Resumo: O presente trabalho objetiva investigar a participação do professor Carlos Roberto da Silva Monarcha no cenário educacional e suas contribuições no campo da historiografia da educação no Brasil. Utilizamos como aporte teórico os estudos de Jean-François Sirinelli justificado pelo interesse em apresentar intelectuais da educação brasileira em seu fazer pedagógico. A metodologia utilizada se constituiu de levantamento bibliográfico, e coleta de fontes que informasse acerca de sua trajetória educativa. Foram consultados documentos nos repositórios online, a exemplo de trabalhos acadêmicos, notícias e livros publicados pelo autor. Essa documentação forneceu informações acerca da carreira profissional e produções acadêmicas do referido professor. Constatou-se na investigação autoria de variados livros premiados, e significativa colaboração aos estudos no campo da história da educação no Brasil. Esta pesquisa buscou apresentar reflexão entre a história intelectual e a história da educação, ao inserir o professor Carlos Monarcha como intelectual da educação. A partir das suas produções e circulação de ideias que estão inseridas nas redes de sociabilidade disponíveis no campo educacional, permitindo reconhecimento na construção da historiografia da educação brasileira.
Palavras-chave: Educação, História da educação, História dos intelectuais.
Abstract: This work aims to investigate the participation of Professor Carlos Roberto da Silva Monarcha in the educational scenario and his contributions in the field of historiography of education in Brazil. We used as theoretical support the studies of Jean-François Sirinelli justified by the interest in presenting Brazilian educational intellectuals in their pedagogical work. The methodology used consisted of a bibliographic survey, and collection of sources that informed about his educational trajectory. Documents in online repositories were consulted, such as academic works, news and books published by the author. This documentation provided information about the professional career and academic productions of that professor. It was verified in the investigation authorship of several awarded books, and significant collaboration to studies in the field of the history of education in Brazil. This research sought to present a reflection between intellectual history and the history of education, by inserting Professor Carlos Monarcha as an intellectual in education. From their productions and circulation of ideas that are inserted in the networks of sociability available in the educational field, allowing recognition in the construction of the historiography of Brazilian education.
Keywords: Education, History of education, History of intellectuals.
ARTIGO
CARLOS ROBERTO DA SILVA MONARCHA: HISTORIADOR DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
CARLOS ROBERTO DA SILVA MONARCHA: HISTORY OF BRAZILIAN EDUCATION
Recepção: 14 Outubro 2021
Aprovação: 03 Novembro 2021
Este trabalho objetiva investigar e analisar a atuação do professor Carlos Roberto da Silva Monarcha no cenário da história da educação no Brasil. Estabelecendo diálogo entre o conceito de intelectual do teórico Jean-François Sirinelli e a produção do professor Carlos Monarcha, destacando suas contribuições no campo da historiografia da educação brasileira.
A pesquisa justifica-se pelo interesse em registrar o papel de intelectual desempenhado pelo professor, apresentando algumas de suas produções em circulação no campo educacional ao longo do período estudado.
A escolha se configura por constituir professor e pesquisador com significativa atuação profissional se destacando nos campos: ensino, pesquisa, e extensão universitária. Por apresentar estudos reconhecidos que circulam no campo da história da educação com obras premiadas: ‘’Lourenço Filho e a organização da psicologia aplicada à educação’’ (Prêmio Lourenço Filho concedido pela Academia Brasileira de Educação, 1998); ‘’Brasil arcaico, escola nova: técnica ciência e utopia nos anos 1920-1930’’ (Prêmio Jabuti, 2010 - categoria Educação, Psicologia e Psicanálise); e ‘’A instrução pública nas vozes dos portadores de futuros: Brasil séculos XIX e XX’’ (Prêmio Jabuti 2017 - categoria Educação e Pedagogia) obra que também recebeu o Prêmio Ciências Humanas - concedido pela Associação Brasileira de Editoras Universitárias.
Em referência ao conceito de intelectual, base que utilizamos para embasar nossa pesquisa. Sirinelli (1994a, 1994b) sinaliza para duas definições clássicas do termo “intelectual”. A primeira definição seria abrangente, incluindo todos os sujeitos envolvidos em atividades laborais associadas ao escrito, tanto como criadores, como na qualidade de mediadores. Nessa primeira concepção, os processos de criação, divulgação e recepção dos produtos culturais são pensados de forma ampla, permitindo que se mapeie uma enorme diversidade. Criação e mediação aparecem como termos associados na vasta trama da cultura, tal como se movimenta e ganha forma em contextos espaço-temporais definidos (SIRINELLI, 1994).
A segunda definição da categoria “intelectuais”, é demarcada por aquele engajamento na vida da cidade. A palavra “cité” possui, na língua francesa, um significado particular, associado a uma história para a qual não temos correspondência na língua portuguesa. Refere-se à participação na coletividade, na sociedade num todo, de modo a intervir e buscar colaborar nas decisões de caráter coletivo, na condução política, no seu sentido lato (SIRINELLI, 1994).
Sirinelli faz questão de salientar, em vários momentos de seus escritos, a importância de que o historiador se coloque “a montante, no curso do rio”, percorrendo o seu caminho acidentado, atento às curvas, aos obstáculos e à forma de contorná-los, aos precipícios e aos trechos de calmaria. Para o teórico, tudo conta na compreensão de como os sujeitos se transformam em intelectuais (ALVES, 2009, p. 34).
A história dos intelectuais, concentra sua atenção na categoria dos intelectuais, tal como se constituiu historicamente na modernidade. O significado amplo de intelectuais, que poderia abarcar as camadas intelectualizadas de qualquer época histórica, passa por processo de decantação, associado aos contextos históricos que fazem aflorar uma nova autoconsciência e compromisso de intervenção histórica, representando-se de modo original. Sirinelli identifica uma espécie de cronologia no estudo dos intelectuais franceses, na qual alguns momentos ganham destaque, tais como o século XVIII, com o movimento das Luzes. Para ele, são marcos temporais de uma trajetória de emergência de novos tipos de engajamento, que transbordam sobre a atividade intelectual como um todo, ao mesmo tempo em que iluminam sujeitos individuais e coletivos vinculados a representações do que é o intelectual (ALVES, 2009, p. 43-44).
Com essa explicação, voltemos à categoria “intelectuais da educação”. A pergunta seria: Quem podemos agregar sob este rótulo? Pela perspectiva da história dos intelectuais, o leque pode ser bastante amplo, o que é possível perceber na historiografia da educação brasileira. Isto porque os vínculos entre intelectuais das mais diferentes áreas e atividades de formação comportam uma gama imensa de possibilidades. Os modos de intervenção incluem desde a própria atividade docente até a participação pontual em projetos datados. Por este motivo, parece-me que o mais adequado não seria determinarmos previamente quem são os “intelectuais da educação”, mas ir reunindo muitos estudos, com rica empiria, que nos apresentem as muitas facetas dessa vinculação. Um passeio pela historiografia da educação produzida nas últimas décadas, no Brasil, já permite constatar um rico repertório (ALVES, 2009, p. 48). Repertório esse, que através das publicações e circulação de ideias do professor Carlos Monarcha, tentaremos o apresentar como um intelectual da educação por meio de sua atuação e produção.
Com as ferramentas metodológicas da história dos intelectuais, tem sido possível valorizar sujeitos individuais e coletivos, observando, sobretudo, seus itinerários de formação e redes de sociabilidade. Neste sentido, lembrando a necessária atenção e valorização das nossas especificidades, cabe ao pesquisador ultrapassar os limites da formação escolarizada, nos moldes como se apresenta na tradição nacional francesa, e lançar luz sobre as estratégias e variantes produzidas na história brasileira. ‘’A presença maciça de profissionais com formação superior nos poucos cursos disponíveis no território brasileiro até a década de 1930, atuando como professores; professoras primárias engajadas no movimento operário nas primeiras décadas do século XX; a centralidade de algumas instituições, como o Colégio Pedro II, que abrigaram disputas na sistematização de conhecimentos a serem ensinados, fosse em história, fosse nas ciências naturais; a participação de artistas em projetos arquitetônicos, literários e musicais ligados à escolarização; a ação isolada de professores que edificaram frentes de resistência à histórica leniência dos grupos dominantes com a educação popular; as lideranças de formas alternativas de preservação cultural de grupos afrodescendentes e de grupos étnicos originais... São inúmeras as entradas possíveis nos arquivos para encontrar manifestações que guardam uma originalidade que exige adequação das ferramentas da história dos intelectuais à nossa história’’ (ALVES, 2009, p. 49).
O professor Carlos Roberto da Silva Monarcha é professor titular pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), graduado em ciências sociais pela Universidade de São Paulo, em 1976. Mestre e Doutor em Educação: História, Política e Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, tese sob título: Escola Normal da Praça: o lado noturno das luzes, ano 1994. Pesquisa que posteriormente se tornaria uma de suas obras mais reconhecidas no campo da historiografia da educação.
Ingressou no corpo docente da Unesp/ Presidente Prudente pelo Departamento de Educação em 1991, curso de Pedagogia, ministrando a disciplina Programas e Currículos. Também ministrou diversos outros componentes, onde podemos utilizar como exemplo: História da Educação; Introdução à Educação; História da Educação Brasileira; História da Educação Geral e Historiografia da Educação Brasileira, entre outros.
Atuou em variados cargos de direção e administração pela Faculdade de Filosofia e Ciências no Campus de Marília pelo Departamento de Administração e Supervisão Escolar. Foi membro de diversos conselhos e comissões, a exemplo: Conselho de Curso; membro da Comissão de Pesquisa; membro do Conselho do Programa de Pós-Graduação em Educação pela Linha de pesquisa História da educação brasileira.
Participou de atividades de extensão universitária pela Faculdade de Filosofia e Ciências no Campus de Marília pelo Departamento de Administração e Supervisão Escolar. Atuou na Extensão universitária na Faculdade de Ciências e Letras no Campus de Araraquara pelo Departamento de Ciências da Educação. Entre as atividades do professor podemos identificar variados trabalhos desenvolvidos abarcando os campos: ensino, pesquisa, e extensão universitária.
Atualmente o professor Carlos Monarcha coordena o projeto de pesquisa Pedologia: ciência natural da criança. Estudo histórico-crítico, que visa contribuir com os estudos relativos às ciências da educação. O projeto de pesquisa requer analisar e problematizar a emergência do movimento pedológico de dimensões e ressonâncias intercontinentais, ocorrido na primeira metade do século XX (MONARCHA, 2021).
O projeto pretende destacar aspectos concernentes ao processo histórico-cultural da formalização teórico-conceitual e a institucionalização acadêmica da Pedologia como domínio de saber e disciplina de ensino, finamente idealizada a fim de superar os impasses gerados pelo estatuto da obrigatoriedade escolar, fenômeno político-social então a caminho da universalização (MONARCHA, 2021).
Na imagem, o professor Carlos Monarcha em ocasião que palestrou sobre a vida e a obra de Manoel Bergstrom Lourenço, na Semana Cultural Lourenço Filho, organizada pelo Departamento de Cultura e Turismo, com o apoio do Conselho Municipal de Cultura, da Faculdade Asser e do Jornal do Porto.
Algumas publicações do professor Carlos Monarcha receberam reconhecimento e premiações, podemos citar como exemplo os livros: Lourenço Filho e a organização da psicologia aplicada à educação (Prêmio Lourenço Filho concedido pela Academia Brasileira de Educação (1998); Brasil arcaico, escola nova: técnica, ciência e utopia nos anos 1920-1930 (Prêmio Jabuti - 2010 - categoria Educação, Psicologia e Psicanálise); A instrução pública nas vozes dos portadores de futuros: Brasil séculos XIX e XX (Prêmio Jabuti - 2017 - categoria Educação e Pedagogia e Prêmio Ciências Humanas - 2017 - concedido pela Associação Brasileira de Editoras Universitárias).
No ano 2000 recebe Moção de Apoio concedida pela Câmara Municipal de Marília em São Paulo pela publicação do livro Escola Normal da Praça: O lado noturno das luzes, reconstituição histórica que apresenta a trajetória da Escola Normal de São Paulo, marcada por momentos de decadência e regeneração. Instituição que ocupou centralidade no imaginário das classes sociais paulistas entre meados do século XIX e início do século XX.
A imagem representa a conquista pelo professor Carlos Monarchado Prêmio Jabuti pelo livro A instrução pública nas vozes dos portadores de futuros (Brasil - séculos XIX e XX) - segundo lugar na categoria "Educação e Pedagogia" - título que integra a coleção “História, pensamento, educação”, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia. A obra também foi a vencedora da categoria "Ciências Humanas" no Prêmio Abeu 2017.
Entre os livros publicados, podemos apresentar os títulos na tabela a seguir:

Identificamos através do quadro de publicações, considerável produção no campo da historiografia da educação no Brasil. Diversidade de temas e objetos de estudo. Suas contribuições reverberam no campo da história da educação brasileira principalmente sob as seguintes temáticas; Ciências da educação; Ensino; Escola Nova; Bibliografias de: Lourenço Filho, Clemente Quaglio, Anísio Teixeira; Escola Normal; Infância brasileira, entre outros.
No livro A instrução pública nas vozes dos portadores de futuros (Brasil - séculos XIX e XX), Carlos Monarcha (2019) apresenta alguns porta-vozes dos interesses gerais, nas figuras públicas de escritores, políticos, jornalistas, professores, bacharéis, funcionários, médicos, militares, juristas, administradores, que segundo o autor, comunicam propósitos de instruir a massa bruta de analfabetos, cuja linguagem, dizia-se, recordava à infância das primeiras sociedades e os costumes de uma humanidade vivente no subsolo da história.
Traz narrativa expositiva e crítica sobre os discursos públicos em favor da educação popular. Vozes identificadas com o liberalismo e o republicanismo do século XIX, destacavam a importância de "formar sujeitos educados como ação propedêutica para a conquista do homem social".
Compartindo o investimento de formar súditos da monarquia ou cidadãos da república, irrequietos e desacomodados, ora em chave realista ora fantasiosa, publicistas provindos de horizontes diversos, guardadas as ipseidades, convergem na urgência de uma instrução primária de Estado, gratuita e obrigatória (e no evoluir do tempo, laica), como marco da estratégia geral de governo pacificado e de liberação de forças produtivas. Desnecessário afirmar que nesses voos a instrução popular aparece como propedêutica ao homem social pela efetividade da cultura. No aglomerado de vozes, paz pública, razão de Estado e economia política se entrecruzam. Endosso prático e anteparo firme viriam da mediação da instrução organizada como instituição nacional, valioso tonificante, poderoso moto-contínuo, adorável anjo da paz. Eis, leitor, o todo e o porquê de A instrução pública nas vozes dos portadores de futuros (Brasil - séculos XIX e XX) (MONARCHA, 2009, p. 10).
O trabalho apresentado pelo professor, em suas palavras, preocupa-se em compreender e explicar os modos pelos quais diferentes sujeitos, em diferentes tempos e em diferentes lugares, agiram e reagiram às circunstâncias, visando transformar um mundo percebido como paradoxal e contraditório (MONARCHA, 2009, p. 11).
São apresentados ao leitor a ordenação jurídico-política da nação brasileira à época, a organização da instrução pública, a compreensão da ‘’onda liberal’’ e o regresso conservador com apelo à centralização político-administrativa. Entre acontecimentos e vozes, o lugar da instrução pública na perspectiva dessas pessoas (MONARCHA, 2009, p.12).
No Brasil Império, dos anos 1870 e 1880, ainda segundo os estudos do Monarcha (2009), se avolumam planos de reforma da vida nacional, especialmente da instrução e métodos do ensino herdados da tradição. Simultaneamente, vozes republicanas, à respaldar novas teorias societárias, abarrotam o tom, adquire corpo e força. No quadro conflituoso entre liberdade e autoridade, a República aparece como totalidade. A construção nacional pela via de uma primeira instrução de Estado.
As pesquisas apontadas no livro, também reportam ao advento da República; como modo de ser, o novo regime aparece como objetivação da razão na história, irrupção angelical, sobremodo imanência da moral virtuosa. Nesse governo dos homens pelos homens, cujos fundamentos são tidos como racionais porquanto não sobrenaturais, sobreleva-se a integração na bela totalidade ética. Regime de governo baseado na representação popular, a República é figurada como objetivação do gênio da Liberdade, em tese, consumava a vontade geral constituída de sujeitos portadores de direitos sociais e políticos. No preâmbulo heroico do novo regime, em uníssono, ouvem-se os apelos das esperanças da razão, o elogio do Estado de direito e do federalismo estadualista. Assiste-se à explosão do partido da liberdade, igualdade civil, fraternidade, felicidade, no léxico acalorado por uma espécie de fé secular, pátria, povo e instrução são os temas bem-queridos. Nessa nova idade da história nacional, prossegue a regeneração didática, deflagrada nas décadas precedentes e, por ser promessa de venturoso porvir, cultua-se a infância, donde os investimentos de energia a fim de desbarbarizar o banco escolar (MONARCHA, 2009, p. 12-13).
Nas reflexões apresentadas em História da Educação (Brasileira): Formação do campo, tendências e vertentes investigativas resultado de estudos realizados sobre a constituição e institucionalização da história da educação como domínio de conhecimento disciplinar. O professor Carlos Monarcha (2007) busca situar, analisar e interpretar o desenvolvimento da pesquisa e produção do conhecimento histórico em educação no Brasil, a partir da década de 1930, ao esboçar a trajetória da formação do campo de conhecimento ao mesmo tempo que identifica e problematiza tendências e vertentes historiográficas (MONARCHA, 2007).
No Brasil, a prática de interpretar e reinterpretar o passado, aspirando conferir um sentido a formação social, se intensificou nos anos de 1930, aprofundando com isso a institucionalização dos "estudos brasileiros" /ou "estudos sociais", conforme terminologia da época
É possível verificar que, entre os anos 30 a 50, presenciou-se um esforço relativamente denso e concentrado que objetivava conferir visibilidade e sentido à trajetória da educação brasileira na Colônia, Império e República. Nesses anos, foram instituídos conteúdos de história da educação geral e do Brasil nos currículos acadêmicos das escolas normais, institutos de educação e faculdades de filosofia. Data de então o aparecimento de manuais didáticos destinados a suster o ensino da matéria História da Educação, como, por exemplo, Noções de História da Educação, de Afrânio Peixoto, História da Educação: evolução do pensamento educacional, de Raul Briquet, pequena história da educação, de Francisca Peeters e Maria Augusta de Cooman; e Lições de história da educação: rigorosamente de acordo com programa das escolas normais, de Teobaldo Miranda Santos (MONARCHA, 2007, p. 54).
Nas últimas três décadas, segundo Carlos Monarcha (2007), os estudos históricos em educação foram beneficiados com a institucionalização, seguida de consolidação e expansão, dos programas de pós-graduação em Educação. Por consequência, inserta numa estrutura acadêmica de ensino e pesquisa, a história da educação (brasileira) gradativamente se estabeleceu como disciplina acadêmica, nos currículos de cursos de graduação e pós-graduação, se emancipando gradualmente de outros domínios disciplinares conexos, a saber: a História da Educação Geral, da qual constava como apêndice, da Filosofia da Educação, com a qual tendia a confundir-se como história das ideias sobre educação, e, por vezes, da Sociologia da Educação. Paralelamente aos programas de pós-graduação em Educação, criaram-se instâncias reguladoras da produção do conhecimento histórico em educação, originando uma discussão em âmbito nacional relativamente à produção do conhecimento histórico.
Na obra bibliografia Lourenço Filho (2010) o professor Carlos Monarcha apresenta momentos da vida e obra de Manoel Bergström Lourenço Filho. No livro, em suas palavras, o autor busca uma interpretação pessoal elaborada com recurso às evidências existentes em fontes diversas, como: depoimentos, documentos, estudos acadêmicos, entre outros escritos. O livro também apresenta referências à quem deseja aprofundar o conhecimento sobre Lourenço Filho, a partir de indicações bibliográficas no final do volume.
Na apresentação do livro aos leitores, Monarcha (2010) alerta que, aos intelectuais dessa geração, devemos contribuições decisivas, no amplo processo de institucionalização da ciência e tecnologia no Brasil. Para que lembremos da atuação de Anísio Teixeira na Diretoria Geral da Instrução Pública do Distrito Federal, com a criação da Universidade do Distrito Federal, e mais tarde do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais; Fernando de Azevedo, na fundação da Universidade de São Paulo; Lourenço Filho, na criação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, hoje Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Para Monarcha, devemos creditar também a essa geração de pensadores a consolidação, tanto no discurso oficial quanto no pensamento social, do anseio generalizado de uma educação pública, científica, moderna, nacional e, principalmente, universalizada (MONARCHA, 2010, p. 16).
Entretanto, situar Lourenço Filho como um dos expoentes da “geração de 1920” requer cuidados, se as trajetórias dos demais contemporâneos, por mais que tenham corrido em paralelo, ainda assim não podem ser consideradas como pertencentes a uma congregação de intelectuais que aceitava o mesmo conjunto de ideias a respeito da realidade do país
Discreto por temperamento, porém, com uma vida de muitos momentos de brilho, Lourenço Filho pouco falou de si, não nos deixou volumes de memórias ou depoimentos, de suas motivações mais íntimas pouco se sabe. Durante a vida concedeu apenas uma ou duas entrevistas, nas quais discorreu discretamente sobre si. Numa dessas entrevistas, ele um tanto reticente, respondeu à entrevistadora interessada em revelações: - Posso atribuir a minha inclinação ou gosto para os estudos de educação à influência de situações, fatos e personagens de minha infância. Depois, a circunstâncias diversas que, ao mister, me prenderam de modo definitivo (MONARCHA, 2010, p. 16).
O autor também escreveu sobre a Escola Normal de São Paulo, acompanhando o histórico de funcionamento da Instituição de formação de professores desde sua criação, em 1846 até 1930. O texto de Monarcha (1999) pretende contribuir sobretudo para a análise das questões relativas aos momentos que ele denominou de cruciais para a compreensão da trajetória da Escola Normal Paulista. Ele ressalta que a autonomia da Escola foi sendo conquistada ao longo da década de 1880, período em que a Instituição começou a alcançar certa estabilidade.
A Escola Normal de São Paulo, é interessante destacar, não escapou da conturbada tendência de criações e extinções que ocorreram nas Escolas Normais no século 19. Criada em 1846, teve seu primeiro fechamento decretado em 1867, tem reabertura em 1875, novamente fecha em 1878, e após reinauguração em 1880 não interrompe mais suas atividades.
Se faz necessário lembrar, que a Escola Normal Paulista foi a 4º a ser fundada no Brasil. A primeira em Niterói, no estado do Rio de Janeiro, ano de 1835; a segunda em Salvador na Bahia em 1836; a terceira em Cuiabá/MT, 1842. Seguida por São Paulo capital no ano de 1846.

Identificamos através do quadro de publicações de artigos do professor Carlos Monarcha, produções referentes a institucionalização da Psicologia em São Paulo; Estudo de Fontes da pedagogia científica; Questões educacionais sobre o tema da interdisciplinaridade; Notas sobre educação na Era Getuliana; História da educação brasileira; didática; notas sobre o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. O que mostra a diversidade de suas pesquisas e interesses. Diversidade com qualidade tendo em vista os fundamentos conceituais e as análises consistentes que desenvolveu, razão pelas quais se constitui um dos mais relevantes e influentes pensadores contemporâneos da educação brasileira.
Este trabalho procurou refletir a relação história intelectual e história da educação, ao buscar reconhecer o professor Carlos Roberto da Silva Monarcha como intelectual da educação brasileira.
No decorrer da pesquisa, buscamos apreender a trajetória do intelectual Carlos Monarcha, através do seu trabalho que transita entre atividades de ensino, pesquisa e extensão universitária. A escolha do referido professor para o presente estudo se desvelou por constituir um referencial de professor/pesquisador com significativas contribuições no cenário da historiografia da educação no Brasil.
Constatou-se na investigação significativo trabalho na área educacional, diversidade de temas e objetos de estudo, colaboração no campo da história da educação no Brasil, tais como podemos destacar: Ensaio histórico centrado nas contribuições de Manoel Lourenço Filho no domínio da psicologia aplicada à educação; Ensaio sobre o movimento da Escola Nova; Narrativa expositiva e crítica sobre os discursos públicos em favor da educação popular; Percurso histórico de funcionamento da Escola Normal de São Paulo, desde sua criação, em 1846, até 1930; Ensino; Bibliografias de intelectuais da educação como Lourenço Filho, Clemente Quaglio, Anísio Teixeira; entre outros temas.
Em acordo com Sirinelli, ser intelectual refere-se à participação na coletividade, na sociedade como um todo, de modo a interferir e buscar contribuir nas decisões de caráter conjunto, na condução política, no seu sentido lato.
O professor Carlos Monarcha ganha destaque no campo por apresentar estudos reconhecidos que circulam entre as produções dentro da história da educação. Podemos citar como exemplos, obras premiadas. Identificamos que suas pesquisas e circulação de ideias estão inseridas nas redes de sociabilidade disponíveis no campo educacional, se constituindo como intelectual da educação. Permitindo seu reconhecimento na construção da historiografia da educação Brasileira.

