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Conexões periféricas no pensamento de Amílcar Cabral
Peripheral connections in the thought of Amílcar Cabral
Wirapuru Revista Latinoamericana de Estudios de las Ideas, núm. 3, pp. 36-47, 2021
Ariadna Ediciones

Artículos



Recepción: 28 Julio 2021

Aprobación: 30 Agosto 2021

DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.5419696

Resumo: Neste artigo, abordaremos Amílcar Cabral (1924-1973) como pensador periférico, cujas teorizações se ocuparam fundamentalmente de superar o sistema mundial que divide as regiões do globo entre centrais e periféricas. O fenômeno do imperialismo estabelece a relação desestabilizadora que o faz pensar estruturalmente em relação ao centro. Primeiramente, examinaremos o percurso formativo de Cabral, salientando as conexões com outras expressões de pensamento periférico. A seguir, analisaremos o discurso A Arma da Teoria (1966), do qual destacaremos, além dos elementos do marxismo-leninismo apropriados por Cabral ao longo da sua formação política, o diálogo com o pan-africanismo e outras vozes periféricas. Argumentaremos que as conexões estabelecidas por Cabral, por sua intensidade, acabam por ser incorporadas à sua própria voz enunciadora.

Palavras-chave: Amílcar Cabral, pensamento periférico, pan-africanismo, marxismo-leninismo, A Arma da Teoria.

Abstract: In this article, we will discuss Amílcar Cabral (1924-1973) as a peripheral thinker, whose theories were fundamentally concerned with overcoming the world system that divides the globe into central and peripheral regions. The phenomenon of imperialism originates the destabilizing relation that leads him to think structurally in relation to the centre. First, we will examine Cabral's formative path, pointing out the connections with other expressions of peripheral thought. Next, we will analyse the discourse The Weapon of Theory (1966), from which we will highlight, along with the elements of Marxism-Leninism appropriated by Cabral throughout his political formation, the dialogue with Pan-Africanism and other peripheral voices. We will argue that the connections established by Cabral, due to their intensity, are incorporated into his own enunciating voice.

Keywords: Amílcar Cabral, peripheral thought, Pan-Africanism, Marxism-Leninism, The Weapon of Theory.



A própria criação do nosso Partido, que planificou e lançou a luta de libertação nacional, é um ato de cultura. Também, é uma prova clara de resistência cultural, porque queremos ser nós mesmos, ou seja, africanos da Guiné e Cabo Verde.

Fuente: Amílcar Cabral

Introdução

O filósofo chileno Eduardo Devés-Valdés define como “pensamento periférico” aquele “que é produzido por uma parcela da intelectualidade que pensa em relação ao centro e que, grosso modo, se move na disjuntiva ‘ser como o centro’ versus ‘ser como nós mesmos’”. O pensador periférico é aquele que sofreu um forte abalo ao ter contato com o centro e, impressionado “com o poder e com a beleza do centro”, desenvolve uma sensibilidade próxima do complexo de inferioridade, passando a pensar “estruturalmente em relação ao centro” (Devés-Valdés, 2008: 12).

Na citação escolhida para a epígrafe deste artigo, Amílcar Cabral se movimenta conforme essa disjuntiva, ao declarar perante os seus companheiros do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) que por “nós mesmos” entende “africanos da Guiné e de Cabo Verde”. Prossegue Cabral: “A nossa cultura não é a cultura dos portugueses, embora tenha, hoje em dia, alguma influência da cultura portuguesa” (Cabral, 2014: 187). Ao longo dessa apresentação, intitulada Resistência cultural, defenderá o princípio da “assimilação crítica” (Cabral, 2014: 202), de forma que da cultura que ele define como africana façam parte também experiências e conhecimentos vindos do estrangeiro.

Podemos apontar a relação desestabilizadora que deu ritmo às formulações de Cabral como sendo o fenômeno do imperialismo. Cabral foi um intelectual oriundo da periferia do sistema capitalista mundial, isto é, das áreas transformadas pelo imperialismo em colônias e semicolônias, como já dizia Lênin (2012). Foi um revolucionário que lutou pela derrubada deste sistema, trabalhando pela superação da condição periférica por meio da abolição de um sistema baseado na exploração dos trabalhadores e dos povos do mundo. Dessa forma, o tipo de teorização e prática revolucionária que desenvolve ocupa-se fundamentalmente de derrotar a dominação do imperialismo na periferia do sistema, mais especificamente na Guiné-Bissau e em Cabo Verde, por cuja independência política e libertação nacional Cabral dedicou a sua vida.

Este artigo trata do processo de constituição desse intelectual da periferia, historicizando a construção da sua questão de “ser como nós, ser como o centro”. Escolhemos contar este percurso valorizando as conexões com outras expressões intelectuais periféricas, que, se não foram as únicas, foram muito importantes para a sua formação. O destaque dado às conexões periféricas é uma opção consciente de que os vínculos com o pensamento produzido no centro das hierarquias operativas no nosso mundo são mais facilmente visibilizados, tanto pelo valor simbólico atribuído a eles quanto pela abundância de conhecimentos gerados sobre eles. Propõe-se contribuir para uma compreensão mais abrangente da formação deste pensador, exercitando a capacidade de ver e valorizar aquilo que é periférico. O artigo começa narrando resumidamente a formação de Cabral enquanto pensador periférico, para depois deter-se nas conexões periféricas que vibram no discurso A Arma da Teoria, de 1966.

Uma formação (também) periférica

Intelectuais e políticos africanos que emergiram na cena pública no pós-II Guerra são muitas vezes descritos como pessoas ocidentalizadas, de formação europeia. Tendo sido escolarizados durante o período colonial, muitos deles estudaram em universidades situadas na metrópole do sistema colonial em que viviam. Estamos falando de pensadores e ativistas anticoloniais, escritores, estudiosos, líderes de movimentos de libertação, ou de políticos da primeira geração de dirigentes dos seus países independentes. A experiência do estudo no exterior, quando ela existiu, costuma ser simbólica e analiticamente valorizada. Pode-se dizer até que há uma superestimação deste dado no conjunto de vidas muito fascinantes e intensas, sobre as quais há uma riqueza de elementos a se explorar para além de se eleger como denominador comum o fato de muitas destas pessoas terem estudado em universidades europeias.

Ao iniciar uma pesquisa, um estudioso encontra mais elementos sobre objetos localizados nos centros das hierarquias do que nas periferias; e, antes disso, provavelmente já tinha uma formação que em larga medida exclui sujeitos, áreas e temas periféricos. Disso decorre uma facilidade em enxergar o centro e a estabelecer conexões dos seus objetos de estudo com ele.

Essas circunstâncias encontradas pelo pesquisador são produzidas e condicionadas historicamente. Assim sendo, são modificáveis e, de fato, têm-se modificado nos últimos tempos. Por exemplo, vem-se construindo mais bibliografia sobre os estabelecimentos de ensino secundário do continente africano durante o colonialismo, e incorporando-se a frequência nestes estabelecimentos à análise da formação dos intelectuais e dos políticos africanos. Hoje, há estudos sobre o ensino secundário em Cabo Verde (Carvalho, 2009), ou análises que valorizam a frequência no Liceu Gil Eanes na trajetória de Amílcar Cabral (Sousa, 2016) e dos demais fundadores do PAIGC (Coutinho, 2017). Também num esforço de proporcionar uma compreensão dos nacionalistas africanos mais ampla do que o quadro das conexões ocidentais, Anjos (2016) aborda as fontes populares do discurso revolucionário de Cabral.

Ao mapear aquilo que é periférico na formação de Cabral, buscaremos não essencializar esta condição, lembrando ainda que ele também se relacionou política e intelectualmente com indivíduos e movimentos provenientes de regiões centrais. Nesta seção, a nossa escolha é contar muito brevemente o percurso intelectual de Cabral tendo como pontos de partida algumas das inúmeras conexões periféricas que estabeleceu.1

Amílcar Cabral, nascido no chão da Guiné em 1924, foi escolarizado em Cabo Verde, terra dos seus pais. Após se formar como engenheiro agrônomo em Portugal, vai trabalhar na Guiné, onde realiza o Censo Agrícola de 1953, juntamente com a sua primeira mulher, a também engenheira Maria Helena Rodrigues. Em Bissau, conhece os guineenses e cabo-verdianos com quem futuramente criará o PAIGC. Além da Guiné, Cabral trabalha como agrônomo em Angola, deslocando-se com frequência para esta importante colônia durante a segunda metade dos anos 1950, experiência impactante para conhecer a realidade vivida pelas populações colonizadas no Império Português. As estadas em Angola aprofundam os seus contatos com os nacionalistas angolanos, alguns dos quais já conhecidos de Cabral desde os tempos de estudante em Lisboa.

Antes de estudar no Instituto Superior de Agronomia (ISA) de Lisboa, Cabral foi aluno do Liceu Gil Eanes, na ilha de São Vicente, o mais importante centro intelectual do arquipélago de Cabo Verde. Como conta Sousa (2016: 70-78), Amílcar, ainda adolescente, destaca-se como agitador cultural e desportivo do liceu, fundando e presidindo a Associação Desportiva do Liceu de Cabo Verde, organizando o teatro escolar, e participando de concursos literários. É no liceu que Amílcar tem contato com a ideia da cabo-verdianidade e de pertencimento ao mundo português. Alguns dos professores do liceu, como Baltasar Lopes da Silva, foram protagonistas do movimento em torno da revista Claridade (1936-1960), de afirmação de uma identidade cabo-verdiana. Naquele ambiente intelectual surge ainda a revista Certeza, da Academia Cultivar, em 1944, para a qual Amílcar se candidata.

Foi em diálogo com as ideias de um pensador brasileiro que a intelectualidade cabo-verdiana achou maneiras de ser cabo-verdiana também sendo portuguesa, de ser portuguesa de um modo cabo-verdiano. A partir dos anos 1930, os intelectuais da revista Claridade criam múltiplas interpretações das teorizações do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, na busca de uma “identidade crioula”.2 Assinalemos que esta apropriação do pensamento freyriano pela intelectualidade de Cabo Verde inicia-se antes da adoção do lusotropicalismo como discurso oficial do Estado Novo português, o que ocorrerá no pós-II Guerra, por meios e com fins distintos das propostas cabo-verdianas.

Além de Freyre, mencionemos os escritores modernistas brasileiros, muito inspiradores para os escritores cabo-verdianos, como reconhece o próprio Cabral (2013a). José Lins do Rego, Jorge Amado, Manuel Bandeira, Graciliano Ramos, entre outros, são alguns dos escritores brasileiros que ajudaram a “mudar totalmente a face da literatura caboverdiana” (Ferreira, 1987: 84). Muitos destes autores brasileiros de ficção eram considerados leituras subversivas pelo regime fascista-colonialista português, devido à crítica social que as suas obras continham.

É nesse caldo de cultura cabo-verdiano que Cabral emerge como jovem intelectual, atuando nos meios culturais e intervindo na imprensa. Ressaltamos os ingredientes brasileiros deste cadinho, com as releituras de Freyre cimentando o pertencimento à identidade e ao mundo português, e as leituras de Jorge Amado e companhia insuflando as primeiras ideias contestatórias do jovem Amílcar.

Em Portugal a partir de 1945, Amílcar faz amigos e camaradas na comunidade estudantil africana, com os quais percorre o caminho que ele próprio intitulou de reafricanização dos espíritos. Na busca das suas raízes africanas, estudam tudo o que se refere ao continente e à diáspora negra. A África que mentalizam e com que se preocupam não se limita às porções dominadas por Portugal, mas abrange o conjunto do continente, imaginado como uma totalidade. É uma África histórica (grande ousadia!), cultural, que transborda para as Américas dolorosamente, mas também poderosamente, criando um mundo negro. Amílcar e o seu grupo desenvolvem atividades políticas e culturais com os marinheiros africanos associados ao Clube Marítimo de Lisboa –trabalhadores do mar que navegam pelo mundo e fazem circular mensagens e livros. Há um interesse renovado pelas suas terras natais ou de referência –Angola, Cabo Verde, Guiné–, que estes jovens querem descobrir e transformar. Têm contato com as ideias da Negritude e articulam-se com as redes francófonas do pan-africanismo, nomeadamente com o grupo da revista Présence Africaine, para a qual Cabral escreve um artigo em 1953 (Cabral, 2013d). Neste artigo, Cabral denuncia a existência de racismo nos espaços de colonização portuguesa, contrariando o discurso de harmonia racial propagado pelo regime português.

A camaradagem com os angolanos é particularmente estimulante para o percurso identitário e a aprendizagem política de Cabral. Por exemplo, como explica Sousa (2016: 137-138), foi inspirado no movimento Vamos Descobrir Angola –liderado em Luanda por Viriato da Cruz, e divulgado em Lisboa por Mário de Andrade e Agostinho Neto– que Cabral realiza algumas ações de cunho nativista durante as suas férias em Cabo Verde, em 1949. Nestas férias, Cabral leva ao ar um programa de rádio abordando a realidade e os problemas de Cabo Verde, numa proposta de conscientizar as pessoas comuns e dar a elas a oportunidade de conhecer a sua própria terra. Este é um mergulho na realidade local, mas inserindo-a na largueza do mundo, e com especial emoção no mundo negro, com Cabral apontando as semelhanças entre a cultura cabo-verdiana e as dos negros das Américas.

Graças ao contato com o pan-africanismo, Cabral passa a conceber a África como uma realidade independente de Portugal ou de qualquer império europeu, e desenvolve sentimentos de pertencimento a uma identidade africana. Os estudos agrários produzidos por Cabral nos anos 1950 registram esta nova compreensão do continente africano enquanto uma unidade conceitual própria, com a agricultura guineense sendo examinada no quadro da agricultura dos povos negro-africanos (Cabral, 1988a; 1988b).

Independência, unidade: estamos primeiramente no terreno da cultura, do conceito, do sentimento. Com o passar dos anos, estes conceitos também serão desbragadamente políticos: independência política, unidade política –projetos que amadurecem ao longo dos anos 1950, até se tornarem bandeiras agitadas publicamente a partir de 1960.

Em meio ao processo de africanização, Cabral vai fazendo a sua apropriação do marxismo, ainda não na sua faceta de libertação nacional –o que ocorrerá mais tarde, no decurso da luta por independência–, mas desenvolvendo uma sensibilidade antirracista ancorada numa assimilação criativa e livre do materialismo histórico e dialético.3

Amílcar e os companheiros africanos que encontra em Portugal, na Guiné e em Angola imaginam-se como revolucionários e formam uma identidade militante tendo como uma de suas referências os romances de Jorge Amado, que povoam o seu imaginário com representações da luta social e do cotidiano da militância. Fornecem-lhes elementos para significar como práticas revolucionárias as suas práticas militantes, legais e clandestinas –alfabetização de marinheiros, atuação no esporte, publicação de artigos na imprensa, criação de organizações nacionalistas, participação em movimentos antifascistas–, integrando-as espiritualmente a um movimento mas amplo, formado por pessoas desconhecidas mas ao mesmo tempo cúmplices. Em carta de 1955 enviada à mulher a partir de Catumbela, Angola, Amílcar conta estar entusiasmado com a trilogia Subterrâneos da Liberdade, de 1954. Transcreve trechos do primeiro volume da obra, destacando a relação de amor e camaradagem entre as personagens Mariana e João, um casal de operários. Após a transcrição de alguns trechos, Amílcar faz o seguinte comentário:

Operários e camponeses, “coronéis” e banqueiros, luta, flor. Luta subterrânea, na legalidade e na ilegalidade, buscando em cada gesto, em cada pensamento, a estrela que a penumbra não pode esconder, gerando sob e sobre a lama dum presente de crianças famintas o porvir de todos os homens. A hipocrisia e o cinismo desenfreados, o interesse, o estômago dominando o coração e o cérebro, [tornam-se] a lealdade mais bela, a solidariedade transformada em atos vividos em cada instante, o desinteresse pessoal numa luta impessoal mas coletiva. E sobre esse mundo brasileiro de 37 a 40 [º C], à luz do luar e à luz do sol, do luar do amor e da esperança num céu grávido de estrelas, do sol nascendo da terra, do coração dos homens e das mulheres que lutam, do olho simples e interrogativo das crianças desamparadas. O amparo nascendo do desamparo, a certeza gerada da incerteza, a luz brotando da escuridão. Só o amor, esse é o livro de Jorge Amado. Um livro dos homens, um livro para nós todos, na imensidão do seu amor e da sua esperança. Da sua certeza. (Cabral et al., 2016: 373-374)

Ao final da carta, ficamos a saber que Cabral escreveu as três páginas que a compunham sem os óculos, os quais solicita à mulher que envie de Luanda “com a maior urgência” –mas deduzimos que mais urgente era transmitir a Maria Helena aquelas palavras de amor e luta, ainda que sem o auxílio dos óculos.

Durante a luta por independência, Cabral atuará com alguns dos seus parceiros de juventude –como os angolanos Mário de Andrade e Agostinho Neto, e o moçambicano Marcelino dos Santos –no âmbito da Conferência das Organizações Nacionalistas das Colônias Portuguesas (CONCP), fundada em 1961. Representando esta organização, Cabral pronunciará um dos seus mais famosos discursos revolucionários, A Arma da Teoria, na I Conferência de Solidariedade dos Povos da África, da Ásia e da América Latina –a Conferência Tricontinental, encontro de organizações e países do Terceiro Mundo ocorrido em 1966. Como veremos a seguir, a formação intensamente periférica de Cabral adquirida ao longo da vida vai aparecer na multiplicidade de vozes que se enunciam neste discurso.

Conferência Tricontinental de Havana, 1966: A Arma da Teoria, um discurso de várias vozes periféricas

É em nome da CONCP que Amílcar Cabral sobe à tribuna da Conferência Tricontinental de Havana, em 6 de janeiro de 1966, para proferir Fundamentos e objetivos da libertação nacional em relação com a estrutura social, discurso mais conhecido como A Arma da Teoria (Cabral, 2013c). A CONCP reunia, além do PAIGC, o Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e o Comitê pela Libertação de São Tomé e Príncipe (CLSTP). Contudo, o sujeito político de enunciação deste discurso extrapola as fronteiras de representatividade da CONCP, imaginando uma base geoidentitária para a luta dessas organizações mais ampla do que os territórios que estas reivindicam. Como veremos, Cabral utilizará a primeira pessoa do plural para se expressar enquanto parte de diversas coletividades para além do seu partido e da CONCP. Se o discurso de Cabral pode ser analisado como “um nó numa vasta rede” –como propôs Lucas (2019: 119)–, verificamos que esta é uma rede de muitos nós: nós africanos, nós terceiro-mundistas, nós explorados, nós seres humanos, nós revolucionários. Ao mesmo tempo que observamos o caráter plural do discurso de Cabral, assinalamos que A Arma da Teoria se constitui num texto com ideias muito singulares de Cabral; estas ideias, por sua vez, sintetizam tendências de pensamento e movimentos políticos anteriores à sua emergência enquanto pensador e líder político.

A Arma da Teoria é um discurso emitido em Havana, capital de Cuba, e, como tal, está permeado por interlocuções e comunhões com Cuba, cheio de referências a certa ideia de Cuba e à sua revolução. Ao saudar os seus anfitriões cubanos, exprime votos de sucesso e vida longa a Fidel Castro “a serviço da Pátria Cubana, do progresso e da felicidade do seu povo, a serviço da Humanidade” (Cabral, 2013c: 240). Esta atribuição de um caráter humanitário e internacional à Revolução Cubana –numa formulação em que o êxito de um povo seria de toda a humanidade– também está presente quando afirma que a experiência cubana estava criando “um Homem novo, plenamente consciente dos seus direitos e deveres nacionais, continentais e internacionais” (Cabral, 2013c: 240). Ao listar o continente como uma das escalas de responsabilidade do homem novo cubano, Cabral reverbera a dimensão latino-americana do processo revolucionário daquele país.

A escala continental africana era operativa no projeto de Cabral enquanto líder de um movimento independentista, que visava à criação de um Estado nacional soberano para os territórios da Guiné e de Cabo Verde. A dimensão africana funcionava neste projeto como perspectiva de uma África futura, emancipada e unida, da qual as independências nacionais e a consolidação dos Estados africanos seriam etapas necessárias. Este era o ideário dos pan-africanismos de terceira e quarta gerações –para utilizar a periodização proposta por Devés-Valdés (2008)–, com expoentes como Frantz Fanon e Kwame Nkrumah.

A África era uma referência no projeto de Cabral não só como futuro, mas também enquanto passado histórico comum, numa noção que remete ao pan-africanismo desde as suas formulações do início do século XX, com todo o seu diálogo entre as Américas (sobretudo, o Caribe) e a África. Discursando na caribenha terra de Cuba, Cabral fará menção aos vínculos biológicos, culturais e históricos decorrentes da formação da diáspora africana, falando enquanto um homem negro e africano para uma Cuba que ele imaginava dotada de africanidade. Vejamos como isto se constrói.

Cabral elogia a “política de ‘porta aberta para a saída dos inimigos da Revolução’” praticada por Cuba, e declara que “os povos dos países africanos ainda parcialmente ou totalmente dominados pelo colonialismo português” estão dispostos a enviar para a ilha “tantos homens e mulheres quantos sejam necessários para compensar” a saída dos cubanos incompatibilizados com o novo regime (Cabral, 2013c: 241). Mobilizando as ideias da partilha da experiência da escravidão e da solidariedade racial –ainda que o racial aqui seja mais histórico e cultural do que biológico– Cabral enuncia:

Repetindo o caminho outrora doloroso e trágico dos nossos antepassados (nomeadamente da Guiné e Angola) que foram transplantados para Cuba como escravos, viremos hoje como homens livres, como trabalhadores conscientes e como patriotas cubanos, para exercer uma actividade produtiva nesta sociedade nova, justa e multirracial; para ajudar a defender com o nosso sangue as conquistas do povo de Cuba. Mas viremos também para reforçar tanto os laços históricos, de sangue e de cultura que unem os nossos povos ao povo cubano, como essa desconcentração mágica, essa alegria visceral e esse ritmo contagioso que fazem da construção do socialismo em Cuba um fenómeno novo à face do mundo, um acontecimento único e, para muitos, insólito. (Cabral, 2013c: 241)

Trata-se de uma passagem relativamente pequena no discurso de Cabral, mas certamente arrepiante para quem a ouviu, e ainda hoje emocionante para quem nutre esse sentimento de partilha. O trabalho revolucionário é apresentado como uma possibilidade de superar a experiência histórica extremamente traumática da escravidão. Por sua vez, fatores culturais como a alegria, a “magia” e o ritmo são valorizados como uma herança da presença africana em Cuba.

Outro ponto interessante do trecho supracitado é a possibilidade de um africano se tornar um patriota cubano por meio da luta. Cabral é tributário de uma concepção política em que cada povo e cada indivíduo têm compromisso com a “sua” terra –ainda que a luta em prol desta terra tenha um caráter internacional. No entanto, esta delimitação de responsabilidades não necessariamente é ditada pelo local de nascimento ou pela nacionalidade de que se é oficialmente portador, tendo um caráter de escolha política.

Um momento memorável do discurso de Cabral é a revisão do postulado marxista de que a luta de classes é o motor da história. Cabral desenvolve uma explicação que coloca as forças produtivas –a ação criadora do ser humano– como “a verdadeira e permanente força motora da história”. A luta de classes seria o motor da história “durante um certo período da história”. Contudo, a história humana teria início antes da instalação do conflito entre as classes, e seguiria o seu caminho após o fim da divisão da sociedade em grupos de classe. Para elaborar esta tese, Cabral tem uma motivação que é também (mas não só) de ordem psicológica: a concepção da história como ritmada pela luta de classes levaria a “considerar que vários agrupamentos humanos da África, Ásia e América Latina viviam sem história ou fora da história no momento em que foram submetidos ao jugo do imperialismo” (Cabral, 2013c: 244).

Como diz Devés-Valdés (2008: 12), o pensamento periférico “só é compreensível a partir de um tipo de sensibilidade cujo caráter se aproxima do complexo de inferioridade”. Efetivamente, vemos nesta construção de Cabral os complexos de inferioridade dando dinâmica às ideias. Certo é que Cabral, para fazer a sua elaboração, transita e produz conhecimentos nos domínios das ciências humanas (sociologia, economia, história). Ele próprio afirma que a sua posição está “baseada no conhecimento concreto da realidade socioeconómica dos nossos países e na análise do processo de desenvolvimento do fenómeno classe” (Cabral, 2013c: 244). Acredita, ainda, que o postulado do “desaparecimento das classes como uma fatalidade na história” foi desenvolvido “em bases científicas” (Cabral, 2013c: 245). Sem prejuízo disso, verificamos que a componente emocional fala bastante alto para entendermos a elaboração do camarada, de forma perceptível na linguagem empregada. Segundo Cabral, “a condição de povos sem história” é “triste” (Cabral, 2013c: 245). Repensar o papel da luta de classes na história elimina “dúvidas que perturbam o nosso espírito” (Cabral, 2013c: 245). O novo entendimento traz-lhe conforto –“sentimo-nos bem nesta conclusão”–; ela dá a “agradável certeza” de que após a construção do socialismo e a “liquidação do fenómeno classe e da luta de classes” a história humana prosseguirá.

Além da saudação inicial a Cuba, fazendo menção aos vínculos gerados pela formação da diáspora africana, esse é outro momento do diálogo com o pan-africanismo. A afirmação de que a África é um continente com história, e que esta história existe antes da chegada do europeu, é uma questão importante para as expressões de pensamento e os movimentos políticos pan-africanistas. Remete a historiadores como Joseph Ki-Zerbo ou Cheikh Anta Diop, da corrente historiográfica que Lopes (1994) chamou de “pirâmide invertida”. Retomando as contribuições desta geração de historiadores, Cabral assevera que a história da África não começa com o colonialismo. Em Cabral, esta ideia aparece de forma mais alargada, no sentido de que não se preocupa apenas em reconhecer o passado histórico da África, mas também da Ásia e da “América Latina” (palavras dele, como vimos).

Na sua análise sobre o imperialismo, Cabral distingue a ação do capital imperialista nos países de acumulação e nos países de dominação. O sujeito enunciador da análise de Cabral são os povos (os “nossos povos”, diz ele) dos países dominados, sejam eles africanos, asiáticos ou latino-americanos. Segundo Cabral, nos países de acumulação, o capital imperialista teria cumprido a sua “missão histórica”, relacionada com a aceleração, o aprofundamento e a complexificação dos diversos aspectos do processo produtivo. No entanto, nos “nossos países” –explica Cabral à plateia tricontinental– o capital imperialista teria ficado “longe de cumprir” este papel. Cabral nota que, “em alguns casos”, a ação do capital imperialista nos países dominados levou a algum aumento do desenvolvimento das forças produtivas e ao aprofundamento de algumas contradições sociais. Noutros, “mais raros”, houve “a possibilidade de acumulação do capital”, dando origem a uma “burguesia local” (Cabral, 2013c: 247). Contudo, no geral, “nas condições concretas da economia mundial do nosso tempo”, numa situação de colonialismo ou neocolonialismo, não é possível o surgimento de uma burguesia nacional (Cabral, 2013c: 249). Para uma “nação independente”, a “via socialista” seria a única alternativa para não se retornar à dominação imperialista (Cabral, 2013c: 252).

Podemos encontrar em A Arma da Teoria um diálogo com as ideias de Lênin, o líder histórico do Partido Bolchevique e da Revolução de Outubro. É sobretudo ao falar dos aspectos organizativos da luta que as referências a Lênin são mais perceptíveis, bem como ao caracterizar o fenômeno do imperialismo. Ao saudar a Revolução Cubana e a sua “vanguarda”, Cabral destaca o caráter “indispensável” de um “Partido forte e unido”, que saiba forjar “a consciência revolucionária das massas populares”. Esta consciência, segundo Cabral, “como se sabe, não é nem nunca foi espontânea em parte alguma do mundo” (Cabral, 2013c: 240). Ao justificar o uso da tribuna para discutir questões teóricas –em vez de se ater à situação da luta nos países da CONCP–, Cabral diz que “temos de lembrar que toda a prática fecunda uma teoria”, e que “ainda ninguém praticou vitoriosamente uma Revolução sem teoria revolucionária” (Cabral, 2013c: 243). Os elementos reforçadores “como se sabe” e “temos de lembrar”, utilizados para introduzir noções organizativas do leninismo, indicam que Cabral supunha que estas eram conhecidas e aceitas pelo público que o ouvia. Noutro ponto, ao discursar sobre o imperialismo, defende a necessidade de se criar uma “vanguarda solidamente unida e consciente” para dirigir a luta de libertação nacional (Cabral, 2013c: 251). O imperialismo é descrito por Cabral como “a fase última da evolução do capitalismo”, a “expressão mundial da procura gananciosa e da obtenção de cada vez maiores mais-valias pelo capital monopolista e financeiro, acumulado em duas regiões do mundo: primeiro na Europa e, mais tarde, na América do Norte” (Cabral, 2013c: 246-247).

Dado o caráter internacional do sistema imperialista, Cabral proclama que a luta da CONCP é travada no interesse dos povos desta organização, da África e de toda a humanidade (Cabral, 2013c: 255). Em Cabral, o conceito de luta comum contra o imperialismo também engloba os trabalhadores dos países centrais do capitalismo. Neste discurso, apesar da ênfase nas lutas dos povos do Terceiro Mundo, a ideia da solidariedade com as classes trabalhadoras dos países centrais está implícita. Cabral lista o “abaixamento do nível revolucionário das classes trabalhadoras” da Europa, com “o desenvolvimento dum proletariado privilegiado”, como um dos fatores “desfavoráveis ao movimento de libertação nacional” (Cabral, 2013c: 250). Nisto se subentende que, para Cabral, o proletariado dos países capitalistas é um aliado dos povos em luta contra a dominação imperialista, de forma que o nível de atividade revolucionária das classes trabalhadoras europeias é um fator de interesse para os povos colonizados. Esta ideia é apresentada por Cabral em inúmeras ocasiões, como numa conferência proferida em Milão em 1964 (Cabral, 2013b). Trata-se de um diálogo e uma interação política com aqueles que, no centro do sistema, estão nas suas margens, sofrendo com a exploração. Em nome da CONCP, Cabral manifesta a sua “solidariedade para com todos os povos que querem varrer das suas pátrias o jugo do imperialismo, em particular com o heróico povo do Vietnam” (Cabral, 2013c: 255). Mas declara que “a melhor prova” de o quanto são contrários ao imperialismo e solidários aos companheiros da “luta comum” é regressar aos seus “países” e desenvolver lá a luta de libertação nacional (Cabral, 2013c: 255). Assim, na concepção de Cabral, a luta de libertação nacional seria a melhor forma que ele e os seus companheiros teriam de contribuir com a luta internacional.

Cabral utiliza muitas vezes a palavra “país” para referir-se aos territórios reivindicados pelas organizações da CONCP. “País”, neste contexto, deve ser entendido tanto como mero sinônimo de “terra” como enquanto uma defesa nada trivial do caráter nacional destes territórios. Nos anos seguintes a este discurso, o uso da palavra “país” por Cabral –como observado por Sousa (2016)– irá aproximar-se do sentido de “Estado”, ao propagandear-se o caráter semiestatal das estruturas do PAIGC na Guiné.

Cabral encerra o seu discurso retumbando “o grito já legendário do Povo de Cuba: Patria o muerte, venceremos!” Une-se à voz da Revolução Cubana, ao mesmo tempo que amplia o seu significado para fora das fronteiras cubanas: “Morte para as forças imperialistas! Pátria livre, próspera e feliz para cada um dos nossos povos! Venceremos!” (Cabral, 2013c: 255).

Conclusão

Chegamos ao fim do nosso artigo com a esperança de que a reflexão aqui proposta não sirva para alimentar e perpetuar complexos de inferioridade, mas para questionar as hierarquias estabelecidas, visando à sua superação. Neste exercício para apurar o olhar sobre aquilo que é periférico, dialogamos principalmente com analistas procedentes de regiões tornadas periféricas –novamente, esperamos que não por complexos, nem por essencialismos ou modismos, mas apenas porque… Por que não? Diz a sabedoria popular que “o rio vai dar ao mar”; mas note-se que o uso de periférico aqui não equivale a ter menor importância, mas a ser menos visto, mesmo sendo importante.

No seu discurso, Amílcar Cabral dá voz a identidades e dimensões políticas múltiplas, mas não excludentes, naquilo que pode ser visto como uma mostra de que, mesmo após a consolidação dos nacionalismos de base estatal, solidariedades diversas continuaram operativas nas mentalidades africanas do século XX. Assim, observamos que Cabral estava empenhado numa campanha pela formação de um Estado nacional para a Guiné e Cabo Verde, mas isso não retirava as dimensões internacionalistas, terceiro-mundistas e pan-africanistas do seu discurso. O ideal pan-africanista traduz-se principalmente na luta contra a dominação imperialista (colonialista ou neocolonialista) e na unidade entre os Estados e as organizações africanas, mas sem perder a sua característica original de ser um movimento de solidariedade ‒solidariedade “racial”, continental, histórica e política, como vimos na análise de A Arma da Teoria. Esta solidariedade expande-se para todos os trabalhadores e povos em luta contra o imperialismo, daí o caráter internacionalista e terceiro-mundista do seu discurso.

Sem pretender organizar numa linha reta os caminhos sinuosos e emaranhados de uma vida, podemos traçar alguns paralelos entre o momento cabo-verdiano e o momento cubano dos trechos da trajetória de Amílcar selecionados para este artigo. Existe semelhança entre, de um lado, a forma de apropriação do marxismo por Cabral e, de outro lado, do pensamento de Gilberto Freyre pela intelectualidade cabo-verdiana da Claridade. Cabral utiliza o referencial marxista para as suas elaborações, mas por vezes chega a conclusões diferentes das de Marx e Engels, revendo alguns dos seus postulados, como no caso da definição do motor da história. Por sua vez, os claridosos assimilam a obra freyriana com ardor, dissecando-a, dominando os seus métodos, para eventualmente discordar de algumas análises de Freyre, mas utilizando o arcabouço do próprio autor.4 Com este paralelo, verificamos que Amílcar provém de um ambiente intelectual dotado de uma certa ousadia no lidar com referências teóricas exteriores, e ousadia também se aprende, como tudo.

Assumindo a luta anticolonial, Cabral torna-se um crítico do discurso lusotropicalista adotado pelo regime colonialista português. Rompe com as construções identitárias de pertencimento à nacionalidade portuguesa, abdica desta nacionalidade, e define-se como africano, guineense-cabo-verdiano.

Em A Arma da Teoria, Cabral faz uma leitura do Manifesto Comunista com uma sensibilidade diferente daqueles que o escreveram. Pensa a História com uma bagagem igualmente distinta, acumulada desde os anos 1950 com o seu mergulho nos assuntos africanos e a sua inserção nas redes pan-africanistas. É a leitura de alguém que produziu pensamento sobre a África na mesma época em que Cheikh Anta Diop lançava o seu revolucionário livro Nações Negras e Cultura, estabelecendo conexões entre as civilizações da própria África e assinalando o início da história do continente no Antigo Egito (Diop, 1954). Assim, Cabral atualiza e revisa a concepção de história do campo marxista para nela incluir a realidade africana e de outras regiões do mundo.

As leituras dos livros de Jorge Amado, compartilhadas com os núcleos militantes com que conviveu, fazem parte do seu processo de autoidealização enquanto parte de um coletivo de combatentes em prol da humanidade, condição arrogada ao discursar na Tricontinental de Havana.

A interpretação que oferecemos de A Arma da Teoria é uma entre as muitas possíveis que este discurso enseja. O percurso de Cabral foi retomado brevemente, pontuando alguns trechos da vida de uma figura já analisada por diversos pesquisadores sob variados ângulos.5 Justamente pela abundância de conexões que Cabral estabeleceu, o estudo do seu pensamento e da sua ação proporciona uma conversa infinita. Tendo teorizado sobre os principais temas que ocuparam os intelectuais africanos desde meados do século XIX, e tendo-se relacionado com os mais marcantes movimentos políticos do século XX africano, Cabral é uma ótima companhia para que possamos saber cada vez mais sobre áreas relegadas ao esquecimento pelo centro das hierarquias.

Referências

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Notas

1. A vida de Amílcar Cabral foi contada e recontada por diversos trabalhos biográficos de fôlego, como Sousa (2016), Andrade (2014) e Tomás (2008).
2. Ver Resende, 2014.
3. Sobre o desenvolvimento do marxismo em Cabral, bem como para uma análise mais extensiva das fontes referentes à sua atividade intelectual como estudante e agrônomo, ver Dias, 2020.
4. Sobre as reelaborações claridosas das teorias de Freyre, ver Resende (2014, cap. 2).
5. Além dos estudos referidos ao longo do artigo, mencionemos Rolim (2016) e Melo (2019), para citarmos trabalhos brasileiros recentes explorando a trajetória e/ou o pensamento de Cabral.

Notas de autor

* Brasileira. Mestra em História de África pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

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