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PRODUÇÃO DE RECURSOS EDUCACIONAIS PARA ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO SUPERIOR
Daniervelin Renata Marques Pereira; Thaís Fernanda Viana Batista
Daniervelin Renata Marques Pereira; Thaís Fernanda Viana Batista
PRODUÇÃO DE RECURSOS EDUCACIONAIS PARA ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO SUPERIOR
PRODUCTION OF EDUCATIONAL RESOURCES FOR TEACHING PORTUGUESE IN HIGHER EDUCATION
PRODUCCIÓN DE RECURSOS EDUCATIVOS PARA LA ENSEÑANZA DEL PORTUGUÉS EN LA EDUCACIÓN SUPERIOR
Hachetetepé. Revista científica de educación y comunicación, núm. 25, pp. 1-20, 2022
Universidad de Cádiz
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Resumo: Este artigo tem como finalidade a análise de três materiais didáticos produzidos para a disciplina online Oficina de Língua Portuguesa: Leitura e Produção de Textos, ofertada pela Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, no Brasil. Nesta análise, buscou-se analisar qualitativamente a elaboração dos materiais tendo em vista as especificidades da modalidade de Educação a Distância e o ensino de tópicos gramaticais no contexto do letramento acadêmico. Para isso, foram definidos como eixos de análise as categorias: recursos multimodais; estratégias linguísticas, discursivas e pedagógicas; recursos tecnológicos e concepções de gramática. Identificaram-se, como resultado, aspectos a melhorar, como a predominância de abordagem tradicional da gramática, mas também aspectos positivos, como a diversidade no uso de linguagens e nos modos de leitura e resposta esperados. Com base nos resultados, propuseram-se algumas características que podem contribuir na revisão dos materiais e também para a reflexão sobre a produção de recursos educacionais no contexto de ensino de língua portuguesa a distância.

Palavras-chave: Educação a Distância, Ensino superior, Materiais didáticos, Língua Portuguesa.

Abstract: : The purpose of this article is to analyze three didactic materials produced for the online discipline Portuguese Language Workshop: Text Reading and Production, offered by the Faculdade de Letras of Universidade Federal de Minas Gerais, in Brazil. In this analysis, we seek to qualitatively analyze the elaboration of the materials considering the specificities of the Distance Education modality and the teaching of grammatical topics in the academic literacy context. For this, categories were defined as axes of analysis: multimodal resources; linguistic, discursive and pedagogical strategies; technological resources, and grammar conceptions. As a result, aspects to be improved were identified, such as the predominance of the traditional approach to grammar, and others that constitute good achievements, such as the diversity in the use of languages and in the expected way of reading and responding. Based on the results, we propose some characteristics that can contribute to the revision of the materials and also to the reflection about the production of educational resources in the context of distance Portuguese teaching.

Keywords: Distance Education, Higher education, Teaching materials, Portuguese language.

Resumen: Este artículo tiene como objetivo analizar tres materiales didácticos producidos para el curso en línea “Oficina de Língua Portuguesa: Leitura e Produção de Textos”, ofrecido por Faculdade de Letras de la Universidade Federal de Minas Gerais, en Brasil. En este análisis, buscamos analizar cualitativamente la elaboración de materiales frente a las especificidades de la modalidad de Educación a Distancia y la enseñanza de temas gramaticales en el contexto de la alfabetización académica. Para ello, se definieron como ejes de análisis las siguientes categorías: recursos multimodales; estrategias lingüísticas, discursivas y pedagógicas; recursos tecnológicos y conceptos gramaticales. Como resultado, se identificaron aspectos a mejorar, como el predominio del enfoque tradicional de la gramática, pero también aspectos positivos, como la diversidad en el uso de las lenguas y en las formas esperadas de leer y responder. A partir de los resultados, se propusieron algunas características que pueden contribuir a la revisión de los materiales y también a la reflexión sobre la producción de recursos educativos en el contexto de la enseñanza del portugués a distancia.

Palabras clave: Educación a Distancia, Enseñanza superior, Materiales de enseñanza, Lengua portuguesa.

Carátula del artículo

Artículos

PRODUÇÃO DE RECURSOS EDUCACIONAIS PARA ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO SUPERIOR

PRODUCTION OF EDUCATIONAL RESOURCES FOR TEACHING PORTUGUESE IN HIGHER EDUCATION

PRODUCCIÓN DE RECURSOS EDUCATIVOS PARA LA ENSEÑANZA DEL PORTUGUÉS EN LA EDUCACIÓN SUPERIOR

Daniervelin Renata Marques Pereira
Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
Thaís Fernanda Viana Batista
Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
Hachetetepé. Revista científica de educación y comunicación, núm. 25, pp. 1-20, 2022
Universidad de Cádiz

Recepción: 08 Mayo 2022

Revisado: 05 Junio 2022

Aprobación: 17 Junio 2022

Publicación: 20 Septiembre 2022

1. INTRODUÇÃO

Ao sermos colocados diante da tarefa de produzir materiais didáticos para disciplinas ministradas na modalidade Educação a Distância (EaD), muitos questionamentos sobre o modo de construção e elaboração de tais materiais surgem durante o processo de realização do trabalho. Isso porque é notável que a EaD possui especificidades que impedem a simples transposição de materiais e métodos utilizados no ensino presencial para serem aplicados em aulas nas quais a interação e o acesso ao conteúdo ocorrem de modo diferente.

Em 2020, essas tecnologias digitais se mostraram recurso essencial diante das restrições de deslocamento impostas pela Covid-191. Entretanto, a simples existência de ferramentas que podem ser úteis às práticas educacionais não implica seu sucesso e não garante a qualidade necessária na formação acadêmica. É preciso que haja consciência no seu uso e compreensão das variáveis que determinam a escolha do melhor recurso e formas de interação. Essencialmente, essas variáveis são o público-alvo, o conteúdo, o contexto de ensino-aprendizagem e o conjunto de experiências do professor-educador, principalmente. Também é fundamental que tanto o conteúdo quanto a orientação didática e pedagógica do curso sejam conscientes e estejam bem articuladas a orientações críticas e contemporâneas da área e da Educação. Quando se perdem de vista esses aspectos, o que costuma acontecer é um curso tradicional, com recursos educacionais que não estimulam a participação dos estudantes.

É importante esclarecer que por EaD entendemos situações de ensino-aprendizagem em que os participantes estão afastados espacialmente e contam com um conjunto de estratégias educacionais conscientes que considera o perfil dos alunos e o contexto geral em que a interação se dá, e a ele estão adequados. Educação a Distância não é o mesmo que Ensino Remoto Emergencial. Concordamos com Arruda (2020, p. 265) quando defende que “Atender, por meio de tecnologias digitais, alunos afetados pelo fechamento das escolas, não é a mesma coisa que implantar Educação à Distância”. O ensino remoto emergencial, segundo Arruda (2020, p. 265), “propõe usos e apropriações das tecnologias em circunstâncias específicas de atendimento onde outrora existia regularmente a educação presencial”.

Sem nos estendermos nessa discussão, que não é nosso foco, esclarecemos que o contexto de produção dos recursos que analisaremos foi a EaD (formato habitual da disciplina). Certamente, os impactos que antecederam a instalação do ensino remoto emergencial afetaram nosso trabalho, tendo em vista que nos direcionamos para a produção de recursos educacionais, necessários à disciplina, também como forma de aproveitamento dos recursos disponíveis durante o período temporário de suspensão de aulas na universidade (março a agosto de 2020).

De acordo com Rosalin et al. (2017), o material a ser utilizado em contexto de interação a distância precisa ser pensado e produzido tendo em vista o objetivo de despertar no aluno a capacidade de ser agente de seu próprio saber. Prezando pelo desenvolvimento da autonomia, da habilidade de pesquisa e da capacidade reflexiva, o material para EaD, “[...] diferentemente do ensino presencial, precisa ser autossuficiente, ou seja, deve ser produzido levando em consideração as características do processo de ensinar e aprender a distância” (Corrêa, 2013, p. 128).

Diante de tais requisitos, torna-se bastante claro que a elaboração de produções para as disciplinas ministradas de forma remota deve ser feita envolvendo o planejamento, a revisão e a escolha da melhor maneira de apresentação dos conteúdos a serem discutidos, tendo em vista o público a ser atendido. Desse modo, tendo em vista o problema da configuração dos recursos educacionais abertos com foco no ensino de aspectos gramaticais, este artigo propõe uma discussão de três materiais elaborados para a Oficina de Língua Portuguesa: Leitura e Produção de Textos (OLP), uma disciplina de natureza online (ou seja, formato EaD) de 60 horas, ofertada pela Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais – localizada em Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, no Brasil – a estudantes de diferentes cursos dessa universidade. Esses estudantes são, geralmente, dos primeiros semestres do curso, com idade entre 18 a 24 anos. São atendidos em torno de 500 alunos semestralmente com a ajuda de tutores (bolsistas graduandos e pós-graduandos) orientados por docentes da Faculdade de Letras. Importante dizer que o foco dessa disciplina é o letramento acadêmico, desenvolvido a partir de atividades didáticas semanais de leitura e produção de gêneros textuais como resumo, resenha, esquema, projeto de pesquisa, análise de dados, texto de divulgação científica, entre outros, além de exercícios que trazem à tona questões pertinentes à esfera acadêmica, como formas de citação e plágio.

Tendo já divulgado as atividades didáticas de letramento acadêmico em outra publicação (Amaral et al., 2020), interessa-nos especialmente neste estudo lançar luz sobre a produção de recursos educacionais explicativos e atividades extras para que os estudantes possam tirar dúvidas e aprimorar sua escrita. Tais materiais abordam aspectos gramaticais como concordância, regência, pontuação e acentuação, além de outras questões, como normas de formatação e dicas de recursos educacionais digitais sobre língua portuguesa.

Assim, o estudo desenvolvido e apresentado neste artigo propõe contribuições para se pensar na produção de recursos educacionais no ensino superior, especificamente em disciplinas ofertadas na modalidade EaD. Partimos de experiências vivenciadas e que, agora, sob análise, podem proporcionar o aperfeiçoamento da própria disciplina, além de auxiliar outros pesquisadores interessados no assunto.

A seguir, apresentamos uma revisão sobre a produção de recursos educacionais no ensino superior a distância. Em seguida, contextualizamos a produção dos recursos que analisaremos, além de apresentarmos procedimentos metodológicos adotados na pesquisa. Na sequência, dispomos as análises, as considerações sobre os resultados e as considerações finais do trabalho.

2. PRODUÇÃO DE RECURSOS EDUCACIONAIS NO ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIA

De acordo com Mota e Leonardo (201-, p. 31), um dos primeiros passos a serem seguidos na produção de materiais didáticos para a modalidade EaD deve ser a proposição dos seguintes questionamentos: quem é o público-alvo da disciplina? Como será feita a mediação entre o público e o conteúdo a ser apresentado? Quais são as tecnologias e mídias utilizadas? Quais as características do material em produção? Por fim, quais objetivos devem ser alcançados?

Concordamos com Rosalin et al. (2017) quando afirmam que a elaboração de material didático deve levar em conta a coerência com a filosofia adotada, o que vai muito além da seleção de conteúdo. Tem a ver com o modo como são propostos os materiais. Segundo o documento Referenciais de qualidade para educação superior a distância (Brasil, 2007, p. 13)

O Material Didático, tanto do ponto de vista da abordagem do conteúdo, quanto da forma, deve estar concebido de acordo com os princípios epistemológicos, metodológicos e políticos explicitados no projeto pedagógico, de modo a facilitar a construção do conhecimento e mediar a interlocução entre estudante e professor, devendo passar por rigoroso processo de avaliação prévia (pré-testagem), com o objetivo de identificar necessidades de ajustes, visando o seu aperfeiçoamento

Na produção de materiais didáticos para EaD, portanto, pensar no modo de construção de tais materiais, que devem estar alinhados à proposta pedagógica, é fundamental para que a qualidade da proposta seja garantida e desenvolvida durante a realização da disciplina. É somente após planejar o alinhamento da produção material à visão política e pedagógica do curso que “[o]s conteúdos devem, a partir daí, ser criteriosamente selecionados [...]” (Rosalin et al., 2017, p. 818), sendo ainda “[...] convidativos, desafiadores.” (Rosalin et al., 2017, p. 818),

Tal preocupação com a qualidade do conteúdo a ser disponibilizado faz parte da busca por oferecer ao estudante um material que possibilite seu desenvolvimento de maneira autônoma e instigante. Nesse sentido, fugindo aos padrões tradicionais, nos quais cabe ao aluno muitas vezes apenas a recepção acrítica dos conhecimentos, defendemos que os materiais para a modalidade EaD devem permitir que ele assuma lugar de destaque na construção de seu conhecimento. Assim, “A principal característica do material didático EaD é a de ser uma verdadeira bússola para o aluno, um guia que, além de indicar caminhos, motive-o, avalie-o e propicie uma autoavaliação.” (Rosalin et al., 2017, p. 822).

Para atingir tal objetivo, diversos são os recursos que podem ser utilizados na apresentação dos conteúdos: videoaulas, fóruns, blogs, wikis, enquetes, questionários, slides e outros arquivos, como livros e apostilas, podcasts, jogos, chats, videoconferências, entre outros. É importante que a disciplina ofertada busque a variação na utilização de tais recursos, para que os alunos tenham inúmeras possibilidades e formas de construir seu conhecimento, de modo que o material se aproxime da realidade de cada um (Mota e Leonardo, 201-, p. 44).

Para além da quantidade e variedade, é importante que os recursos educacionais tenham coerência interna e potencial de desenvolver o letramento crítico dos estudantes. A concepção do recurso deve ser a de um sujeito ativo, que não segue apenas regras, mas deve refletir sobre a língua em uso.

O favorecimento do aprendizado do estudante na modalidade EaD pode ainda ser potencializado pela utilização de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), que, de acordo com Gabardo et al. (2010), são desenvolvidos tendo como fim a ampliação do acesso à educação, mostrando-se promissores no alcance desse objetivo. Ainda segundo as autoras, tendo como base o ambiente virtual, os AVA “[...] permitem que professores e alunos estejam separados apenas fisicamente no espaço ou no tempo, contemplando inclusive o acesso a pessoas que se encontram em áreas geográficas isoladas.” (Gabardo et al., 2010, p. 75).

Um desses ambientes virtuais é a plataforma Moodle, utilizada para ministrar a disciplina OLP. Essa plataforma, segundo dados do site Moodle2, está presente em 245 países e possui 157 mil sites instalados registrados, o que demonstra o grande alcance que possui mundialmente. Ela possui diversas possibilidades de utilização, como a criação de fóruns, postagem de vídeos, arquivos, slides, entre outros recursos.

Outro ponto a ser abordado em relação à produção de materiais para a EaD diz respeito à utilização de recursos multimodais, tendo em vista que nos textos são utilizados modos verbais e não verbais, e que, além disso, nenhum texto apresenta apenas uma modalidade comunicativa. Nascimento et al. (2001, p. 530) apresentam a premissa de que “[...] não existem textos monomodais ou monossemióticos, já que, mesmo em textos predominantemente verbais, utilizamos recursos visuais, tais como tipografia e formatação”. Nesse sentido, é preciso chamar a atenção para a propriedade multimodal dos textos, além da importância de se empregar as modalidades da linguagem de forma consciente e coerente com o projeto de um determinado recurso pedagógico.

Na produção de materiais para disciplinas EaD, portanto, a análise não poderia desconsiderar as múltiplas formas de representação, tendo em vista que o contexto tecnológico em que se inserem tais materiais é, por si só, um ambiente propício para a utilização de múltiplas linguagens na constituição de um texto, como ocorre com o uso de imagens, áudios e vídeos. Para evitar que esses recursos sejam utilizados sem uma preocupação com a coerência e identidade do material, é importante que ele seja planejado e articulado conscientemente.

Nota-se, portanto, que uma análise de materiais produzidos para a modalidade EaD não pode se furtar da observação dos recursos multimodais presentes na composição dos textos da disciplina. Observar os vários modos de representação escolhidos para a constituição de um texto pode permitir que se compreenda quais foram melhor aplicados e quais são aqueles que não favoreceram o estudo autônomo e interessado dos alunos na EaD.

3. PRODUÇÃO DOS RECURSOS: CONTEXTUALIZANDO

Os recursos educacionais com foco linguístico começaram a ser criados desde o início do projeto da disciplina no formato atual, em 2014, à medida que os professores da disciplina avaliavam os trabalhos dos alunos, de escrita de gêneros acadêmicos, e identificavam problemas recorrentes de inadequação da escrita de acordo com determinadas regras da norma padrão da língua portuguesa. Como o espaço de feedback nas tarefas semanais é curto para o detalhamento de questões gramaticais, sentiu-se a necessidade de indicar ao aluno um espaço específico, em que ele pudesse não só ter materiais para leitura, mas também exercícios diversos para praticar seu conhecimento de tópicos gramaticais.

A atualização é frequente. É o que explica, por exemplo, a criação de um recurso sobre gerundismo em 2018 e sua retirada em 2020, considerando que ela já não é tão válida aos alunos, visto que a ocorrência desse vício de linguagem não é mais identificada nos trabalhos. Assim como a língua é viva e muda constantemente, os recursos refletem esse fluxo.

Em 2020, diante da pandemia da Covid-19, ocupamo-nos da produção de materiais que pudessem ser úteis aos alunos durante o isolamento e diante da interrupção de aulas determinada pela Universidade Federal de Minas Gerais. Vimos nesse cenário um momento ideal para trabalharmos os recursos e refletirmos também sobre o processo de produção dos recursos para esse contexto. Assim, tendo em vista, portanto, o oferecimento de materiais que pudessem auxiliar os alunos da disciplina na tarefa de produzir trabalhos acadêmicos, foi proposto aos bolsistas e voluntários que compunham a equipe do projeto OLP que elaborassem materiais com tópicos que ainda faltavam ao espaço e que foram inseridas na lista de sugestões dos semestres anteriores.

A orientação inicial foi o desenvolvimento de recursos educacionais para o público da disciplina (alunos de graduação, geralmente calouros, de diferentes cursos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais). Durante e após a elaboração, houve diálogo entre membros da equipe para orientação e dúvidas e, após, a leitura da equipe para sugestões. Uma etapa importante no processo foi a indicação de referências utilizadas para construção do material. Nessa discussão, foi destacada a importância da gramática descritiva, dos multiletramentos (especialmente pela presença de textos multimodais nos materiais), entre outros. Assim, consideramos que no quadro de uma disciplina focada nos letramentos acadêmicos, como a OLP, as questões gramaticais são também importantes e estão atreladas às especificidades de leitura e produção dos gêneros acadêmicos. Além disso, foram apontadas questões estéticas que, na percepção dos membros da equipe, interferiam na qualidade do acesso às informações do material.

Nesse cenário, a docente coordenadora propôs a produção de materiais sobre concordância, regência nominal e verbal, além de sugestões de games, aplicativos e outras mídias que pudessem compor o espaço dos recursos. Os bolsistas e voluntários podiam também sugerir outros tópicos com base em suas experiências anteriores na OLP.

5. ANÁLISES
5.1.Recurso 1: Dicas para aprimorar a escrita acadêmica

Uma das produções de recursos teve como tema abordar dificuldades ortográficas comuns na escrita, como uso de mesmo/mesma, uso adequado da voz ativa X voz passiva, uso de haver X ter/existir, uso dos pronomes relativos e uso de este/esta X esse/essa, formando um conjunto de dicas rápidas para aprimorar a escrita acadêmica. Uma primeira versão —Figura 1—, como slides produzidos no Canva3, foi produzida e compartilhada em um fórum específico para a equipe da Oficina. A partir de sugestões, foi gerada uma segunda versão —Figura 2—:


Figura 1.
Figura 1.

Primeira versão do recurso educacional sobre dicas para melhorar escrita acadêmica.

dos autores.


Figura 2
Figura 2

Segunda versão do recurso educacional sobre dicas para melhorar escrita acadêmica

dos autores.

Da primeira para a segunda versão, notam-se mudanças na estética do recurso, com impactos visuais positivos para a leitura. Recursos multimodais empregados – imagem, ícones, alternância de cores (azul e branco, tons de azul), numeração, diferença de tamanho na fonte – garantem um efeito didático e organizado ao material, permitindo a compreensão dos limites das dicas. O uso da logomarca da disciplina no início, acompanhada do seu nome, cria a identidade visual do material, também significativo na construção do recurso didático. Ao acessá-lo, o aluno pode compreender sua fonte e atribuir mais credibilidade ao seu conteúdo, já que tem a “assinatura” de uma disciplina ofertada em uma universidade. A presença de um quadro delimitado por categorias em cores diferentes do texto central também é um recurso multimodal com efeito didático.

Percebem-se, ainda, as seguintes alterações pontuais no texto:

1) Língua culta/linguagem culta >> norma padrão;

2) Há maneiras de evitar a “muleta de preguiçoso” >> Há outras formas mais aceitas em textos formais.

A primeira mudança é ideológica e baseada em discussões principalmente da sociolinguística sobre as concepções de norma. Parte da crença de que o uso de “norma culta” pode sugerir que as demais normas sejam “incultas”. A popularidade da expressão “norma culta” faz aflorar a diferença de valores entre as variedades linguísticas, expondo algumas como prestigiadas e outras como estigmatizadas, conforme oposição que Bagno (2007) usa. Embora a expressão “norma padrão” também seja problemática, por não corresponder de fato à língua materna de ninguém, é a que adotamos na segunda versão por contemplar um padrão de uso nos meios acadêmicos.

A segunda alteração proposta se justifica por evitar uma expressão que, apesar de poder ser entendida como brincadeira, pode também esconder um preconceito linguístico. O argumento usado em equipe foi de que nenhum uso linguístico pode ser entendido como “muleta de preguiçoso”, já que não há relação clara de preguiça na troca de uso de pronomes pessoais pelo de “o mesmo/a mesma”. Trata-se, antes, de um vício de linguagem, que o estudante deve compreender e buscar evitar em gêneros em que a formalidade é esperada.

Destacamos algumas estratégias linguísticas e discursivas identificadas: uso de modalizações pelo “dever” (cinco vezes) e “poder” (uma vez), uso do presente do indicativo e do imperativo e voz de autoridade com efeito de sentido de certeza, próprio de materiais didáticos tradicionais. Parece haver uma tentativa de, assim, não gerar dúvida sobre cada regra, cada prescrição, de modo que o leitor só pode, como resposta, segui-la.

A estrutura de títulos, tópicos, exemplos e explicações resumidas constitui estratégia pedagógica. Chama a atenção que primeiramente se apresenta a regra e, em seguida, o exemplo, seguido ou não de mais alguma orientação, remetendo a estratégia comum em livros e manuais didáticos. Fecha-se o documento com um lembrete final que vale como dica relacionada às outras: a revisão do texto após escrita. Pedagogicamente, o leitor é levado a crer que tem nessas dicas um caminho seguro para obter sucesso em sua produção textual. Não é à toa que o número dez é escolhido, já que é carregado semanticamente de sentidos na cultura popular: completude, perfeição, totalidade (Dicionário de Símbolos, s.d.).

Quanto aos recursos tecnológicos, ficam pressupostos na criação do material, que é digital, demonstrando que seu autor tem domínio de ferramentas de edição de imagens e de slides. Para acessá-lo no ambiente da disciplina, poucos são os passos a serem dados, bastando clicar, ler e salvar, caso o leitor deseje. Trata-se de arquivo digital em pdf, muito familiar ao aluno de disciplina online.

Finalmente, podemos depreender desse recurso uma concepção tradicional de gramática, que normatiza e prescreve usos com base em regras imutáveis, sem deixar margem para outros contextos em que determinados usos recriminados possam ser utilizados. Desde o início, entretanto, o autor do recurso informa no título e texto inicial que seu foco é a “escrita acadêmica”, demarcando que é para esse contexto que ele dá dicas. Deixa perceber que, nesse meio, não são aceitos textos fora da norma padrão. Para ser aceito nele, o leitor-aluno deverá seguir as dicas, revisando e refinando seu texto muitas e muitas vezes. Ao mesmo tempo, falta ao material referência à fonte das informações apresentadas, que é um aspecto importante no contexto acadêmico.

5.2.Recurso 2: vídeo sobre o uso de “onde”

Outro recurso elaborado pela equipe da OLP foi um vídeo em que se discutem e apresentam os usos do “onde”. O vídeo, cuja natureza de linguagem mista permite uma apresentação mais dinâmica do conteúdo, foi feito a partir da exposição na tela de exemplos e palavras-chave do que seria abordado, aliada à explicação oral de um dos membros da equipe da Oficina responsável por produzir o material —Figura 3—.


Figura 3
Figura 3

Imagem do vídeo disponibilizado no canal da OLP no YouTube.

https://www.youtube.com/watch?v=OFztUzfn0FE

A produção parte de dois exemplos: “Maitê viu o filme onde dois irmãos são separados” e “Maitê viu o filme em que dois irmãos são separados”, e, em seguida, dá início à discussão. Nas explicações dadas, muitos outros exemplos são apresentados, como: “A casa onde ela mora é muito pequena” e “Sempre estudei na cidade onde nasci”. Apesar de o uso de frases descontextualizadas não ser mais considerada a melhor maneira de se constituir um objeto de estudo e análise da língua, as condições de produção do vídeo, que requisitavam maior objetividade e dinamicidade na apresentação do conteúdo, talvez tenham sido melhor respeitadas a partir da utilização de tais frases. Isso porque tal forma de debate sobre o uso de “onde”, de caráter dinâmico e duração curta, permitiu a visualização prática dos usos para fomentar a reflexão e a explicação do conteúdo, o que pode ser considerado um recurso pedagógico adotado pela equipe.

Como estratégia linguística e discursiva para a produção do vídeo, nota-se que foram utilizados poucos termos técnicos, o que, considerando o público-alvo do material produzido, pode representar uma preocupação dos autores com a compreensão total e autônoma dos alunos que acompanharão o vídeo. Ao elaborar, por exemplo, a explicação da diferença entre a gramática tradicional e aquela denominada pelos linguistas como gramática descritiva, escolheu-se não apresentar esse termo, e sim ter como foco o seu campo de estudo, considerando o uso da língua feita pelo falante em seu cotidiano. Há, dessa forma, uma adequação do discurso para atender estudantes de diversos cursos da Universidade Federal de Minas Gerais, constituindo também uma estratégia pedagógica de apresentação do conteúdo.

Em relação aos recursos tecnológicos, nota-se que a elaboração de um vídeo para abordar a temática é, por si só, um recurso tecnológico demonstrativo da habilidade e domínio dos autores de ferramentas tecnológicas de gravação e edição de vídeo. Postado na plataforma YouTube, o vídeo permite fácil acesso, para além do ambiente de acesso fechado da disciplina. Cabe ressaltar que textos multimodais, como o vídeo, favorecem o desenvolvimento de multiletramentos (Rojo e Moura, 2012) e costumam ser muito bem recebidos pelos alunos da OLP, que são, em geral, jovens.

Durante a revisão proposta pela equipe, um apontamento feito como sugestão de mudança foi a substituição do termo “erro”, utilizado durante a explicação do conteúdo do vídeo, pelo termo “inadequação”, considerando a adequação e inadequação do uso da língua em determinados contextos. Entretanto, durante todo o desenvolvimento do vídeo, ressaltou-se que se estava tratando de noções propostas pela gramática tradicional, uma opção do autor do vídeo, questão que foi ainda retomada ao final do texto em uma explicação sobre a diferença dos estudos da gramática tradicional e os estudos atuais dos linguistas sobre o uso corriqueiro da língua, presentes na gramática descritiva.

Considerando que o público da OLP é composto por alunos de diversos cursos, a discussão foi apoiada em recursos que dão efeito interativo ao texto, sem adensar o tratamento teórico da língua. Nesse sentido, de modo breve devido às possíveis limitações de tempo e interesse do público-alvo, o vídeo aponta a existência de algumas linhas de pesquisa que questionam as regras rígidas propostas pela gramática tradicional, pois a língua é viva e está em constante mudança. De modo a reforçar a necessidade de observação dos usos da língua que podem ser feitos pelos falantes de acordo com os contextos em que se apresentam, a equipe responsável pelo material pontuou que, no ambiente acadêmico, por se tratar de um espaço em que o uso da língua requer mais monitoramento e rigor, precisa-se utilizar a variedade padrão na construção dos diferentes gêneros de textos requisitados dos estudantes.

Por fim, o vídeo é rico em recursos multimodais, já que é um texto verbo-visual que explora cores, figuras, sons, movimentos e diferentes ferramentas para apresentação do texto verbal escrito. Optou-se por um layout limpo e simplificado, com fundo branco e poucas informações na tela, o que, em nosso entendimento, destacou o conteúdo a ser explicado e facilitou a compreensão. Além disso, durante a explicitação do conteúdo, utilizaram-se figuras, como caixas de texto e balões de pensamento para acompanhar a discussão, assim como para destacar os exemplos em relação ao fundo branco. Ao construir as exemplificações, foram utilizados realces nas palavras-chaves, assim como setas e ícones, que serviram para favorecer a relação entre os termos, como pode ser visto na Figura 4. Tais recursos permitem ao aluno, para além da elaboração dos conteúdos a partir da explicação, realizar também a organização visual dos conceitos.


Figura 4
Figura 4

Trecho do vídeo sobre o uso de “online”, no YouTube.

https://www.youtube.com/watch?v=OFztUzfn0FE

5.3.Recurso 3: Exercícios de concordância nominal

Outro recurso escolhido para análise foi um exercício de concordância nominal proposto para o acompanhamento do conteúdo elaborado sobre o mesmo tema —Quadro 1—. Trata-se de uma atividade em que foram separados trechos de textos escritos por graduandos que participaram da oficina, de modo a partir de situações reais de escrita dos alunos para propor atividades de fixação e de observação da concordância nominal em seu contexto real de uso. Assim, separaram-se trechos em que a concordância foi realizada de maneira inadequada, tendo em vista que a norma padrão é o modelo de língua requerido dos estudantes na escrita acadêmica.

Quadro 1.
Quadro 1.

Exercício de concordância nominal.

Oficina de língua portuguesa (2020).

No exercício, pode-se apontar recursos multimodais mais simples e próprios dos textos escritos, como a utilização do recurso de sublinhar, marcando as palavras a serem analisadas. Além disso, há também o uso de aspas para delimitar os trechos em análise, demonstrando que são partes que compõem textos de graduandos, como dito no enunciado do exercício. Tais recursos permitem uma fácil identificação do propósito da atividade. Como estratégia discursiva, a utilização das aspas parece servir ao propósito de reafirmar o cuidado com a seleção dos trechos, pois marcaria a escolha deles em produções acadêmicas, demonstrando que há autores, alunos, que fizeram tais produções.

Dessa forma, a própria seleção de tais trechos é, em si, uma estratégia pedagógica, considerando a elaboração de atividades contextualizadas. A escolha de partes de produções dos alunos permite a observação da língua em seu contexto real de uso, facilitando a compreensão e colaborando para o entendimento do aluno em relação à aplicação da concordância nominal em contexto acadêmico. Além disso, a apresentação de trechos de diferentes gêneros para compor a atividade, além de ser uma estratégia pedagógica que permitirá a análise em variados exemplos de textos, é também uma estratégia linguística, pois demonstra como a norma padrão é requisitada em diversos contextos da escrita acadêmica.

Ressalta-se, ainda, que tal atividade é um exercício estrutural que permite a apresentação do uso da concordância nominal, assim como a fixação dessa utilização a partir da prática do exercício. Desse modo, como afirmam Travaglia et al. (2007), se tais exercícios estruturais não permitem uma abordagem mais analítica da língua, por outro lado favorecem o aprendizado da utilização adequada dos recursos da língua em cada situação. Nesse sentido, partindo de uma concepção de gramática descritiva, que estuda a língua em uso, tal exercício, apesar de ter como foco a norma padrão, está em consonância com o proposto em tal gramática. Isso porque, por ser produzido para alunos que em sua maioria estão ingressando no contexto acadêmico, é fundamental que compreendam que a modalidade padrão da língua será requisitada na universidade. Portanto, praticar a escrita acadêmica segundo esse padrão adequa-se ao propósito da OLP de inserir os alunos no contexto da produção nesse meio.

Deve-se observar, entretanto, o comando elaborado para a questão, que requisita aos alunos a identificação da inadequação. Após a identificação, os alunos deveriam responder à questão com o par nome/predicativo que seria utilizado numa possível reescrita do trecho. O propósito da questão, portanto, não é que os alunos reescrevam o trecho, mas apenas indiquem qual par nome(s)/predicativo(s) deveria ser utilizado. Esse comando se explica pelo contexto em que o exercício é posto: questionário com perguntas e respostas e feedback automático. Nesse tipo de ferramenta, que atende à necessidade de ser autossuficiente, como pede o material para EaD (Correa, 2013), a reescrita livre do texto integral dificultaria esse tipo de feedback.

6. RESULTADOS

Pudemos observar nas análises feitas que os critérios definidos por nós para a abordagem – recursos multimodais; estratégias linguísticas, discursivas e pedagógicas; recursos tecnológicos e concepções de gramática – encontram-se intimamente relacionados no conjunto do recurso didático. Retomamos a seguir, alguns aspectos relevantes em cada critério considerando o conjunto dos três materiais didáticos elaborados:

Recursos multimodais: observou-se um uso moderado de elementos expressivos nos materiais analisados, com foco para cores e formatos das fontes, a depender da natureza do material (slides e vídeos favorecem mais a criatividade na exploração da multimodalidade que o texto verbal em si). A organização estética dos materiais foi importante para um efeito didático na organização geral e para conduzir o olhar do aluno na exposição do conteúdo no material.

Estratégias linguísticas, discursivas e pedagógicas: percebeu-se o uso frequente de modalizações pelo “dever” com o emprego de verbos do imperativo e voz de autoridade com efeito de sentido de certeza, próprio de materiais didáticos tradicionais. Considerando o público-alvo da disciplina (jovens), discussões nos materiais expositivos têm um tom leve, mas sério, mostrando pouca tendência ao lúdico, provavelmente natureza mais contida e rígida que predomina no fazer acadêmico.

Recursos tecnológicos: foram identificados recursos comumente presentes em uma disciplina online, como vídeo, slides, perguntas e respostas para questionário online, todos passíveis de incorporação na plataforma Moodle. A simplicidade garante acessibilidade a um maior número de alunos, mesmo sem um letramento digital avançado.

Concepção de gramática: Notou-se uma tendência a uma abordagem mais tradicional da gramática, embora se encontre também movimentos em direção a uma gramática contextualizada. Um dos materiais emprega trechos de contexto real de uso (trabalhos escolares de alunos), enquanto dois utilizam frases comuns sem referência, remetendo a uma oscilação entre uma tendência tradicional de uso de frases soltas e uma tentativa de contextualização, buscando textos que de fato circulam fora da sala de aula. Apenas no vídeo, observou-se uma discussão sobre a gramática tradicional e o uso da língua, remetendo a outras perspectivas de gramáticas, mas sem aprofundamento. Essa orientação pode se justificar por estarem os elaboradores dos materiais inseridos no contexto acadêmico, em que se espera adequação dos textos à norma padrão, usando regras da gramática tradicional.

De modo geral, observamos que os materiais são motivados em sua construção pela natureza do contexto acadêmico, o que é determinado pela formalidade dos gêneros discursivos e situações comunicativas que predominam nele. Todos os materiais são, por isso, categóricos sobre a necessidade de conhecimento da norma padrão da língua portuguesa, associada às regras da gramática tradicional. São, portanto, poucos os questionamentos sobre perspectivas diferentes de gramática, sobre usos diferentes e contextos em que eles são possíveis. Outras características relacionadas a esse contexto são a moderação no uso de recursos multimodais e a ausência de elementos lúdicos, que geralmente são defendidos na produção de materiais didáticos, como forma mais atrativa (Carneiro e Silveira, 2014).

Um ponto positivo em relação à construção de materiais didáticos, já destacado por Mota e Leonardo (201-), é a diversidade das três propostas apresentadas, oferecendo aos alunos, que aprendem de formas diferentes, variações nas linguagens e modo de leitura e resposta, o que se explica em parte por serem de quatro autores diferentes da equipe da disciplina. Consideramos ainda positivo não haver uma utilização excessiva de metalinguagem gramatical nos materiais, o que leva em conta o contexto da OLP, que atende alunos dos mais variados cursos da Universidade Federal de Minas Gerais.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não tivemos ainda experiência de utilização dos materiais analisados por alunos da disciplina OLP. Temos, portanto, neste texto, interesse em refletir sobre o planejamento, que, segundo Arruda (2020), deve envolver desenvolvimento a médio e longo prazo de estratégias de ensino e aprendizagem considerando o perfil de aluno e docente.

Neste momento, pós-elaboração das primeiras versões, interessa-nos colocar em discussão sua coerência com a filosofia adotada na disciplina, o que vai muito além da seleção de conteúdo, segundo Rosalin et al. (2017). Assim, pensando no perfil da disciplina online e seus sujeitos, identificamos a necessidade de uma revisão dos materiais para que atendam melhor algumas características que valorizamos e que se assentem menos na visão de língua como instrumento de comunicação e mais na concepção da linguagem como interação: maior utilização de textos acadêmicos, se possível retirados da prática da disciplina, para alimentar os exercícios de leitura e (re)escrita; pôr em questionamento a abordagem tradicional da gramática, trazendo junto a ela outras perspectivas (de variação, de descrição e de contextualização, por exemplo); na perspectiva da contextualização, relacionar os itens gramaticais – de qualquer ordem – à significação (macro e microestrutural) do texto e seus efeitos de sentido, como propõe Antunes (2014) e adicionar, como ingredientes na construção dos materiais, o desafio e a atratividade, com uso de mais recursos tecnológicos e multimodais, por exemplo.

Tendo em vista que “[...] o quê e como ensinamos e avaliamos estão na dependência imediata das concepções que temos acerca do que é uma língua, de como funciona e a que fins se propõe” (Antunes, 2009, p. 219), a proposta de elaboração dos materiais deve considerar, em seu momento de revisão, a concepção de língua como um conjunto que passa por mudanças, sendo, portanto, um tanto quanto imprevisível e indefinida e, principalmente, existindo em função dos falantes. Isso significa que a língua se concretiza em ações e atividades comunicativas, o que a torna não um conjunto acabado de regras, mas sim um modo de atuação social que pode ser utilizado de acordo com as diferentes práticas sociais em que se inserem os sujeitos que a utilizam (Antunes, 2009).

Esperamos, assim, que as análises e reflexões dispostas neste texto possam auxiliar professores e pesquisadores que também se preocupam com a produção de materiais para análise linguística no ensino superior, já que, de acordo com nossa pesquisa, ainda são poucos os estudos com esse recorte.

Material suplementario
Información adicional

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:: Daniervelin Renata Marques Pereira (Conceptualização, Investigação, Metodologia, Supervisão, Escrita - rascunho original.) e Thaís Fernanda Viana Batista (Conceptualização, Investigação, Escrita - rascunho original, Escrita - revisão & edição).

FINANCIAMENTO:: Esta investigação recebeu financiamento da Pró-Reitoria de Ensino da Universidade Federal de Minas Gerais no formato de bolsa de graduação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Amaral, L., Pereira, D., e Coscarelli, C. (2020). Research in practice: online academic literacy for Brazilian undergraduate students. Em D. L. D. I., Rodrigez e J. Q. G., Silva (Orgs.). Práticas discursivas em letramento acadêmico. Questões em estudo V. 3. Estudos aplicados à prática da escrita acadêmica: colocando a mão na massa, (pp.21-48). Editora PUC Minas. https://bit.ly/3RtlfsB
Antunes, I. (2009). Língua, texto e ensino: outra escola possível. Parábola Editorial.
Antunes, I. (2014). Gramática contextualizada: limpando ‘o pó das ideias simples’. 1. ed. Parábola Editorial.
Arruda, E. P. (2020). Educação remota emergencial: elementos para políticas públicas na educação brasileira em tempos de Covid-19. EmRede, 7(1), 257-275. https://doi.org/10.53628/emrede.v7.1.621
Bagno, M. (2007). Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística.Parábola.
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Carneiro, M. L. F. e Silveira, M. S. (2014). Objetos de Aprendizagem como elementos facilitadores na Educação a Distância. Educar em Revista, Curitiba, (4), 235-260. https://doi.org/10.1590/0104-4060.38662
Corrêa, M. A.(2013). Os materiais didáticos como recursos fundamentais de potencialização da qualidade do ensino e aprendizagem na EAD. E-tech: Tecnologias para Competitividade Industrial, 6(1), 125-140. https://doi.org/10.18624/e-tech.v6i1.280
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Mota, J. B. e Leonardo, E. D. S. (201-). Planejamento e produção de materiais didáticos para EAD. Ed. UFV. https://bit.ly/3RVSaWU .
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Rojo, R., e Moura, E. (2012). Multiletramentos na escola. Parábola.
Rosalin, B. C. M., Cruz, J. A. S. e Mattos, M. B. G. de (2017). A importância do material didático no ensino a distância. RPGE–Revista Online de Política e Gestão Educacional, 21(1), 814-830. http://doi.org/10.22633/rpge.v21.n.esp1.out.2017.10453
Significado dos Símbolos e Simbologias. Número 10.https://www.dicionariodesimbolos.com.br/numero-10/
Travaglia, L. C., Araújo, M. H. S. e Alvim, M. T. de F. (2007). Metodologia e prática de ensino de língua portuguesa. EDUFU.
Notas
Notas
1 Covid-19 é a doença causada pelo Novo Coronavírus e que recebeu a denominação SARS-CoV-2 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O vírus é o causador da pandemia global que acontece desde 2020.
2. MOODLE. Statistics. 2020. Disponível em: https://stats.moodle.org/. Acesso em: 27 maio 2020.
3 https://www.canva.com/pt_br/

Figura 1.
Figura 1.

Primeira versão do recurso educacional sobre dicas para melhorar escrita acadêmica.

dos autores.

Figura 2
Figura 2

Segunda versão do recurso educacional sobre dicas para melhorar escrita acadêmica

dos autores.

Figura 3
Figura 3

Imagem do vídeo disponibilizado no canal da OLP no YouTube.

https://www.youtube.com/watch?v=OFztUzfn0FE

Figura 4
Figura 4

Trecho do vídeo sobre o uso de “online”, no YouTube.

https://www.youtube.com/watch?v=OFztUzfn0FE
Quadro 1.
Quadro 1.

Exercício de concordância nominal.

Oficina de língua portuguesa (2020).
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