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Apresentação: alternativas pedagógicas e prospectiva educativa na América Latina (dossiê 2)
Reflexão e Ação, vol. 31, núm. 1, pp. 6-10, 2023
Universidade de Santa Cruz do Sul

Apresentação


Recepción: 01 Enero 2023

Aprobación: 02 Enero 2023

DOI: https://doi.org/10.17058/rea.v31i1.18773

Apresentamos, com entusiasmo, o segundo número do Dossiê “Alternativas Pedagógicas e Prospectivas Educativas na América Latina”, que reúne um conjunto de oito artigos, os quais dão continuidade às reflexões tecidas no primeiro número do Dossiê, notadamente aquelas relacionadas à abertura de novos eixos analíticos para situar experiências pedagógicas alternativas no século XXI.

Ao tempo que identificamos, no novo século, o legado intrínseco ao campo das alternativas pedagógicas, este século também é revelador dos novos desafios que interpelam cotidianamente o contexto escolar, a prática docente e a própria concepção de um projeto educativo nacional. Estamos tratando de questões concretas, como, por exemplo, a intensificação dos fluxos migratórios e o que isto implica para situar, em uma dimensão educativa e pedagógica, o reconhecimento da diversidade, de sujeitos, culturas e sociabilidades, no processo formativo.

Ou ainda, quando se reivindica, na elaboração de políticas públicas em matéria educativa, a inclusão da diversidade para situar diretrizes educativas que potencializem uma adequada formação docente e um trabalho pedagógico para a inclusão, o respeito, a equidade, o reconhecimento e o diálogo entre outros saberes.

Por outro lado, há aqueles desafios relacionados à implementação de políticas educativas que atendam demandas educativas dos movimentos indígenas e quilombolas, sobretudo em suas diretrizes curriculares e na abordagem pedagógica da escola situada nos territórios de ação política desses movimentos. Há uma abrangência maior das alternativas pedagógicas para além do espaço escolar, em que a prospectiva educativa é fruto do entrelaçamento das lutas sociais enquanto movimento pedagógico em si e para si, isto é, assumindo-se também como um sujeito educativo.

Nessa direção, o conjunto de autoras e autores nos convidam a situar as alternativas pedagógicas que emergem desses desafios concretos próprios do contexto escolar e da política pública educativa, bem como da vivência cotidiana do processo educativo que se propõe um horizonte inclusivo e emancipatório.

Na abertura do segundo número do dossiê, Cecília Millán La Rivera, Andrea López Barraza e Gustavo González García, da Universidad Católica Silva Henríquez, Santiago, Chile, propõem uma reflexão sobre o lugar da diversidade no campo das alternativas pedagógicas. Com o título “Sobre diversidad: tensiones entre normativas y las prácticas escolares desde Chile”, as autoras e o autor analisam os possíveis diálogos entre algumas normativas que orientam a abordagem da diversidade no contexto escolar chileno e as práticas pedagógicas nas escolas, sobretudo aquelas que enfatizam o ensino intercultural, estudantes migrantes e diversidade sexual. Uma constatação apontada como um desafio às alternativas pedagógicas está relacionada à uma sorte de discrepância entre o prescritivo normativamente e as práticas escolares no trabalho pedagógico com a diversidade, que pode ser explicado, em parte, por fenômenos históricos e culturais que tensionam os avanços legais. Apesar disso, argumentam que é importante ter presente este tensionamento, uma vez que permite possiblidades de mudança em outros planos da prática educativa e pedagógica chilena.

Por sua vez, Martha Josefina Franco García, pesquisadora da Universidad Pedagógica Nacional Unidad 211, México, Noemi Cabrera Morales e Christian Aarón Cruz Cruz, ambos da Universidad Nacional Autónoma do México, no artigo intitulado “Hegemonía y Alternativas Pedagógicas en territorios indígenas”, desenvolvem um marco teórico-metodológico para uma aproximação com as experiências pedagógicas alternativas construídas em diversos territórios indígenas da América Latina. As autoras e o autor propõem três aspectos desse enfoque: a) uma breve revisão histórica das alternativas pedagógicas construídas a partir dos povos indígenas; b) uma síntese das políticas educativas construídas por e para estes povos indígenas do México, e c) a sistematização e a análise de duas experiências pedagógicas configuradas nos estados mexicanos de Oaxaca e Puebla.

Ao refletir-se sobre a forma como a diversidade tem sido tratada no contexto das políticas públicas educativas e da escola, não se pode evadir-se da pergunta sobre os desafios das alternativas pedagógicas a serem construídas na base curricular. Nessa direção, o terceiro artigo intitulado “Directrices Curriculares Nacionales para la educación escolar quilombola: caminos para una educación decolonial en Brasil”, de autoria de Diego Maradona da Hora Mendes, Márcia Helena Sauaia e Guilherme Ribeiro Rostas, do Instituto federal Sul-Rio-Grandense, adentra à reflexão acerca da necessidade de descolonização da base curricular. Os autores e a autora nos apresentam como o legado colonial nas Américas interfere na construção social dos povos colonizados, especialmente na educação, campo de reprodução pedagógica do pensamento europeu hegemônico e dos princípios da colonialidade.

Por outro lado, argumentam que o movimento decolonial latino-americano provocou mudanças no pensamento social, que se materializam em distintas ações, entre elas, a construção das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Quilombola, no Brasil. Na perspectiva dos autores e da autora, se trata de um exercício de descolonização, uma vez que os lineamentos presentes nessas Diretrizes Curriculares dialogam com o movimento decolonial, brindando uma nova configuração educativa, que ecoa e visibiliza saberes e conhecimentos subordinados e apagados pela colonialidade.

Certamente o processo de descolonização também requer incidir nas políticas públicas e no conjunto das normativas que orientam a política educativa, o que permitirá uma incidência no processo formativo de crianças e adolescentes. Esse aspecto é analisado no artigo “Niños y niñas en experiencias de participación: un camino para la cultura de la paz y el ejercicio de la ciudadanía”, de autoría de Ana Virginia Triviño Roncancio e Cecilia Rincón Verdugo, da Universidad Distrital Francisco José de Caldas, Bogotá, Colômbia. As autoras apresentam uma sistematização de duas experiências realizadas em diferentes contextos da cidade de Bogotá, pelo Grupo de Pesquisa Infâncias, da Universidad Distrital Francisco José de Caldas. As narrativas das experiências são: “Participación en serio del derecho al hecho: experiencia de aprendizaje en la formación para la paz” e “Experiencias de participación y subjetivación política en el programa niñas y niños educan a los adultos (PNNEA)”. Ambas desenvolvem pedagogias alternativas para o trabalho pedagógico com crianças para a formação de uma cultura de paz, a partir da premissa de que a participação infantil é imprescindível para a construção da cidadania no marco dos processos de paz e de construção democrática em nossas sociedades.

O quinto artigo do dossiê, escrito por Roberto Marengo, da Universidad de Buenos Aires, Argentina, e intitulado “Los saberes socialmente productivos. Del análisis pedagógico a las prácticas del trabajo”, apresenta as implicações pedagógicas dos saberes socialmente produtivos no âmbito educativo. Para tanto, o autor debate algumas definições de saberes associadas, de tal maneira que se identifiquem as características próprias destes saberes e possíveis significações. Nesse sentido, o autor centra sua análise nos saberes de articulação ou de vinculação como sendo uma destas significações, a partir de referências empíricas postas em evidência nos âmbitos formativos de reflexão, em particular no desenvolvimento de processos de formalização e de institucionalização para as experiências de extensão nas Universidades, com possibilidade de ampliar-se a organismos dedicados à produção científica y tecnológica.

Como as leitoras e os leitores verão, as pedagogias alternativas emergem de diferentes âmbitos educativos, sejam aqueles que articulam a disputa hegemônica, sobretudo no horizonte reivindicativo de uma política educativa que reconheça e incorpore, em seu marco normativo, no currículo e na proposta pedagógica da escola, o conjunto de saberes vinculados às experiências socioculturais e políticas próprias da diversidade de nossas sociedades.

Seguindo por esse caminho reflexivo, no sexto artigo, intitulado “Aprendizaje y emancipación en el Ilê Ayê: un análisis a partir de la experiencia de las Diosas del Ébano”, as autoras Juliana Araújo Paula e Elisângela Chaves, e o autor José Alfredo Oliveira Debortoli, Universidade de Minas Gerais, Brasil, analisam as práticas desenvolvidas no bloco afro Ilê Aiyê, de Salvador, Bahia, com o intuito de identificar como essa instituição se constitui como um espaço educador e antirracista. Nessa direção, apresentam a trajetória do bloco, descrevem algumas de suas ações e analisam os saberes que se constroem a partir de uma delas: a eleição da chamada Deusa do Ébano. Nesse percurso, realizaram entrevistas com as Deusas – mulheres negras eleitas para representar o Ilê Aiyê - ao tempo que tomaram como referência reflexiva a noção de Movimento Negro Educador. As discussões realizadas no artigo sugerem que dita experiência constitui um espaço de criação de saberes nas práticas cotidianas de Ilê Aiyê em diferentes campos, dando lugar a um processo de transformação social em um horizonte formativo antirracista.

Conforme as leitoras e os leitores poderão constatar, as alternativas pedagógicas envolvem uma diversidade de sujeitos e experiências educativas, entre elas, aquelas relacionadas às infâncias e a formação educativa das crianças. Mónica Fernández Pais, da Universidad Nacional de La Plata – Argentina, em seu artigo “Saberes socialmente productivos, juego y educación de la niñez en la historia argentina reciente”, adentra essa reflexão, ao analisar as categorias saberes socialmente produtivos (SSP) em articulação com o significante dos jogos educativos e seu potencial para analisar a educação na primeira infância, no contexto argentino. A autora destaca o papel dos jogos no ensino e suas relações com outros saberes e valores que podem ser transmitidos por meio deles. Em seu artigo, a autora visa compreender, portanto, como, na história recente da Argentina, os jogos educativos são compreendidos nos materiais elaborados para acompanhar o ensino na educação da primeira infância.

No último artigo do dossiê, intitulado “Cartografía de saberes insurgentes: prácticas tradicionales de cuidado y sanación en el Quilombo de Mata Cavalo”, Flávia Brito e Edson Caetano, da Universidade Federal de Mato Grosso – Brasil, apresentam a Cartografia de Práticas Tradicionais de Cuidado e Cura, realizado no Quilombo da Mata Cavalo, localizado no município de Nossa Senhora do Livramento/MT. Enquanto alternativa pedagógica, esta cartografia teve por objetivo resgatar e salvaguardar conhecimentos e práticas ancestrais vinculadas a ofícios de cuidado e sanação. A partir do método da Educação Popular e das oficinas realizadas, a autora e o autor refletem sobre os saberes vinculados a tais práticas, em uma perspectiva educativa não escolar, como é o caso de uma experiência territorialmente vivenciada em um quilombo, por meio dos saberes culturais.

Este segundo número do Dossiê Alternativas Pedagógicas e Prospectiva Educativa na América Latina é enriquecido com a segunda parte da entrevista que realizamos com a Dra. Adriana Puiggrós, destacada pedagoga e pesquisadora da educação latino-americana e com quem dialogamos a partir do eixo das Alternativas pedagógicas: entre a história e a prospectiva da educação latino-americana.

Por meio de sua obra e trajetória acadêmica, Adriana Puiggrós construiu um ideário político e pedagógico que vincula reflexão e ação com profundas raízes latino-americanas, em que a história e a prospectiva da educação são colocadas diante dos grandes desafios que nossos países e povos enfrentaram e enfrentam para tornar realidade a educação pública, popular e democrática.

A segunda parte da entrevista que realizamos com a Dra. Puiggrós sintetiza parte desse ideário ético, político e pedagógico, no qual o Brasil constitui um ponto de referência central para as tarefas que temos pela frente, para que as veias abertas de Nossa América sejam nutridas pelo melhor da educação popular e pelo que os movimentos sociais têm contribuído para essa tarefa tão profunda e transcendental, à qual a destacada educadora argentina dedicou sua vida. Este é um convite para seguir o caminho de sua ampla e importante trajetória, na qual, temos certeza, as educadoras e os educadores encontrarão os rastros para que o pensar, o sentir e o agir possam dar sentido às utopias emancipatórias.



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