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O POPOL WUJ COMO FERRAMENTA DE ENSINO NA ERA DA INFORMAÇÃO
Ana María Barrera Conrad Sackl
Ana María Barrera Conrad Sackl
O POPOL WUJ COMO FERRAMENTA DE ENSINO NA ERA DA INFORMAÇÃO
THE POPOL WUJ AS A TOOL TO LEARN AT THE AGE OF INFORMATION
Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, vol. 10, núm. 1, pp. 215-228, 2017
Universidade Federal de Minas Gerais
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Resumo: Este artigo aborda o devir do Manuscrito do Popol Wuj (XIMÉNEZ, 1700) de origem pré-hispânica, um dos textos mais antigos das Américas, sobrevivente da colonização espanhola e conservado até a era da informação. Justifica-se seu estudo pelo fato de a obra ser largamente utilizada nas escolas da América Latina, porém pouco aproveitada no Brasil. O objetivo deste artigo é descrever alguns detalhes do trabalho de restauração do manuscrito na Newberry Library de Chicago e sua posterior digitalização na Universidade de Ohio (The Ohio State University), abordar algumas características ontológicas do manuscrito e do documento digitalizado e comentar as funcionalidades de ambas a partir do ponto de vista de autores como Genette (2009) e Biasi (2007 e 2010). Finalmente pesquisa-se a epistemologia do texto maia por considerá-lo um aporte para as discussões sobre novos paradigmas a respeito da ecologia, seguindo as considerações de di Felice (2012) sobre redes de informação. Nessa perspectiva, propõe-se que o Popol Wuj é uma ferramenta didática para o ensino interdisciplinar e intercultural.

Palavras-chave:educaçãoeducação,rederede,epistemologiaepistemologia,manuscritomanuscrito,digitalizaçãodigitalização.

Abstract: This article deals with the topic of the historical path and the future of the Popol Wuj (Ximénez, 1700), a mythic manuscript that survived the Spanish colonization. Considered to be one of the oldest Pre-Hispanic texts found in the Americas, the book has remained preserved till our Information Age. The text, widely used in Latin-American schools, is not yet well known in Brazil. The goal of this research is to understand the epistemology of the text, considering it appropriate for an ecological education, in accordance with the Net Information concepts from Massimo di Felice (2012).The article also describes some details of the restoration of the manuscript and its digitalization, done at Ohio State University. After a commentary on the ontological and functional characteristics of the manuscript and its digitalized copies, taken from the point of view of authors like Genette (2009) and Biasi (2007 e 2010), we point out that the Popol-Wuj is an efficient tool for interdisciplinary and intercultural teaching.

Keywords: education, network, epistemology, manuscript, scanning.

Carátula del artículo

Educação e Tecnologia

O POPOL WUJ COMO FERRAMENTA DE ENSINO NA ERA DA INFORMAÇÃO

THE POPOL WUJ AS A TOOL TO LEARN AT THE AGE OF INFORMATION

Ana María Barrera Conrad Sackl
Fundação Universidade Regional de Blumenau, Brasil
Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, vol. 10, núm. 1, pp. 215-228, 2017
Universidade Federal de Minas Gerais

Recepção: 26 Janeiro 2017

Aprovação: 27 Março 2017

1 O Manuscrito Ayer 1515

O Popol Wuj é uma obra literária pré-hispânica, cosmogonia da cultura Maia K'iche’ que se desenvolveu na Mesoamérica entre os séculos III a VIII d.C. (COE, 1989, p. 10). A obra narra as aventuras mitológicas de dois jovens irmãos: Junajpú e Ixbalanqué, e relata o Gênesis inicial pelos atos prodigiosos da serpente emplumada e o furacão. Versa também sobre a genealogia dos povos ancestrais da Mesoamérica. Os gêmeos heroicos estão apresentados num contexto de significação cósmica, inseridos num tempo cíclico ligado à produtividade da terra, e cujas ações guardam um valor simbólico. De acordo com Sam Colop (2011), o Popol Wuj contém a mitologia e a história do povo K’iche’ até a chegada dos espanhóis no século XVI. O relato mitológico mostra o Gênesis do mundo, os homens, os animais e as plantas. Também encontramos relatadas a origem e história dos grupos sociais da região atual da Guatemala central, de Vera Paz e o rio Candelária, com a descrição de suas dinastias, migrações, guerras e conquistas. Os relatos encontram-se referenciados em representações logossilábicas e pictóricas em monumentos, cerâmicas e códices maias.

Os habitantes da antiga Mesoamérica reconheciam a diversidade de cultos particulares de cada região e, inclusive, de cada cidade, vila e grupo social, “mas as entendiam como particularidades dentro da mesma ordem cósmica, comum a todos eles. A evangelização não significou o esquecimento das narrações mitológicas, que continuaram a ser transmitidas de forma oral” (CHINCHILLA, 2011, p. 15, tradução nossa[1]). Os escritos do Popol Wuj apresentam coerência e coesão, embora os vários textos possam ter sido escritos e transcritos em diversos momentos até formar o ‘compêndio’ que conhecemos. Por conter tradições dos ancestrais e ser um texto religioso, era aceito pela sociedade colonial sem críticas às possíveis lacunas (LÓPEZ, 1999, p. 41).

Brotherston e Medeiros (2012), no prefácio e introdução da tradução para o português do Popol Vuh, fazem uma explanação sobre as pesquisas realizadas na vertente das traduções para a língua inglesa da qual provêm. A tradução de Edmonson, de 1971, do K’iche’, “leva em conta a estruturação em versos do original; e compara meticulosamente as soluções que tradutores anteriores deram às passagens opacas e difíceis” (BROTHERSTON; MEDEIROS, 2012, p. 9). Estes pesquisadores polemizam a origem exclusivamente hieroglífica maia do Popol Wuj, incluindo uma conexão com o Tlacuilolli ou “escrita icônica: termo de conveniência para o que é frequentemente referido como Mixteco-Asteca ou sistema de escrita pictórica da Mesoamérica, especialmente distinto da escrita hieroglífica maia” (BROTHERSTON; MEDEIROS, 2012, p. 14). Esta forma de escrita era compartilhada por várias culturas como a Tolteca, Mixteca e Asteca, e possui conceitos que correspondem à letra, à imagem e ao número. De acordo com Chinchilla (2011, p. 13), o Popol Wuj representa uma fonte primordial para entender a mitologia maia. Esses autores valorizam os testemunhos etnográficos contemporâneos de diversas regiões.

O Códice (hoje perdido) foi conservado com zelo pelos escribas Maias-K’iche’s que o esconderam dos olhos dos espanhóis durante mais de um século. Aproximadamente entre 1554 e 1557, um copista K'iche realizou a transliteração dos textos hieróglifos do Popol Wuj em língua K’iche para caracteres do alfabeto latino. Muitos autores veem na transliteração do século XVI um texto híbrido, criado para garantir a subsistência das tradições na conjuntura da conquista (CRAVERI, 2012, p. 17). Segundo Okoshi Harada (2000, s/p), pouco depois da conquista espanhola os frades franciscanos iniciaram o ensino do manejo do alfabeto latino às elites maias. Graças a esse trabalho, a partir da segunda metade do século XVI membros da nobreza indígena começaram a escrever numerosos documentos no seu próprio idioma com caracteres latinos. Esses papéis são uma amostra singular de como lutaram para conservar suas prerrogativas desde o primeiro momento da conquista. Seu estudo contribui à compreensão mais profunda das estratégias de sobrevivência cultural da nobreza maia ao longo do regime colonial.

Na transliteração do códice para o alfabeto latino, realizada no século XVI, fixava-se uma das etapas de um processo de transculturalização. Quando se integraram elementos contextuais, referências meta-poéticas, geográficas e temporais, segundo as ponderações de Craveri (2012, p. 18), foram inseridos dados que seriam supérfluos em um processo de transmissão oral, e esse corpus passou a destinar-se a uma comunidade submetida a violentos processos de mudança. “O que quero sublinhar é que o manuscrito de Ximénez (1700) apresenta marcas formais de uma tentativa de integração de elementos contextuais a um texto oral, que não podia ser decodificado através do tempo e do espaço” (CRAVERI, 2012, p. 28). Supõe-se (LÓPEZ, 1999, p. 100) que este manuscrito foi realizado em Santa Cruz del Quiché, que ficava próximo de Q´umarkaaj, capital do reino, que em 1524 foi tomada e destruída pelos espanhóis. Posteriormente, não se sabe como, o texto foi levado a Chichicastenango, onde o frade domínico Francisco Ximénez o encontrou e realizou a transcrição do K’iche, seguida da tradução para o castelhano. O frade teria finalizado a tradução durante o período que residiu em Rabinal. Francisco Ximénez (1700) realizou uma série de obras sobre a cultura maia, algumas descritivas, outras tradutológicas. O manuscrito foi levado a Áustria por Scherzer em 1854 -quem o traduziu para o alemão sob o mesmo título do padre Ximénez: “Las Historias DEL ORIGEN DE LOS INDIOS de esta Provincia de Guatemala, traducidas de la lengua Quiché al Castellano para más comodidad de los Ministros del S. Evnagelio, por el R.P.F. Francisco Ximénez”. Juntamente com os los Escolios e a Intodução as quais acrescentou notas (1857). Posteriormente retornou para os Estados Unidos com um colecionador, Eduard Ayer, depois de ser revendido duas vezes. O Manuscrito de Chichicastenango encontra-se hoje na Newberry Library de Chicago, sob o código Ayer MS 1515.

A preparação e tratamento da restauração foram os principais componentes dos projetos digitais do Popol Wuj. De acordo com os dados da página da biblioteca, com a perspectiva da manipulação do delicado manuscrito durante o processo da digitalização resultou fundamental estabilizar o papel e as tintas. Um grupo multidisciplinar de curadores, bibliotecários, restauradores e outros especialistas revisaram a condição do Popol Wuj. Quando o manuscrito chegou à Newberry, capa e contracapa foram adicionadas por encadernadores entre os anos de 1930 e 1940. Essa encadernação limitava o movimento das páginas, colocando uma força indevida sobre o papel, e comprometia áreas das margens. Os conservadores descobriram que o papel feito à mão no século XVIII estava em boas condições e sua flexibilidade permitiu que a encadernação fosse removida.

O papel é o monumento de memória material subjacente de uma língua e nação. Como suporte para a escrita e imagem estática, é a nossa relação material que dialoga com as gerações passadas e continua a ser o meio essencial de intercâmbio intelectual do nosso tempo (BIASI, 2007, s/p, tradução nossa)[2].

De acordo com informações da Newberry Library, a remoção da encadernação incluiu: separação da capa e contracapa do texto, limpeza da cola e dos forros de papel da lombada, corte dos fios de costura e separação das páginas. Nada original foi removido durante essas etapas. Após esse tratamento, as páginas do manuscrito puderam ser digitalizadas. Os restauradores verificaram a qualidade da tinta sob um microscópio e a estabilizaram. Após a digitalização, cada página foi restaurada para permitir sua leitura reforçando as áreas fracas da escrita. O manuscrito, então, recebeu um tratamento para controle de pragas e restauração dos danos de umidade e desgaste de uso. Como último passo no processo de conservação, escolheu-se um novo estilo de encadernação, e criou-se um recinto adaptado para abrigar o Popol Wuj. A versão eletrônica do Popol Wuj torna o manuscrito mais acessível a um maior número de leitores. Agora a expectativa de conservação considera o longo prazo.

De acordo com as informações da Newberry Library[3], o manuscrito do Popol Wuj está catalogado como Ayer MS 1515. Qualquer pessoa maior de 16 anos pode vê-lo com a autorização feita sob uma consulta prévia da área da Biblioteca responsável[4]. A equipe de Coleções Especiais da Sala de Leitura instrui leitores em instruções específicas e cuidados especiais a tomar ao visualizar o manuscrito. Os leitores que pretendem usar o manuscrito por um período prolongado de tempo são incentivados a utilizar a cópia fac-símile disponível na prateleira aberta no 3º andar Centro de Referência (Cota: F Ref. 1465 P817 1700A, área de lista de verificação Newberry). O manuscrito do Popol Wuj está disponível também em microfilme (microfilme Ayer MS 1515). A Newberry pode acomodar grupos de até 14 pessoas (com idades entre 16 anos ou mais) que desejem ver o Popol Wuj. Os grupos podem agendar sua visita com, no mínimo, de um mês de antecedência. Apenas um grupo por mês pode fazer candidatar-se para ver o Popol Wuj.

2 A digitalização

De acordo com Biasi (2007, s/p), a duplicação digital é um artefato que não pode substituir o original, o papel deve continuar a existir como fonte para os pesquisadores. Apesar de sua fragilidade, o documento em papel continua a ser essencial, mesmo por razões de estabilidade material. Se o microfilme, em uso desde 1930, conserva um suporte indelével provavelmente por 500 anos em boas condições, as mídias digitais não são tão eficientes assim. Os suportes evoluem e sua estabilidade técnica e material se tornam difíceis de avaliar, mesmo a médio prazo. A sustentabilidade do papel não tem equivalente no modo de imagem estática; a vida de um disco rígido não excede várias décadas. No entanto, se a informática ainda não parece plenamente satisfatória para a conservação, já se tornou indispensável como recurso para o processamento de dados e a comunicação. Acessar diretamente as funções banco de dados relacional, a estrutura de hipertexto e a coordenação da mídia são vantagens digitais consideráveis como suporte inteligente indiscutivelmente superiores a qualquer outro meio para o inventário, comunicação e arquivística.

Algo em nossas práticas de escritura mudou, irreversivelmente, no início dos anos de 1980, e o debate entre papel e digital ampliou-se rapidamente para uma tomada de consciência mundial: o final do século XX, seduzido pelo CD-ROM e pela internet, consciente de entrar em uma nova era de escritura, redescobriu os seus arquivos com fascínio e entusiasmo. O que é tradicionalmente um domínio reservado a eruditos e universitários tornou-se espaço de curiosidade pública, apoiada e confirmada por uma política cultural dos estados. A virada do milênio, conquistado pelo digital celebra no papel a consciência da língua, a memória de sua tradição histórica, o suporte da criação intelectual, o intermédio das descobertas e das obras – primas, a substância mesma da cultura (BIASI, 2010, p. 165).

De acordo com Moreira et al. (2007), as informações registradas em papel estão limitadas a um espaço físico específico, o que dificulta o acesso a informações localizadas remotamente. O papel também está sujeito à deterioração pelo manuseio e pela ação de agentes ambientais. Com o intuito de facilitar o acesso aos documentos pelo público e contribuir para sua preservação, vários métodos têm sido testados. Entre as propostas mais recentes, existe a sugestão do uso da digitalização, entendida como um caminho para complementar soluções relacionadas tanto à preservação quanto ao acesso. Ela pode ser vista como uma forma de solução complementar de preservação porque torna possível restringir o acesso ao documento original, liberando para consulta apenas o material digitalizado.

3 Epistemologia reticular e epistemologia maia

O Popol Wuj é uma cosmogonia que narra as aventuras mitológicas de dois jovens irmãos: Junajpú e Ixbalanqué, ícones mesoamericanos cujas identidades estão representadas pela serpente emplumada e o furacão respectivamente. Ele descreve a gênese de acordo com a visão dos povos pré-hispânicos e sobre a genealogia dos povos ancestrais da Mesoamérica, obra complexa que conserva um traço nato de percepção do ecossistema de grande valor em tempos de globalização, uma epistemologia que paradoxalmente a torna contemporânea.

Como observado acima, a presente investigação trata de uma cosmogonia mítica de valor simbólico para uma civilização. Os códices do texto fonte e a primeira transliteração, com efeito, nunca foram encontradas, restando tão somente como único vestígio de sua existência a cópia realizada pelo padre Ximénez (1700). Problematizamos, através das hipóteses apresentadas, a compreensão de pontos da epistemologia maia-k’iche’ pelos tradutores, postulando que, com o advento das teorias sobre decolonialidade e dos estudos interculturais poderia ser possível ter acesso a informações mais objetivas a respeito das bases de constituição do documento Maia-K’iche (SACKL, 2015, p. 15).

A teoria da Inflexão Decolonial (RESTREPO & ROJAS, 2010) parece anunciar a valorização da “diferença epistêmica como projeto universal e não mais a busca dos universais abstratos” (MIGNOLO, 2001, p. 18, tradução nossa[5]). Parafraseando di Felice (2012, p. 8), o conceito da perspectiva reticular, utilizada nos nossos dias pelas linguagens em rede da Internet, apresenta uma ruptura epistêmica que teve suas origens nos diversos campos científicos desde a primeira metade do século XX, constituindo-se paulatinamente como uma nova forma de explicar a complexidade tecnológica-comunicativa. A difusão da “arquitetura reticular informativa de uma inteligência planetária aponta para a necessidade do repensamento do antropomorfismo social, tornando-se um dos desafios hermenêuticos da nossa época” (DI FELICE 2012, p. 8).

Segundo tal perspectiva as tradicionais ideias de separação entre homem-ambiente, homem-técnica, homem-natureza, são substituídas pela percepção ecossistêmica de uma condição habitativa que redefine cada entidade a partir da sua interação e conexão com as outras. Tal concepção encontra respostas em formas símiles, mas não iguais, nas ecologias indígenas de diversas etnias latino-americanas, no xamanismo e nas diversas expressões das culturas digitais contemporâneas, nas quais a ideia de sistema e de informação são substituídas pelas formas-rede (DI FELICE, 2009, p. 12).

Existe uma congruência entre a “condição habitativa” expressada por di Felice (2009, p. 20) e as conclusões de Michela Craveri (2012, p. 99) sobre a organização retórica do texto do Popol Wuj, que se fundamenta numa espécie de “continuidade vital” entre todas as manifestações naturais, passível de ser encontrada em textos orais produzidos por grupos sociais que privilegiam a voz humana em suas comunicações, que utilizam esferas cognitivas sem relações hierárquicas, através de conceitos que se relacionam biunivocamente. As sociedades escriturais articulariam a representação do mundo em conceitos autônomos, ordenados hierarquicamente. Nas comunicações de sociedades com amplo uso da oralidade, a mensagem tornar-se-ia contextualizada, considerando-se seus vínculos com outras formas naturais como parte fundamental de sua significação. Sob esta ótica, no texto do Popol Wuj o mundo organiza-se em redes de conceitos que se erguem a partir de pares intimamente relacionados, chamados ‘opostos binários’, como, por exemplo, cueva-barranco (caverna- ladeira de pedra); venado-pájaro (veado- pássaro); árbol-bejuco (árvore- planta epífita). Cada termo provém de difrasismos (terminologia criada por Craveri (2012) para definir uma conotação que sugere os vínculos essenciais entre as diferentes manifestações naturais que comunicam a multiplicidade semântica da realidade, de acordo com “complexas relações contextuais dos referentes”) (CRAVERI, 2012, p. 101). Cada elemento constitui o contexto natural do outro, e enfatiza seu significado de acordo com o aspecto vital que os une. Por esse motivo, considera-se que os difrasismos formam parte do repertório poético mesoamericano, cuja presença emerge nessa zona cultural e responde ao mesmo princípio de organização simbólica de realidade, de maneira que toda enunciação formalizada com funções poéticas e rituais será fortemente marcada por tal característica. A prática da leitura era bastante peculiar entre os maias; tal leitura consistia, para os aprendizes, na contemplação das imagens concomitante à escuta dos comentários realizados pelo sacerdote.

Não tinham que acudir a seu próprio repertório de idéias e imagens previamente adquiridas. A palavra de quem ensinava com os livros ampliava de muitas maneiras, com sua linguagem rica em metáforas, o que propunha transmitir (LEÓN PORTILLA, 2012, p. 28).

A referida autora comenta que o vocábulo K’iche’ winaq (homem) carece de uma conotação própria. Ele somente adquire sentido simbólico pela relação de contraste com outros seres e com a própria natureza: animais, vegetais e elementos da paisagem. Assim, o ser humano afirma seu papel específico no mundo interagindo com o meio ambiente. Os difrasismos não respondem a mecanismos fixos de associação, mas a uma busca expressiva dos significados que as relações naturais adquirem nos diferentes contextos. Craveri (2012, p. 102) assevera que esta fusão simbólica de características y âmbitos se encontram na expressão artística em que os deuses se representavam como manifestações naturais, as forças divinas se revelam concretamente na natureza no raio, a chuva, a vegetação, a lua, as estrelas, o sol e a terra. Da mesma forma os animais se interpretam como manifestações concretas de energias cósmicas, estas relações metafóricas abrangem também os seres humanos. Os difrasismos não são um conceito isolado, mas desenham linhas de conotação metafórica que aprofundam reciprocamente sua carga de significação. Existe uma peculiar convergência entre as condições habitativas pré-hispânicas e o desenvolvimento de “uma nova sensibilidade ecológica e uma cultura da interdependência” (DI FELICE, 2009, p. 18) próprias da era da informação.

As redes digitais exprimem, além de uma nova forma comunicativa, um outro tipo de complexidade, não mais sistêmica, mas interativa e conectiva. Além da superação da frontalidade, a dimensão reticular tem substituído a concepção ecológica-analógica por uma forma ecológica conectiva, ou seja, por uma nova condição habitativa que se exprime nas novas preocupações ecológicas coletivas (DI FELICE, 2009, p. 18).

Sobre o Popol Wuj, pode se dizer que trata da criação do mundo a partir das águas. O ponto de partida do narrador surge do pensamento dialógico de seus deuses multifacetados, do desejo de que suas criaturas os invoquem. O relato se inicia com a criação do mundo pelo ente difásico Formador-Construtor, que contém, segundo a tradução de Brotherston e Medeiros (2012, p. 19), as seguintes identidades: Portador-Gerador, Caçador-Gambá, Caçador-Coiote, Grande Porco, Tamanduá, Majestade, Serpente-Quetzal, Coração do Lago, Coração do Mar, Mulher com Netos, Homem com Netos, Amparador. O texto apresenta inicialmente ao leitor o desafio de penetrar em uma lógica cultural estrangeira, passível de gerar certa opacidade em razão da elasticidade semântica de seus conceitos. A vasta enumeração de substantivos e adjetivos formam um tecido quase ‘orgânico’, cujo significado pede uma observação reticular, pelo fato de os significantes mostrarem-se em abundante desenvolvimento de sentidos.

Do alfabeto, à escritura, do telescópio até a Web, dos Big Data às redes informáticas digitais, o conhecimento foi sempre produzido em rede, ou seja, através de um diálogo fértil entre a mente humana e outras formas de inteligência humana é uma ecologia complexa que age enquanto estimulada pela linguagem e circuitos informativos não humanos (DI FELICE, 2009, p. 11).

Na pesquisa sobre o Popol Wuj chama especial atenção a forma como as representações arqueológicas também relacionam-se com o texto, complementando seu sentido e esclarecendo os contextos histórico e mítico, sua característica dialógica, a forma como os K’iche’s interpretavam sua realidade ao modo de rede ou tecido, dedução essa extraída dos vários núcleos narrativos que surgem na obra, que encontram uma organização lógica na concepção cíclica criada por reiterações e ampliações das ideias. Na opinião de Oswaldo Chinchilla

… através dos séculos, os contatos entre as diversas regiões da Mesoamérica foram intensos e a investigação arqueológica tem revelado indicações de interação e influência inter-regionais envolvendo vários lugares e épocas relacionadas aos domínios mesoamericanos. A interação constante dos povos que habitavam e habitam estas regiões abre um leque para explicar crenças compartilhadas desde épocas muito remotas. A etnografia contemporânea revela numerosas narrações mitológicas, transmitidas até o presente em forma oral tanto na área maia quanto fora dela. (CHINCHILLA, 2011, p. 28, tradução nossa)[6].

Existem cerâmicas pintadas distribuídas nos sítios arqueológicos maias, cujas ilustrações se assemelham aos relatos do Popol Wuj. “Caso tenhamos em mente a origem comum de todos estes registros expressivos, poderemos avaliar o peso da tradutibilidade e como se complementam entre si. [...] Se apreciarão as técnicas destinadas a descobrir e avaliar as equivalências semióticas entre os distintos âmbitos” (LÓPEZ-AUSTIN, 1996, p. 10, tradução nossa[7]). O primeiro passo é compreender que as diversas formas de expressão devem sua afinidade semiótica a sua origem compartilhada e às suas interconexões, característica que novamente nos aproxima do tempo presente e da epistemologia de uma co-ncepção reticular e conectiva.

Tais tipos de interações, portanto, devem ser compreendidas como distintas das ações transitivas do sujeito em direção ao externo e se configuram como a constituição de um novo tipo de ecologia (eko-logos) não mais opositiva e separatista, mas estendida às diversas entidades técnicas, informativas, territoriais, em forma reticular e conectiva. (DI FELICE, 2009, p. 8).

León Portilla (2012, p. 62) chama a atenção ao fato de que, depois de consumada a conquista espanhola, os maias não continuaram a utilizar a arte de seus códices, “[…] foi, talvez, o trauma deixado pela queima de seus livros o que lhes determinou seguir outro caminho e não deixar que suas antigas formas de saber se perdessem” (LEÓN-PORTILLA, 2012, p. 63, tradução nossa[8]), e optaram pelo alfabeto latino fonetizado, como aconteceu com o Popol Wuj. Os maias não permitiram a extinção de suas tradições devido a vários fatores de ordem histórica, geográfica e cultural: primeiramente o longo período de lutas acarretadas pelas tentativas de dominação cultural fracassadas dos espanhóis, reforçado pelo isolamento geográfico e a descentralização dos povos, também à natureza hostil das relações interpessoais entre maias e espanhóis, que se mantiveram durante e após a conquista. Finalmente a sobrevivência da epistemologia maia permaneceu viva sob a feição do cristianismo, por meio de um sincretismo fortemente enraizado na religião pré-hispânica.

4 Educação para uma nova ecologia

Edgar Morin (2003), nasceu no início do século XX, é um dos pensadores mais importantes da nossa época. Herdeiro do humanismo francês, ele considera que a tragédia do nosso sistema atual de educação está na divisão dos objetos de estudo em compartimentos separados, que nos impediriam de questionarmo-nos sobre assuntos existenciais fundamentais pela fragmentação do conhecimento, já que nos conduziria a um tipo de pensamento que chama “mutilado” e a decisões ilusórias. Propõe então a introdução no ensino de temas fundamentais, como o estudo do conhecimento, considerando-o como uma tradução seguida de uma reconstrução, assumindo o risco do erro. O autor assinala que nos encontramos num momento histórico de incertezas com referência ao futuro[9].

A era planetária começa entre o final do século XV e o início do XVI com a descoberta da América por Colombo, a circunavegação ao redor do globo por Magalhães, a descoberta copernicana de que a terra é um planeta que gira ao redor do sol. A era planetária desenvolveu-se através da colonização, a escravidão, da ocidentalização e, também da multiplicação das relações e interações entre as diferentes partes do globo. Iniciada em 1990, a época denominada de globalização estabeleceu um mercado mundial e uma rede de comunicações que se ramificou intensamente por todo o planeta (MORIN, 2003. p. 11).

Segundo Nascimento (2007, p. 15), a hermenêutica da teoria da complexidade, postulada por Edgar Morin, apresenta uma concepção de educação que entende os sujeitos sociais como construtores ativos de uma ecologia cognitiva, que coloca em permanente atividade a evolução da consciência do “eu”. Enfoca o conhecimento humano como uma elaboração caracterizada por sua não linearidade, da qual o ser humano, a organização social e a natureza participam.

Através de um projeto de pesquisa e extensão, articulado pela criação de um Grupo de Pesquisa no CNPq com a certificação da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), intitulado: “Popol Wuj como ferramenta interdisciplinar e estudo intercultural no Ensino Médio e Superior” (2016, s/p)[10], propõe-se uma tarefa interdisciplinar e intercultural na Escola Técnica do Vale do Itajai – FURB, integrada por professores de três áreas do conhecimento (Linguística, História e Biologia), e por orientandos do Ensino Médio e do Ensino Superior. Objetiva-se uma investigação no arcabouço teórico da tradução e paratradução do Popol Wuj, cuja epistemologia levaria à reflexão crítica sobre ecologia, tecnologia e direitos humanos (alimentação, qualidade de vida, questões de gênero), dentre outras, atuando no campo da educação (pesquisa, ensino e extensão). A tradução do Popol Wuj como tema central oportuniza um olhar aprofundado sobre a visão do universo desenvolvida pelo povo Maia-K'iche' do período 600 a 1400 d.C. mantidas na cultura da Mesoamérica até a atualidade:

[…] propõe (O Popol wuj) uma visão da vida e do viver, peculiar e diferente às que estamos habituados a manejar quotidianamente na nossa civilização ocidental [...] Os maias que moram atualmente na Guatemala vêm no Popol Wuj parte do seu passado, e possivelmente do seu futuro. Para eles são textos aglutinantes e referenciais da vida quotidiana. (LÓPEZ, 1999, p. 18, tradução nossa[11]).

A aplicação do projeto de extensão cujo tema central apresente a epistemologia do Popol Wuj, consiste em reforçar paradigmas de convivência social fundamentados na tolerância perante a diversidade, desenvolvendo conceitos de respeito à natureza, ações autossustentáveis e de resgate do passado distante como patrimônio arqueológico e memória coletiva, para reforçar princípios éticos que possam garantir a diminuição de fatores de violência e discriminação através do ensino, pesquisa e extensão. Propõe-se uma pesquisa-ação para desenvolvimento de materiais didáticos e paradidáticos, em especial aqueles voltados para o ensino da história e das culturas indígenas. A utilização do Popol Wuj como ferramenta de ensino interdisciplinar oportuniza um olhar aprofundado sobre a visão de universo desenvolvida pelo povo Maia-K’iche, sua narrativa fundamental à identidade americana é pouco conhecida no Brasil, embora amplamente difundida nos países de fala hispânica. A abordagem da sua narrativa resulta adequada para a interdisciplinaridade pela característica multifacetada da linguagem mítica K‘iche, na qual residem as manifestações da natureza, numa epistemologia em rede que organiza o conhecimento empírico e abrange os fenómenos das manifestações vitais e do mundo símbolos de imagens míticas pré-hispânicas. Tal ação educativa poderá ser aplicada por meio de oficinas direcionadas aos estudantes do Ensino Médio de escolas municipais de Blumenau SC, através da articulação entre bolsistas universitários e uma escola pública conveniada. Sublinham-se também nesta atividade de extensão universitária as contribuições da tradução e o estudo dos paradigmas culturais criados no momento da colonização espanhola com características próprias que permanecem vigentes como uma interface cultural na América Latina até a atualidade. Justifica-se a relevância desse projeto de extensão pela meta principal de reforçar paradigmas como o conhecimento em rede, a convivência social fundamentada na tolerância perante a diversidade, a compreensão sobre as condições habitativas do passado pré-hispânico em comparação com o presente influenciado pelos territórios mediáticos já inseparáveis dos arquitetônicos.

5 Inserção do Manuscrito no espaço digital

A inserção no mundo digital do manuscrito do Popol Wuj foi realizada com a publicação na plataforma da Ohio State University Libraries de Columbus, da digitalização do manuscrito colonial sob a direção acadêmica do Professor Dr. Carlos López, “Diretor académico da edição on-line do Manuscrito de Francisco Ximénez, [...] (Popol Wuj), incluindo o prólogo e os escólios. Manuscrito Ayer MS 1515 (Newberry Library) Edição digital on-line” (XIMÉNEZ, 1700, tradução nossa[12]). O projeto contou com o apoio do Departamento de Espanhol e Protuguês e do Center for Latin American Studies ambos da Ohio State University. A Academia de Lenguas Mayas de Guatemala (ALMG) supervisionou os temas relacionados à língua K’iche’. A publicação dos manuscritos digitalizados tem traduções para o espanhol, o k’iche’ e o inglês.

Esta edição digital permitirá aos povos indígenas e aos especialistas trabalhar diretamente com o manuscrito do Padre Ximénez, desenvolvendo debates sobre a caligrafia, a ortografia, e discussões acerca dos limites e alcances de possíveis significados e interpretações. A página foi escrita em k’iche’, também em espanhol e inglês, como uma forma de corrigir parcialmente a longa tradição de desconhecimento e negligência para com os maias e os povos indígenas em geral (XIMÉNEZ, 1700, tradução nossa[13]).

De acordo com as notas sobre a transcrição da página do Popol Wuj da Ohio State University (2007, s/p), o objetivo principal para a publicação das digitalizações e suas transcrições em três idiomas, foi proporcionar uma ferramenta para consulta acadêmica com a qual se facilitasse a leitura da caligrafia manuscrita de inícios do século XVIII. Além disso foram consideradas as possíveis necessidades de futuros tradutores, destacando certas peculiaridades léxicas gramaticais e de escritura que possuem características especiais, conforme Quadro 1:

Quadro 1
Transcrição da página 1 do Manuscrito Ayer 1515

http://library.osu.edu/sites/popolwuj/

6 Conclusão

Concluímos este artigo com uma reflexão sobre o potencial pedagógico do Popol Wuj em contextos educativos, uma vez que seu conteúdo de grande plasticidade pode ser associado a aulas de literatura pré-hispânica, teatro, artes plásticas ou história da cultura americana, sendo, ainda, apropriado para alunos de diferentes níveis de aprendizado, desde o fundamental até o ensino superior. A narrativa K’iche’ do Popol Wuj é um dos alicerces da identidade da América Latina, para cumprir o objetivo de utilizar essa ferramenta como articuladora do ensino das idiossincrasias, culturas, comportamentos e tradições. Respondendo ao princípio da Educação que questiona o ensino do conhecimento fragmentado: “Há inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre saberes separados, fragmentados, compartimentados entre disciplinas, e, por outro lado, realidades ou problemas cada vez mais poli disciplinares, multidimensionais, transnacionais, globais, planetários” (MORIN, 2003, p. 13).

“Para os Estudos da Tradução parece importante buscar maior entendimento a respeito de uma obra cujos manuscritos de base não existem mais. A exemplo de outros textos clássicos, como Kalila e Dimna, as mil e uma noites, entre outros” (SACKL, 2014, p. 188), há, efetivamente, traduções que, por sua antiguidade, adquiriram status de texto fonte, como é o caso do manuscrito de Ximénez (1700). Observamos os rumos culturais e epistemológicos do Popol Wuj, analisando-o à ótica do conceito da dimensão habitativa de Di Felice (2009, p. 20), que apresenta pontos em comum com a epistemologia reticular do mundo globalizado e tecnológico.

Material suplementar
Referências
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Notas
Notas
[1] “Pero las entendían como particularidades dentro del mismo orden cósmico común a todos ellos. La evangelización no significó el olvido de las narraciones mitológicas que continuaron a ser transmitidas oralmente” (CHINCHILLA, 2011, p. 15).
[2] “Le papier est la matière même des monuments de mémoire sur lesquels reposent la langue et la nation. Comme support de l’écriture et de l’image fixe, il constitue matériellement notre relation de dialogue avec les générations passées et reste le média essentiel des échanges intellectuels de notre temps” (BIASI 2007, s/p).
[3] https://www.newberry.org/recent-projects
[4] Contato: hansenw@newberry.org
[5] “Diferencia epistémica como projeto universal y no más la búsqueda de los universales abstractos”. (MIGNOLO, 2001, p. 18).
[6] “A través de los siglos, los contactos entre las diversas regiones de Mesoamérica fueron intensos, y la investigación arqueológica ha revelado indicaciones de interacción e influencia interregional en múltiples lugares y épocas. La interacción constante de los pueblos mesoamericanos abre un amplio margen para explicar las creencias compartidas desde tiempos muy antiguos” (CHINCHILLA, 2011, p. 28).
[7] “Si tenemos en mente el origen común de todos estos registros expresivos, podremos evaluar el peso de traducibilidad y cómo se complementan entre si […] Se apreciarán las técnicas destinadas a descubrir y evaluar las equivalencies semióticas entre los distintos ámbitos” (LÓPEZ-AUSTIN, 1996, p. 10).
[8] “[…] Fue tal vez el trauma dejado por la quema de sus libros lo que les determine seguir otro camino y no dejar que sus antiguas formas de saber se perdieram” (LEÓN-PORTILLA, 2012, p. 63).
[9] http://www.fronteiras.com/entrevistas/edgar-morin-compreensao-humana
[10] http://www.furb.br/web/2930/inovacao-e-pesquisa/grupos-de-pesquisa/ciencias-humanas
[11] […] proponen una visión de la vida y del vivir, peculiar y diferente a las que estamos acostumbrados a manejar en nuestra cotidianidad de la civilización occidental.[…]Los mayas que viven actualmente en Guatemala van a ver en el Popol Wuj parte de su pasado, y tal vez de su futuro. Para ellos son textos aglutinantes y referenciales de vida cotidiana. (LÓPEZ, 1999, p. 18).
[12] “Academic Director of the online edition of Francisco Ximénez manuscript[…] (Popol Wuj). Includes Prólogo and Escolios. Manuscript, AYER MS 1515 (Newberry library); Digital online edition: http://library.osu.edu/sites/popolwuj/”. Columbus, Ohio, The Ohio State University Libraries/Chicago, Illinois, The Newberry Library. December 2007.
[13] Esta edición digital permitirá a los pueblos indígenas y a los especialistas trabajar directamente com el manuscrito del Padre Ximénez, desarrollando debates sobre la caligrafía, la ortografía, y disciciones acerca d e los límites y alcances de possibles significados e interpretaciones. La página fue escrita en k’iche’, también en espanhol e inglés, como una forma de corregir parcialmente la larga tradición de desconocimeinto y negligencia para con los mayas y los pueblos indígenas em general (XIMÉNEZ, 1700).
Quadro 1
Transcrição da página 1 do Manuscrito Ayer 1515

http://library.osu.edu/sites/popolwuj/
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