Servicios
Descargas
Buscar
Idiomas
P. Completa
Didática, gênero, sexualidade: contribuições à formação docente
Maria do Carmo Gonçalo Santos
Maria do Carmo Gonçalo Santos
Didática, gênero, sexualidade: contribuições à formação docente
Teaching, gender, sexuality: contributions to teacher education
Revista Tópicos Educacionais, vol. 28, núm. 2, pp. 20-44, 2022
Centro de Educação - CE - Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
resúmenes
secciones
referencias
imágenes

Resumo: A Didática como campo de estudo e trabalho dedicado ao ensino crítico é território fértil para a formação docente comprometida com o trato às diferenças. Gênero e sexualidade são construções sociais discursivas. A pesquisa analisa as contribuições da Didática, nos Cursos de Pedagogia, para o trato às diferenças de gênero e de sexualidade na prática pedagógica. Os Cursos de Pedagogia da UFPE subsidiam a pesquisa. Os resultados apontam para um trabalho comprometido com a superação da Didática instrumental e situado na Didática crítica. As professoras apontam a importância de gênero e sexualidade e dizem da sua presença no currículo. O trabalho situa a necessidade da abordagem de gênero e sexualidade com foco na Didática Crítica Intercultural.

Palavras-Chaves: Didática, Gênero, Sexualidade, Formação Docente.

Abstract: Didactics, as a field of study and work dedicated to critical education, is a fertile territory for teacher education, committed to dealing with differences. Gender and sexuality are discursive social constructions. The research analyzes the contributions of Didactics, in Pedagogy Courses, to the treatment of gender and sexuality differences in pedagogical practice. UFPE's Pedagogy Courses subsidize the research. The results point to a work committed to overcoming instrumental didactics and situated in critical didactics. The teachers point out the importance of gender and sexuality and say of their presence in the curriculum. The paper situates the need for a gender and sexuality approach focusing on Intercultural Critical Didactics.

Keywords: Didactics, Gender, Sexuality, Teacher training.

Carátula del artículo

ARTIGO

Didática, gênero, sexualidade: contribuições à formação docente

Teaching, gender, sexuality: contributions to teacher education

Maria do Carmo Gonçalo Santos1
Universidade Federal de Pernambuco, Brasil
Revista Tópicos Educacionais, vol. 28, núm. 2, pp. 20-44, 2022
Centro de Educação - CE - Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Recepção: 15 Julho 2022

Aprovação: 15 Setembro 2022

1. Introdução

A educação escolar com finalidades próprias, intencionais e planejadas, em diálogo com a educação não escolar (GOHN, 2010), também como campo produtor de conhecimentos e de práticas sociais é capaz de contribuir com a transformação humana através da mobilização, ampliação e partilha de culturas. Ao tomar as culturas como conteúdo da educação realizada por meio dos processos de seleção e reelaboração (FORQUIN, 1993), afirmamos que a educação não é neutra; está orientada por projetos de sociedade, concepções de mundo, de sujeitos humanos e de relações que repercutem em inclusões ou exclusões sociais.

Desse modo, o trabalho educativo, sobretudo o escolar, é desafiado a lidar com a diversidade e as diferenças. O contexto atual instiga a discussão acerca da diferença, no diálogo entre particularidades e globalidades, em contraposição ao argumento da uniformidade, da homogeneização.

O conceito de diferença é definido como movimento de construção-desconstrução sóciohistórica e política, que ocorre na dinâmica social (CANDAU, 2011), também como categoria que se insurge contra o universalismo. A diferença é constituinte e constituída nas relações de poder, nos conflitos culturais presentes entre os grupos e no interior dos mesmos grupos; por isso, a diferença diz respeito às relações assimétricas e desiguais de poder (MOREIRA, 1999, 2008; SILVA, 2007).

Na América Latina e, especificamente, no Brasil, a nossa cultura é marcada pelas dinâmicas de invisibilização e negação física e simbólica da outra, do outro, considerado, considerada diferente (CANDAU, 2012). Os processos de colonização marcados pela violência e pela escravização deixaram ranços de poder que ainda situam a cultura europeia, branca, masculina e heterossexual, como a referência, promovendo relações assimétricas, nas quais a diferença passa a ser sinônimo de inferioridade.

A formação de professoras/es, para lidar com as diferenças, compreende a necessidade de superar o movimento de ensinar, de maneira linear, reprodutor, bancário, indicando outro movimento, que atrai o apreender, a interação entre professor/a e estudante, as idas e vindas na construção do conhecimento, com interrupções, interpolações, avanços e recuos (FREIRE, 2003). Esta formação também demanda uma interconectividade entre os sujeitos, saberes e contextos, tendo em vista que o conhecimento é dinâmico, situado e cultural.

A Didática, como campo de estudo e trabalho dedicado ao ensino crítico, comprometido com a transformação das relações de desigualdades presentes na sociedade; também, como uma das Disciplinas da Pedagogia, necessária à formação das professoras e dos professores, articula as dimensões humana, técnica e político social (CANDAU, 1989b; LIBÂNEO, 1994; VEIGA, 1991a). Nesse sentido, a Didática pode ser campo fértil para a formação de professoras/professores, comprometida com o trato às diferenças de gênero e de sexualidade na prática pedagógica.

A partir do nosso envolvimento com as áreas da Didática e do Currículo, buscamos investigar as contribuições da Didática para a prática pedagógica, com as Diferenças de Gênero e de Sexualidade na formação docente. Nos contatos iniciais com as turmas de Didática, os estranhamentos explicitados pelas e pelos estudantes acerca da relação entre Didática, gênero e sexualidade, que as concebiam como Disciplinas relacionadas à instrumentalização e às técnicas de ensino, mobilizam nossas inquietações.

A pesquisa, a partir da Didática, pode apontar outras contribuições, sobretudo, por ser um campo que toma o ensino como objeto de estudo e trabalho. Gênero e sexualidade, geralmente, são temáticas relacionadas ao Currículo e inquietamo-nos em saber da sua presença no campo da Didática.

A pesquisa pode vir a contribuir com a valorização do campo da Didática, ratificando seu potencial crítico-formativo, sobretudo, diante de um dos maiores desafios postos à educação, ou seja, o trato às diferenças. Além dessas questões, pode evidenciar a necessidade, limites e conquistas da discussão acerca das diferenças de gênero e de sexualidade no currículo da formação de professoras e professores.

A Educação Superior assume responsabilidades epistemológicas, políticas, culturais e sociais, uma vez que:

[...] sua obrigação é contribuir com a formulação e o fortalecimento do saber pedagógico, no qual a educação se qualifique como uma práxis social e a Pedagogia, como reflexão e teoria dessa práxis. Esta deve fundamentar e garantir a consistência da ação dos profissionais da educação como trabalho de formação humana apoiado em referenciais teóricos, éticos, epistemológicos, pedagógicos e processuais. Esses referenciais poderão contribuir para a superação das estruturas objetivas e subjetivas de exploração, opressão e subordinação que ainda caracterizam as atuais relações sociais configuradas nos desafios históricos da inclusão social perversa (SOUZA, 2009, p. 153).

A possibilidade de contribuir com este saber pedagógico, na formação humana e profissional das e dos estudantes que atuarão, ou que já atuam como professoras e professores, alimenta nossas esperanças em relação a contextos sociais menos desiguais e práticas docentes mais democráticas. A esperança, como necessária e inerente à condição humana e histórica, que nos mobiliza a estar sempre em busca, curiosos/as, interessados/as, conscientes do nosso inacabamento (FREIRE, 2003), instiga minha prática cotidiana e fortalece a coragem para lidar com os desafios do campo da educação.

Este trabalho, fruto de um projeto de pesquisa na Educação Superior, visou analisar as contribuições da Disciplina Didática, nos Cursos de Pedagogia, para o trato às diferenças de gênero e de sexualidade na prática pedagógica. Assim, definimos como objetivos específicos, investigar as concepções de Didática que orientam o currículo da formação docente, a fim de identificar suas perspectivas e possível relação com as diferenças; bem como, identificar a presença das abordagens de gênero e de sexualidade no Curso de Pedagogia, a partir da Disciplina Didática.

Inicialmente tratamos das diferenças de gênero e de sexualidade e suas demandas para a formação de professores e professoras. Em seguida, discutimos sobre a Formação de professoras, professores e a sua relação com a Didática; e apresentamos o percurso teórico-metodológico que orientou a investigação. Por fim, apresentamos a análise dos projetos dos cursos de Pedagogia, bem como das falas das professoras de Didática dos respectivos cursos, em relação a gênero e sexualidade.

2. As diferenças de gênero e de sexualidade: demandas para a formação de professores e professoras

Gênero e sexualidade são construções sociais e discursivas, fundadas em definições binárias de masculino e de feminino, que implicam numa fórmula linear ou ordem compulsória (sexogênero-sexualidade), de conceber as identidades, as relações e os desejos da humanidade (BUTLER, 2013). Ao considerarmos que gênero e sexualidade são dinâmicas das diferenças presentes nos espaços sociais, educativos e formativos, como também conteúdos da formação que transversalizam o currículo, evidenciamos sua importância no campo da Didática, para aprofundamento e problematização.

Para Matos (2008), mais do que um conceito ou ferramenta, gênero passa a ser um campo novo nas ciências humanas e sociais, porque traz uma nova compreensão da ciência, situando os discursos de verdade e questionando a hegemonia dos paradigmas científicos através da perspectiva crítica, apontada na direção multicultural de ciência. Gênero consolida-se como uma categoria analítica e política, para tratar das diferenças e desigualdades das relações entre mulheres e homens, homens e mulheres, mulheres e mulheres, homens e homens.

Articulada a gênero, a sexualidade é componente da multidimensionalidade humana presente nas nossas histórias desde o início da nossa existência, perpassando todo o percurso de vida (FREUD, 1997), contrariando as afirmações que a definem como um fenômeno que surge na adolescência. A elaboração e a expressão cultural da sexualidade revelam sua dimensão construída e, não, determinada pela natureza. Esta perspectiva abre espaço para seu estudo, para a compreensão da sua história, uma vez que ultrapassa as explicações biológicas, determinadas pelo funcionamento do corpo e pelo instinto. A sexualidade pode ser tratada como expressão do ser, na relação entre objetividade e subjetividade, que possibilita a construção das identidades/identificações, das vivências corpóreas, éticas, estéticas, afetivas, espirituais e sensitivas. Essa construção, reciprocamente, interfere e recebe interferência das culturas nos contextos históricos e sociais. Desse modo, a sexualidade também envolve relações de poder nos contextos domésticos, profissionais e institucionais, a partir das suas intencionalidades.

As demandas culturais, que desafiam a escola a lidar com as dinâmicas de gênero, de sexualidades, de raças, etnias, religiões, revelam os limites e, também, as possibilidades do trabalho com as diferenças nas práticas pedagógicas e nos currículos de formação de professoras e professores. Essas diferenças são componentes inerentes à prática pedagógica, e não, componentes externos, que o professor e a professora validam ou silenciam, a depender do seu interesse (CANDAU, 2012).

Os conhecimentos teórico e prático, articulados, possibilitam e potencializam relações humanas e justas, sobretudo, no que se refere às diferenças de gênero, de sexualidade, de classe, de etnia e de religião nas escolas. Por outro lado, nem todas e todos compreendem a necessidade e a importância desses conteúdos na formação, tampouco no trato didático, revelando que gênero e sexualidade são temáticas geradoras de tensões, conflitos e relações de poder.

Como exemplo dessa tensão, é importante evidenciar a modificação do texto do Plano Nacional de Educação (2014-2024) (BRASIL, 2014), com menção a gênero e orientação sexual, termos substituídos por cidadania e formas de discriminação. Essa substituição representa uma manobra de silenciamento das diversas formas de desigualdade presentes em nosso país e, ainda, um mecanismo de promoção dessas desigualdades.

Nesse contexto, gênero e sexualidade são dinâmicas das diferenças, construídas socialmente, que desafiam a formação, o currículo e o trato didático, intensificando as tensões e as lutas culturais. A formação de professoras e professores, como um dos lócus de construção, partilha a ressignificação de conhecimentos, também como espaço multicultural. Nesse sentido, situamos a Didática como um campo fértil para pesquisa e práticas pedagógicas voltadas para as diferenças.

2.1. Formação de professoras, professores e a relação com a Didática

Ao compreender que a formação é um processo dinâmico, com fases de introdução e aprofundamento, contatos iniciais com discussões inéditas ou revisitas a discussões já conhecidas, que possibilitam a construção do conhecimento e a tessitura da prática pedagógica, dizemos que esta formação, através das atividades de ensino, é intencional.

Os processos educativos não são neutros; expressam as concepções e interesses situados em determinados momentos históricos, em grupos culturais diversos e em instituições e organizações com perspectivas distintas. Neste sentido, a formação de professores e professoras também é ancorada nas dimensões macro e micro da realidade.

A Resolução nº 2 de 2015 (BRASIL, 2015), que define Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial de professoras e professores, em nível superior, e as Diretrizes Curriculares Nacionais, para o Curso de Pedagogia, definem a importância de os cursos de formação de professores e professoras considerarem as realidades culturais. Nas diretrizes para Pedagogia, o artigo 5º, inciso X, refere-se às demandas para as egressas e os egressos do Curso de Pedagogia, em demonstrar consciência em relação às diferenças, inclusive, de gênero (BRASIL, 2006).

Os documentos normatizadores do currículo da formação de professores e professoras, sinalizam para a diversidade, com intervenção na perspectiva e no trabalho com as diferenças. Desse modo, o campo da Didática pode trazer contribuições acerca do ensino comprometido com as diferenças. Entretanto, as concepções de Didática que orientam o currículo, muitas vezes, ainda estão presas unicamente à formalização e formatação do ensino.

A Didática, como teoria voltada ao ensino, se constituiu de forma revolucionária a partir do século XVII. A tradição da Didática2, de origem europeia, com Comênio, Rousseau, Pestalozzi, e em seguida com Herbart, está presente, ainda hoje, nas concepções e práticas docentes, voltadas para um ensino, muitas vezes, classificado de tradicional, escolanovista ou tecnicista (LIBÂNEO, 1994; PIMENTA, ANASTASIOU, 2005).

No Brasil os movimentos em torno da Didática, constituídos historicamente, se dividiram em concepções mais conservadoras, ou mais críticas, de educação. Para Veiga (1991a), a inclusão da Didática nos cursos de formação de professores e professoras, em 1934, é um marco de renovação do campo, em diálogo com a Filosofia, a Psicologia e a Sociologia. Até então, a Didática assumia uma perspectiva tradicional, vinculada a um conjunto de regras definidas para o ensino.

A partir das mudanças econômicas, políticas e educacionais da década de 1930, na fase da República, com o período desenvolvimentista e com o lançamento do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, os cursos de formação de professores e professoras assumem a tarefa de qualificar o magistério. Em 1939, a Didática passa a ser Curso e Disciplina capaz de formar professores e professoras em um ano, após o bacharelado de três anos (esquema 3+1). Nesse contexto, a Didática assume uma dimensão psicológica, focada nos processos individuais de ensino. Nas décadas seguintes, a Didática disputa espaço com as Disciplinas Prática de Ensino e Currículos e Programas, atravessadas pelo tecnicismo pedagógico.

No contexto da ditadura militar, a Didática, focada nos procedimentos e técnicas de ensino distanciadas da realidade, passa a ser questionada. Com a redemocratização do país, a Didática Tecnicista é confrontada com outras perspectivas/dimensões e surge um enfoque eminentemente político nessa área de ensino (VEIGA, 1991a).

Para Candau (1989a), a Didática, ora exaltada, ora negada, precisa assumir a perspectiva da multidimensionalidade do ensino, articulando as dimensões humana, técnica e político-social. Ela propõe a superação da Didática Instrumental pela Didática Fundamental (1989b), que considera a eficiência pedagógica, sua dimensão técnica; mas, parte da análise da prática pedagógica, dos determinantes políticos, em relação com o compromisso voltado à transformação social3.

Nesse sentido, a Didática Fundamental, hoje, está atenta para a realidade de desigualdades sociais e econômicas; mas, necessita de outros referentes para lidar com as demandas culturais das diferenças. A Didática Crítica Intercultural não nega a importância do como na prática pedagógica, atentando para a organização, o planejamento do trabalho, os métodos e técnicas; mas, prima pela sua intencionalidade. O olhar para o porquê e o para quê diz do compromisso político que envolve a educação, sobretudo, nos trabalhos propositivo e interventivo, em relação às diferenças.

Para Candau (2012), não há risco em diluir a dimensão política da Didática na dimensão cultural; mas, é importante considerar a importância de uma articulação que enriqueça a reflexão e ação didática, na qual as diferenças sejam encaradas como vantagens pedagógicas. Sobre a Didática Crítica Intercultural ela diz:

A reflexão Didática não pode estar alheia a esta problemática. A partir da perspectiva crítica, na qual estou enraizada, considero que a perspectiva intercultural é central para se avançar na produção de conhecimentos e práticas, assim como processos de ensino-aprendizagem e na promoção de uma educação escolar orientados a colaborar na afirmação de uma sociedade verdadeiramente democrática em que justiça social e justiça cultural se entrelacem (CANDAU, 2012, p.135).

Os tempos atuais são tempos que exigem de nós articulações, aproximações, diálogos possíveis, a fim de fortalecermos nossas lutas por justiça social. Ao campo da Didática não cabe mais a luta revanchista entre abordagem instrumental e abordagem crítica; embora esta luta ainda esteja presente, sobretudo nos cursos de formação de professores e professoras. A reinvenção da escola, anunciada por Candau (2012), se dá, a partir do chão, do cotidiano e da cultura dos sujeitos. Nesse sentido, a Didática crítica intercultural aproxima-se das demandas de gênero e de sexualidade.

A Didática, enquanto campo do conhecimento da Pedagogia, Disciplina dos cursos de formação de professores/as e meio de trabalho que lida com o processo de ensino, através dos componentes, conteúdos, relações ensino e aprendizagem, articula as dimensões humana, técnica e política no trato teórico-prático relativo ao ensino situado (CANDAU, 1989b, LIBÂNEO, 1994, VEIGA, 1991b).

Desse modo, o trabalho com a Didática também demanda a assunção de tendências pedagógicas e diálogos possíveis, em busca da intencionalidade crítico-transformadora que orienta a nossa prática. Em vista de superar a tendência tradicional da Didática e das metodologias de ensino, que se propõem à prática neutra, descontextualizada e instrumental, elegemos as abordagens crítica e pós-crítica como orientadoras da prática pedagógica.

Na abordagem crítica, a Didática compromete-se com a multidimensionalidade do processo formativo, que envolve as dimensões técnica, humana e política, e é chamada por Candau (1989b), de Didática Fundamental. Essa abordagem dialoga com as tendências progressistas das metodologias de ensino, tendo em vista a contextualização do conhecimento e sua função transformadora. Na abordagem pós-crítica a Didática volta-se para a reinvenção da escola, no sentido de considerar as diferenças (classe, raça, gênero, religião), a favor dos processos de ensino e aprendizagem (CANDAU, 2012). A pesquisa acerca das contribuições da Didática na formação de professores e professoras, para a prática pedagógica com gênero e sexualidade, elege abordagens teórico-metodológicas dialogais.

3. Caminho teórico-metodológico da pesquisa

A discussão acerca da interculturalidade crítica, no campo da educação, nasce de demandas sociais e culturais referentes às diferenças; e suas raízes se originam da educação escolar indígena (CANDAU, 2012). É a partir desse contexto, que situamos o interesse sobre as contribuições da Didática à formação de professoras e professores para a prática pedagógica com gênero e sexualidade.

Com base na lente teórico-metodológica do multiculturalismo crítico, a pesquisa trata as desigualdades de gênero e de sexualidade como produções material e discursiva passíveis de transformação. O multiculturalismo crítico e de resistência, questiona o que está posto como normal, a partir da compreensão da instabilidade das identidades/identificações, da diversidade de sentidos e de significados construídos por sujeitos históricos. No multiculturalismo crítico, as diferenças são construídas nas relações sociais e envolvem disputas de poder; por isso, são sempre conflitivas (MCLAREN, 1997, p. 123).

As dinâmicas das diferenças são situadas no contexto de desigualdades, de conflitos sociais, culturais e, também, discursivos. O compromisso com a transformação das relações injustas e desiguais é tomado como objetivo central, dialogando com a perspectiva da educação crítica. Dessa forma, o multiculturalismo crítico é, também, base para uma abordagem de formação, porque orienta a prática pedagógica, sobretudo, em relação às diferenças (MCLAREN, 1997).

O multiculturalismo crítico possibilita investigar, e também intervir, nas múltiplas formas de discriminação, preconceito e desigualdades naturalizadas, evidenciando as diferenças presentes na sociedade e na escola que, muitas vezes, são negadas no currículo. As dinâmicas das diferenças são tratadas de forma interseccional, sem que uma diferença seja considerada mais importante ou superior à outra.

As perspectivas dialogal e plural de gênero, adotadas nesta pesquisa, situam a relação, a dinâmica, a complexidade e as diferenças presentes na realidade social, que desafiam a lidar com a pluralidade e a instabilidade de gênero e de sexualidade (BENTO, 2014a). Os diálogos entre as categorias de análise e a reflexão teórica acerca da realidade e suas instabilidades, são recursos para o pensamento e a ação (HARDING, 1993).

O campo de pesquisa, na abordagem qualitativa, é compreendido como um recorte espacial, a partir de um contexto amplo vinculado a outros recortes epistemológicos e metodológicos, orientados pelo objeto de pesquisa (MINAYO, 2000).

As relações e construções de gênero e de sexualidade se dão em diversos espaços; e a escola tem a possibilidade de, desde cedo, problematizar a naturalização dos padrões sociais impostos para os sujeitos. A formação de professores e professoras, em Pedagogia, pode vir a dar suporte teóricometodológico para o trabalho desse professor e dessa professora. Embora a Didática seja campo de conhecimento e Disciplina dos Cursos de formação dedicados a várias áreas de formação e atuação, elegemos o Curso de Pedagogia, por lidar com crianças.

A investigação ocorreu na Disciplina Didática, devido à sua contribuição nos processos de ensino, com foco na prática pedagógica docente. E também, pelos desafios travados pela Didática, na Educação Brasileira, que evidenciam a discussão acerca da Didática Fundamental, questionando o sentido instrumental atribuído ao campo, como também, o estudo encampa a proposta da didática intercultural crítica (CANDAU, 1989b, 2012).

Os Cursos de Pedagogia do Centro de Educação e do Campus Acadêmico do Agreste subsidiaram a pesquisa, tendo em vista o envolvimento desses Campus com a formação para as diferenças de gênero e de sexualidade.

Em Pernambuco, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife, a partir do Projeto Pedagógico disponibilizado, oferece a Disciplina Família, Gênero e Educação, na perspectiva sócio-filosófica, em formato optativo, com uma carga horária de 60 horas, referente a 4 créditos. De acordo com a ementa, a Disciplina focaliza gênero na discussão acerca da família, articulando à educação. O projeto não apresenta a bibliografia. Nesta Universidade, também está disponível a Disciplina Sexualidade e Educação, de natureza optativa, com carga horária de 60 horas e 4 créditos. Ela aborda a sexualidade humana a partir dos seus aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais, além dos discursos sobre sexualidade e sobre a informação sexual na escola e o trabalho do educador.

Na Universidade Federal de Pernambuco, no Centro Acadêmico do Agreste (CAA), em Caruaru, é oferecida a Disciplina eletiva Gênero e Educação, com uma carga horária de 45 horas, conforme Projeto Pedagógico do Curso (PPC). A Disciplina propõe, com base na sua ementa, trabalhar as relações de gênero na educação, a partir das teorias feministas, articulando a identidade, a sexualidade e as desigualdades. E ainda, apresenta uma bibliografia básica, que traz teóricos/as nacionais e internacionais, para tratar de gênero, sexualidade e feminismo, nas perspectivas crítica e pós-crítica, como também, dos Parâmetros Curriculares Nacionais.

O CAA, especificamente, traz contribuições em relação à interculturalidade, através das Disciplinas do Curso de Pedagogia e do Programa de Educação Intercultural. Neste Centro, funciona o Observatório dos Movimentos Sociais da América Latina, que oportuniza encontros, debates e discussões voltados às questões de gênero e sexualidade. O Observatório é constituído por professoras, professores e estudantes da Universidade “[...] que desenvolvem pesquisas, formações e ações junto aos movimentos sociais, ONGs e projetos sociais, na perspectiva do diálogo, da colaboração e do fortalecimento dessas organizações”4.

Os sujeitos da pesquisa são três professoras da Disciplina Didática, no Curso de Pedagogia, pelo seu protagonismo no processo formativo. Duas professoras do Centro de Educação e uma professora do Campus Agreste, UFPE contribuíram com a pesquisa. A intenção é, a partir dos sujeitos, saber das contribuições da Didática à formação de professores e professoras para a prática pedagógica com gênero e sexualidade na Educação Básica.

Como procedimentos e instrumentos de coleta de dados, identificamos a pesquisa documental e a entrevista, como aqueles que melhor favorecem à análise da formação. A pesquisa documental, como fonte de dados, fornece informações sobre o contexto e suas condições de produção (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Assim o corpus documental foram os PPCs dos Cursos de Pedagogia (CAA e UFPE).

A entrevista, que trabalha com a tradição oral dos sujeitos, sobretudo com mulheres (TERRAGNI, 2005), foi utilizada como procedimento principal de diálogo, com professoras e professores, acerca das contribuições da Didática à formação para o trabalho com gênero e sexualidade. O recorte dos sujeitos atendeu aos critérios de ser professor, professora efetivo, efetiva da Disciplina Didática, nos Cursos de Pedagogia, tendo em vista seu vínculo com a instituição, pela garantia de maior autonomia e envolvimento com a Universidade.

A Análise de Conteúdo, como um conjunto de técnicas de análise, possibilita organizar, sistematizar e interpretar o conteúdo das comunicações, em busca dos seus significados latentes, por meio da inferência. A Análise de Conteúdo viabiliza a leitura crítica das mensagens para ir além do aparente, visando os objetivos de ultrapassagem da incerteza e enriquecimento da leitura (BARDIN, 1977, p. 29).

A análise das falas das professoras se deu a partir da identificação de unidades temáticas, organizadas em uma grelha de dados, nos eixos: concepções e abordagens de Didática, concepções de gênero e/ou sexualidade e relações entre Didática, gênero e sexualidade.

4. Análise dos PPCs dos Cursos de Pedagogia: o lugar e os sentidos de gênero e sexualidade na Disciplina Didática

A análise do PPC do Curso de Pedagogia da UFPE – CAA (Caruaru), revela que o curso tem uma preocupação com as questões das diferenças, pois defende o pluralismo de concepções e de práticas pedagógicas; e considera o trato às diferenças e a vivência dialógica como grandes desafios.

O projeto enfatiza o compromisso do Curso com as dimensões de gênero e de sexualidade, ao dizer da demanda para o/a egresso/a: “Demonstrar consciência da diversidade, respeitando as diferenças de natureza ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras” (PPC-CAA, 2010, p. 18). O compromisso do Curso, em formar sujeitos atentos às diferenças, pode possibilitar práticas pedagógicas menos desiguais no cotidiano da sala de aula.

O projeto faz dezoito menções a gênero, na perspectiva das relações, tendo em vista que é referenciado nove vezes, no sentido da linguagem. A categoria está situada nos eixos: perfil profissional, estrutura curricular, ementas e bibliografia (básica e complementar). Sexualidade aparece 26 vezes no texto, nas ementas e na bibliografia (básica e complementar). Há duas menções à homofobia na bibliografia.

Gênero e sexualidade são abordados como dimensões humanas e temáticas necessárias à formação do/a pedagogo/a, na relação com classe, raça, geração e sexualidade. A intenção é situar a formação a partir do princípio do respeito às diferenças. Enquanto conteúdo curricular, gênero e sexualidade são definidos como temáticas de Disciplinas eletivas.

Em relação à linguagem, o texto é escrito no masculino genérico, pois em nenhuma situação há flexão de gênero, uma vez que a escrita referencia os docentes, os professores, os alunos.

No campo específico da Didática, não localizamos relação com as dimensões de gênero e/ou sexualidade. A Disciplina Didática é situada enquanto componente curricular obrigatório, no terceiro período do Curso, com sessenta horas de carga horária total, compondo 4 créditos. A ementa da Disciplina contempla pressupostos multidimensionais, a relação professor-aluno-conhecimento, projeto pedagógico e planejamento de ensino (PPC-CAA, 2010).

Embora a ementa indique as dimensões política e intencional da Didática, que remetem a uma perspectiva crítica, não há articulação com o plano cultural, das diferenças, que possa dialogar com gênero e/ou sexualidade. As discussões acerca das diferenças, do multiculturalismo e da Didática Intercultural não são contempladas. A ênfase nos processos de ensino, objeto da Didática, não prescinde do diálogo com a dimensão da cultura, das relações, das subjetividades que são demandas para a prática pedagógica, sobretudo, docente.

Embora as bibliografias básica e complementar das Disciplinas apontem para uma formação crítica no campo da Didática, a partir de autoras e autores específicos da área, que enfatizam a reflexão, os saberes e a pesquisa, não há referencial no projeto, que contemple as diferenças de gênero e de sexualidade.

O PPC do Curso de Pedagogia do Centro de Educação-CE (Recife), também contempla as diferenças enquanto princípio, no âmbito do respeito e na interface com a produção de subjetividades multidimensionais de classe, raça, gênero e sexualidade. O trabalho pedagógico, escolar e não escolar, é definido como centro da formação profissional. Dentre os eixos dessa formação o PPC aponta:

Formação com base nos princípios de respeito às minorias sociais, às diferenças de classes econômicas, à diversidade sócio-cultural, às diferenças de gênero, ao respeito das minorias linguísticas, às pessoas com necessidades educacionais especiais e outras, consoante as orientações dos direitos humanos e da educação inclusiva (PPC-CE, 2007, p. 2).

Ao assumir o trabalho pedagógico como cerne da formação e situar esses princípios de respeito às diversidades e diferenças, com base nas orientações dos Direitos Humanos e da Educação Inclusiva, o projeto do Curso intenciona uma formação comprometida com a justiça social, a partir de uma justiça curricular (TORRES SANTOMÉ, 2013). Para este teórico, a justiça curricular é o grau de respeito que os currículos investem nas culturas silenciadas e negadas na escola.

O PPC do Centro de Educação traz duas menções à sexualidade e quatro menções a gênero, situadas nos eixos: concepção do Curso: pressupostos da formação do pedagogo, eixos da formação profissional, estrutura curricular (Disciplinas eletivas e estudos de aprofundamento). Gênero e sexualidade são abordados como dimensões humanas e temáticas necessárias à formação do/a pedagogo/a, na relação com classe, raça, geração e sexualidade. O propósito destas temáticas no currículo é situar a formação a partir do princípio do respeito às diferenças. Gênero e sexualidade são definidos como temáticas de Disciplinas complementares eletivas, com finalidade de ampliar e diversificar o conhecimento (PPC-CE, 2007).

O texto é escrito no masculino genérico. Em nenhuma situação há flexão de gênero; pois a escrita referencia os docentes, os professores, os alunos. Temas como LGBTfobia, preconceito, homossexualidade, transexualidade não são mencionados no projeto. Também não há referencial específico que trate das questões do feminismo, de gênero, de LGBTfobia.

A Disciplina Didática, situada no projeto enquanto “[...] disciplinas e atividades de natureza predominantemente teórica” (PPC-CE, 2007, p. 21), é ofertada no terceiro período, com 45 horas, no eixo de Gestão da Educação e do Ensino (PPC-CE, 2007).

Embora o texto do Projeto defina o estudo da prática educacional em articulação com a cultura escolar, não traz a discussão das diferenças, de gênero e/ou sexualidade. O Projeto não apresenta a ementa específica das Disciplinas; mas, o eixo que envolve a Disciplina Didática compromete-se com as perspectivas crítica e intencional da formação, apesar de não explicitar preocupação com as diferenças, gênero e/ou sexualidade.

Em síntese, podemos dizer que nos PPCs dos Cursos de Pedagogia do CE e do CAA, as concepções de Didática que orientam o currículo da formação docente assumem a perspectiva crítica, tendo em vista a explicitação da intencionalidade, a articulação com pressupostos políticos, históricos e sociais e o compromisso com a transformação social. Nessa direção, o currículo da formação supera a perspectiva instrumental da Didática, uma vez que não se prende às dimensões técnica, formal e burocrática do campo; embora destaque a importância do planejamento do ensino. Apesar dos PPCs explicitarem compromissos com a diversidade, eles não guardam nenhuma relação específica entre a Didática e as diferenças de gênero e/ou sexualidade.

Nossa inquietação acerca das contribuições da Didática, na formação para o trabalho com gênero e sexualidade, nos instiga a ressaltar a importância da dimensão cultural na Disciplina Didática, tendo em vista que ela diz do campo do conhecimento que trata do ensino, da relação pedagógica e da intencionalidade política do planejamento.

Segundo Candau (2012), a perspectiva intercultural é necessária para dar conta das demandas culturais, para produzir conhecimentos e vivenciar práticas pedagógicas democráticas, fazendo da diversidade uma possibilidade pedagógica. Além da análise dos Projetos dos Cursos de Pedagogia, a análise das entrevistas com as professoras de Didática sinaliza para essa necessidade.

4.1 . Didática, gênero e sexualidade na perspectiva das professoras

A Didática, como campo de conhecimento que trata do processo de ensino, na sua relação com a aprendizagem, com foco nas abordagens educativas, do planejamento, da relação pedagógica e da avaliação, situadas no contexto sociocultural, pode contribuir com práticas educativas mais justas. Desse modo, a concepção que se constrói de Didática incorre em processos de ensino mais ou menos democráticos, a depender do compromisso com a justiça social, enquanto reparação de desigualdades (CONNELL, 2014).

Levamos em conta, também, a importância da identificação de estudantes com as discussões/vivências de gênero e de sexualidade na formação, numa perspectiva de Didática da dupla consciência (MOLINA, 2013)5, como movimento de organização do trabalho pedagógico, capaz de mobilizar a compreensão das e dos estudantes acerca da sua condição de gênero e de sexualidade no contexto social brasileiro. A partir dessa compreensão, as professoras falam das concepções e abordagens de Didática, concepções de gênero e/ou sexualidade e relações entre Didática, gênero e sexualidade.

A Didática é definida, pelas três professoras, como campo de conhecimento e de trabalho, numa perspectiva teórico-prática voltada para o ensino. A professora resume essas definições, quando diz: “Então, a didática é compreendida enquanto campo do conhecimento, do trabalho com processos de ensino. Aí, a nossa compreensão é de que são processos de ensino que precisam se revelar em aprendizagem”

Ao situar a Didática como campo do conhecimento e do trabalho, as professoras revelam seu caráter epistemológico, em articulação com a prática, ultrapassando a perspectiva instrumentalista, que resume a Didática a procedimentos e técnicas de ensino. A definição das professoras contribui para uma formação comprometida com a realidade social, porque atenta para a dimensão política do ensino (CANDAU, 1989b).

Nessa mesma direção, as professoras falaram das abordagens de trabalho com a Didática, apontando a perspectiva crítica, como sendo a norteadora das suas propostas. Há também a sinalização para uma dimensão pós-estruturalista.

[...] acho que a gente ainda está fazendo funcionar esse modelo da Didática Fundamental (P1).

A minha perspectiva de trabalho é muito fundada nos estudos mais pós-estruturalista. Eu vou no caminho de pensamento muito mais próximos, por exemplo, de Tomás Tadeu, para refletir sobre currículo, identidade e diferença. Eu vou muito nessa lógica; eu gosto de trabalhar com Alice Cassimiro Lopes (P2).

Embora a gente trabalhe com essas outras possibilidades da Didática, como é que a partir da perspectiva crítica a gente olha pra Didática a partir dos estudos pósestruturalistas, ou então como a Didática é vista lá, que autores são esses que trabalham... que olhares, que novos olhares são esses que emergem da Didática; mas, a gente concebe que o trabalho que a gente desenvolve; ele é primordialmente trabalhado dentro dessa concepção de educação crítica? (P3)

As professoras 1 e 3 evidenciam que na Disciplina Didática há um exercício de superação da Didática Instrumental, com foco na Didática Fundamental, abordando a construção crítica do conhecimento pedagógico, suas relações com o contexto político-social e histórico. Esse cuidado com a superação da perspectiva instrumental da Didática parece ser a demanda mais expressiva para professores e professoras de Didática; tendo em vista que a preservação de uma tradição pedagógica, que ainda cobra da Didática um modelo de ensino, suscita expectativas entre as e os estudantes sobre o aprender a dar aulas. O cuidado das professoras da pesquisa, em tratar dos movimentos de superação da Didática, apontam para uma compreensão que:

[...] auxilia no processo de politização do futuro professor, de modo que ele possa perceber a ideologia que inspirou a natureza do conhecimento usado e a prática desenvolvida na escola. Neste sentido, a didática crítica busca superar o intelectualismo formal do enfoque tradicional, evitar os efeitos do espontaneísmo escolanovista, combater a orientação desmobilizadora do tecnicismo e recuperar as tarefas especificamente pedagógicas, desprestigiadas a partir do discurso reprodutivista. Procura ainda, compreender e analisar a realidade social onde está inserida a escola (VEIGA, 1991b, p. 40).

A Didática crítica, além de ajudar a superar uma visão humanista de ensino geral, como um conjunto de regras a cumprir (tradicional), supera também a preocupação individualista de ensino voltado para o desenvolvimento psicológico ou psicossocial (escolanovista); e ainda, de um ensino formatado em modelos e técnicas (tecnicismo), podendo abrir espaço para a didática crítica intercultural. Entretanto, esse exercício de superação da perspectiva Instrumental, até à Didática Fundamental, marca a prática das professoras da pesquisa, porque o nosso contexto social e as cobranças de grande parte das e dos discentes, nos cursos de formação, ainda relacionam a Didática ao ensinar a ensinar. Além dessa compreensão, a perspectiva pós-estruturalista situa a prática da professora 1 e é mencionada pela professora 3.

As professoras também trabalham com Teoria do Currículo, com Pesquisa e com Prática Pedagógica (PPP) e revelam o diálogo que estabelecem entre as Disciplinas em suas práticas. Para a professora 2, sua prática busca superar a fragmentação e a classificação, a partir de abordagens. Entretanto, ela situa sua intenção de trabalho numa dimensão pós-estruturalista, em diálogo com a perspectiva de currículo, a partir de Tomaz Tadeu da Silva. As abordagens, críticas e pósestruturalistas, apontadas pelas professoras, indicam uma formação que situa o contexto sóciopolítico e cultural a partir do qual emergem os processos de ensino. A relação com outras Disciplinas (PPP e Teoria do Currículo), também contribui com uma formação comprometida com a realidade social, tendo em vista que tomam os objetos de estudo e trabalho numa perspectiva interdisciplinar.

Para Libâneo (2002), os campos da Didática e do Currículo divergem quanto às tradições culturais e teóricas, embora tenham aproximações que contribuem para a educação crítica. Ele destaca, como pontos de convergência: a intencionalidade da prática educativa, o caráter investigativo dos campos, o envolvimento do/a professor/a como sujeitos/as do conhecimento, o compromisso com a transformação do saber científico em saber escolar e o envolvimento com a cultura escolar. Desse modo, pensamos que professoras envolvidas em Disciplinas que dialogam em seus objetos de estudo e trabalho, e que buscam a aproximação entre os campos, a partir de perspectivas crítica e/ou pós-estruturalistas, contribuem para uma formação que ultrapassa a concepção instrumentalizadora de educação, podendo alcançar debates culturais do cotidiano.

Foi unânime a preocupação das professoras com o campo teórico dos fundamentos da Didática, a partir de um enfoque epistemológico, que sustenta o pensar em articulação com a análise do contexto. A dicotomia entre Didática teórica (realizada nos cursos de formação), e Didática prática (desenvolvida nas salas de aula da Educação Básica), (MARTINS, 2002), parece ser superada pelas professoras nos cursos de formação, tendo em vista seus relatos sobre a articulação entre os fundamentos e as demandas das escolas.

As temáticas vivenciadas por elas, nas Disciplinas, envolvem as concepções de Didática, da construção histórica do campo, de identidade profissional, saberes, relação professor/professoraestudante, planejamento e avaliação. Essas são temáticas que indicam uma compreensão ampliada do campo, que ultrapassa a formalização do ensino, envolvendo inclusive, a condição profissional do/a professor/a.

Embora as professoras não tragam na discussão sobre Didática, temáticas culturais, como gênero e sexualidade, localizamos a abertura para o diálogo, a partir das concepções críticas e pósestruturalistas que colocam; bem como a partir do compromisso social que anunciam no trabalho com a formação de professores/professoras.

Encarar o trato às diferenças de gênero e de sexualidade como conteúdo da formação de professores/as, a partir da Didática, pode levar as/os estudantes a refletirem sobre o projeto de escola, de sociedade que tomam como norte para as suas práticas pedagógicas. A Didática da dupla consciência, na formação, também pode contribuir para as e os estudantes se identificarem com suas construções de gênero e de sexualidade, partindo para o enfrentamento das desigualdades (MOLINA, 2013).

Em relação específica a gênero e sexualidade, as professoras não demonstram dificuldade em falar sobre as categorias, inclusive, as conceituam numa perspectiva de construção social, enquanto dimensão do humano.

Ao provocarmos as professoras sobre o conceito de gênero e de sexualidade, elas dizem da dimensão de subjetividade que esses conceitos envolvem, tratados enquanto desejo e energia, conforme P2: “Eu vejo a sexualidade muito ligada à pulsão de vida, à vontade de viver, à energia que te move para estar no mundo não é? É algo que não deveria ser cercado de mistérios, não deveria ser silenciado”. A definição, bem próxima das perspectivas de Louro (2000), e de Britzman (2010), enquanto energia impulsionadora e de cruzamento de fronteiras, revela que as professoras estão atualizadas nas discussões acerca de gênero e de sexualidade, podendo estabelecer o diálogo em sala de aula com as e os estudantes, inclusive, por perceberem que é um tema que não deve ser silenciado.

Sobre o silenciamento das discussões de gênero e de sexualidade na educação, elas alertam para o contexto de vigilância que cerca essas temáticas; mas, afirmam a sua importância no âmbito escolar:

Eu sei que nós estamos em um período extremamente delicado para tratar dessas temáticas, sobretudo, considerando o contexto político e social que a gente vive; mas, eu continuo compreendendo que essas são temáticas eminentemente necessárias ao contexto escolar, desde a formação dos professores, até os estudantes. A sexualidade explode na escola, e a gente age como se ela não existisse (P3).

Ao tratar do “período extremamente delicado”, a professora se refere à realidade da cruzada moral contra gênero e sexualidade, que incorre no controle e censura do currículo escolar, vinculado a um projeto de sociedade submetida a interesses econômicos, ideologias religiosas e vertentes políticas conservadoras. A lógica dessa cruzada é criar um espectro que assombre a sociedade em relação às discussões de gênero e de sexualidade, sobretudo, no espaço escolar (MISKOLCI, 2018). O posicionamento das professoras acerca da importância das temáticas, afirmando, inclusive, as demandas existentes nos âmbitos da formação e da atuação, indicam que elas estão engajadas em um projeto de formação progressista.

No que se refere ao trabalho da Didática, em relação a gênero e sexualidade, as professoras anunciam que não trabalham com essas categorias, enquanto temáticas da Disciplina, como currículo prescrito; mas, que as temáticas emergem na relação pedagógica, no currículo vivido. Elas relatam:

Eu gostaria muito de poder trazer várias dessas temáticas da sexualidade, a questão racial, a questão étnica em sala de aula, mas o que eu tenho tentado fazer é tentar exercitar essas questões a partir das minhas relações com os alunos (P1).

Incrivelmente do ponto de vista da organização formal da Disciplina não entra, não tem entrado. Não tem entrado, porque eu ainda não achei para esse modelo de Disciplina que a gente tem aqui esse encaixe. Na outra Universidade eu tinha uma Didática com 75 horas aí eu conseguia fazer, eu não sei se é só questão do tempo, ou era o acolhimento dessa questão lá, o que tornava essa questão mais visível, mais fácil para me encaixar (P2).

Então, especificamente da Didática, em relação ao gênero e à sexualidade, estas são temáticas que a gente enxerga muito mais emergindo no trabalho dos estudantes na Pesquisa e Prática Pedagógica quando eles vão à escola, quando eles conseguem olhar pra escola, enquanto universo de atuação profissional. Essa é uma temática que emerge muito mais a partir destes contextos, e a gente tem alguns trabalhos desenvolvidos a partir da Pesquisa e da Prática Pedagógica com gênero e sexualidade, emerge muito mais lá que efetivamente na didática (P3).

Os argumentos sobre não tratar gênero e sexualidade como temáticas, dizem respeito à carga horária da Disciplina e às demandas das/dos estudantes com essas temáticas. Elas ainda situam a presença de gênero e sexualidade, emergindo da relação pedagógica e do contato das/dos estudantes com as escolas, a partir de outra Disciplina.

Para nós, a ausência de gênero e de sexualidade no currículo prescrito de Didática, carece de reflexão, tendo em vista que esta Disciplina lida com os processos educativos, especificamente, com o ensino; e este envolve as dimensões de gênero e de sexualidade. As intencionalidades pedagógicas, o planejamento, a avaliação, as técnicas de ensino, as relações pedagógicas e a profissionalização docente são perpassadas por dimensões de gênero e de sexualidade (CARVALHO, 1999; SANTOS, 2014). Gênero e sexualidade, geralmente, são discussões mais tratadas pelo campo do currículo, enquanto conteúdo cultural presente nas relações. Entretanto, situamos que essas também são temáticas de estudo da Didática.

Embora as professoras afirmem não trabalhar com gênero e sexualidade no currículo prescrito de Didática, dizem da sua presença na Disciplina, no contexto da sala de aula e da sua necessidade.

Veja isso da rede de proteção de você estar o tempo todo alertando o aluno, inclusive ela alertou (refere-se à aluna). Se mexeu mais ainda com ela foi numa aula de Didática (refere-se à situação de violência doméstica que uma aluna sofria). Ela percebeu o abuso e violência o abuso que estava naturalizado o abuso e a violência que estavam naturalizados [...] (P1).

[...] quando não consigo entrar nesse eixo temático eles ficam faltando; agora eles sempre trazem os questionamentos; estou lembrando agora isso, sobre escola sem partido aparece com muita presença, sobre ideologia de gênero, sobre orientação sexual, sexualidade na escola e só aparece uma vez ou outra e aí quando aparece, aí a gente dá uma parada. Se o tema da aula for planejamento, se o tema da aula for currículo ou se o tema da aula for as abordagens, aí a gente vai tentar casar isso (P2).

Eu penso que ela é uma temática interessante a ser discutida na Didática, considerando que no contexto da sala de aula você vai encontrar todos esses elementos. Eu digo pra eles: ‘vocês vão encontrar todas as questões, vocês vão encontrar a questão da educação inclusiva, da alfabetização e do letramento, as questões de sexualidade, as questões inerentes às drogas’. Quer dizer, o professor vai encontrar na sala de aula essa diversidade de temáticas, e na medida em que ele não tem domínio de conhecimento em torno dessas temáticas, ele fica temeroso de fato em trabalhar (P3)

A pesquisa revela que as professoras têm interesse em trabalhar com as temáticas e veem a sua importância, inclusive, mostrando-se provocadas pela pesquisa em inserir as discussões no currículo prescrito. As reflexões suscitadas pela pesquisa mostram que as professoras passam a se dar conta de que gênero e sexualidade estão presentes no currículo vivido, a partir das experiências das e dos estudantes. P2 fala em “dar uma parada”, quando surgem as temáticas de gênero e/ou sexualidade, indicando compreender que não são específicas da Didática, a exemplo do planejamento.

As abordagens crítica e pós-estruturalistas, eleitas pelas professoras revelam o olhar atento para gênero e sexualidade. Embora sejam priorizadas discussões específicas do campo da Didática, gênero e sexualidade estão situadas como temáticas do currículo vivido.

5. Gênero e sexualidade no currículo vivido da Didática

A intenção em analisar as contribuições da Disciplina Didática nos Cursos de Pedagogia, para o trato às diferenças de gênero e de sexualidade na prática pedagógica, revela o lugar e os sentidos de gênero e de sexualidade nos PPCs dos cursos e nas práticas pedagógicas das professoras. Embora os PPCs considerem as dimensões das diversidades, e tragam no corpo do texto gênero e sexualidade, no que se refere à Didática, essas temáticas não são contempladas.

As falas das professoras revelam a preocupação em priorizar a discussão acerca da construção epistemológica do campo da Didática e a discussão acerca da superação da sua dimensão instrumental, com foco na Didática Fundamental. Revelam que têm subsídios para tratar de gênero e sexualidade, como categorias distintas e articuladas; e dizem das demandas e, ao mesmo tempo, das resistências do contexto em trabalhar com gênero e sexualidade na formação.

As falas das professoras situam a presença de gênero e de sexualidade apenas no currículo vivido. Inferimos que a ausência das temáticas nos PPCs dos Cursos contribui para o silenciamento no currículo prescrito; além das justificativas apresentadas pelas professoras. Salientamos a necessidade dessa presença, inclusive, porque outros/as professores e professoras, que porventura não tenham o compromisso com as diferenças de gênero e de sexualidade, podem inviabilizar a discussão no currículo vivido.

A necessidade de “reinventar a escola”, a partir do olhar para as demandas culturais das e dos estudantes e os desafios postos à perspectiva crítica da Didática, lançam, para o campo da formação, a importância da ressignificação desta Disciplina, a partir do enfoque intercultural (CANDAU, 2012). A ideia não é negar a Didática Fundamental, a perspectiva crítica que evidencia a dimensão política da educação e, especificamente, do ensino; mas, articular essa criticidade às questões de identidade, subjetividade, culturas e relações. Gênero e sexualidade, enquanto categorias teóricas e de análise, como dimensões das relações humanas, estarão presentes em todas as Disciplinas; por isso, sua perspectiva inter e transdisciplinar.

A Didática, campo da educação que se ocupa com o ensino, lida com as dimensões das diferenças nas práticas educativas. E, numa perspectiva intercultural crítica, atenta: para a ressignificação das concepções e relações pedagógicas, através da releitura de imagens dos livros didáticos, enquanto artefatos culturais e de gênero; para os critérios de avaliação, que tomam padrões de gênero como referência; e para os agrupamentos e atividades escolares, que se distanciam de práticas coeducativas entre os gêneros.

São diversos os eixos temáticos da Didática e as situações didáticas que cobram o olhar atento e comprometido com as diferenças de gênero e de sexualidade nesse campo de formação e atuação. A pesquisa suscita outros estudos, no campo da Didática, na perspectiva da interculturalidade crítica, voltados para as relações de gênero e de sexualidade, tendo em vista que essas são temáticas, também, do campo da Didática.

Material suplementar
REFERÊNCIAS
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Trad. Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1977.
BENTO, Berenice. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de Janeiro: Garamond. 2006.
BRASIL. Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024 [recurso eletrônico]: Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) e dá outras providências. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2014.86 p. – (Série legislação; n. 125)
BRITZMAN, Deborah. Curiosidade, sexualidade e currículo. In: LOURO, Guacira Lopes (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução Renato Aguiar. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.
CANDAU, Vera Maria (orgs.). A Didática em questão. 8. ed., Petrópolis, RJ: Vozes, 1989a.
CANDAU, Vera Maria (orgs.). Rumo a uma nova Didática. 2. ed., Petrópolis, RJ: Vozes, 1989b.
CANDAU, Vera Maria. Diferenças culturais, cotidiano escolar e práticas pedagógicas. Currículo sem Fronteiras, Porto Alegre, v. 11, n. 2, p. 240-255, jul/dez 2011.
CANDAU, Vera Maria. Sociedade multicultural e educação: tensões e desafios. In: CANDAU, Vera Maria (orgs.). Didática crítica intercultural: aproximações. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
CANDAU, Vera Maria. Escola, Didática e Interculturalidade: desafios atuais. In: CANDAU, Vera Maria (orgs.). Didática crítica intercultural: aproximações. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
CARVALHO, Marília Pinto de. No coração da sala de aula: Gênero e trabalho docente nas séries iniciais. São Paulo: Xamã, 1999.
CONNELL, Raewyn. Questões de Gênero e Justiça Social. Século XXI. Revista de Ciências Sociais. Universidade Federal de Santa Maria. v. 4, n. 2 (2014). Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/seculoxxi/article/view/17033/10322 Acesso em: 28 de agosto de 2019.
FISCHMAN, Gustavo Enrique; SALES, Sandra Regina. Formação de Professores e pedagogia crítica. É possível ir além das narrativas redentoras? Revista Brasileira de Educação. v. 15, n. 43, jan./abr. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v15n43/a02v15n43>. Acesso em: 18 jul. 2014.
FORQUIN, Jean-Claude. Escola e cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1993.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.26 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003. (Coleção Leitura).
GOHN, Maria da Glória. Educação não formal e o educador social: atuação no Desenvolvimento de projetos sociais. São Paulo: Cortez, 2010. (Coleções questões da nossa época; v.1).
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
LIBÂNEO. José Carlos. Didática: velhos e novos temas. Edição do Autor. 2002. Disponível em: http://nead.uesc.br/arquivos/Biologia/scorm/Jose_Carlos_Libaneo__Livro_Didatica_Lib_oneo_1_.pdf Acesso em: 28 de agosto de 2019.
LIBÂNEO. José Carlos. Democratização da Escola Pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. 20. ed., São Paulo: Edições Loyola. 2005
LOURO, Guacira Lopes. Currículo, Gênero e sexualidade. Portugal: Porto Editora, 2000.
MINAYO, Maria Cecília. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 7. ed. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Abrasco, 2000.
MISKOLCI, Richard. Exorcizando um fantasma: os interesses por trás do combate à “ideologia de gênero”. In: A construção do pânico moral da criança sob ameaça. In: Cadernos Pagu. N. 53. 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/cgibin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=p&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=MISKOLCI,+RICHARD Acesso em: 30 de setembro de 2019.
MOLINA, Thiago dos Santos. A Didática da Dupla Consciência e o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. 36ª Reunião Nacional da ANPEd – 29 de setembro a 02 de outubro de 2013, Goiânia-GO. Disponível em: http://www.anped.org.br/biblioteca/item/didatica-da-duplaconsciencia-e-o-ensino-de-historia-e-cultura-afro-brasileira-e Acesso em: 28 de agosto de 2019.
MOREIRA, Antônio Flavio Barbosa (org.). Currículo: Políticas e práticas. Campinas, SP: Papirus, 1999. (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).
SANTIAGO, Maria Eliete. Formação, currículo e prática pedagógica em Paulo Freire. In: BATISTA NETO, José; SANTIAGO, Maria Eliete (orgs.). Formação de professores e prática pedagógica. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Ed. Massangana, 2006. p. 73-87.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
SOUZA, João Francisco de. Prática pedagógica e formação de professores. Organizadores: BATISTA NETO, José; SANTIAGO, Eliete. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2009.
TERRAGNI, Laura. A pesquisa de gênero. In: MELUCCI, Alberto. Por uma sociologia reflexiva: pesquisa qualitativa e cultura. Tradução de Maria do Carmo Alves do Bomfim. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
TORRES SANTOMÉ, Jurjo. Currículo escolar e justiça social: o cavalo de Troia da educação. Tradução: Alexandre Salvaterra; revisão técnica: Álvaro Hypolito. Porto Alegre: Penso, 2013
VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org.). Técnicas de ensino: por que não? (org.). Campinas, SP: Papirus, 1991. (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).
VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Didática: uma retrospectiva histórica. In: LOPES, Antonia Osima [et al] VEIGA, Ilma Passos Alencastro (coord.). Repensando a Didática. 5. Ed. Campinas, SP: Papirus, 1991 b.
Notas
Notas
2 A Didática no século XVII, enquanto um modelo de instrução para todos, sem distinção, por isso revolucionário para a época, se constituiu a partir de um viés humanista. A Didática Magna de Comênio, percussor desse campo, visava o desenvolvimento natural, respeitando as capacidades de aprendizagens de acordo com a idade, embora preservasse o modelo de ensino simultâneo e genérico. No século XVIII ocorre a chamada Segunda Revolução Didática, com Housseau, que constrói um novo conceito de infância e focaliza os processos de ensino no desenvolvimento individual dos sujeitos. Atualizando esse pensamento, Pestalozzi, pedagogo suíço dá ênfase aos sentidos, através do método intuitivo. No século XIX Herbart propõe uma pedagogia científica, a partir de quatro passos formais do ensino (clareza, associação, sistematização e aplicação), utilizados ainda hoje nas práticas docentes (LIBÂNEO, 1994; PIMENTA, ANASTASIOU, 2005).
3 Nossa intenção aqui não é fazer uma retrospectiva histórica da Didática, mas situar os marcos filosóficos e históricos da Didática para contextualizar a abordagem intercultural crítica, apresentada por nós como a que mais se aproxima do trabalho com as diferenças de gênero e de sexualidade.
4 Disponível em: <http://observatorioufpecaa.blogspot.com.br/>. Acesso em: 16 maio 2014.
5 “A Didática da dupla consciência”, para Molina (2013), é princípio organizador do trabalho pedagógico capaz de situar as e os estudantes negras e negros em relação à sua negritude e, ao mesmo tempo, ao enfrentamento da realidade brasileira, distanciando-se da ideia de embranquecimento.
Autor notes
1 Doutora em Educação pelo Núcleo de Formação de Professores e Prática Pedagógica da UFPE; Professora Adjunta na UFPE no Centro Acadêmico do Agreste (CAA), Caruaru, Pernambuco, Brasil. E-mail: maria.cgsantos@ufpe.br; https://orcid.org/0000-0002-5760-6009
Buscar:
Contexto
Descargar
Todas
Imágenes
Visualizador XML-JATS4R. Desarrollado por Redalyc