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“Entusiasmo, trabalho, cooperação e intensa brasilidade”: Os primeiros clubes agrícolas escolares de Santa Catarina (1934-1938)
Elaine Aparecida Teixeira Pereira; Maria das Dores Daros
Elaine Aparecida Teixeira Pereira; Maria das Dores Daros
“Entusiasmo, trabalho, cooperação e intensa brasilidade”: Os primeiros clubes agrícolas escolares de Santa Catarina (1934-1938)
“Enthusiasm, work, cooperation and intense brazilianity”: The early school agricultural clubs from Santa Catarina (1934-1938)
Revista Tópicos Educacionais, vol. 28, núm. 2, pp. 183-204, 2022
Centro de Educação - CE - Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
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Resumo: O presente trabalho aborda os Clubes Agrícolas Escolares de Santa Catarina entre 1934 e 1938, quando foram localizadas as primeiras iniciativas, especialmente pela tematização de duas dessas associações: o Clube Agrícola Escolar Fritz Müller (de Garcia, Blumenau) e o Clube Agrícola Escolar de Colônia Oco (de Valões, Porto União). Para isso, recorre a fontes como periódicos e relatórios e as analisa com base na noção de repertório, apropriada das produções de Angela Alonso e Charles Tilly. Apesar de partirem das mesmas prescrições e de mostrarem regularidades em suas formas de funcionamento, os Clubes Agrícolas Escolares estudados também apresentaram particularidades e autoria nos usos do prescrito.

Palavras-Chaves: Clubes Agrícolas Escolares, Educação Rural, Clube Agrícola Escolar de Garcia, Clube Agrícola Escolar de Colônia Oco, Repertório.

Abstract: This article approaches the Clubes Agrícolas Escolares de Santa Catarina [School Agricultural Clubs from Santa Catarina] between 1934 and 1938, when the first initiatives were located, especially by the thematization of two of these associations: the Clube Agrícola Escolar Fritz Müller (from Garcia, Blumenau) and the Clube Agrícola Escolar from Colônia Oco (from Valões, Porto União). For this, it resorts to sources such as periodicals and reports and analyzes them based on the notion of repertoire, appropriated from the productions of Angela Alonso and Charles Tilly. The analyzes indicate that, despite starting from the same prescriptions and showing regularities in their ways of working, the Clubes Agrícolas Escolares studied also presented particularities and showed authorship in the uses of the prescribed.

Keywords: Clubes Agrícolas Escolares [School Agricultural Clubs], Rural Education, Clube Agrícola Escolar de Garcia, Clube Agrícola Escolar de Colônia Oco, Repertoire.

Carátula del artículo

ARTIGO

“Entusiasmo, trabalho, cooperação e intensa brasilidade”: Os primeiros clubes agrícolas escolares de Santa Catarina (1934-1938)

“Enthusiasm, work, cooperation and intense brazilianity”: The early school agricultural clubs from Santa Catarina (1934-1938)

Elaine Aparecida Teixeira Pereira1
Universidade Federal de Santa Catariana, Brasil
Maria das Dores Daros2
Universidade Federal de Santa Catariana, Brasil
Revista Tópicos Educacionais, vol. 28, núm. 2, pp. 183-204, 2022
Centro de Educação - CE - Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Recepção: 15 Novembro 2022

Aprovação: 15 Novembro 2022

1. Fundam-se os Clubes Agrícolas Escolares

A primeira notícia sobre os Clubes Agrícolas Escolares de Santa Catarina, cronologicamente falando, data de 26 de fevereiro de 1935. Disposta na primeira página do jornal República, em artigo intitulado “Clubes Agricolas Escolares”, anuncia que a Sociedade dos Amigos de Alberto Torres (SAAT)3 estava estendendo seu raio de ação para as terras catarinenses. Explica a causa: buscando “ruralizar os homens do futuro”, a Sociedade havia tomado “a seu encargo a disseminação de conhecimentos agrícolas, com o fito de incutir nas crianças a nobreza da profissão de lavrador” (CLUBES..., 1935a, p. 01).

O professor João dos Santos Areão4 havia sido escolhido delegado local da SAAT (CLUBES..., 1935a, p. 01). Quanto ao cronograma de atividades para o ano, são citadas: Exposição de imprensa escolar, Semanas ou Concentrações de Clubes Agrícolas (em diversos locais), Semanas Ruralistas (também em diversos lugares), campanha contra a formiga Saúva (em cooperação com o Ministério da Agricultura), fundação de Clubes Agrícolas Escolares, Congresso de Ensino Regional, Quinzena do Reflorestamento, Semanas Educativas (uma delas em Santa Catarina)5, Campanha contra os quistos raciais no sul do país, entre outras.

Em 7 de setembro de 1935 seria publicado, também no jornal República, um texto sobre as realizações dos Clubes Agrícolas Escolares do Brasil e seu plano de trabalho. Conforme se pode ler na notícia, a SAAT, por meio da Federação Brasileira dos Clubes Agrícolas, mantinha “640 dessas instituições espalhadas por todos os Estados da União”, tarefa na qual colaboravam o Ministro da Agricultura, os governos de alguns Estados, como Santa Catarina, e a imprensa. Dentre as ações realizadas, são citados 250 mil livros, mapas, cartazes e folhetos remetidos, 40 mil cartas recebidas, 52 mil árvores para reflorestamento distribuídas, 64 prêmios concedidos, 52 exposições de produtos dos Clubes realizadas. As sementes de flores e hortaliças enviadas aos clubistas não aparecem quantificadas.

Os Clubes Agrícolas seguiam um mesmo plano de trabalho, o qual envolvia conhecer o solo; cultivar horta, pomar, bosque; criar bicho da seda; realizar campanhas contra insetos nocivos, bem como ações de reflorestamento e proteção da natureza; promover festividades envolvendo os sócios dos Clubes de uma mesma região. São mencionadas ainda três atividades que, anos depois, constariam nos documentos do Departamento de Educação de Santa Catarina como integrantes do conjunto de associações escolares presentes em diversas escolas primárias: o jornal escolar, os museus, a sopa escolar. A matéria é finalizada com a afirmação de que os Clubes Agrícolas poderiam ser tidos como sinônimo de “entusiasmo, trabalho, cooperação e intensa brasilidade” (CLUBES..., 1935c, p. 02). Tais expressões parecem definir, em alguma medida, as finalidades dessas associações. Uma escola mais ativa e cooperativa, repleta de crianças alegres e entusiasmadas, envolvidas com o que acontecia em tal espaço, era algo almejado nos objetivos para os Clubes, tendo em vista a formação dos adultos do futuro, de um país que se buscava construir.

Os Clubes Agrícolas foram associações presentes nas escolas primárias e das quais as crianças participavam, em princípio, por adesão. Cada Clube contava com uma diretoria eleita entre seus sócios e tinha um/a professor/a como responsável. As atividades eram diversas, conforme se pode constatar pelo conteúdo dos parágrafos anteriores, e envolviam o plantio de variadas culturas (hortaliças, flores, árvores frutíferas), criação de bicho-da-seda, preservação das florestas, realização de campanhas e festas temáticas ligadas a elementos da natureza, entre outras.

O projeto dos Clubes Agrícolas Escolares se inscreve em iniciativas que buscavam modernizar o meio rural e os seus habitantes, o que passava pelo acesso à educação escolar, por mudanças de hábitos ligados à higiene e saúde, pelo contato com outras formas de sociabilidade e realização do trabalho no campo. Está relacionado, ainda, ao objetivo de construção de uma escola ativa e adequada aos ditos novos tempos, na qual tanto o aspecto individual quanto o social deveriam ser considerados. Assim, ao passo em que se constituem num objeto diretamente relacionado à educação escolar e às práticas educativas, os Clubes Agrícolas mantêm, por outro lado, articulação com o pensamento educacional e social.

Elaborado com base nos resultados de uma pesquisa mais ampla sobre os Clubes Agrícolas Escolares de Santa Catarina, o presente trabalho tem como foco as primeiras iniciativas localizadas, especialmente pela tematização de duas dessas associações: o Clube Agrícola Escolar Fritz Müller (de Garcia, Blumenau) e o Clube Agrícola Escolar de Colônia Oco (de Valões, Porto União), e algumas de suas performances. A leitura do conjunto documental aqui considerado – composto por periódicos e relatórios – é feita com base na noção de repertório, apropriada das produções de Alonso (2012; 2014) e Tilly (2009; 2010), que contribui para se pensar nas formas de ação, nas interpretações e nos usos dos agentes sociais ao se apropriarem daquilo que é prescrito, ou, dito de outro modo, nas performances dos agentes sobre os scripts socialmente compartilhados.6

Os primeiros Clubes Agrícolas Escolares estudados estavam ligados diretamente à SAAT, em articulação com Ministério da Agricultura e, em Santa Catarina, com o Departamento de Educação. Sua institucionalização no Estado coincide com o período de implementação da reforma educacional que tem como marco o Decreto n. 713, de 05 de janeiro de 1935 (SANTA CATARINA, 1935), e é conhecida como Reforma Trindade. Conduzida por Luiz Sanches Bezerra da Trindade, que se tornaria diretor do Departamento de Educação então criado, teve por objetivo uma renovação educacional com base em preceitos da Escola Nova, focando, como estratégia inicial, em iniciativas relacionadas à formação docente.

Trata-se também de um momento de acirramento da política de nacionalização do ensino, especialmente após o Estado Novo, de 1937. Devido à necessidade de fazer “das crianças e dos jovens os autênticos brasileiros necessários à nação em construção” (SANTOS, 2009, p. 512), as comunidades de origem estrangeira do sul do Brasil, notadamente os grupos germânicos, foram alvo do projeto nacionalizador que imprimia às escolas um caráter de “disciplinarização do pensamento”, “unificação cultural” e “legitimação do ideário político” em voga (SANTOS, 2010, p. 92). Segundo Dallabrida (2008, p. 16), a nacionalização era uma questão “cadente no território catarinense graças à presença maciça de imigrantes” organizados em “instituições comunitárias, como igrejas e escolas, com vinculações estreitas com seus países de origem”.7

Atendendo ao objetivo de abordar algumas performances dos primeiros Clubes Agrícolas catarinenses, o presente trabalho trata inicialmente do Clube Agrícola Escolar de Garcia e, na sequência, do Clube Agrícola Escolar de Colônia Oco. Após isso, são apresentadas algumas análises finais.

2. O Clube Agrícola Escolar de Garcia

Segundo o que se sabe até o momento, o primeiro Clube Agrícola Escolar de Santa Catarina foi fundado em Garcia, Blumenau, em outubro de 1934, tendo como responsável um docente de nome Rodolfo Hollenweger. Menos de um ano após sua fundação, o empreendimento do professor suíço alcançara projeção, conforme sugere artigo publicado no jornal República e outros documentos, alguns dos quais serão apresentados ao longo das próximas páginas.

A notícia no República, acima mencionada e datada de 17 de setembro de 1935, é composta pela transcrição da comunicação feita por Hollenweger quando da fundação do Clube Agrícola Escolar, bem como do relatório por ele enviado ao delegado dos Clubes Agrícolas Escolares de Santa Catarina, João dos Santos Areão, seis meses após o início dos trabalhos da associação escolar. O título completo, composto por três partes (cada uma subsequente e vinculada à anterior), é o seguinte: “Clubes Agricolas Escolares – Fundação do primeiro clube agricola escolar em Santa Catarina – Os clubes agricolas escolares, vistos atravez de relatórios”.

O professor enfatiza, em seu texto, o grande interesse dos alunos pelas atividades ligadas ao Clube, assim como o de algumas famílias, que o procuravam para pedir informações sobre a associação e seu funcionamento. Nos primeiros meses de trabalho, destaca ele, as crianças haviam limpado e capinado “cerca de 2.000 metros quadrados do terreno que têm a área de 9.680 m2” (CLUBES..., 1935b, p. 01). Conta sobre a dinâmica de limpeza do terreno de que dispunham, ao mesmo tempo em que exalta o entusiasmo e a vontade de trabalhar mostrada por seus alunos: “em número de 56, chegam sempre ás 6 ¼ da madrugada, armados de enxadas, picaretas, pás, etc. Aproveitam cada minuto do recreio, e alguns vem de tarde, para continuar” (CLUBES..., 1935b, p. 01). O orgulhoso professor declara ainda seu hábito de tirar fotografias para “documentar o progresso” alcançado pelas crianças “nos serviços executados” e diz estar confiante sobre o “mui lindo jardim” que teriam em breve, uma vez que não faltava “entusiasmo” aos integrantes do Clube Agrícola, apesar do “serviço pesado” que vinham executando (CLUBES..., 1935b, p. 01).

Na Revista de Educação n. 4 e 5, de 1936, encontra-se a transcrição de um texto de Raul de Paula8, em nome da SAAT e da Federação Brasileira dos Clubes Agrícolas Escolares, intitulado “Um Clube Agrícola atuando como centro nacionalizador em Santa Catarina”. Diz ele que em Garcia, “distrito de Blumenau, fundou a Sociedade dos Amigos de Alberto Torres, na escola estadual, um Clube Agrícola” que vinha realizando desde 15 de fevereiro de 1935 uma “obra notável não só de educação rural como de aproximação dos colonos, pais dos alunos, para assistirem festas, feiras e exposições que o Clube tem realizado.” (REVISTA DE EDUCAÇÃO, 1936, p. 25). Ao que parece, o Clube Agrícola poderia servir como uma espécie de ponte entre escola e famílias, aproximando aquela da comunidade à qual pertencia. O apoio e a adesão das famílias à educação escolar seriam importantes para seu sucesso, porém, não menos crucial era o papel da escola em contribuir para a difusão e solidificação de um sentimento nacional, de pertencimento à Pátria brasileira. Alcançar as crianças se constituía em tarefa diária, mas estender seu raio de ação aos familiares era também bastante desejável.

Um aspecto importante de ser mencionado é o fato de Garcia, pertencente ao município de Blumenau, localizar-se numa zona de nacionalização, ou seja, com forte presente de imigrantes de origem estrangeira, notadamente alemães e teuto-brasileiros, para a qual os olhares e atenções estavam todos voltados naquele momento histórico. Nessas circunstâncias e num clima nacionalista que primava pela integração dos chamados elementos “alienígenas” que viviam no Sul do país, e particularmente em Santa Catarina, seria prudente realizar um trabalho exitoso e que alcançasse visibilidade. Mostrar-se patriótico e brasileiro era imperativo a um professor e Hollenweger parece ter compreendido isso bem.

O texto de Raul de Paula enumera, na sequência, as atividades desenvolvidas pelas crianças de Garcia e pelo professor Hollenweger durante o “pouco mais de um ano de existência” do Clube. A ampla e eclética relação de trabalhos realmente causa admiração. São eles:

  1. 1. Medição do terreno com bússola e corrente e levantamento da planta.
  2. 2. O terreno do Clube foi cercado numa extensão de 375 metros, com sarrafos, doação do Sr. Medeiros Junior.
  3. 3. O bréjo existente foi drenado e valas foram abertas.
  4. 4. Foram, pelos alunos, construidos boeiros para escoamento das aguas paradas.
  5. 5. Sôbre as valas construiram-se pontes que foram embelezadas com roseiras nos balaustres.
  6. 6. Foi aberto um pôço para fornecer agua à horta.
  7. 7. O bréjo maior foi saneado e transformado em uma lagôa para recreação de peixes. Essa lagôa tem 1.110 metros quadros de superficie.
  8. 8. Foram abertos 950 metros de picadão na mata, aos fundos da escola, e ao longo dos caminhos foram plantadas árvores ornamentais.
  9. 9. Arrancaram-se, com alavanca, 182 tôcos do campo do Clube Agrícola, existentes na parte sêca.
  10. 10. No campo construiu-se uma casinha de jardim com 3 x 4 metros, coberta de telhas e fechada por latadas.
  11. 11. Fez-se o apiário que tem 4 colmeias.
  12. 12. A roda dagua do moínho de milho foi preparada pelas crianças e professor. Está ligada a um sino que tóca chamando a atenção dos transeuntes que passam para a Escola.
  13. 13. O Clube permitiu a adaptação de tradições européas ao nosso ambiente: as crianças construiram o lar do anão, figura lendária, simbolo da atividade, cooperação, auxílio, filantropia; a casa tem cozinha, mobilia; o anão de cimento tem um carro nas mãos, carregando carvão do pedra, picaretas e flôres.
  14. 14. Plantou-se o pomar com 110 árvores frutíferas.
  15. 15. Foi apanhado, no mato, grande número de orquideas e de plantas ornamentais para decoração do Clube.
  16. 16. O amoreiral tem 750 árvores.
  17. 17. Na encosta da ladeira onde está a escola, plantou-se uma vinha.
  18. 18. Fez-se um bosque variado onde há tambem árvores exóticas.
  19. 19. Em pedaços de taquarussús colocaram os meninos um milhar de ninhos que atraíram para o Clube 51 espécies de pássaros.
  20. 20. Fez-se a Semana do Inséto Nocivo.
  21. 21. 290 canteiros estão plantados com flores e hortaliças.
  22. 22. Fez-se a cultura de plantas medicinais para uso dos sócios e de seus pais.
  23. 23. Para centros de interêsse e fornecimento de material para as classes fizeram-se plantações de cana, feijão, sója, batatas e morangos.
  24. 24. Toda a região da escola está sendo reflorestada pelos alunos.
  25. 25. Fizeram-se experiências de adubos.
  26. 26. Organizou-se a Biblotéca do Clube e fez-se uma galeria de grandes brasileiros.

(REVISTA DE EDUCAÇÃO, 1936, p. 25-26).

A lista de realizações é denominada “obra de um Clube Agricola da S.A.A.T., levada avante pelo professor Rodolpho Hollenweger”; e se não bastassem as diversas atividades executadas, o próprio Raul de Paula, em recente visita, havia motivado mais uma: “o plantío de um pau Brasil, oferecido pelas crianças de Pernambuco” (REVISTA DE EDUCAÇÃO, 1936, p. 26).

Se num primeiro momento a lista de atividades chama atenção, logo passa a suscitar questionamentos: se os objetivos de fundar e manter um Clube Agrícola Escolar eram eminentemente educativos, qual o sentido de plantar mais de uma centena de árvores frutíferas, ou de manter quase três centenas de canteiros com flores e hortaliças? Não bastariam poucas árvores e canteiros, para que, educacionalmente, os objetivos fossem alcançados? O quanto de empenho e horas trabalhadas se faziam necessárias para manter a “obra” deste Clube? O que motivava o professor Hollenweger a realiza-la?

Inicialmente denominado como “de Garcia”, depois este Clube Agrícola Escolar passa a constar nos documentos com o nome do patrono Fritz Müller (também grafado nas fontes como “Mueller” ou “Muller”). Nomear os Clubes com base na escolha de um patrono, em geral selecionado entre as personalidades vistas como importantes e de destaque, seria uma prática cada vez mais adotada por estas e outras associações escolares, conforme indicam diversos relatórios produzidos por escolas primárias de Santa Catarina, datados entre 1943 e 1951. De todo modo, vale assinalar que não é comum, nos Clubes Agrícolas localizados, a adoção de nomes de cientistas, como é o caso de Fritz Müller.

No relatório do Departamento de Educação referente ao ano de 1936, algumas páginas são reservadas aos Clubes (SANTA CATARINA, 1937, p. 162-171). Além de outras considerações sobre eles, Luiz Trindade, diretor do Departamento e autor do documento, apresenta a transcrição de tópicos de outro relatório, escrito por João dos Santos Areão e encaminhado ao presidente da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres. Há uma passagem sobre o Clube de Garcia:

O clube agrícola Fritz Müller de Garcia, no município de Blumenau, é uma dessas obras formidáveis, onde vemos o denodo de um professor que, embora estrangeiro, empresta todo o vigôr do seu intelecto e do seu físico para dotá-lo dos mais expecificados estudos.

Alí temos a horta, o pomar, o orquidário, a piscina, o enxameal, o jardim, tudo cuidado pelos alunos fora das aulas regulares e com um gôsto e capacidade fora do comum. (SANTA CATARINA, 1937, p. 163).

De forma similar ao que sugere o texto de Raul de Paula (“Um Clube Agrícola atuando como centro nacionalizador em Santa Catarina”), anteriormente citado, a fonte de pesquisa mostra aproximações entre as expectativas depositadas nos Clubes Agrícolas Escolares e uma espécie de abrasileiramento dos estrangeiros instalados em Santa Catarina. Conforme é possível constatar na leitura da citação, junto à avaliação positiva sobre os trabalhos desenvolvidos pelo Clube Fritz Müller e pelo professor Hollenweger, está registrada a ressalva “embora estrangeiro”, o que parece indicar tanto a necessidade de certa vigilância com relação aos imigrantes e seus descendentes quanto a possibilidade de se integrarem e agirem como brasileiros de fato.

Os trabalhos desenvolvidos pelo Clube Agrícola Escolar Fritz Müller em seus primeiros anos de funcionamento renderam-lhe uma premiação por parte da SAAT e, consequentemente, não apenas projeção estadual, mas também visibilidade em âmbito nacional. É o que mostra o telegrama recebido por João dos Santos Areão, e publicado no jornal A Notícia, de 10 de dezembro de 1938, com o título: “O Clube ‘Fritz Mueller’ tornou-se detentor do premio Alberto Torres”. O texto inicia assim:

FLORIANOPOLIS, 9 – O Inspector Federal de nacionalização do ensino, sr. João dos Santos Areão, recebeu o seguinte telegramma:

  1. – “Santa Catharina, presentemente objecto de attenção, problema brasilidade, educação e cultura populares rurais, acaba comprovar efficiencia reacção civica promovida por acção social regional clubes agricolas torreanos, sahindo esse Estado vencedor no concurso, entre essas entidades, destacando-se primeiro logar clube “Fritz Mueller”, com séde em Garcia, Blumenau, como representativo estadual por ellas constituido, bem assim detentor grande premio Alberto Torres, presentado por um pavilhão nacional, que a Sociedade offerece, para tremular na haste da séde do clube. Vossa realçada operosidade reconhecida jury, que lhe concedeu o primeiro logar dentre delegados torreanos e diploma Duque de Caxias. [...] (O CLUBE..., 1938, p. 01).

A notícia continua com a nomeação dos premiados e explicita que o pavilhão e o diploma conquistados pelo Clube Agrícola de Garcia estavam relacionados ao primeiro lugar em “assumptos rurais”. Além dele, outras associações escolares do mesmo tipo e localizadas em território catarinenses também receberam premiação da Sociedade torreana: o Clube Agrícola Escolar Francisco Tolentino, “primeiro em trabalhos de madeira”; o Clube da Escola estadual de Guabiruba, “primeiro em desenho e historia natural”; a Escola São João Ferreiro, “primeira em mechanica agricola” (O CLUBE..., 1938, p. 01). O telegrama transcrito é finalizado com a solicitação de que os premiados fossem notificados, seguida de agradecimento e “louvores á brilhante representação”. Assina-o Raphael Xavier, presidente da Sociedade.9

Naquele contexto, talvez maior do que o próprio prêmio fosse o reconhecimento pela “efficiencia” cívica e “realçada operosidade” demonstradas pelos Clubes Agrícolas listados, dado o “problema” de “brasilidade, educação e cultura populares rurais” anunciado. Trabalhar com afinco, cumprindo o dever de servir à Pátria e ao seu lugar de origem, será algo exaltado nos Clubes Agrícolas Escolares catarinenses. Como foi possível perceber até aqui quanto ao caso específico em pauta, o trabalho dos alunos de Garcia, nas diversas frentes a que o Clube se dedicava, era usado como exemplo. A indicação de que tais atividades eram desenvolvidas em outro horário, que não o das aulas, parecia enfatizar a suposta dedicação e o gosto pelo trabalho.

A análise das características identificadas no Clube Fritz Müller, das quais são ilustrativas as quase três dezenas de atividades até aqui explicitadas, mostrou que essa associação escolar se constitui num caso particular e modelar que contém praticamente todos os elementos que dizem respeito aos Clubes Agrícolas no seu conjunto.

Desdobrando o que acabou de ser dito, podem ser identificadas, no Clube de Garcia, atividades diretamente relacionadas ao trabalho no meio rural, como medir o terreno, cercá-lo, limpá-lo, drená-lo; construir poço, lagoa, apiário; cultivar vinha, amoreiral, canteiros de flores e hortaliças, plantas medicinais, grãos, frutas e outras espécies; cuidar do bosque e fazer reflorestamento. Mas também há tarefas de cunho escolar, falando de forma mais restrita, como organizar biblioteca e galeria de (considerados) grandes brasileiros. Há ainda aquelas que mesclam a escola e o rural: organizar evento contra os insetos nocivos; fixar ninhos para atrair pássaros e registrar as espécies observadas; realizar experiências com adubos; retomar as atividades práticas (na terra) durante as aulas com as crianças (sobre assuntos do currículo prescrito para as escolas primárias).

Dentre as atividades realizadas pelo Clube Fritz Müller, e as interpretações localizadas nas fontes quanto às suas performances, merecem ênfase a valorização do trabalho e a satisfação em colher seus frutos, bem como o desenvolvimento do senso de coletividade e do trabalho cooperativo. É ressaltada a importância de que fosse desenvolvido um sentimento nacional e de pertencimento à Pátria brasileira, especialmente entre a população formada por imigrantes estrangeiros e seus descendentes, como era o caso.

Outra especificidade do Clube Agrícola em pauta é sua participação na formação docente, conforme indicam as palavras de Raul de Paula, publicadas na Revista de Educação, quanto ao Clube Fritz Müller ter se tornado um “centro pedagógico”. Sua afirmação é sustentada pela referência que faz a uma portaria da Prefeitura de Blumenau, na qual é determinada a visita à escola estadual de Garcia por parte de todos os professores municipais no intuito de que estes adquirissem conhecimentos para fundar e manter, em suas escolas, Clubes iguais ao que o professor Hollenweger dirigia (REVISTA DE EDUCAÇÃO, 1936, p. 26).10

Um texto publicado na revista Pétalas11, de autoria da normalista Maria de Lourdes Lima e intitulado “Uma excursão”, traz outro indício sobre a projeção do Clube de Garcia no tocante à formação docente. A aluna/futura professora fala muito bem sobre as experiências vivenciadas naquela escola e se refere a Hollenweger com entusiasmo e admiração: “professor dedicadíssimo” que conduzia o Clube Agrícola composto por “um pequeno parque de 292 canteiros tapetados de flores lindas, um magnífico pomar, três lagos… Uma coleção maravilhosa de orquídeas...crisálias, borboletas…”, numa iniciativa em que “o aluno trabalha, o aluno reflete, o aluno vive” (LIMA, 1936, p. 26).

Informações sobre Rodolfo Hollenweger (cujo nome pode estar grafado como Rudolf ou Rudolfo) trazem algumas pistas. Elas dizem respeito a experiências associativistas e de publicação de textos que ele já possuía, além de uma aproximação com a ciência, por ser agrimensor e veterinário.12 Sobre a publicação de textos, foi localizada a produção de um manual para ser usado nas escolas primárias do município de Blumenau e do qual o citado professor foi coautor.13 Além disso, também há escritos dele no periódico Blumenau em Cadernos (HOLLENWEGER, 1992; BLUMENAU EM CADERNOS, 1985). Quanto às experiências associativistas, pode ser citada a participação do professor na diretoria do Spitzkopfclub, “uma sociedade de Turismo que tinha por objetivo, especialmente a construção de um picadão até o cume do morro do Spitzkopf e de um rancho” (BLUMENAU EM CADERNOS, 1985, p. 36).14

Estes elementos apontam para a probabilidade de que o Clube Agrícola Escolar Fritz Müller tenha se beneficiado de experiências associativistas vivenciadas pelo professor Hollenweger quando residia em Garcia, e talvez outras, acumuladas antes mesmo de chegar ao Brasil. Há ainda dados que levam à hipótese de que a cultura associativista presente em Blumenau também tenha influenciado as atividades do Clube e a prática do professor por ele responsável. Com base em Jamundá (1966)15, Bassani (2020, p. 46) afirma que “o associativismo foi implantado como um aparato da administração política e social” em Blumenau, “engendrado inicialmente pelo Dr. Blumenau e endossado posteriormente por outras redes de interações, como Caixa Agrícola, Clubes de Caça e Tiro, Sociedades Escolares Alemãs, Sindicato Cultural”. Frotscher (2003, p. 156), por sua vez, fala sobre a existência de associações em Blumenau e sua importância na Primeira República e nos anos 1930, explicitando que as pessoas que exerciam poder no município (inclusive ocupando cargos políticos) eram também as que “lideravam entidades associativas”.

A ênfase no trabalho cooperativo e na construção da brasilidade são características importantes e aspectos que relacionam o Clube Fritz Müller a outros, como o Clube Agrícola Escolar de Colônia Oco, tratado no tópico a seguir.

3. O Clube Agrícola Escolar de Colônia Oco

Informações sobre o Clube Agrícola Escolar de Colônia Oco constam numa publicação do jornal República, feita em duas datas, 01 e 03 de outubro de 1935 (ambas as vezes na primeira página), com a finalidade de mostrar o desenvolvimento dos Clubes Agrícolas em Santa Catarina (CLUBES..., 1935d; CLUBES..., 1935e). Para isso, apesar do título geral “Clubes Agricolas Escolares”, a foco recai no relatório de Colônia Oco, conforme sugere o subtítulo: “Pequeno e ligeiro relatorio dos serviços já efetuados no Clube Agricola Escolar de Colonia Ôco” (CLUBES..., 1935d, p. 01). De acordo com relatório do Departamento de Educação de Santa Catarina referente ao ano de 1936, este Clube estava ligado à escola estadual da mesma localidade, que pertencia a Porto União (SANTA CATARINA, 1937).

Localizado em Valões, Porto União, o Clube Agrícola Escolar de Colônia Oco havia sido fundado em 27 de abril de 1935 (CLUBES..., 1935d, p. 01), tendo como sócios 24 alunos da escola, quantidade que em menos de quatro meses (no dia 15 de agosto) aumentaria para 36 “socios-alunos”. Possuía um “campo” de aproximadamente 3.250 m2 onde eram feitas “plantações experimentais” (CLUBES..., 1935d, p. 01). O espaço, apesar de não ser muito grande, parecia-lhes suficiente, segundo o texto em análise, pois cada sócio também trabalhava em um ou mais canteiros adicionais, localizados “no terreno dos seus pais”, já que “todos socios-alunos são filhos dos agricultores que possuem seus terrenos” (CLUBES..., 1935d, p. 01). O Clube Agrícola dispunha de um armário fechado e com vidros, usado para guardar arquivos, livros, ofícios, cartas, entre outros. Ademais, havia sido iniciada a biblioteca escolar “que até hoje conta 35 livros diversos e 6 cartazes, recebidos da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres em Rio de Janeiro”, com intermediação do Delegado dos Clubes Agrícolas Escolares de Santa Catarina (CLUBES..., 1935d, p. 01). Alguns livros haviam sido oferecidos pelo diretor do Clube.

Informações, como a divisão dos canteiros e o início da semeadura, eram registradas em livro próprio para esta finalidade. A fim de exemplificar aspectos do planejamento e da execução dos trabalhos do Clube Agrícola Escolar do Colônia Oco aos leitores do jornal, encontram-se descritas na matéria as atividades levadas a efeito por cinco sócios (quatro meninos e uma menina), “porque foi mais ou menos deste geito” que cada associado havia procedido tanto “no campo geral” do Clube quanto “nos proprios pomares ou quintais de suas propriedades” (CLUBES..., 1935e, p. 01). Dois destes exemplos são aqui transcritos:

Eduardo Wal no campo geral seu canteiro foi estercado todo e semeou: cenoura, couve, rabano, alface nabo francês branco, beterraba, ervilha cebola e pimentão doce. No pomar da escola, obrigou se a zelar de 2 pés de maçãs, pés de ameixas e algumas flores. Zelando tambem de aves e animais domesticos. Semeadura no campo geral iniciou 10.7.935. [...] Nicolau Damaredkki, no campo geral, seu canteiro foi estercado pela metade. Começou semeadura 15-7-35, e semeou nabos, alface, salsa e cebola. No pomar da sua propriedade obrigou-se de zelar de 1 pé de laranjeiras, 2 pés de uva, 2 pés de pessegos e alguns pés de marmelos para enxertos. De criação zelar de 1 vaca e aves domesticas. (CLUBES..., 1935e, p. 01).

Conforme é possível verificar no documento, cada sócio era responsável por um canteiro na escola e deveria cuidar de todo o processo, desde a preparação da terra para plantio até a colheita. Também desenvolvia outros trabalhos, relativos ao cuidado de animais, árvores frutíferas, plantas medicinais e flores, tanto na escola quanto em casa. Outras diferenças na forma de proceder e, aparentemente, nos resultados, também aparecem: há o que coloca esterco em todo o seu canteiro e aquele que o faz “pela metade”. Para nominar as ações realizadas pelas crianças são empregados os verbos semear, estercar, zelar, tratar, criar e proteger.

Além dos trabalhos práticos individuais, todos os sócios haviam semeado juntos, no campo da escola, trigo e alfafa. E o arroz, com “irrigação da água” que havia sido pedido pelo Delegado dos Clubes, fora plantado especificamente por dois associados “em suas propriedades e com as ordens de seus pais” (CLUBES..., 1935e, p. 01). Afirmam que tal plantação seria sistematicamente fiscalizada pelos zeladores e pelo diretor do Clube Agrícola. Os planos para o futuro envolviam a ampliação do cultivo, tanto no campo do Clube Agrícola Escolar quanto nas residências dos associados, além de uma festividade: “foi decidido em reunião a festa do Clube, e aproveitando o dia 7 de Setembro, o Dia da Patria, em que a nossa escola fará a festa em homenagem da Patria” (CLUBES..., 1935e, p. 01).

As relações externas dos associados do Clube Agrícola de Colônia Oco eram nutridas, em parte, pelas correspondências remetidas e recebidas. No primeiro grupo estavam incluídos dez ofícios, sete cartas simples e quatro pedidos. No segundo, dois telegramas, quatorze ofícios, doze circulares, cinco cartas simples e um jornal Semeador. Além disso, diretamente da SAAT, o Clube recebeu “25 exemplares de livros e 6 cartazes”; do Delegado dos Clubes Agrícolas Escolares de Santa Catarina, “10 exemplares de livros e diversos impressos relativos a agricultura” (CLUBES..., 1935e, p. 01). Sementes haviam sido doadas tanto pelo Delegado dos Clubes quanto pelo inspetor escolar da região e, ainda, pelo professor da escola à qual a associação estava ligada. Assinam o relatório transcrito no jornal, aos 20 de agosto de 1935: Natalia Krasinska (Presidente); Francisco Kdlinonski (Secretario); Eduardo Wal (Tesoureiro); André Wal (Diretor).

O sobrenome comum de André e Eduardo Wal16 levou à busca por outros indícios. O primeiro consta acima como diretor e aparece também em artigo da Revista de Educação, no qual é nominado professor responsável pelo Clube Agrícola de Colônia Oco (BARBOSA, 1936, p. 12-3). Por sua vez, Eduardo Wal, que acabou de ser relacionado como tesoureiro do Clube, é a mesma criança citada alguns parágrafos antes, cujo canteiro “foi estercado todo”. A continuidade das buscas levou a uma matéria do jornal A gazeta da farmácia, de agosto de 1971, em que o farmacêutico homenageado do mês é justamente Eduardo Wal.

Paranaense nascido em 1920, Eduardo era filho de um casal de imigrantes poloneses que, ainda jovens, vieram para o Brasil. Seu pai se chamava André Wal, um agricultor interessado na língua e na história do Brasil, nomeado professor primário pelo governo estadual. Em 1931, transferiu-se para Santa Catarina, instalando-se em “Colônia Ôco (município de Valões na mesma missão de professor e agricultor” (O FARMACÊUTICO..., 1971, p. 02). Segundo o texto, Eduardo seguira seu pai e “quando não estava no campo auxiliando seu progenitor, dedicava-se ao estudo. Lia tudo o que lhe chegava às mãos. Passou a freqüentar a biblioteca da sociedade local, mantida pelo consulado polones” (O FARMACÊUTICO..., 1971, p. 02). O texto continua em tom laudatório, discorrendo sobre a trajetória de Eduardo Wal. Para o que interessa à discussão, basta dizer que em 1935 ganhou uma bolsa do governo polonês e foi estudar em Curitiba. Sobre o pai, André, há também algo dito. Em 1939, já não residia em Colônia Oco, tampouco atuava no magistério: “deixara o magistério para dedicar-se ao plantio e desenvolvimento de linho para a indústria têxtil” (O FARMACÊUTICO..., 1971, p. 02).

Diversas razões podem ter levado o pai a optar pela produção agrícola e indústria têxtil, em detrimento do magistério. Apesar disso, parece não ser coincidência o fato de isso acontecer num período de acirramento da política de nacionalização do ensino. Teria sido afastado da escola devido à origem estrangeira? Afastara-se antes que isso ocorresse? A continuidade da investigação levou ao blog intitulado “Núcleo Escolar Presidente Adolfo Konder”, da localidade de São Pascoal, Irineópolis. Nele há o “Histórico da comunidade de São Pascoal”, denominada Colônia Oco devido à quantidade de árvores “imbuia de grande porte e ocadas”. O professor André Wall é citado como primeiro professor da escola da região, que começou a funcionar em 1931 por iniciativa dos moradores e era mantida pelo governo polonês. No período da Segunda Guerra Mundial, houve mudanças: o professor Wall foi exonerado do cargo e a escola, possivelmente, teve suas atividades interrompidas antes de ser incorporada ao governo brasileiro.17

A continuidade das buscas levou à dissertação de Bacha Pereira (2004) e ao anexo que apresenta um extenso quadro de professores exonerados em Santa Catarina, com base em resoluções datadas entre 1938 e 1940. André Wal, da Escola Mista Colônia Oco, de Porto União, está na lista denominada “exoneração por não ser brasileiro nato e por conveniência do ensino” (BACHA PEREIRA, 2004, p. 267). No caso deste e de alguns outros professores, a data de exoneração é 01 de dezembro de 1938, e a sua especificamente consta na resolução n. 4473 (BACHA PEREIRA, 2004, p. 268).

Sobre medidas relativas à nacionalização do ensino, a autora apresenta diversos anexos com transcrição de documentos localizados em sua pesquisa. Um deles é o Decreto n. 58/1931 que, retomando outras leis e decretos, trata da nacionalização do ensino primário e do ensino privado em Santa Catarina. O Art. 2, por exemplo, anuncia que o professor das escolas denominadas estrangeiras deveria ser habilitado, ensinar em língua portuguesa e incorporar no programa as disciplinas Português, Geographia do Brasil, Chorographia do Estado, História Pátria, Educação Moral, Educação Cívica e Cantos Pátrios (BACHA PEREIRA, 2004, p. 227). Outro é o Decreto-lei n. 35/1934, que proíbe o uso de nomes estrangeiros em escolas (BACHA PEREIRA, 2004, p. 235). O Decreto-lei n. 88/1938 (BACHA PEREIRA, 2004, p. 237), por sua vez, instituiu diversas exigências que levaram ao fechamento de escolas mantidas por imigrantes europeus ou seus descendentes.

Antes disso, o Clube de Colônia Oco é nominado, no relatório do Departamento de Educação relativo ao ano de 1936, como um dos que, em solo catarinense, vinha “se desenvolvendo de forma animadora” (SANTA CATARINA, 1937, p. 165). Em outra parte do mesmo relatório, no item “Nacionalização do ensino”, é citado como exemplo de prática exitosa, quando é discutida a importância da instituição escolar para a integração dos estrangeiros e seus descendentes, a fim de que se sentissem e agissem como brasileiros. Para tanto, é exaltado o “contrôle que a escola exerce na moral dos estrangeiros, ensinando a língua portuguesa – pedra de toque do nosso civismo; a geografia e a história do Brasil – corpo e alma da nossa nacionalidade” (SANTA CATARINA, 1937, p. 18).

Apesar dessa importância, a “instrução nas zonas alienígenas” estaria “aquem das necessidades”, tanto porque os recursos não possibilitavam manter o número de escolas necessário quanto pela recente organização de novas colônias. Frente a essa realidade, era preciso agir: “Se não procurarmos sanar a falta de escolas nesses centros, teremos que, dentro de pouco, iniciar nova luta para nacionalizar, com maior dificuldade, aqueles que naturalmente receberiam a nossa escola com bastante satisfação.” (SANTA CATARINA, 1937, p. 17). A tônica do texto, portanto, é justificar a necessidade de ampliação do número de escolas nas zonas de nacionalização, bem como de melhor assistir as já existentes, motivo pelo qual o diretor Luiz Trindade, autor do relatório, argumenta junto ao destinatário (o Secretário do Interior e Justiça) sobre a necessidade de ampliação da subvenção federal. Para isso, cita parte de outro relatório18, enviado por Areão ao Ministro da Educação e Saúde Pública, no qual é feito o mesmo pedido (aumentar o valor da subvenção federal, que vinha sendo reduzida). É neste contexto que alguns exemplos são usados, inclusive o da Escola e do Clube Agrícola Escolar de Colônia Oco.

3. Considerações Finais

Entre os Clubes de Colonia Oco e de Garcia é possível encontrar regularidades, mas também diferenças, que dizem respeito a algumas atividades desenvolvidas, à forma de divisão de tarefas, aos modos de proceder e de colocar em prática as prescrições. Em Garcia, vê-se um grande volume de trabalhos sendo realizados pelos clubistas, os quais somam praticamente três dezenas de tipos de atividades. Além disso, pode ser citada sua característica de lugar de visitação e aprendizagem para adultos, como ocorreu com docentes de Blumenau, convocados a participarem de uma espécie de curso de formação, ou com as normalistas do Colégio Coração de Jesus, que haviam incluído Garcia no itinerário de sua excursão. Em Colônia Oco, cada criança trabalhava no “campo geral” do Clube e, além disso, também nos pomares e quintais das propriedades de seus pais. Uma intervenção de João dos Santos Areão é constatada, quando está dito, na fonte consultada, que o plantio de arroz com irrigação de água foi por ele solicitado. Foi também este Clube que levou à história de André e Eduardo Wal, um, pai e professor, outro, filho e aluno. Neste Clube, as “plantações experimentais” sugerem relação com ciência, observação, experimentação.

Ambos os Clubes estavam localizados em regiões de imigração estrangeira, chamadas de zonas de colonização. Pode se tratar de coincidência. Ou pode ser que isso se constitua num indício importante. Torre (2020, p. 73) define a produção histórica dos lugares como “práticas econômicas, sociais, culturais e políticas com as quais determinadas populações recriam incessantemente o universo das suas relações circunscritas em relação às demandas do mundo externo e as organizam no espaço imediato.” Ainda segundo o autor, o espaço não é algo estático onde as coisas acontecem, mas é produzido pelas relações sociais que historicamente nele se dão, de modo que uma determinada localidade produz continuamente o seu espaço, ao mesmo tempo em que as práticas sociais que nele ocorrem formam os sujeitos. A menção ao autor é pertinente tendo em vista que as performances dos dois Clubes Agrícolas Escolares em pauta remetem à ideia difundida de que os imigrantes europeus, e seus descendentes, são trabalhadores e ordeiros. Tal premissa muito provavelmente fez diferença nas ações destas associações estudantis. Por outro lado, os resultados do trabalho nelas desenvolvido contribuiu para sustentar tal crença (já que a leitura de uma realidade não apenas a interpreta, mas também a produz).

Este texto apresentou algumas performances de dois Clubes Agrícolas Escolares catarinenses, dentre os primeiros fundados. As análises apontam que, apesar de partirem das mesmas prescrições e de mostrarem regularidades em suas formas de funcionamento, tais Clubes também apresentaram particularidades nos usos em relação ao prescrito. Como aspectos em comuns, podem ser ressaltados a valorização do trabalho, a ser realizado com cooperação e entusiasmo, e da Pátria brasileira. Pode-se constatar, portanto, a participação dessas associações escolares em determinado projeto de Brasil, assim como a busca pela formação de sujeitos escolares de modo coerente a tal projeto.

Material suplementar
REFERÊNCIAS
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Notas
Notas
3 A Sociedade dos Amigos de Alberto Torres foi fundada em 1932. Com sede no Rio de Janeiro, ocupava-se da realização de “congressos de ensino rural, defesa de reservas florestais, cursos de formação para professores, atividades relacionadas com saúde escolar, luta por lactários e postos de higiene infantil, organização de semanas ruralistas, apoio a Clubes Agrícolas Escolares” (FIORI, 2002, p. 238). Núcleos regionais ligados à Sociedade foram criados no período, inclusive em Santa Catarina.
4 João dos Santos Areão (1892-1980) foi um paulista com intensa atuação em Santa Catarina. Iniciou seus trabalhos em Laguna, como diretor do Grupo Escolar Jerônimo Coelho, passando também pela direção do Grupo Escolar Vidal Ramos, em Lages, e do Grupo Escolar Hercílio Luz, de Tubarão (TEIVE, 2014). Foi inspetor escolar e “Inspetor Federal das Escolas Subvencionadas pela União”, além de “organizador e sistematizador do Canto Orfeônico em prol da nacionalização do ensino em Santa Catarina” (TEIVE, 2014a, p. 27). Areão atuou diretamente junto aos primeiros Clubes Agrícolas Escolares, nos quais tinha a função de delegado (Delegado Geral dos Clubes Agrícolas Escolares de Santa Catarina, conforme a Revista de Educação, 1936, p. 38).
5 A Semana Educativa de Santa Catarina, citada na matéria de jornal, seria realizada na capital Florianópolis (CLUBES..., 1935a, p. 01). Não foram localizadas outras informações sobre um evento com este nome promovido diretamente pela SAAT em Santa Catarina, mas é provável que se trate da Semana Ruralista, realizada entre 24 e 31 de maio de 1936 (PEREIRA, 2022).
6 Com base no “repertório” é possível pensar nos jogos de ação e reação, nas interpretações e escolhas frente ao que é posto. Isso porque a criatividade e o improviso, em vez da repetição e reprodução, precisam ser levados em consideração quando se toma o conceito de repertório, conforme indica Alonso (2012). Ainda segundo a autora, as improvisações dos agentes sociais são feitas a partir de scripts (ou, roteiros compartilhados), numa relação entre forma e circunstância. A maneira como se refere ao improviso interessa à discussão: “capacidade dos atores de selecionar e modificar as performances de um repertório, para ajeitá-las a programas, circunstância e tradição locais, isto é, o contexto de sentido daquele grupo, naquela sociedade” (ALONSO, 2012, p. 32).
7 Fiori (2002) destaca dois fatores importantes nos rumos do ensino na década de 1930: o êxodo rural, entre a população rural de origem brasileira; a nacionalização, entre a população rural de origem estrangeira. Ao tratar dos Clubes Agrícolas Escolares de Santa Catarina, a autora destaca seu aspecto nacionalista, o que também foi verificado na pesquisa que embasou este texto.
8 De acordo com Fernandes Barbosa (2017), Raul de Paula foi um dos fundadores da SAAT, além de seu secretário geral na década de 1930.
9 Segundo Fernandes Barbosa (2017), neste período Raphael Xavier era presidente da SAAT.
10 Trata-se da Portaria n. 16, citada na Revista de Educação (1936, p. 26) que, segundo a transcrição do periódico, anuncia o seguinte: “No propósito de dotar as escolas municipais de Clubes Agrícolas Escolares nos moldes dos que, em todo o Brasil, vêm prestando excelentes serviços à educação das crianças nas zonas rurais, todos os professores municipais deverão comparecer, em turmas e nos dias designados a seguir, à escola estadual de Garcia, desta cidade, e ali permanecerem durante três dias, de acôrdo com a relação abaixo, afim de que, sob a direção do professor Rodolpho Hollenweger, recebam as necessárias instruções que os habilitem a fundar e dirigir, nas respectivas escolas, Clubes Agrícolas idênticos ao que o professor Holenweger dirige no citado lugar.”
11 A revista Pétalas foi criada em 1933 e publicada semestral pelo Colégio Coração de Jesus, instituição confessional católica localizada na capital catarinense e na qual funcionava um curso normal feminino.
12 Schmidt-Gerlach (2019, p. 185) indica que Hollenweger (1880-1949) “emigrou da Suíça em 1908 com a esposa e fixou-se no Jordão, bairro do Garcia”, foi “colaborador assíduo do Blumenauer Volkskalender” e “secretário do Spitzkopf Club”, além de “agrimensor, veterinário e músico”.
13 De acordo com Frotscher (1998, p. 08), o manual produzido por Hollenweger data aproximadamente de 1930 e tem como título “Manual offerecido pela Camara Municipal de Blumenau aos alumnos das escolas primárias do Município”. Segundo Schmidt-Gerlach (2019), este manual foi escrito em coautoria com Frei Stanislau Schaette.
14 O professor Hollenweger foi também um dos fundadores da Sociedade de Atiradores General Osório Garcia, em 1922, além de responsável pela reativação, no ano 1911, do coral Männer Chor Garcia I, fundado em 1873 (MORETTI, 2006).
15 JAMUNDÁ, Theobaldo da Costa. Um alemão brasileiríssimo, o Dr. Blumenau. Dep. de Cultura de Santa Catarina, 1966.
16 Em algumas fontes de pesquisa, o sobrenome aparece escrito com a grafia Wall.
17 O texto não explica se a escola foi imediatamente incorporada ou se ficou fechada por um período: “Com a 2ª Guerra Mundial a Escola Sociedade Instrutiva passou por grandes mudanças, seu primeiro professor André Wall, polonês que trabalhava os dois idiomas foi exonerado porque temia-se a formação de uma colônia polonesa e devido ao fato da escola estar no domínio do governo Polonês, mais de 200 livros escritos neste idioma existentes na escola foram distribuídos pela vizinhança. Passou ao domínio do governo brasileiro, com estas mudanças foi contratada outra professora, em 1947 assumiu a professora Luci Kindeler havendo mudanças no sistema de ensino.” Fonte: http://neadolfokonder.blogspot.com/2013/05/historico-atualizado-2013.html Acesso em: 24 jun. 2021.
18 Para embasar os argumentos constantes em seu relato, Areão usa documentos produzidos por agentes ligados à educação catarinense, como trechos de termos de visita de inspetores escolares, buscando comprovar que as instituições escolares subvencionadas pela União existiam e estavam funcionando bem. Sobre uma escola localizada em Porto União, cita informações fornecidas pelo inspetor escolar da região, chamado Germano Wagenführ, datadas de 2 de maio de 1936: escola em “muito boas condições”, “povo muito satisfeito”, “clube agrícola produzindo resultados ótimos”, “alunos entusiasmados”; pais “organizados em Sociedade Agrícola e Sociedade Escolar”; assim, “pode-se por tudo isso aquilatar os benefícios que o sr. professor trouxe a essa localidade” (SANTA CATARINA, 1937, p. 29). A escola em questão parece ser a de Colônia Oco, e, se isso for verdadeiro, o professor citado é André Wal: o mesmo que seria exonerado poucos anos depois.
Autor notes
1 Doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catariana (UFSC), na linha de pesquisa Sociologia e História da Educação. Mestre em Educação pelo mesmo Programa e linha de pesquisa. Graduada em Pedagogia pela UFSC. Tem experiência na área da Educação, com ênfase na docência e coordenação pedagógica em instituições de Educação Básica e docência no Ensino Superior. Entre os anos 2016 e 2020, foi professora colaboradora na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), especialmente com a disciplina Estágio Curricular Supervisionado no Centro de Educação a Distância (CEAD). Integra o "Grupo de Pesquisa Ensino e Formação de Educadores em Santa Catarina" (UFSC/CNPq), além do projeto "Pensar a Educação, Pensar o Brasil - 1822-2022" (FaE/UFMG). É editora do periódico "Pensar a Educação em Revista" e da coluna Entrememórias do jornal "Pensar a Educação em Pauta", ambos do projeto "Pensar a Educação, Pensar o Brasil". Atualmente é bolsista de desenvolvimento em ciência, tecnologia e inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), com atuação na equipe gestora do Portal do Bicentenário da Independência. Trabalha com as seguintes temáticas de pesquisa: história da educação e da escolarização; história de instituições escolares (Clubes Agrícolas Escolares); educação dos meios rurais; modernização e educação; formação de professoras/es; projetos educacionais, intelectuais e educação. E-mail: elaine.tp@gmail.com; https://orcid.org/0000-0002-7190-7318
2 Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Santa Catarina (1972), mestrado em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (1984) e doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (1994). Realizou Estágio de Pós-doutorado na Universidade de Coimbra (2009). Atualmente é professora titular aposentada/voluntária no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina e membro do LABORATÓRIO DE PESQUISAS SOCIOLÓGICAS PIERRE BOURDIEU (LAPSB). Tem experiência na área de Sociologia da Educação e História da Educação, com ênfase em Teoria Sociológica, atuando principalmente nos seguintes temas: formação de professores, educação, história da educação, intelectuais e escola normal. E-mail: m.daros@ufsc.br; https://orcid.org/0000-0003-3473-3096
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