociais, culturais e econômicas da sociedade em sua maneira de ser, de comportarse e conviver e, até mesmo, significar suas vidas.
Optou-se estudar os aspectos intersubjetivos da vida dos docentes, figuras essenciais nos processos de ensino e aprendizagem, pelo qual a formação humana acontece, que, em função das atividades próprias da docência, por vezes, chegam comprometer até mesmo sua qualidade de vida, quando partem para uma variedade de atividades remuneradas em função de melhores condições de vida.
O objetivo geral da pesquisa: compreender o significado e o sentido da intersubjetividade na vida profissional dos professores que cursam mestrado e doutorado na Universidade Tecnológica Intercontinental- UTIC.
A partir das perguntas da investigação surgiram os objetivos específicos: 1): Compreender o significado e o sentido da intersubjetividade na vida profissional dos professores; 2): Identificar como a intersubjetividade ocorre na vida cotidiana de professores; 3): Deduzir os significados e os sentidos da intersubjetividade na vida profissional docente; 4) Compreender o significado e o sentido da intersubjetividade na vida destes profissionais nos leva a percepção do quanto à educação poderá aproxima-se ou distancia-se de sua essência. Aproximar-se e distanciar-se conforme a qualidade das relações intra e interpessoais existentes no ambiente educacional. A relevância desta investigação prende-se ao fato de compreender a intersubjetividade na vida profissional dos docentes que cursam mestrado e doutorado em Educação na Universidade Tecnológica Intercontinental UTIC. A importância desta investigação está em apontar caminhos para a qualidade na educação, pois sabe-se que embora, invistamos em aprimoramento, formação docente e programas educativos, esses não obterão sucesso se o professor não estiver aberto para recebê-los em seu mundo interior.
Antecederam a este trabalho as seguintes pesquisas que serviram como base teórica para esta investigação: no Brasil, no ano de 2015, Oliveira, M.M, mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia UFU realizou pesquisa bibliográfica intitulada A experiência da intersubjetividade como fundamento da subjetividade: a contribuição de Gabriel Marcel no processo de ensino aprendizagem. Entendendo que o relacionamento interpessoal é de suma importância no processo de ensinoaprendizagem, o pesquisador apoiou-se em autores tais como G. Marcel, M. Buber, E. Monier, J. P.
Sartre e demais existencialistas. Investigou-se o pensamento de Gabriel Marcel a respeito do relacionamento interpessoal, com o objetivo de averiguar de que modo o mesmo pode colaborar para autênticas experiências intersubjetivas no ambiente acadêmico. Estudou-se também alguns aspectos do relacionamento humano entre professores e alunos, e demais agentes envolvidos no processo cognitivo. Cantarelli (2016), apresentou ao Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Maringá no Estado do Paraná, para obtenção do título de Mestre em Psicologia, dissertação cujo tema é A subjetividade como intersubjetividade: a personalidade do professor e as suas relações com a prática docente
O autor, busca ainda apresentar o modo como os discursos orientam a forma de pensar e de agir dos sujeitos implicados, em face do que o mesmo denomina despertamento e da crítica destes mesmos discursos. Destaca-se, no estudo realizado, a valorização dos aspectos intersubjetivos do discurso e de suas representações, acessíveis aos sujeitos da docência.
2. -Os caminhos para construção do ser.
Para alcançar a compreensão sobre o fenômeno da intersubjetividade na vida profissional docente divagar-se-á os caminhos teóricos partindo das camadas mais complexas em uma abordagem interdisciplinar desde a biologia, filosofia, psicologia, antropologia, sociologia, às neurociências e seus desdobramentos na educação. É exatamente aí, na educação, que se iniciará o caminho de reflexões pelos aportes teóricos deste trabalho.
O conceito de educação passou por uma evolução histórica, ou seja, se analisássemos cada momento ao longo de nossa história perceber-se-ia que as concepções de educação estão explicitas na forma como a sociedade se relaciona com este fenômeno.
Hoje se compreende que a educação é um processo essencial para a formação do homem e do desenvolvimento social. Deste modo, Freire (2011, p. 34) enfatiza que “Não é possível fazer uma reflexão sobre o que é a educação sem refletir sobre o próprio homem”.
Logo refletir sobre o próprio homem requer que pensemos não apenas sobre a nossa história, mas que, recorrendo a ela, possamos entender a nossa natureza. "é a criatura que está em contínua procura de si mesmo e que todos os momentos de sua existência, precisa escrutar as condições da mesma." (Cassier, 2016, p.22). Diante do exposto, o homem deve questionar-se a fim de conhecer-se, e, assim, realizar-se. Na busca pelo conhecimento de si e superação da ignorância o homem realizou conquistas históricas. Freire (2011) diz que para conhecer a natureza do homem é preciso que o entendamos sob o prisma filosófico-antropológico: Comecemos por pensar sobre nós mesmos e tratemos de encontrar, na natureza do homem, algo que possa construir o núcleo fundamental no qual sustente o processo de educação (Freire, 2011; p 33).
A concepção de inteligência desenvolvida por Piaget (1999) ilustra a questão da inclonclusão do homem, pois que esta é, segundo as palavras do autor, “[...] como desenvolvimento de uma atividade assimiladora cujas leis funcionais são dadas a partir da vida orgânica e cujas sucessivas estruturas que lhe servem de órgãos são elaboradas por interação dela própria com o meio exterior”. (p. 336). Assim, fortalece a idéia de que o homem não nasce preparado para a atividade inteligente, pois até mesmos as estruturas cerebrais necessárias à atividade inteligente são desenvolvidas gradativamente, em interação com o meio, ao longo da vida. Dantas et al. (1992) apontam para o inacabamento do homem presente em Wallon: “A construção do eu é um processo condenado ao inacabamento: persistirá sempre, dentro de cada um, o que Wallon chama de “fantasma do ouro”, de sub-eu (sousmoi). O médico, psicólogo e professor Henry Wallon, buscou, assim como Piaget, estudar o desenvolvimento humano a partir da perspectiva genética, porém aponta para a importância da afetividade neste processo de construção do homem. Vygotsky (1989) coaduna a teoria de que o homem se constrói e o concebe como ser socialmente inserido em um meio que é historicamente construído. O meio é veiculador da cultura que se constitui como fonte de conhecimento.
Aprender a conhecer. Mas, considerando as rápidas alterações suscitadas pelo progresso científico e as novas formas de atividade econômica e social, é inevitável conciliar uma cultura geral, suficientemente ampla, com a possibilidade de estudar, em profundidade, um reduzido número de assuntos. Essa cultura geral constitui, de algum modo, o passaporte para uma educação permanente, à medida que fornece o gosto, assim como as bases, para aprender ao longo da vida (Delors 2010, p.13).
Aprender a conhecer permite que o indivíduo conheça o mundo no qual está inserido. Este nos remete ainda a reflexão sobre os aspectos motivacionais no ato de aprender. Quando o aluno alcança um novo conhecimento é levado a querer aprender mais, porém, para que isso aconteça o aluno deve encontrar motivos para aprender.
2.1.-O processo de construção do ser: ensinar e aprender.
A ação docente se dá no espaço indissociável que é o processo ensinoaprendizagem, pois, sendo a concretização do ato de educar, não se pode tratar do ensino sem considerar a aprendizagem e vice-versa. Desta maneira discorrer-se-á, inicialmente, sobre o fenômeno do ensino e da aprendizagem a fim de contextualizar as reflexões sobre a construção do ser docente.
Para Braga (2017), “O processo ensino-aprendizagem é um dos processos mais complexos e fascinantes do pensamento humano.” O verbo ensinar, do latim insignare, significa marcar com um sinal, que deveria ser de vida, busca e despertar para o conhecimento. Aprender, por sua vez, significa adquirir conhecimento (de), a partir de estudo; instruir-se. Porém, o sentido dicionarizado não alcança a complexidade das expressões, nos remetendo à educação bancária proposta por Freire, na qual o professor expõe os conteúdos e o aluno o recebe passivamente. Rogers (1858-1917), partindo da perspectiva de um ensino não diretivo, caracterizado pela educação centrada na pessoa, assim como sua abordagem psicológica está centrada no cliente, faz uma diferenciação entre ensinar e educar.
Sabendo-se que estas duas vertentes fazem parte do processo de aprendizagem do indivíduo, uma vez que o ensinar limita-se a uma linguagem técnica de instruir, reproduzir o conhecimento, enquanto que o educar vai além desta ideia, possibilitando ao sujeito liberdade de criar e recriar, de pensar e produzir insights que impulsionam seu potencial cognitivo, proporcionando mais satisfação em aprender, numa perspectiva de um ensino não diretivo. (Rogers, 1958; p. 103).
2.2.-Reflexões sobre a profissão docente.
Há muitas expectativas, quanto à atuação profissional dos docentes e espera-se que, a partir de mudanças em suas práticas educativas, a educação se transforme e assim também a sociedade. Acreditar na educação como promotora de transformações faz sentido.
É preciso atentar para a responsabilidade do professor nesse processo, pois ele sozinho não pode ser visto como o “salvador” em função de as melhorias na qualidade da educação refletirem o desenvolvimento da própria sociedade, que perpassa por fatores econômicos, sociais, políticos, culturais.
O trabalho do professor, segundo Freitas et al (2011), requer saberes especializados e estruturados por múltiplas relações, nas quais o processo de humanização - do professor e dos sujeitos com que interagem no contexto do trabalho - é continuamente forjado. O professor humanizado é sensível às necessidades dos seus alunos, e, da mesma forma, deve educar para que o seu aluno se torne sensível. A sensibilidade é uma forma de conhecer o mundo e não deve ser desprezada.
Porém, antes de tudo, para que um docente possa educar para o sensível, ele precisa ser sensível. Dantas (1992, p. 206) diz “que na realidade, uma educação sensível só pode ser levada a efeito por meio de educadores cujas sensibilidades tenham sido desenvolvidas e cuidadas”.
Por conseguinte, quando se trata do profissionalismo docente, o conhecimento técnico é apenas um dos vários aspectos a serem considerados, pois o professor é um ser com o compromisso de despertar no outro o desejo de aprender, necessitando que este profissional possua habilidades e competências múltiplas que o permita se relacionar com o outro, compartilhar vivencias, aprendizagens e lidar com a complexidade das manifestações afetivas envolvidas no seu cotidiano. Os múltiplos papéis desempenhados pelo professor na sociedade impõe que este esteja preparado, desenvolvendo habilidades e competências novas em um processo contínuo de formação. Não há um único conceito de competências, sendo necessário, entendê-las sobre vários ângulos, em Construindo o conceito de competência Fleury e Fleury (2016, p. 184).
2.3.-A intersubjetividade na vida profissional docente.
Diante do que foi anteriormente exposto buscou-se compreender o significado e o sentido da intersubjetividade na vida profissional do docente, portanto cabe-se, entender primeiramente o que é significado e sentido. Em seu artigo: “El aprendizaje y el enfoque histórico cultural- sentido y aprendizaje”, Fernando Luís González Rey recorre a Vygotsky (p. .275) para diferenciá-los. Assim:
A intersubjetividade é uma temática complexa e própria da fenomenologia, pois que representa a conexão entre as várias subjetividades em um dado contexto. Os conceitos de intersubjetividade desenvolvidos apresentam uma perspectiva interdisciplinar. Desta forma, denota comunicação das consciências individuais, umas com as outras realizadas com base na reciprocidade. Ou ainda a relação entre sujeito e sujeito e/ou sujeito e objeto.
A intersubjetividade é inerente a existência humana. Os neurocientistas confirmam que somos biologicamente preparados para nos conectar aos outros. Goulart (2007) expõem:
Também estudos neurocientíficos demonstram que temos um potencial genético humano (dependente dos polipeptídios de DNA que estão na memória evolutiva para que sejamos humanos), mas precisamos de um potencial genético inter-humano, uma relação self-não- self para formarmos o nosso próprio self. Dessa forma a maturação e o desenvolvimento das tendências cognitivas do ego estão na dependência da interação afetiva como objeto (interação entre estruturas corticais cognitivas e estruturas subcorticais afetivas mediadas por um neurotransmissor liberado durante a relação afetiva intersubjetiva). Produz efeito de desenvolver circuitos neurais no córtex pré-frontal. (Goulart, 2007, p. 2).
E se penetro mais adiante nos horizontes daquilo que lhe pertence, logo me defronto com o seguinte fato: da mesma forma que seu organismo corporal encontra-se no meu campo de percepção, assim também o meu se encontra no campo dele e, geralmente, ele me apreende de maneira igualmente imediata como outro para ele, assim como eu o apreendo como “outro” para mim (Husserl, 2001, p. 143).
Na escola, enquanto espaço intersubjetivo, se realizam encontros entre os docente e várias subjetividades: professores, alunos, gestores, família, comunidade e colaboradores da escola. Uma vez que o professor se introduz no espaço escolar e exerce o seu papel, é reconhecido como uma consciência independente e diferenciada das demais. Ou seja, é reconhecido pelos demais como um profissional cujas atividades e funções são diferenciadas na escola, porém a apreensão do ser professor pelos outros é o que os identifica e os aproxima, pois na medida em que o ser professor apresenta-se no campo perceptivo do outro, este outro igualmente é percebido por ele.
O ser professor é apreendido, mas também apreende o outro, percebe e é percebido. Cabe ressaltar que a escola deve propiciar condições para que este encontro aconteça. Aos professores, no entanto, é essencial penetrar na consciência dos alunos, pois que este movimento em direção à percepção do outro, é essencial para que a alteridade aconteça e o respeito aos limites alheios.
Há uma dimensão intersubjetiva no pensamento do filósofo austríaco Buber (18781965), ao acrescentar às discussões existencialistas que a existência do homem emerge do encontro dialógico entre eu e tu. Nessa esfera inter-humana da relação eu-tu, o ser humano atinge o seu ser e se integra totalmente ao mundo.
As contribuições de Heidgger (1989-1976), filósofo alemão, quanto a intersubjetividade, partem de sua conceituação de “ser-com” (cuidado). Para ele, o que constitui ontologicamente a existência humana é o “ser-com”. O viver humano é uma eclosão que acontece no encontro eu - outro.
O trabalho do professor existe em função de outros indivíduos no contexto escolar. O sucesso em suas atividades se realiza no seu encontro com os outros. Entende-se encontro como algo consensual entre os partícipes do processo educativo. É preciso que todos os profissionais da educação empreendam no sentido de alcançar objetivos comuns, em uma força conjunta em prol do desenvolvimento integral do educando. Assim, na perspectiva de Heidgger, transpondo-a para a educação, o professor não existe enquanto profissional independente. O seu trabalho é para e com o outro e este encontro pleno e harmônico na instituição escolar consiste na base para o sucesso da educação.
O mundo do profissional docente é um “mundo compartilhado” como proposto por Heidgger. Ele é um profissional cujo desempenho está vinculado à natureza de suas relações no seu campo de trabalho. Sua participação no mundo subjetivo do outro é inerente ao ser professor, de forma que a qualidade do seu trabalho não dependerá dos seus saberes científicos e das suas técnicas simplesmente.
A complexidade de sua profissão consiste em saber viver junto com outros indivíduos, com outras subjetividades, fazer fluir os seus propósitos educativos, que não devem ser diferenciados dos demais profissionais envolvidos no processo educativo. Se a escola é um local de socialização secundária, está entre a família e a sociedade, e é nela que as diferenças são experimentadas pelo aluno.
3.-Metodologia.
A pesquisa teve o enfoque qualitativo, se dá quando se busca compreender a perspectiva dos participantes (indivíduos o grupos pequenos de pessoas que se investigará) acerca dos fenômenos que os rodeiam, aprofundar suas experiências, perspectivas, opiniões e significados, ou seja, a forma em que os participantes percebem subjetivamente sua realidade (Sampieri, Colado e Lucio, 2010). Isto foi realizado por meio da entrevista aberta. O método consiste no fenomenológico é um método do paradigma compreensivo no qual se pretende, segundo Guerra (2016, p. 27), “apreender a lógica dos fenômenos subjetivos.
Com base nos objetivos da pesquisa esta é classificada como descritiva, pois, visa descrever os fenômenos.
Utilizou-se a amostragem do tipo não probabilística intencional ou por julgamento. Em amostragens não probabilísticas o investigador não conhece a probabilidade de selecionar uma unidade de análise na amostra e, segundo Alvarenga (2010, p. 68): “o investigador é quem escolhe a amostra seguindo alguns critérios de acordo ao problema e objetivos da investigação.” A população: A intersubjetividade dos professores que cursam mestrado e doutorado na Universidade Tecnológica Intercontinental- UTIC, e sua vida profissional docente: um estudo qualitativo ano de 2015, Assunção, Paraguai, são 34 professores dos quais 4 foram escolhidos como amostra.
A seleção de amostra sistêmica intencional nesta investigação obedeceu aos seguintes critérios:
• Tempo de experiência docente mínima de dez anos;
• Trabalhar em mais de uma instituição de ensino ou nível escolar.
• Cursar mestrado e doutorado.
Alguns dados foram coletados em sala de aula através de um questionário estruturado em três seções distintas a fim de obter informações pessoais, acadêmicas e profissionais dos sujeitos conforme gráficos e tabelas que seguem abaixo:
Tabela 01: Quantidade de Mestrandos e doutorandos
Curso Mestrado Doutorado Total de acadêmicos Número de alunos 17 17 34 Importar tabla
Fonte: elaboração própria.
Os instrumentos foram aplicados com início no dia 19 a 27 de janeiro de 2016: foram entregues ofícios (pedido de autorização para pesquisa) onde contém as explicações sobre o objetivo da pesquisa, a solicitação para colaboração e permissão para a realização da pesquisa junto aos professores que cursam mestrado e doutorado em Educação na Universidade tecnologia Intercontinental, UTIC. Em seguida, foram feitos os esclarecimentos das possíveis dúvidas contidas na entrevista aos seus respectivos ofícios, e finalmente realizada aos informantes selecionados.
Os dados foram coletados a partir das entrevistas com os participantes através de um gravador de voz. Para cada participante foi estabelecido um protocolo com informações sobre os sujeitos da investigação, dados pessoais, tais como idade, sexo, estado civil, informações sobre a sua formação e o trabalho docente bem como duração de cada entrevista. Contudo as informações pessoais dos participantes da investigação foram preservadas e estes receberam um código de identificação. Os dados coletados foram tratados de acordo com os procedimentos técnicos da análise de conteúdo, que segundo Bardin (2011) caracteriza-se por:
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (Bardin, 2011, p. 47).
A análise de conteúdos se processou da seguinte forma:
1º.- Explorou-se o material coletado realizando inúmeras leituras flutuantes das entrevistas transcritas visando à apreensão do mesmo, que possibilitou conhecer os conteúdos para posteriores inferências, comparações e destacar aspectos relevantes ao trabalho.
2º.- Selecionou-se as unidades de análise, que consistiram em trechos, frases e parágrafos, da fala dos participantes transcritas. Os trechos foram escolhidos conforme estes se adequavam as questões norteadoras da investigação.
3º.- Classificação dos elementos em categorias. As categorias utilizadas na investigação caracterizam-se como não apriorísticas, pois que emergiram das respostas dos sujeito. As unidades de análise foram agrupadas considerando as relações existentes entre elas em torno dos objetivos.
4º.- Análise das categorias
5º.- Validação externa dos resultados por juízes - Psicólogos.
4.-Discussão dos resultados.
O grupo social que circunscreve esta investigação é composto por docentes cursistas de pós-graduação strictu sensu– mestrado e doutorado em Ciências da Educação na Universidade Tecnológica Intercontinental – UTIC em janeiro de 2016.
Das informações pessoais identificou-se que a faixa etária predominante tanto para os que cursam mestrado quanto doutorado é entre 41 a 50 anos. No mestrado 35% (gráfico 01) e no doutorado 41% (gráfico 02), encontram-se na mesma faixa etária. Quanto ao sexo, os mestrandos e doutorandos são, em sua maioria, mulheres – 59% (gráfico 03) cursando mestrado e 78% de mulheres (gráfico 04) doutorado. O número de mestrandos cujo seu estado civil é casado corresponde em igual proporção ,47% (gráfico 05) ao número de solteiros- 47%. Apenas 6% são divorciados.
Coincidentemente no curso de doutorado a proporção entre casados e solteiros é a mesma- 41% casados, 41% solteiros, contudo o número de divorciados aumenta para 18%(gráfico 06). Sobre o número de filhos entre os cursistas de mestrado- 72%- possui filho (gráfico 07) e a maioria- 46%- possui 2 filhos. O mesmo ocorre no doutorado. 81% possuem filhos (gráfico 09) e a maioria- 40%(gráfico 10) possui dois filhos.
Os docentes são originários de vários Estados brasileiros. Encontraram-se, entre os mestrandos, pessoas cujas sua origem foi assim representada 31% Sergipe, 13% Rondônia, 19% Amapá, 13% Bahia,6% Santa Catarina, 6% Rio de Janeiro e 6% São Paulo. (Gráfico 11). No doutorado encontram-se 20% de Rondônia, 27% do Ceará, 13% de Santa Catarina, 6% do Amapá, 27% do Piauí e 7% da Bahia. A distribuição entre o número de pessoas por cidade e Estado correspondente encontra-se ilustrada na Tabela 01 e 02 respectivamente.
Obedeceu-se aos critérios citados e foram selecionados dois professores do curso de mestrado e dois professores do curso de doutorado em Ciências da Educação da referida universidade.
As entrevistas transcorreram em ambiente reservado, sem interferências externas. Os dados foram coletados através de um gravador de voz, e para cada entrevista foi estabelecido um protocolo com informações sobre os sujeitos da investigação, dados pessoais, tais como idade, sexo, estado civil, informações sobre a sua formação e o trabalho docente bem como duração de cada entrevista. Posteriormente as entrevistas foram transcritas e arquivadas.
1º objetivo: Compreender os significados e sentidos de ser professor.
Na primeira categoria foram identificados nas entrevistas os sentidos e os significados de ser professor destacando-se nas falas dos sujeitos o que é ser professor:
Tabela 02: Quanto os significados e sentidos de ser professor.
Prof. (a) Resposta M01 “Digo todos os dias: do portão da escola para fora, meu nome é “E. R”. “E” depois do portão: um cidadão comum”. D02 “Antes de qualquer coisa, antes de sermos profissionais formados em uma academia, nós somos pessoas comuns.” Importar tabla
Fonte: dados da pesquisa.
As falas dos professores nos remetem as reflexões acerca da construção da identidade profissional do docente. A identidade profissional do professor não está dissociada de sua identidade pessoal, de forma que em sua prática está impressa a marca da pessoa que ele é. A fala dos participantes está em consonância com o pensamento da autora Jennifer Nias (Nias apud Nóvoa 1992, p.07) quando diz que o docente não é apenas um profissional, antes de tudo, ele é uma pessoa que recebeu, na sua constituição, enquanto pessoas as influenciam dos professores que teve e daquilo que lhes foi ensinado, de forma que os professores fazem parte do seu ser. .
Esta visão humanista que é pensar no professor como uma pessoa implica em atentarmos para as suas questões subjetivas que se mesclam intensamente com o seu lado profissional de forma a influenciar a sua ação docente, os seus relacionamentos no ambiente escolar, as motivações para ensinar e, consequentemente, a qualidade do ensino.
Visto que o ser o professor é antes de tudo o ser pessoa, então as suas características pessoais influenciarão na sua forma de lidar com as questões e as dificuldades do processo educativo nas instituições de ensino. Na fala dos participantes percebe-se nitidamente que as suas características pessoais encontram-se impregnadas em sua prática docente.
Tabela 03: Quanto os significados e sentidos de ser professor.
Prof. (a) Resposta M01 “[...] Fazem reunião pedagógica, PPP...agente coloca tudo ali, mas vai tudo para a gaveta. E quando você cobra dizem: ah, não tem isso, não tem aquilo, não posso isso, não pode aquilo. Nunca podem nada! Então, hoje para você ser professor...você tem que ser bastante criativo. M02 “A gente que trabalha com escola pública, eu mesma que sou muito daquelas que gostam de pegar e fazer...ninguém me conta um problema que não vai ter solução.” Importar tabla
Fonte: dados da pesquisa.
Percebe-se que a criatividade, a persistência e o comprometimento quanto aos objetivos da educação fazem parte do universo do ser professor. Além do que, as características pessoais do professor também exercem influencias na formação pessoal do seu aluno, servindo de modelo e de referência. Assim como a ética e o respeito também são apontados como condutas que devem ser presentes na vida diária dos docentes. Desta forma ressalta
Tabela 04: Aos objetivos da educação fazem parte do universo do ser professor.
Prof. (a) Resposta D02 Sou professor no ensino regular das minhas filhas, então elas tem que ver o pai em casa e tem que ver o profissional. Elas tem que ver o que eu cobro delas em casa, os valores, a moral, a ética, o respeito, a conduta diária e profissional como estudantes elas tem que comparar e ver que eu mantenho o meu discurso na sala de aula como professor. Importar tabla
D01 [...] mas também a sua própria vivência, deixar transparecer a boa conduta, a moral, a ética, o respeito, os valores da família, que é importante.
M01 “Eu trabalho em três escolas diferentes e em todas elas é um
planejamento diferente...é um professor diferente. É um “X” diferente.” Fonte: dados da pesquisa.
O professor manifesta a ideia discutida sobre a educação não intencional, que seria educar pelas palavras pronunciadas, pelos atos praticados, que seriam, para o autor, uma influência contínua na vida dos educandos. Esta seria uma educação que não cessaria jamais.
Também se encontra explicito no discurso dos professores que estes conhecem a importância de sua maneira de ser e que a sua subjetividade influencia na construção pessoal do aluno, assim como tratado por Bandura (1977) quando se refere ás aprendizagens pela reprodução de modelos, nos quais os comportamentos observados no outro servem de guia para ações posteriores quando o indivíduo, ao observar o outro, forma idéias de como poderia executar novos comportamentos. Desta forma, cabe ao ser professor ensinar valores através de sua própria conduta.
Assim o professor não deve se ater apenas aos saberes intelectuais, como expressa Há um aspecto interessante identificado: na identidade do docente, cabem múltiplas formas de atuar, que o professor articula a fim de empatizar com o seu aluno. A este respeito, M01 diz:
Assim, o professor adéqua a sua atuação conforme o perfil de sua clientela e o contexto ao qual está inserido. Usa linguagens, recursos, práticas, formas de avaliar e se relacionar diferenciados de acordo com o perfil dos seus alunos e da escola. Isso nos remete a função do educador em Madalena Freire (2008) quando esta se refere ao docente como um leitor de desejos, que deve dentro do seu ensinar aprender a ler as vontades, interesses e necessidades dos seus alunos. 2º objetivo identificar como a intersubjetividade ocorre na vida cotidiana dos profs.
Da análise de conteúdos na segunda categoria intersubjetividade na vida cotidiana dos professores identificou-se os seguintes aspectos:
É imprescindível que na ação docente haja espaços para as relações intersubjetivas, de modo que os partícipes do processo educativo possam relacionar-se, e, dentro destas relações, reconhecer o outro como um ser que difere de si, respeitando, assim, os limites desta subjetividade do outro.
Estabelecer limites entre a relação com o aluno é entendida como uma forma de profissionalismo pelo docente, mas por outro lado esta distinção não pareceu nítida no conteúdo expresso em suas falas como, por exemplo, destaca-se na fala de M01 que este diz ser amigo do aluno, mas não para beber ou conversar livremente sobre certos temas que considera sem importância, e, este mesmo professor, ressalta a necessidade de manter um diálogo profissional com o seu aluno em alguns momentos. Assim, os participantes expressam:
Tabela 05: Análise de conteúdos na segunda categoria intersubjetividade na vida cotidiana dos professores.
Prof. (a) Respostas M01 “[...] Amigo do aluno, de partilhar, de conversar, não de sentar em barzinho para beber... e nem de ta discutindo problemas que não tenham nada a ver.” M01 “Minha relação com os meus alunos é uma relação boa...eu diria boa, mas tem momentos que você tem que ser profissional. Ir para o diálogo profissional[...].” M02 “Eu vou suprimir algum tempo do meu planejamento, vou deixar de cumprir com as atividades do meu planejamento, pra tá ouvindo, ou pra estar conversando, e para estar fazendo esta troca.” D01 “Então, essa intersubjetividade, quer querendo ou não ela acaba aparecendo pelo contato diário excessivo nós acabamos deixando transparecer a alguém algo positivo ou algo negativo.” Importar tabla
Fonte: dados da pesquisa.
Entende-se que este diálogo profissional pelo professor represente uma busca por certo distanciamento na relação com o aluno. Este esforço para manter uma distância profissional do aluno é compreendido por uma tentativa de objetivar o ser humano. Talvez aí esteja a raiz da dificuldade na percepção destes limites pelo profissional docente na sua vida pessoal, pois no encontro entre o ato de ensinar e aprender há uma ebulição e deste encontro resulta muito mais que uma relação profissional como frisa Goulart (2010).
Esta dificuldade é também percebida nos limites entre o eu e o tu na relação dialógica entre o professor e o aluno manifesta na fala de M02 quando revela que não consegue utilizar os recursos disponíveis para estabelecer o diálogo com o seu aluno, chegando ao ponto de suprimir o seu planejamento. Contudo, o espaço pedagógico é também um espaço intersubjetivo no qual se pode dialogar com seu aluno espontaneamente no seu cotidiano. Assim como afirma: A intersubjetividade do docente com os colegas se restringe a um intervalo entre uma aula e outra nos corredores da escola.
Tabela 06: O espaço pedagógico é também um espaço intersubjetivo no qual se pode dialogar com seu aluno espontaneamente no seu cotidiano.
Prof. (a) Respostas D01 “Momentos minúsculos é o tempo que nós temos entre um intervalo, entre uma aula e outra, troca de salas, ali tem alguém que está com dois, três dias que não se vê e de repente quando lhe vê e percebe que você não está com a mesma disponibilidade e a mesma alegria de antes... então alguém pergunta: Está acontecendo alguma coisa? Eu passei por você e vi que não está alegre e feliz. D02 “Também no intervalo que temos, meia hora, entre o intervalo para um lanche, uma coisa, nós temos oportunidade, na sala dos professores, de expor ali, ouvir os colegas, entender um pouco, saber uma notícia boa ou ruim, mas é o nosso espaço, é o nosso momento.” D03 Por exemplo, no dia de quarta-feira, que eu apenas dou expediente na Educação de jovens e adultos das 18h30min às 20h30minh, eu ligo para minha família, a gente se encontra numa pizzaria que fica próxima a escola. Então é o momento ali que eu tenho para minha família. É um momento que eu aproveito. Importar tabla
Fonte: dados da pesquisa.
Da mesma forma, em função da carga horária de trabalho, o tempo destinado para o encontro com a família também é reduzido e o docente se exprime entre as atividades laborais e a sua família. Percebe-se que o docente descobre alternativas para manter os laços afetivos familiares e a inter-relação com os colegas na escola, mesmo na ausência de momentos específicos para isso no seu fazer diário. Com isso adquirem uma certa sensibilidade de perceber o outro enquanto ser subjetivo.
Conforme revelado pelo sujeito D01 em sua fala:
Tabela 07: Em função da carga horária de trabalho, o tempo destinado para o encontro com a família também é reduzido.
Prof . (a) Respostas D01 Mesmo que não seja de forma verbalizada, mas através de outras ações. Nós temos oportunidade de falar, expressar os nossos sentimentos, nossas angústias, nossas vivências, até mesmo exemplos, em conversas com os colegas. Nós não sabemos o problema do outro. Às vezes tem um problema que você não conhece. Às vezes no momento da conversa, ali, você no momento é. minúsculo você acaba contando situações gigantescas de forma bem objetiva e bem prática e alguém passa conhecer um pouco mais de você e de sua história e que você também é um ser que tem limitações”. M02 Comigo é muito difícil porque como eu trabalho com crianças de seis e sete anos, o intervalo que é de direito do professor, quinze minutos, que eles vão para sala e é apenas nestes quinze minutos que eles têm essa troca, é, eu não vou. Eu sempre fico acompanhando os meus meninos na recreação. Para evitar maiores problemas, né? E aí e, eu não consigo estar participando. Importar tabla
Fonte: dados da pesquisa.
No entanto, há ainda alguns entraves de ordem pessoal e laboral que obstaculizam as relações intersubjetivas do professor em sua prática docente.
Embora esses espaços para trocas no interior da escola sejam suprimidos, necessitamos realizá-las, pois que é a partir delas que nós desenvolvemos e crescemos enquanto seres humanos. D’acri (2014) afirma que é através do contato que se torna possível a realização de trocas entre o indivíduo e o ambiente, necessários ao crescimento e desenvolvimento humanos. O modo como o professor enxerga a natureza de suas responsabilidades na escola poderá determinar o tempo que este destina para as relações interpessoais e também para suas questões pessoais.
3º. objetivo deduzir os significados e os sentidos da intersubjetividade na vida profissional docente.
Quanto aos significados da intersubjetividade na vida profissional docente percebeuse que esta significa um espaço para conversar e trocar ideias com os colegas, conforme expressa M01em sua fala:
Tabela 08: Na vida profissional docente percebeu-se que esta significa um espaço para conversar e trocar ideias com os colegas.
Prof. (a) Respostas M01 “Só que existe esse espaço de você conversar com o colega? Existe. Você conversa, você troca ideia, mas a realidade de um nunca é a do outro”. D02 “Então essa intersubjetividade é esse estar interno de nós pelo nosso propósito, nosso projeto, até porque se formos olhar pela questão material poucos estariam na profissão docente.” Importar tabla
Fonte: Dados da pesquisa.
Porém percebe-se ainda na fala de M01 que a intersubjetividade não é simplesmente trocar ideias, se faz necessário que um indivíduo se identifique com o outro, compreenda a sua realidade, o seu mundo. Seria esta compreensão sobre o mundo subjetivo do outro o elemento de conexão entre o eu e o tu essencial para que a alteridade se realize. Para que, ao se colocar no lugar do outro, o docente possa respeitar o outro e, a subjetividade do outro, e assim possa também ser percebido e respeitado enquanto profissional na instituição escolar. Um outro aspecto relevante do significado de intersubjetividade emerge da fala de D02:
Da fala de D02, Identifica-se que a intersubjetividade significa também consciência de coletividade diante de um propósito, que para o docente transcende ao profissionalismo, ou seja, as responsabilidades e obrigações profissionais, que está associada a um projeto individual do docente, no qual as questões materiais não são importantes, pois que é também um projeto de vida. A consciência de um objetivo quando partilhada com os outros colaboradores da escola é fundamental a formação de equipes de trabalho, fundamentais para que a educação aconteça. Assim, as competências individuais em uma escola só se desenvolverão se houver esta consciência de coletividade pelos partícipes do processo educativo. Dejours (1997) se refere a isso quando diz que competência humana depende do contexto ético e social, tanto do sujeito quanto do outro, ou seja, depende do coletivo.
Quanto aos sentidos da intersubjetividade, as formas como os professores a percebem em sua vida profissional docente, M01 expressa que é compartilhar os conhecimentos.
Tabela 09: Como os professores a percebem em sua vida profissional docente.
Prof. (a) Resposta M01 E o conhecimento ele é para você estar compartilhando. Você tem que dar e receber porque não é isso que a gente vive...em sala de aula a gente ta ali para ensinar e aprender com eles, não é assim? D01 O que eu devo fazer? Então há essa troca de experiência, esse pedido muitas vezes de socorro por parte dos nossos colegas. Importar tabla
Fonte: dados da pesquisa.
Encontra-se em Goulart (2010) que há uma interação entre as ações daquele que ensina e quem aprende, ao considerar que quem ensina também aprende algo, seja refazendo sua prática ou refletindo sobre ela, seja pelas relações construídas com seus alunos. M01 manifesta a relação recíproca entre ensinar e aprender como dar e receber. M01 faz referência a esta relação recíproca ao tratar da intersubjetividade entre os colegas docentes quando estes conhecimentos são partilhados na escola com os demais profissionais, e estes se doam reciprocamente, no que diz respeito aos conhecimentos, assim como acontece entre os professores e alunos no interior de uma sala de aula, eles solidarizam os saberes ao mesmo tempo em que fortalecem as relações interpessoais.
Em conformidade com as ideias expressadas anteriormente, manifestam-se os sentidos da intersubjetividade e em M01, percebeu-se que está também possui um sentido de união entre os docentes, é dar as mãos, falar a mesma língua nos remete novamente aos objetivos da educação como sendo dependentes destas relações que o docente estabelece no âmbito escolar em prol da aprendizagem do aluno. Tabela 10: Na concepção de união como valor compartilhado pelos docentes, coloca o trabalho em equipe como reflexo da intersubjetividade dos professores em sua vida docente.
Prof. (a) Respostas M01 Uma escola que tem um grupo unido ela avança bem mais. Independente de salário, independente de escola bonita. Aquela união que diz assim: vamos falar a mesma língua? Vamos! O aluno tem que aprender, o nosso objetivo aqui é ensinar, é trabalhar o conhecimento do aluno. Vamos fazer isso? Vamos dar as mãos? D01 E a gente com essa troca eu acredito, que essa questão de lidar com os sentimentos, é outra coisa também que eu enfatizo bastante quando a gente se encontra tem a questão do abraço, da gente dar a mão, estar ombro a ombro e agente ter aquela conversa sadia entre o grupo tanto em uma escola quanto nas demais escolas que eu trabalho. Importar tabla
Fonte: dados da pesquisa.
Na concepção de união como valor compartilhado pelos docentes, coloca o trabalho em equipe como reflexo da intersubjetividade dos professores em sua vida docente. Ressaltando que este tipo de trabalho favorece a intersubjetividade na vida profissional do docente, mas, pode ser um fator de redução do isolamento dos professores, sendo também uma forma eficaz de solucionar os problemas, numa abordagem que priorize o “nós”, ao invés do “mim”, sendo fundamental para tanto, que os docentes recebam oportunidades para o desenvolvimento e aprendizagem constantes nesse sentido. Identifica-se na fala dos sujeitos outro sentido apontado pelos docentes, que é de fundamental importância para a compreensão da intersubjetividade na vida profissional deles. Trata-se da afetividade que é percebida como a expressão dos sentimentos dos docentes em seu cotidiano. Assim, no que diz respeito à expressão dos sentimentos entre os docentes fala D01:
Fala de D01 também nos remete ao pensamento de Muller (2000), ao afirmar que quando os relacionamentos se baseiam na afetividade, estes passam a ser produtivos e auxiliando tanto os professores quanto os alunos na construção do conhecimento e tornando a relação entre os dois menos conflitante, pois permite que ambos se conheçam, se entendam e se descubram como seres humanos e possam crescer.
Desta forma, intersubjetividade significa, para os docentes investigados, o diálogo no qual não basta apenas trocar ideias com os colegas docentes, é uma comunicação permeada pela sensibilidade de captar a subjetividade do outro, e assim compreender o mundo alheio. O eu e o tu se vinculam na relação entre os docentes, a partir desta comunicação, que é permeada de afetos e faz com que o professor perceba o outro como um ser diferente dele na medida em que este se dispõe a compreendê-lo.
A intersubjetividade significa também consciência de uma coletividade em função dos objetivos educacionais, que uma vez partilhados, fundamentam o trabalho em equipe na escola, que motiva também para cada um exerça as suas funções e se envolvam no processo educativo. Ressalta-se, porém, algo interessante quanto aos objetivos educacionais. Estes são internalizados pelos docentes de tal forma a integrar os seus objetivos pessoais. Talvez isso decorra da própria cultura a muito difundida em nossa sociedade de que a docência é um sacerdócio, no qual o docente possui uma missão de caráter social impagável.
5.-Conclusão.
Para compreender o que havia na consciência dos docentes investigados sobre a intersubjetividade na vida profissional do professor, fez-se necessário entender, primeiramente, quem é o professor e quais os sentidos e significados que estes atribuem a sua profissão. Então, nesta primeira categoria obteve-se que ser professor é ser uma pessoa comum, mas que nem todas as pessoas comuns serão bons professores, visto que é necessário, para o exercício da docência, possuir algumas habilidades tais como: a criatividade, a persistência e determinação, além de competências técnicas. Ademais, ser professor é ser multifacetado, a fim de satisfazer a sua clientela, extraindo dela os seus desejos e necessidades, e considerando-as no seu fazer pedagógico.
Outro aspecto relevante inerente a profissão docente é que o professor se percebe enquanto referência ou modelo para os seus alunos, visto que seus comportamentos serão imitados, o que exige uma retidão, no que diz respeito, ao seu comportamento enquanto profissional e enquanto pessoa. Um aspecto interessante na vida profissional docente é que pessoal e o profissional estão entrelaçados, não apenas porque o professor realiza tarefas próprias de sua profissão em sua casa, mas porque nem mesmo ele consegue perceber os limites do seu profissionalismo.
Da segunda categoria, a intersubjetividade na vida dos professores, percebeu-se que a intersubjetividade na relação dialógica entre professor e aluno acontece espontaneamente na intimidade do contato estabelecido entre eles em sala de aula, pois professores mostram-se receptivos a esta relação. Mesmo que abertos a esta relação com o aluno, os professores ainda não a percebem como uma oportunidade de otimizar as situações de ensino. Não há espaços e momentos ideais para que as relações intersubjetivas aconteçam no âmbito escolar, porém eles conseguem se expressar e perceber os outros docentes através da alteração nas suas atitudes e comportamentos. No entanto, é na família que as relações intersubjetivas ficam comprometidas, uma vez que as atividades da vida profissional do docente, o afastam cada vez mais do contato com os seus familiares.
Na terceira categoria, os significados e os sentidos da intersubjetividade na vida profissional do docente, deduz-se que a intersubjetividade significa comunicação das consciências individuais dos docentes, umas com as outras realizadas com base na reciprocidade no diálogo voltado para compreensão do outro e de uma consciência de coletividade em função dos objetivos da educação, que fundamentam o trabalho escolar e a existência da própria escola, pois que esta é um espaço essencialmente intersubjetivo. O seu sentido está, para os docentes, na partilha de conhecimentos e experiências pedagógicas, trabalhar em equipe e afetividade, enquanto expressão de sentimentos.
Compreende-se que a intersubjetividade dos professores na sua vida profissional docente, não se restringe a sua atuação profissional, exerce uma influência desde a sua formação pessoal sendo responsável pela construção de uma identidade profissional, uma vez que são estas relações intersubjetivas que o professor desenvolve ao longo de sua vida que o constituem subjetivamente. As suas características pessoais, suas vivencias, sua história de vida, sua concepção de educação e também a forma como concebe a sua profissão, a sua identidade enquanto docente, influenciam na sua disponibilidade para estabelecer contato com os outros no âmbito escolar.
Destaca-se que as relações entre as pessoas são impactantes, pois, na medida em que um indivíduo percebe o outro este é percebido, quando se ensina também se aprende, uma vez que se abre para receber o outro em nosso mundo interior modificamos e somos modificados mutuamente. A escola é um terreno que abriga uma teia de relações interpessoais e deve ocupar-se da qualidade destas relações para a excelência do ensino, o sucesso na aprendizagem e uma educação transformadora.
Referências
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Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. Trad. Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: Edições 70
Freire, P. (2011). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 42ªed. São Paulo: Paz e Terra.
Sampieri, R., Collado C.F., Lucio, P.B. (2010). Metodologia de Pesquisa, 3 ed. – São Paulo: Mcgraw-Hill.
Vygotsky, L.S. (1989) Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes.