Dossiê
Recepción: 12 Junio 2020
Aprobación: 26 Septiembre 2020
DOI: https://doi.org/10.33871/nupem.2021.13.28.86-104
Resumo: O objetivo deste artigo é refletir sobre a contribuição da comunicação das universidades no contexto de pandemia do novo coronavírus, tendo como foco de discussão as publicações sobre a Covid-19 nas páginas oficiais do Instagram das quatro universidades federais do estado do Pará: Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). A metodologia adotada é a netnografia que utiliza dados da internet como objetos de observação e análises interpretativas, colaborando para a coleta de dados nos meses de março, abril e maio de 2020 nas referidas páginas das universidades. Os dados apresentados trazem uma reflexão de que a comunicação promovida pelas universidades federais do estado do Pará tem sido essencial no diálogo com a sociedade e no processo de resistência e de luta no combate à Covid-19.
Palavras-chave: Universidades fede-rais do Pará, Covid-19, Comunicação nas redes sociais digitais, Instagram.
Abstract: The purpose of this article is to reflect on the contribution of university communication in the context of the new coronavirus pandemic, focusing on the publications about Covid-19 on the official Instagram accounts of the four federal universities of the state of Pará: UFPA (Federal University of Pará), Ufra (Federal Rural University of Amazonia), Ufopa (Federal University of Western Pará) and Unifesspa (Federal University of Southern and Southeastern Pará). The methodology adopted is netnography, which uses data from the internet as objects of observation and interpretative analyses, collaborating for the collection of data in the months of March, April and May 2020 on the referred universities’ accounts. The data presented brings a reflection on how the communication promoted by the federal universities of the state of Pará has been essential in the dialogue with society and in the process of resistance and struggle in the fight against Covid-19.
Keywords: Federal universities of Pará, Covid-19, Communication on digital social networks, Instagram.
Resumen: El propósito de este artículo es reflexionar sobre la contribución de la comunicación universitaria en el contexto de la nueva pandemia de coronavirus, centrándose en las publicaciones del Covid-19 en las páginas oficiales de Instagram de las cuatro universidades federales del estado de Pará: UFPA (Universidade Federal do Pará), Ufra (Universidad Federal Rural del Amazonas), Ufopa (Universidad Federal de Pará Occidental) y Unifesspa (Universidad Federal del Sur y Sudeste de Pará). La metodología adoptada es la netnografía que utiliza datos de internet como objetos de observación y análisis interpretativo, colaborando para la recolección de datos en los meses de marzo, abril y mayo de 2020 en las referidas páginas universitarias. Los datos presentados reflejan que la comunicación impulsada por las universidades federales del estado de Pará ha sido fundamental en el diálogo con la sociedad y en el proceso de resistencia y de combate contra el Covid-19.
Palabras clave: Universidades Federales de Pará, COVID-19, Comunicación en redes sociales digitales, Instagram.
Introdução
No dia 31 de dezembro de 2019 a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou à sociedade um novo agente do coronavírus descoberto em meio a vários casos de pneumonia detectados na cidade de Wuhan, na China. Pouco ainda se sabia sobre este novo vírus que, até então, ainda não tinha sido identificado em seres humanos. Porém, logo se percebeu que seu poder de contágio era evidentemente alto, transformando, com isso, um novo cenário de saúde coletiva mundial.
O alastramento desse novo coronavírus chamado de Covid-19 (SARS-CoV-2) aconteceu rapidamente pelos países, modificando, significativamente, os modos de vida, hábitos e costumes das pessoas em diversos países, afetando diretamente a saúde pública e, consequentemente, a economia, a política, a educação, bem como diversos outros âmbitos da sociedade, desde o contexto local até o global.
No Brasil, o primeiro caso de Covid-19 foi confirmado pelo Ministério da Saúde (MS) no dia 26 de fevereiro de 2020 - um homem de 61 anos, morador de São Paulo, que estava no período de 9 a 21 de fevereiro na Itália, um dos países com o maior número de infectados no mundo no primeiro semestre de 2020. No Pará, a Secretaria de Saúde do Estado do Pará (Sespa) datou seu primeiro caso no dia 18 de março de 2020 - um homem de 37 anos, morador de Belém, que estava em viagem no estado do Rio de Janeiro no final do mês de fevereiro.
Após essas primeiras confirmações, o aumento de contágio ficou evidente tanto no país quanto no estado do Pará. Em 17 de março de 2020 ocorreu o primeiro óbito por Covid-19 no Brasil, e no dia 19 de março de 2020 no Pará. E, no dia seguinte, foi declarada pelo MS a transmissão comunitária da Covid-19 em todo o território nacional (Neves, 2020).
De acordo com o Painel sobre a Covid-19 do MS (Ministério da Saúde, 2020) do dia 10 de junho de 2020 (visualização mais recente dos autores), o Brasil possuía 772.416 casos confirmados e 39.680 óbitos, e o estado do Pará possuía 62.095 casos confirmados e 3.927 óbitos. Porém, de acordo com portal da Sespa, o Pará possuía 64.126 casos confirmados e 4.030 óbitos nesta mesma data (Sespa, 2020).
Diante do número de casos de mortes e do que ainda precisa ser pesquisado sobre o novo coronavírus, o papel que as universidades exercem na sociedade tem sido fundamental para o combate à pandemia, pois o ensino, a pesquisa e a extensão cada vez mais se tornam atividades essenciais à sobrevivência humana.
Porém, nesse contexto, as atividades universitárias se tornaram mais desafiadoras, pois uma das mudanças no cenário mundial imposto pela Covid-19 foi o distanciamento social - umas das principais medidas de prevenção no combate ao vírus. Pensando nisso, percebe-se que a comunicação é uma ferramenta de ação que se tornou ainda mais essencial à sociedade, desde o estabelecimento do contato entre as pessoas isoladas em suas casas até à divulgação científica das pesquisas sobre o novo coronavírus.
Quando relacionamos universidade e sociedade, vê-se que a comunicação pode ser um dos principais meios de enfrentamento à pandemia, colaborando também com um permanente diálogo entre instituição de ensino e sociedade, com a publicação das informações sobre a Covid-19, com a divulgação científica das pesquisas em andamento, com a veiculação das ações administrativas e acadêmicas das universidades em tempos de pandemia, dentre outras ações.
Dessa forma, este trabalho tem como objetivo refletir sobre a contribuição da comunicação das universidades no contexto de pandemia do novo coronavírus. O enfoque da discussão será as publicações sobre a Covid-19 nas páginas oficiais do Instagram das quatro universidades federais do estado do Pará: Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).
Metodologia
A abordagem metodológica aplicada neste artigo foi a Netnografia defendida por Christine Hine (2005), a qual aponta pesquisador pode ser um participante ativo, compartilhando preocupações e emoções sobre o objeto pesquisado. Pode-se, a partir da Netnografia, observar o comportamento do público e a percepção que ele tem sobre a comunicação, sendo esta mediada por computador e utilizada como uma fonte de dados a fim de compreender algum fenômeno social na Internet. Dessa forma, a Netnografia oferece a possibilidade de estreitar as distâncias que existem e fornecer observações da dinâmica das redes sociais digitais, por exemplo.
Primeiro, o ingresso na cultura ou comunidade online é diferente. Ele diverge do termo face a face em termo de acessibilidade, abordagem e extensão do potencial inclusão. “Participação” pode significar algo diferente pessoalmente do que online. Assim como o termo “observação”. Segundo, a coleta e análise de dados culturais apresentam determinados desafios bem como oportunidades que são novas. A ideia de “inscrição” de “notas de campo” é radicalmente alterada. As quantidades de dados podem ser diferentes. A capacidade de aplicar determinados instrumentos e técnicas analíticas muda quando os dados já estão em formato digital. O modo como os dados precisam ser tratados pode ser diferente. Finalmente, existem poucos ou nenhum procedimento ético para o trabalho de campo realizado pessoalmente que se traduzam facilmente para o meio online. As diretrizes abstratas do consentimento informado estão sujeitas a amplos graus de interpretação (Kozinets, 2014, p. 13).
Assim, com o objetivo de refletir sobre a contribuição da comunicação das universidades no contexto de pandemia do novo coronavírus, este estudo selecionou as páginas oficiais do Instagram das quatro universidades federais do estado do Pará (@Ufpa_oficial, @Ufraoficial, @Ufopaoficial, @unifesspa_oficial), de modo a considerar o contexto regional desse estado, bem como os tipos de publicações que mencionam, direta e/ou indiretamente, qualquer tipo de informação sobre o Covid-19. Assim, a partir desses dados coletados, será possível realizar análises do objeto de estudo.
O recorte da coleta de dados corresponde ao período de 1º de março de 2020 até 31 de maio de 2020. Optou por iniciar no mês de março em virtude das páginas das referidas universidades não apresentarem nada sobre a Covid-19 nos meses de dezembro (2019), janeiro (2020) e fevereiro (2020), ou seja, desde o início da pandemia no mundo as quatro universidades publicaram informações sobre o coronavírus somente a partir do mês de março de 2020.
A coleta foi realizada manualmente, de modo que os autores acessavam as páginas das instituições e faziam o print screen das publicações sobre a Covid-19 e, também, realizavam o registro da quantidade de “gosto” e da data de cada publicação, do tipo de recurso (imagem ou vídeo) das postagens.
Para fins de análise, foram selecionadas as publicações com o maior número de “gosto” (no caso de imagem) ou de “visualizações” (no caso de vídeo) de cada página das respectivas universidades. Dessa forma, as quatro postagens que apresentaram mais reações do público foram selecionadas para serem analisadas com base nas discussões levantadas sobre o papel da comunicação das universidades em meio à pandemia.
O Estado do Pará e o novo coronavírus
Durante a pandemia, a Sespa criou um portal específico para inserir informações quase que em tempo real sobre a evolução do vírus no Pará. Os dados de casos confirmados, recuperados, em análise, descartados e óbitos são, constantemente, atualizadas no site, tendo em vista que esses números sobem a todo momento. De acordo com o portal, o Pará possui hoje (11 de junho de 2020) 64.126 casos confirmados e 4.030 óbitos. A imagem abaixo mostra o gráfico de crescimento da doença no estado.

A imagem mostra o desenvolvimento da Covid-19 no Pará, em que a linha azul se refere aos casos confirmados e a linha vermelha corresponde ao número de mortes. Porém, é relevante destacar que os dados oficiais inseridos no site são baseados nos casos notificados e testados por exames que comprovaram a infecção viral nestes indivíduos. Os subnotificados e suspeitos não são inseridos nesta contagem, considerando, com isso, que os confirmados e de óbitos podem ser maiores do que mostram os dados oficiais.
Dentre algumas medidas adotadas pelo estado no combate à pandemia, estão: a instalação de quatro hospitais de campanha nas regiões de Belém, Santarém, Marabá e Breves; a compra de respiradores com monitores para UTIs; a suspenção do corte de energia e água por 90 dias; a distribuição de vales alimentação às famílias dos alunos da rede estadual de todo o Pará; o lançamento do programa “todos em casa pela educação”, com videoaulas na TV cultura e plataformas digitais para alunos do ensino médio e fundamental; a disponibilização do estádio olímpico do Pará (mangueirão) para receber pessoas em situação de vulnerabilidade social; dentre outros (Lopes, 2020).
Porém, a maioria das medidas tomadas sofreram limitações, como a compra de respiradores que gerou processo judicial ao governador Helder Barbalho, em virtude da suspeita de compras super faturadas, causando danos financeiros à administração pública. Outra medida foi a demora da distribuição dos vales de alimentação aos alunos da rede estadual, bem como a falta de planejamento na área de educação desses mesmos alunos, de modo que as videoaulas não contemplavam todos os níveis de estudo e muitos estudantes não possuíam acesso à internet para o uso das plataformas digitais.
Além desses desafios administrativos e burocráticos enfrentados pelo governo e pela sociedade paraense como um todo, o novo coronavírus teve sua evolução acentuada neste estado em comparação a maioria dos outros da união, pois no mês de abril o Pará se tornou o terceiro com maior índice de crescimento da Covid-19 (Maia, 2020). E o agravamento da doença no também decorreu da falta de isolamento social:
O isolamento social seriamente vivenciado, sobretudo na capital paraense, ao longo da primeira semana de presença do coronavírus em território paraense, certamente, foi a explicação da manutenção de níveis baixos ainda na segunda semana, perdendo-se, no entanto, o controle das infecções a partir da quarta semana em diante [...] Mesmo as medidas restritivas determinadas pelo Governo do Estado, não se mostraram suficientes para refrear a presença da população nas ruas, nem o fluxo de pessoas para o interior (Reis Netto et al., 2020, p. 10).
Com a evolução do vírus e o Pará sendo o sétimo estado de maior número de casos de Covid-19 no país no início do mês de maio de 2020, o governo decidiu decretar o lockdown, por meio do decreto estadual 729/2020, que instituiu a suspensão total das atividades não essenciais no Pará. A norma foi publicada pela primeira vez em 5 de maio de 2020, com vigência inicial até o dia 17 e depois foi prorrogada até 24 de maio de 2020, obrigando a população a ficar em casa e determinando o fechamento dos serviços não essenciais.
Este decreto atingiu, primeiramente, 10 cidades do estado, incluindo Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Bárbara, Santa Isabel do Pará, Castanhal, Santo Antônio do Tauá, Vigia do Nazaré e Breves. Estes municípios foram escolhidos por apresentarem um número de casos positivados além da média nacional e estadual. De acordo a OMS (citada pelo próprio governo do estado), a taxa de isolamento social indicada para a prevenção e combate ao novo coronavírus é de 70% (Lopes, 2020). No dia 16 de maio de 2020, o governo estendeu o lockdown para mais 7 municípios: Cametá, Canaã dos Carajás, Parauapebas, Marabá, Santarém, Abaetetuba e Capanema.
O decreto estadual garantiu a manutenção dos serviços essenciais, como o fornecimento de alimentos, materiais de construção, atividades farmacêuticas e atividades bancárias, além de permitir a saída de uma pessoa da família para realizar compras de abastecimento, bem como a permissão de saídas para exames e consultas com acompanhantes e para trabalho nos serviços essenciais, como os próprios hospitais e outros órgãos de saúde (Lopes, 2020).
a progressão da infecção por faixas etárias, reforça a hipótese de que o descumprimento das medidas de distanciamento social tem permitido a disseminação da pandemia, em especial, no ambiente doméstico, atingindo, consequentemente, crianças, adolescentes e idosos, em números cada vez maiores. É de se frisar, neste quadro, a necessidade de revisão das medidas legais e administrativas atualmente aplicadas quanto ao distanciamento social (Reis Netto et al., 2020, p. 25).
No último dia de lockdown, o Pará era o 7º colocado no ranking de isolamento social no país, mas no dia seguinte, no primeiro dia sem esse protocolo, o estado caiu pra a posição 12º e, até o dia 11 de junho de 2020, desceu ainda mais, ficando no 16º lugar, mas a própria Segurança Pública e Defesa Social do Estado afirmou que a flexibilização das atividades comerciais nos estados brasileiros geraria essa situação (Lopes, 2020).
O Instagram como ferramenta de comunicação das universidades
O Instagram foi criado, em 2010, pelo brasileiro Mike Krieger e por Kevin Systrom, que hoje é atual CEO da empresa. Primeiramente eles criaram o Burbn, um aplicativo um pouco complicado de ser manuseado, mas que logo deu origem ao Instagram. E, em 2011, foi considerado como o “aplicativo do ano de 2011” pela Apple, funcionando como programa gratuito para celular e tablet. No ano seguinte foi comprado pelo Facebook, com um negócio de, aproximadamente, US$ 1 bilhão.
Em 2016, a empresa incluiu o Stories (que tem a função de publicar fotos e vídeos rápidos, podendo ser editados e visualizados por um período de 24 horas) e acrescentou a possibilidade de fazer lives (transmissões de vídeo ao vivo) - o que aumentou consideravelmente seus números de usuários e interações. Hoje, o Instagram possui mais de 35 milhões de usuários “constituindo-se como lugares emergentes de difusão e compartilhamento de informações, ideias, perspectivas e possíveis campos de pesquisa, que mantêm a discussão atualizada” (Nazário; Santos; Ferreira Neto, 2020, p. 3-4).
Esta é uma rede social na internet que permite que pessoas, empresas, organizações em geral e universidades postem fotos e vídeos em suas páginas com a possibilidade de receber mensagens e reações dos seus usuários. Por exemplo, caso a pessoa tenha gostado de alguma imagem ou vídeo publicado é possível que ele clique no ícone em formato de coração, mostrando que “gostou” da publicação. É permitido também fazer comentários das postagens e republicá-las em seu perfil.
O Instagram permite, também, que os administradores das páginas criem um espaço de destaque para as publicações que eles mais queiram que sejam acessadas. Como o próprio nome diz, essas imagens ou vídeos permanecem em destaque na parte superior da página inicial dos perfis, antes do espaço destinado as outras publicações e funcionam como um arquivo do que foi publicado nos stories.
Diante disso, percebe-se que os sites de redes sociais, como o Instagram, têm contribuído para a divulgação de informações de interesse acadêmico e da sociedade em geral sobre os assuntos que envolvem diretamente a universidade e que sejam de interesse da sociedade, mostrando ações de ensino, pesquisa e extensão. Assim, entre os canais oficiais de comunicação das universidades federais do estado do Pará está o Instagram que serve para divulgar assuntos institucionais de interesse público: “as novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) têm se mostrado de grande relevância e potencialidade, quando se assume que o uso social da internet favoreceu a interação entre sujeitos (indivíduos e também instituições) e a disseminação de práticas materiais e simbólicas de participação” (Cavalcante; Muzi, 2019, p. 72).
De acordo com Cavalcante e Muzi (2019) as tecnologias virtuais funcionam como canais de comunicação capazes de organizar e de distribuir a informação e o conhecimento com autonomia, flexibilidade e adaptável devido as suas capacidades de descentralização. Por isso, as instituições, privadas e públicas, têm utilizado os sites de redes sociais com a finalidade comunicativa nas questões acadêmicas e administrativas. E, neste contexto de pandemia, onde as pessoas estão em isolamento social e as universidades com as suas atividades administrativas e acadêmicas suspensas na modalidade presencial, as redes sociais da internet têm se tornado canais essenciais de diálogo entre universidade e sociedade.
As redes sociais digitais contribuem no processo de diálogo entre sociedade e universidade, tendo em vista o papel social e de interesse público que toda instituição acadêmica deve exercer. De acordo com Marilena Chauí (2003), a universidade apresenta um relacionamento estreito com a sociedade e com isso deve trabalhar pelo viés social. Suas ações e atividades são reconhecidas pelos sujeitos e, por meio de suas práticas e atribuições, possui legitimidade e diferenciação perante outras instituições sociais, o que lhe confere autonomia institucional. E Boaventura de Sousa Santos (2011) defende que a universidade é um bem público, um local transformador, onde se promove conhecimento e que está ligado à sociedade a qual pertence: “a instituição que liga o presente ao médio e longo prazo pelos conhecimentos e pela formação que produz e pelo espaço público privilegiado de discussão aberta e crítica que constitui” (Santos, 2011, p. 111).
Dessa forma, percebe-se que a relação universidade, sociedade e redes sociais digitais acontece em prol da promoção do conhecimento social e coletivo, do desenvolvimento de práticas comunicativas de interesse de seus públicos e, em tempos de pandemia, ser um dos principais canais de divulgação de informações e de diálogo entre universidade e sociedade por vias tecnológicas.
Destarte, pesquisar sobre o papel que a comunicação deve exercer por esse bem público é fundamental em tempos de novo coronavírus, pois o contexto pandêmico coloca a universidade como um dos pilares de transformação social, de modo que as pesquisas desenvolvidas nesse espaço se tornam ações de enfretamento dessa condição de saúde pública em que o mundo se encontra hoje.
Análise do objeto
As páginas oficiais do Instagram das universidades apresentam, hoje, consideráveis números de seguidores - um fator importante que possibilita uma ampla observação de pesquisa sobre os acontecimentos e interações ocorridas entre os usuários e as universidades. E quando se trata de pandemia onde o uso das redes sociais digitais se tornou essencial para o estabelecimento de contato entre pessoas e entre pessoas e instituições, a utilização dessa rede social digital se fortaleceu como um canal de comunicação entre universidade e sociedade.
De forma geral, o cenário da crise de pandemia parece compatível com a expansão do uso das redes sociais, cada vez mais importantes na manutenção da sociabilidade em condições excepcionais de isolamento social. Assim, o monitoramento do vírus possibilitado por diversas instituições, por exemplo, tem ajudado as pessoas estarem informadas sobre o contexto do mundo, bem como o acesso a informações que permitam proteger da transmissão e infecção do novo coronavírus (Pochmann, 2020, p. 45).
Os números de seguidores no Instagram das universidades federais do estado do Pará estão contabilizados da seguinte maneira1: UFPA com 102k2 seguidores; Ufra com 6.563 seguidores; Ufopa com 4.968 seguidores; e Unifesspa com 9.279 seguidores.
Como mencionado anteriormente, o recorte de dados correspondeu ao período do dia 1º de março de 2020 até o dia 31 de maio de 2020, sendo coletadas as postagens que se referiam ao novo coronavírus, e este fato mostrou que quase todas as publicações diziam respeito, de forma direta ou indireta, à pandemia, envolvendo tanto as ações administrativas quanto as acadêmicas.
As publicações inseridas nas páginas @UFPA_oficial, @UFRAoficial, @UFOPAoficial e @UNIFESSPA_oficial continuaram abordando temas institucionais, porém, relacionando-os ao contexto pandêmico, como informações gerais sobre a Covid-19, suspensão das aulas, trabalho remoto dos servidores, apoio psicológico à comunidade, prevenção e sintomas da Covid-19, campanhas contra fake news, mensagens dos reitores, dentre outros assuntos ligados ao novo coronavírus e seus desdobramentos conforme mostram as tabelas 1, 2, 3 e 4.
Para fins de análise, foi selecionado uma publicação de cada página oficial do Instagram das instituições. Escolheu-se a postagem que teve maior alcance de “gosto” ou de “visualização” dentre desse período de coleta de dados. Diante disso, abaixo, têm-se as tabelas com as publicações sobre o novo coronavírus nas páginas do Instagram da UFPA, Ufra, Ufopa e Unifesspa e os quatro print screens das publicações de maior alcance do público de cada uma delas.
A tabela 1, apresenta o total de postagens dos meses de março, abril de maio de 2020 na página oficial do Instagram da UFPA foi de 43 publicações.

Pode-se observar nessas postagens que a publicação de maior alcance foi um vídeo, do dia 20 de maio de 2020, com a mensagem do reitor da instituição, contabilizando 17.795 visualizações. Abaixo a publicação (Imagem 2):

A imagem acima corresponde a um vídeo com a mensagem do reitor falando sobre as ações que a universidade tem desenvolvido durante a pandemia. Ao longo do audiovisual o dirigente menciona a importância de informar a população sobre o que a instituição tem feito para combater o coronavírus, bem como o desenvolvimento de pesquisas em diversas áreas do conhecimento para contribuir com a sociedade. Ele menciona sobre o grupo de trabalho da UFPA que tem estudado sobre o novo coronavírus, a importância do isolamento social e a manutenção da suspensão das aulas como forma de prevenção. Este grupo é constituído por professores da instituição de diferentes áreas do conhecimento.
O recurso audiovisual também mostrou, por meio da fala do representante da instituição, aos usuários do Instagram algumas das atividades e ações da UFPA durante a pandemia, são elas: informações sobre trabalho remoto dos servidores; captação de recursos financeiros para a criação e manutenção de projetos sobre a Covid-19; outorga de grau por antecipação; atendimento psicológico virtual; novos modelos matemáticos para mapeamento do coronavírus; novas pesquisa sobre isolamento social e outras na área da saúde; ampliação de exames e testes aos profissionais de saúde da universidade; produção de protetores faciais para entregar em várias instituições de saúde no estado do Pará; produção de máscaras de tecido no campus de Cametá; hospital veterinário com atendimento via telefone; cartilhas de orientação para povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos; dentre muitas outras.
Ainda no vídeo, o reitor fortaleceu a fala sobre a campanha de apoio aos hospitais universitários e a garantia de atendimento aos pacientes de Covid-19 no Hospital Universitário Barros Barreto, bem como a contratação de novos profissionais de saúde. Mencionou ainda sobre a perda de familiares, amigos e colegas de trabalho por conta do coronavírus, deixando uma palavra de conforto aos usuários dessa rede.
Portanto, percebe-se que além da ferramenta Instagram servir como um meio de comunicação entre universidade e sociedade, ela tem servido para que a universidade possa divulgar suas ações e cumprir seu papel social de desenvolvimento local, regional e internacional. E em se tratando da localização da UFPA que fica no Pará - um estado que chegou a ficar em 3º lugar no país em casos confirmados de Covid-19 - a urgência e necessárias ações são fundamentais para a região. Afinal,
A responsabilidade social da universidade tem de ser assumida pela universidade, aceitando ser permeável às demandas sociais [...] A autonomia universitária e a liberdade acadêmica - que, no passado, foram esgrimidas para desresponsabilizar socialmente a universidade - assumem agora uma nova premência, uma vez que só elas podem garantir uma resposta empenhada e criativa aos desafios da responsabilidade social (Santos, 2011, p. 89-90).
Diante disso, vemos a contribuição não só da UFPA, mas também das ações de comunicação que tem servido como ferramenta de engajamento social e democrático para o cumprimento dos propósitos da universidade pública, gratuita e de qualidade.
De acordo com a tabela 2, observou-se que o total de postagens dos meses de março, abril de maio de 2020 na página oficial do Instagram da Ufra foi de 42 postagens.

A publicação de maior alcance, similar ao da UFPA, foi também um vídeo com uma mensagem do reitor da instituição. Essa postagem contou com 2.048 visualizações e foi publicada no dia 25 de março de 2020. Abaixo a publicação:

A imagem acima se refere ao vídeo com a mensagem do reitor postado no Instagram da Ufra. Nele, o representante da instituição aponta que o Comitê de Gestão de Crise Ufra decidiu suspender as atividades presenciais da instituição por tempo indeterminado em função da pandemia da Covid-19, visando preservar a saúde de todos.
Mencionou sobre a suspensão do calendário acadêmico, de modo que este será reprogramado quando a universidade voltar às aulas normais. Outro ponto foi a satisfação dada sobre não utilizar as plataformas digitais EAD para a manutenção das aulas à distância, mesmo sendo garantida pelo MEC via portaria. O não uso dessas ferramentas foi decidido em decorrência da falta de acesso à internet por muito alunos, além da qualidade inferior em comparação às aulas presenciais.
Por meio da página @UFRAoficial se percebe que essa medida representa a autonomia da universidade em decidir, baseado em seu contexto, qual o melhor caminho para seus alunos e servidores, pois “uma universidade que não tem um plano de si mesma, carente de sua própria ideia utópica de como quer crescer [...] só por isto está debilitada e se torna incapaz de viver o seu destino” (Ribeiro, 1986, p. 9). O autor defende, portanto, a autonomia da universidade e a inconformidade de ser reprimidas por diferentes governos que possam tentar enfraquece-la. Para ele, é necessário sempre reforçar a função social de uma universidade livre e libertária que deve prezar pelo interesse público e de qualidade e por uma sociedade democrática.
As publicações no Instagram da Ufopa, representada pela tabela 3, nos meses de março, abril de maio de 2020 totalizaram em 36 postagens.

E a postagem de maior reação do público foi do dia 27 de março de 2020, que mencionou sobre a produção de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) pela universidade, contabilizando 495 gostos.

A imagem 4 representa a publicação com maior número de cliques no ícone “gosto” da página @UFOPAoficial no período de recorte da coleta de dados. Dentre as quatro universidades referidas neste trabalho, a Ufopa foi a única que não postou vídeo com a fala do seu representante.
No caso dessa Universidade, a postagem que obteve mais “gostos” dos usuários foi sobre a produção de EPIs que apresentou a seguinte legenda:
Universidade pública é lugar de pesquisa, ciência e cooperação. Pesquisadores, técnicos e estudantes da Ufopa estão produzindo Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para ser utilizados pelos profissionais de Saúde dos hospitais de Santarém, uma parte do material vem dos projetos mantidos pelos laboratórios da Ufopa. A outra, está sendo comprada no comércio local. Além disso, vários comerciantes estão fazendo suas doações por meio da Associação Comercial e Empresarial de Santarém (Aces). Será possível produzir de 40 a 50 equipamentos por dia e o material disponível é suficiente para produzir até 500 peças. Saiba mais no site da Ufopa. #UFOPA #coronavírus #covid_19 #universidadepública (UFOPA, 2020, s./p.).
A união da imagem com a legenda apresenta o retorno da universidade à sociedade, não apenas com a produção de materiais essenciais para a prevenção da Covid-19, mas, também, com o envolvimento de diversos agentes da sociedade santarena onde a Ufopa está localizada. O apoio social da instituição se estende para além dos alunos e servidores, perpassando por outros órgãos da região como hospitais e comércio. Esse envolvimento de outros setores com a universidade está sendo amplamente divulgado, colaborando para um bem comum.
Uma comunicação honesta e imparcial, pode ensejar, pela população, a estratificação de comportamentos em favor do surgimento, dentro das comunidades, de uma mentalidade proativa que possa promover a consciência de que se deva exigir novas atitudes objetivas pelos poderes constituídos, voltadas para os interesses coletivos (Barbosa Filho, 2020, p. 49).
O poder da comunicação não se estabelece apenas no fazer divulgação, mas propõe novas maneiras de comportamento social, onde os mesmos espaços ganham outras dimensões relacionais, promovendo gestos de solidariedade, luta e resistência. Tais fatores essenciais para o combate do novo coronavírus. Ou seja, a ação comunicativa está diretamente implicada com o fazer pesquisa em prol de uma demanda coletiva.
As publicações no Instagram da Unifesspa nos meses de março, abril de maio de 2020 totalizaram em 35 conforme mostra a tabela 4.

E a postagem de maior reação do público foi do dia 29 de maio de 2020, que abordou sobre o fornecimento pela universidade de apoio psicológico às pessoas que trabalham nos órgãos de saúde de Marabá/PA. Essa postagem se refere a um vídeo que teve, até o momento, 1.708 visualizações.

A imagem 5 corresponde à publicação que diz respeito ao apoio psicológico aos trabalhadores da saúde atuantes em Marabá oferecido pelos professores de psicologia da instituição. A informação é de que a escuta psicológica poderá ser realizada por telefone ou videochamada.
Em uma crise como a atual, assessorias de órgãos de governo, universidades, hospitais, entidades representativas do setor de saúde passam a atuar como veículos de comunicação, consolidando processo acelerado pela internet e, em especial, pelas redes sociais. Por exemplo: em busca de informação, pacientes de hospitais tendem a buscar auxílio direto nos perfis dessas instituições (Ferraretto; Morgado, 2020, p. 20).
É inegável que a sensação de medo, morte, incertezas e o desconhecido da própria doença que já se mostrou altamente contagiosa provocou em muitas pessoas desequilíbrio emocional e psicológico, de modo que as buscas por acolhimento e psicoterapias cresceram nos últimos meses. Este fator foi alvo de novas ações das universidades aqui apresentadas e não somente da Unifesspa, pois o abalo psicológico durante a pandemia foi do individual ao coletivo. Ao expor no Instagram a disponibilidade desses serviços já aponta mecanismos de fuga ao sofrimento humano, pois encontra possibilidades de respostas para soluções paliativas.
Considerações finais
Discutir sobre a comunicação das universidades neste contexto pandêmico se torna essencial, pois representa a identificação da pesquisa, da universidade e da comunicação como ferramentas de diálogo com a sociedade, de resistência contra uma política que desinforma e de luta no combate ao Covid-19.
Percebeu-se que a comunicação está diretamente relacionada com o fazer ciência, onde a universidade e a sociedade podem estabelecer novas dimensões relacionais mesmo em um contexto tão conturbado. A contribuição da comunicação é, antes de tudo, um gesto de enfrentamento de condições, afinal, “todo mundo que trabalha com comunicação tem sua responsabilidade dobrada agora, porque falamos com um público que, assim como nós, está cheio de medos e incertezas” (Martino, 2020, s./p.).
É evidente que a comunicação a distância nunca substituirá a riqueza que as atividades presenciais desempenham na vida em sociedade, mas enquanto a pandemia impuser o isolamento social como a melhor medida de prevenção, que a comunicação possa proporcionar ações significativas para o enfrentamento da Covid-19.
Dessa forma, percebe-se que muitas pesquisas ainda devem ser realizadas a fim de refletir sobre o papel da comunicação das universidades em tempos de pandemia, pois à medida que novas formas de viver em sociedade vão surgindo, novas transformações sociais, educacionais, econômicas e políticas também vão acontecendo e, com isso, novas formas de se relacionar e de se comunicar. Assim, a comunicação como uma dimensão relacional abre caminho para a conquista de novos espaços de diálogo e de novas pesquisas.
Referências
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Notas