Editorial
APRESENTAÇÃO AO DOSSIÊ: “INTELECTUAIS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA”
O conjunto de textos aqui reunidos apresentam personagens brasileiros cuja vida pessoal e profissional impactaram o fazer pedagógico no país.
Parafraseando Jacques Le Goff na abertura de seu livro Homens e mulheres da Idade Média, os personagens deste dossiê “não se limitam a oferecer uma imagem resumida de sua vida e de sua celebridade. Eles aqui comparecem na qualidade de testemunhas de sua época (...)” (2013, p.12). Assim, o Dossiê buscou reunir textos que abordassem a trajetória de intelectuais brasileiros que pensaram a educação e suas ideias e práticas em diversos espaços e tempos.
As vivências e experiências desses profissionais permitem compreender a densidade social do período em que atuaram, colocando em evidência a configuração da educação no Brasil. “Esta abordagem nos lembra que a história não se constrói sem as biografias e que essas se desenvolvem na interação com as forças sociais da sua circunstância “(GOMES, 2005, p.11).
O primeiro artigo teve como objetivo investigar a atuação do intelectual brasileiro Abílio Cézar Borges (1824-1891) no Congresso Pedagógico Internacional realizado em Buenos Aires no ano de 1882, enquanto representante do Império do Brasil. As autoras Laís Paula de Medeiros Campos Azevedo, Maria Inês Sucupira Stamatto e Olívia Morais Medeiros Neta observaram o percurso deste intelectual que publicou diversas obras destinadas a alunos e professores, e recebeu o título de Barão de Macahubas em 1881. O Barão de Macahubas destacouse no cenário educacional do período enquanto diretor de escolas, educador, autor de livros, preocupado em fazer circular suas ideias sobre a educação nacional.
As reflexões apresentadas por Adriana Aparecida Pinto pautaram-se no exame da imprensa periódica de Mato Grosso, no tocante à investigação de aspectos relacionados ao papel exercido por este suporte, na formatação de intelectuais mediadores entre o conhecimento e a sociedade durante os anos de 1880 a 1920. Partindo de uma conceituação ampla de intelectuais, tal como proposta por Jean-François Sirinelli (1998, 2003), incluiram professores e educadores profissionais nessa investigação.
Manoel Bergstron Lourenço Filho (1897-1970) é retratado a partir de dois aspectos de sua vida profissional. O artigo de José Geraldo Pedrosa, Flávia Oliveira Duenhas e Nívea Maria Teixeira Ramos considerou o cenário econômico, social e cultural no Brasil dos anos 1940, fez incursões na trajetória e na obra de Lourenço Filho e foi dedicado ao entendimento das aproximações de Lourenço Filho com o ensino e suas elaborações sobre as especificidades do labor do comerciário, da aprendizagem e do ensino comercial.
Seguindo com a biografia de Lourenço Filho, Isabela Cristina Santos de Morais, Maria Inês Sucupira Stamatto e Iranilson Buriti de Oliveira analisaram as contribuições deste intelectual e de Anísio Espínola Teixeira para a educação brasileira, ambos escolanovistas. Identificaram a atuação dos dois personagens na direção do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos - INEP e na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos - RBEP. Tratando sobre importantes e variadas temáticas educacionais, os autores e reformadores educacionais marcaram suas propostas e ideias sobre a educação brasileira em 26 artigos cada um, registrados na pesquisa.
Gillyane Dantas dos Santos e Luciene Chaves de Aquino examinaram a atuação e as ações desenvolvidas pelo intelectual e reformista Gustavo Capanema Filho (1900-1985), que interferiram de maneira direta nos rumos da educação nacional, com especial atenção ao que versa sobre o ensino normal. Gustavo Capanema tem seu destaque acentuado por ter tido uma marcante atuação frente ao Ministério da Educação e Saúde Pública, contribuindo para a sistematização das funções deste, bem como para a organização de reformas que implicaram diretamente na condução do ensino nacional, de modo que deixou sua marca e fez circular seus ideais educacionais e políticos.
O próximo texto abordou as questões relacionadas ao trabalho do professor Valnir Chagas na educação brasileira a partir da sua atuação enquanto conselheiro, no então Conselho Federal de Educação (1962-1976). Os autores Rodrigo Wantuir Alves de Araújo e Paula Lorena Cavalcante Albano da Cruz apresentam Valnir Chagas como responsável por emitir Pareceres, Resoluções e Relatorias que possibilitaram a constituição de anteprojetos de Leis, sendo promulgadas, e que constituíram o processo de formação de professores, do magistério e do sistema público de ensino entre o período de 1960 a 1980. A pesquisa contribuiu para a compreensão das mudanças ocorridas na educação brasileira durante o Regime Cívico-Militar, através do processo de construção da legislação educacional, que modificou o currículo e a formação do professor do Ensino básico, bem como a organização do ensino brasileiro.
A participação do professor Carlos Roberto da Silva Monarcha no cenário educacional e suas contribuições no campo da historiografia da educação no Brasil foi objeto de estudo do artigo que cronologicamente encerra o dossiê. Maria Claudia Lemos Morais Nascimento constatou a autoria de variados livros premiados, e significativa colaboração aos estudos no campo da história da educação no Brasil, configurando o professor Carlos Monarcha como intelectual da educação. A partir das suas produções e circulação de ideias que estão inseridas nas redes de sociabilidade disponíveis no campo educacional, permitindo reconhecimento na construção da historiografia da educação brasileira.