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A “PARÁBOLA DO (BOM) SAMARITANO” EM DUAS VERSÕES: REFLETINDO SOBRE EDIFICAÇÃO DE SENTIDOS EM TEXTOS BÍBLICOS VIA TEORIA DIALÓGICA
Muiraquitã, vol. 11, núm. 2, pp. 8-23, 2023
Universidade Federal do Acre

Dossiê

Programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagem e Identidade is licensed under CC BY-NC-ND 4.0

Recepción: 06 Agosto 2023

Aprobación: 20 Octubre 2023

Resumo: Temos como intento, neste artigo, iluminar facetas sobre como relações de sentido podem ser desencadeadas a partir do cotejamento de diferentes versões de um texto; neste caso, das Escrituras Sagradas. Para tanto, torna-se objeto de estudo uma parábola, gênero discursivo encontrado especialmente na esfera discursiva bíblica. Toma-se como referencial postulados advindos da teoria dialógica do discurso, igualmente referenciada como teoria bakhtiniana; são eles: dialogismo, entonação, palavra e estilo. Adicionalmente, apresentam-se métodos e tipos de tradução, embasamento que nos fornece elementos para conduzir este estudo. Como gesto de análise, verificouse um índice de oscilação no que tange especialmente ao estilo, já que as traduções são pautadas por distintos métodos, e também por seu público leitor projetado. Assim, sentidos potencialmente distintos podem ser reverberados para os leitores de cada versão.

Palavras-chave: Dialogismo, Análise dialógica do discurso, Parábola.

Abstract: In this article, we intend to shed light on how meaning relationships can be triggered by comparing different versions of a text; in this case, one text coming from the Holy Scriptures. Therefore, we take as object of study a parable, which is a discursive genre particularly found in the biblical discursive sphere. Postulates arising from the dialogical theory of discourse, also referred to as Bakhtinian theory, are taken as a reference; these are: dialogism, intonation, word and style. Additionally, methods and types of translation are presented, a basis that provides us with elements to conduct this study. As a gesture of analysis, we verified an oscillation index especially regarding style, as the translations scrutinized are guided by different methods, and also by their projected readership. Thus, pontentially meanings can reverberate to the readers of each version.

Keywords: Dialogism, Dialogical discourse analysis, Parable.

INTRODUÇÃO

Neste estudo, busca-se compreender como sentidos podem ser desencadeados a partir da leitura de duas versões de um texto encontrado na esfera bíblica, mais especificamente, o intitulado “Parábola do (bom) samaritano”, parte do Evangelho de Lucas (Lc 10, 25-37). Desse modo, foram selecionadas duas traduções da parábola, encontradas em exemplares da Bíblia Sagrada erigidos com propósitos distintos, porque direcionadas a auditórios igualmente distintos.

Iniciamos apresentando a Bíblia Sagrada Almeida Corrigida Fiel (doravante, ACF), divulgada em nosso país pela Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil (SBTB). Essa versão é autorreferenciada como a mais “precisa e fiel” aos textos originais em língua portuguesa, de acordo com informações encontradas em seu website (Gilmer, 2019, n.p.). Traz uma linguagem que tende ao erudito: encontra-se em seu bojo inversões sintáticas, elipses, léxico muitas vezes pouco usual; igualmente, figuras de linguagem e passagens cujo sentido somente pode ser depreendido por leitores com conhecimentos específicos sobre a esfera discursiva bíblica.

A outra versão das Escrituras Sagradas com a qual operamos é a Bíblia Sagrada com notas para jovens – Nova tradução na linguagem de hoje (NTLH). Essa é uma edição voltada para o público juvenil, apresentando uma linguagem de cunho “simplificado”, conforme encontramos em seu Prefácio: “Simplificou-se ainda mais uma série de construções gramaticais, aplicando-as ao texto de toda a Bíblia” (Bíblia Sagrada, 2019, p. 5, grifo nosso). Isso em relação à sua versão anterior, a Tradução na linguagem de hoje (TLH). Assim, procura essa versão ofertar aos jovens uma leitura adaptada, com construções sintáticas menos complexas, léxico de uso cotidiano, uso moderado de figuras de linguagem, entre outros itens que buscam facilitar sua aproximação e aderência.

Cabe pontuar que este não é um estudo sobre tradução, apesar de, na sequência, abordarmos brevemente tipos de tradução e métodos de tradução em textos bíblicos, uma vez que nos auxiliam a lançar luz sobre o tema para o qual recai nosso interesse. O foco incide sobre a parábola eleita para escrutínio assim como consta em cada versão, dada a impossibilidade de se recorrer às línguas em que originalmente foi concebida. É importante também destacar que as adjetivações referentes às versões, “precisa e fiel”, para a ACF (ver nota 1); e “simplificada”, para a NTLH (como encontrada em seu prefácio), são oriundas das próprias edições, conforme descrito acima. Nesse sentido, não são expressões de julgamento dos autores deste artigo, e por isso serão referenciados via utilização de aspas.

Como método, para dar conta de nosso intento, recorremos a postulados bakhtinianos referentes a dialogismo, entonação, palavra e gêneros do discurso (especialmente no que tange a um dos elementos que organicamente os constitui – o estilo). De modo análogo, a fim de lançar um entendimento sobre os processos de transposição entre língua fonte e língua alvo que subjazem a edificação de cada uma das versões, busca-se respaldo em Nida (1964) e suas considerações sobre os métodos de tradução de textos bíblicos (equivalência formal e equivalência dinâmica), bem como Jakobson (2003), que elenca distintas formas de tradução – interessando para nós as que pelo autor são denominadas inter e intralingual, como teremos a oportunidade de ver.

Nosso gesto de análise, portanto, incidirá em como são engendrados, no fio do discurso que tecem cada uma das versões da parábola selecionada, para além dos já mencionados conceitos bakhtinianos, traços de oralidade, atualização lexical e anacronismos.

Desta feita, passamos ao embasamento teórico que sustenta este trabalho.

DO DIALOGISMO AO ESTILO - ELENCANDO (ALGUNS) CONCEITOS BAKHTINIANOS

Na intenção de lançar um olhar mais detido na direção da materialidade do enunciado sobre a qual recai nosso interesse, torna-se necessário buscar elementos que tornem possível criar uma espécie de método, um roteiro que indique passos para uma análise que extrapole a inevitável descrição. Procuramos então estabelecer uma análise fundamentada em conceitos efetivamente encontrados na teoria que temos como princípio guiador. Desse modo, iniciamos pela categoria bakhtiniana mais difundida, e talvez a menos compreendida em sua complexidade: o dialogismo.

O dialogismo é a espinha dorsal de toda a teoria que encontramos nos postulados do chamado Círculo de Bakhtin[1], de tal modo que o trabalho intelectual desse grupo é por vezes referenciado como “teoria dialógica”. Essa noção relaciona-se com a constante troca de potência comunicativa entre sujeitos do discurso, bem como à suscetibilidade das palavras umas às outras, enquanto forças motivadas historicamente, em uma condição de tenso embate. Pode-se inferir que compreende as relações de um dado enunciado[2] com enunciados passados e enunciados que estão em estado latente, em um vir-a-ser, ou seja, uma de suas propriedades é entre esses criar elos, os quais tecem a cadeia comunicativa. Nesse sentido, o dialogismo abarca discursos que remetem a outros discursos, em uma trama discursiva sem início ou fim:

Só o Adão mítico, que chegou com sua palavra primeira ao mundo virginal ainda não precondicionado, o Adão solitário conseguiu evitar efetivamente até o fim essa orientação dialógica mútua com a palavra do outro (Bakhtin, 2015, p. 51).

Com efeito, o diálogo é considerado em sua dimensão de fenômeno vivo e concreto, em sua utilização real; entretanto, não se circunscreve unicamente à interação in praesentia. Afirma Volóchinov (2017, p. 219) que:

[...] o diálogo, no sentido estrito da palavra, é somente uma das formas de interação discursiva, apesar de ser a mais importante. No entanto, o diálogo pode ser compreendido de modo mais amplo não apenas como a comunicação direta em voz alta entre pessoas face a face, mas como qualquer comunicação discursiva, independentemente do tipo.

Fiorin (2016) atenta para o fato de que muitos, enquanto desconhecedores da teoria, possuem uma visão estreita do termo “diálogo”, o considerando enquanto entendimento e busca de concordância, o que, segundo o autor, poderia levar-nos a pensar que Bakhtin foi um grande filósofo da conciliação. No entanto, tal fato não corresponde à verdade: as relações dialógicas podem ocorrer em termos de desacordo, desavença, luta, entre tantos outros. Vemos então que as relações dialógicas são abrangentes: se dão entre sujeitos do discurso, enunciados (independentemente de sua extensão) etc.

Há de se fazer menção, antes de passarmos ao próximo conceito eleito para dar vida a este trabalho, ao necessário imbricamento existente entre dialogismo e responsividade. Isso porque, diante de qualquer manifestação de linguagem significativa, existe, por parte do interlocutor, algum tipo de posicionamento valorativo; pois é inerente ao ser humano emitir apreciações, tomar uma atitude frente ao que ouve ou vê – ainda que daí resulte o silêncio, que, por si, é também “prenhe de resposta” (Bakhtin, 2016b, p. 25).

A noção de dialogismo, como aqui descrita, nos é útil ao passo que permite antever a relação explícita entre as Bíblias Sagradas escolhidas para análise, uma vez que são versões distintas de um texto que, de fato, foi escrito e reescrito inúmeras vezes ao longo dos séculos. Prescruta-se igualmente o dialogismo que se dá em níveis texto-interlocutor, tradutor-texto e tradutor-texto-interlocutor, pois é dessa interação que têm os sentidos a possibilidade de despontarem.

Enquanto um reflexo da interação dialógica que ocorre em diversos níveis, encontramos a entonação, que é, para o Círculo, de cunho essencialmente expressivo. A ideia corrente que se tem sobre entonação é a de que ela recai sobre modulações da voz, através das quais o falante emite suas emoções. Assim, curvas melódicas específicas indicam afirmações, perguntas, dúvidas, por exemplo.

Para nós, no entanto, a entonação não se limita ao nível acústico, de oralidade, ainda que Volóchinov (2019, p. 255) faça referência a essa característica por diversas vezes, como na citação a seguir: “A entonação é o aumento ou diminuição do volume da voz, que expressa nossa relação com o objeto do enunciado (de alegria, de tristeza, de surpresa, de questionamento etc.)”.

Na teoria dialógica, figura a entonação como um modo que o falante faz uso para emitir valorações, apreciações, as quais podem se materializar tanto via voz quanto via gestos; a entonação perpassa todo ato de comunicação humana. As escolhas lexicais, bem como os modos de arranjo sintático, enfim, todos elementos linguísticos utilizados para dar corpo a um enunciado concorrem para a edificação de sentidos. Quanto à análise da parábola, torna-se possível identificar, pela própria forma como cada tradução é elaborada, as valorações que cada tradutor buscou imprimir em sua versão, via estilo.

A entonação entra em estreita relação com a noção de palavra, no interior das postulações do Círculo. Antes de entrelaçar ambas as noções, importa destacar que a palavra, no sistema linguístico, descontextualizada, é apenas uma unidade da língua, uma palavra em estado de dicionário, potencialidade, esperando para significar; fora de um projeto de dizer, as palavras não podem assumir entonações – ênfases valorativas –, perdendo assim os laços que as ligam à vida. Disso decorre que “Se uma palavra isolada é pronunciada com entonação expressiva, já não é uma palavra mas um enunciado acabado expresso por uma palavra” (Bakhtin, 2016b, p. 49).

Desse modo, as palavras, quando entonadas, assumem acentos valorativos, transformam-se em enunciados, ou seja: podem gerar responsividade, viram um fenômeno social e “ideológico par excellence” (Volóchinov, 2017, p. 98, grifo autor). Essa noção nos é cara especialmente porque a palavra é, como afirma Volóchinov (2017, p. 106, grifos do autor):

[...] o indicador mais sensível das mudanças sociais, sendo que isso ocorre lá onde essas mudanças ainda estão se formando, onde elas ainda não se constituíram em sistemas ideológicos organizados. [...] [Ela] é capaz de fixar todas as fases transitórias das mudanças sociais, por mais delicadas e passageiras que elas sejam.

É dessa maneira que pudemos cotejar as versões em pauta em suas diferenças, dado que uma delas propõe uma espécie de “simplificação” das variantes mais tradicionais das Escrituras Sagradas. Portanto, refletiria uma necessidade dos leitores menos experientes no ato de ler a Bíblia, e mesmo uma demanda mercadológica por esse tipo de linguagem (adaptada).

E, partindo desse contexto, estabelecer entre as versões das Escrituras Sagradas aqui utilizadas remete a considerações sobre os gêneros do discurso. Em sua definição clássica, Bakhtin (2016b, p. 12) sucintamente os define como “tipos relativamente estáveis de enunciados”. Dividem-se em primários e secundários; os primários seriam os gêneros mais simples, encontrados, por exemplo, em “determinados tipos de diálogo oral – de salão, íntimo, de círculo social, familiar-cotidiano, sociopolítico, filosófico etc.” (Bakhtin, 2016b, p. 20), ao passo que os secundários seriam encontrados, à guisa de ilustração, em “romances, dramas, pesquisas científicas de toda espécie, os grandes gêneros publicísticos etc.” (Bakhtin, 2016b, p. 15), também em “documentos oficiais, ordens militares, etc.” (Bakhtin, 2016b, p. 17). Estão os gêneros primários para produções ditas “naturais” e espontâneas, da vida cotidiana, enquanto os secundários para produções “construídas” ou institucionalizadas, produções mais elaboradas – como o gênero científico ou acadêmico (Charaudeau; Maingueneau, 2014).

Ainda a respeito dos gêneros secundários, de natureza mais rígida, Bakhtin (2016b, p. 15) afirma que “No processo de sua formação [os gêneros secundários] incorporam e reelaboram diversos gêneros primários, que se formaram nas condições da comunicação discursiva imediata”. Essa informação – sobre as diferenças entre gêneros primários e secundários – se faz relevante no âmbito deste estudo porque implicam diretamente em nossas conclusões, conforme poderá ser encontrado na sequência.

Faz-se necessário mencionar os três itens que compõem os gêneros: construção composicional, conteúdo temático e estilo. Na suposição de que as diferentes construções composicionais encontradas nas distintas versões da parábola são, de fato, escolhas estilísticas e que, referentemente ao conteúdo temático, não há alteração (porque ambas versam sobre uma lição moral de Jesus a seus discípulos, por meio de uma narrativa), focaremos no elemento “estilo”, que se refere a “seleção de recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua” (Bakhtin 2016b, p. 11-12). Nessa direção, o estilo se direciona para duas vias: uma que reflete e refrata valorações do sujeito que está protagonizando o ato de enunciar, isto é, a valoração social – que, como sabemos, é uma das instâncias que estão na base para que se entenda o que vem a ser a entonação – e outra, a projeção que o falante/escrevente faz relativamente ao seu auditório presumido, incluindo-se aí a relação hierárquica que se estabelece entre sujeitos do discurso. O estilo, sob essa perspectiva, é uma expressão individual socialmente orientada. É nesse sentido que Brait (2014, p. 83) afirma: “O estilo, longe de se esgotar na autenticidade de um indivíduo, inscreve-se na língua e nos seus usos historicamente situados, [e resulta] da relação que se estabelece entre uma pessoa e seu grupo social”.

Portanto, dentre os elementos que organicamente compõem os gêneros, pensamos ser o estilo, para nossos fins de análise, o mais produtivo, dado fazer-se presente a todo o momento nas versões da parábola eleitas, via eleições lexicais, proximidade da língua falada (ou não), e/ou modos de organizar a sintaxe.

MÉTODOS DE TRADUÇÃO EM TEXTOS BÍBLICOS E TIPOS DE TRADUÇÃO: CONSIDERAÇÕES

Torna-se nosso objetivo, nesta seção, indicar os métodos de tradução conforme postulados por Nida (1964), que se ocupou particularmente com traduções de textos bíblicos, e por Jakobson (2003), de acordo com tipificação estipulada em Aspectos Linguísticos da Tradução.

Nida (1964), abordando especificamente a tradução circunscrita a textos encontrados na esfera discursiva bíblica, divide os métodos tradutórios em dois módulos: equivalência formal e equivalência dinâmica. O autor afirma que a transposição da língua fonte para a língua alvo na primeira é fortemente ancorada em aspectos formais do texto, havendo aí prioridade da forma sobre o conteúdo; busca-se traduzir literalmente léxico e gramática conforme constam nos textos originais. Para a equivalência formal, a inteligibilidade não se constitui, de fato, em uma preocupação.

Entendendo que essa modalidade de tradução não atingia especialmente o seu intento maior – difundir a palavra de Deus – Nida (1964) propõe o método de tradução por equivalência dinâmica. Nesse, o princípio guiador é o sentido, ainda que aspectos mais formais do texto fonte tenham de ser deixados de lado. Para o autor,

Na tradução por equivalência dinâmica, o foco da atenção não é tão direcionado à mensagem fonte quanto o é em direção à resposta do receptor. [...] Uma forma de defini-la é descrevê-la enquanto “o equivalente natural mais próximo à mensagem na língua fonte”[3] (Nida, 1964, p. 166, tradução nossa).

Jakobson (2003, p. 64-65, grifos do autor), por seu turno, indica haver três tipos de tradução, conforme apresentados abaixo:

1) A tradução intralingual ou reformulação (rewording) consiste na interpretação dos signos verbais por meio de outros signos da mesma língua.

2) A tradução interlingual ou tradução propriamente dita consiste na interpretação dos signos verbais por meio de alguma outra língua.

3) A tradução intersemiótica ou transmutação consiste na interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não-verbais.

São de nosso interesse as duas primeiras. A tradução intralingual pode ser encontrada em textos como dicionários, paráfrases, discurso reportado, linguagem interior; a tradução interlingual, por sua vez, se dá entre línguas diferentes, na direção de uma língua fonte para uma língua alvo, ou de chegada. Por esse motivo, são relevantes para condução deste estudo, conforme descrição das obras selecionadas para análise, a seguir.

AS EDIÇÕES DA BÍBLIA SAGRADA SELECIONADAS

Apresentamos aqui uma descrição mais detida sobre as edições das Escrituras Sagradas eleitas para análise, as quais foram erigidas a partir de concepções distintas de métodos e tipos de tradução, bem como de auditório projetado. Nesse sentido, nos tornou uma questão de inquietude construir um entendimento sobre se (ou como) é possível, a partir de dois formatos de um texto, haver a emergência de sentidos potencialmente distintos, em razão de sua própria natureza, que condicionam suas razões para existir.

A Bíblia Sagrada Almeida Corrigida Fiel (ACF) é uma versão que toma por base o trabalho iniciado por João Ferreira Annes d’Almeida (1628, Portugal – 1691, Indonésia). Conforme previamente indicado, sua divulgação é de responsabilidade da Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil (SBTB, 2023, n.p.), em nosso país desde 1968, a qual tem por objetivo “publicar apenas edições fiéis da Palavra de Deus”. Assim, informa que, para levar a cabo essa tradução, “cada palavra [foi] traduzida com um mínimo de palavras de transição para garantir a fluência da leitura” (SBTB, 2023, n.p.).

Ainda sobre a ACF, afirma-se que sua tradução é a mais fiel relativamente aos textos originais, sendo “a versão mais distribuída em todo o mundo da língua portuguesa” (Gilmer, 2019, n.p.). A edição com a qual se trabalha foi publicada em 2019.

A segunda versão com que nos propomos a operar é a NTLH, de 2009. Trata-se de uma edição voltada especificamente para o público juvenil, buscando ofertar uma variante mais coloquial, condizente com a língua em uso; desse modo, contempla uma gama de leitores menos proficientes no ato de leitura, ou nas práticas devocionais em si.

Justifica-se esse subtítulo – Edição com notas para jovens – por meio da apresentação, ao longo da obra, de itens como quadros temáticos, mapas, glossário e, mais particularmente, por uma série de pequenos textos introdutórios, que objetivam possibilitar ao neófito aproveitar o máximo de sua leitura. A NTLH foi erigida sobre uma reformulação, “simplificação”, da versão anterior desse texto, a TLH. Assim, pode-se inferir que, na NTLH, há concomitantemente a presença da tradução inter e intralingual, sendo a última de especial interesse para este estudo. Isto porque, se por um lado, foi feito uso de transposições dos textos base em sua língua original para o português, houve de igual modo uma reformulação intralingual, no sentido da língua portuguesa para essa mesma língua (TLH 🡪 NTLH).

A PARÁBOLA DO (BOM) SAMARITANO

Uma vez que os gêneros do discurso foram evocados como um dos nortes para dar sustento a esta análise, cabe refletir sobre o gênero parábola. Segundo Moisés (2004), trata-se de uma narrativa curta, protagonizada por humanos, com presença explícita ou implícita de uma moral; igualmente, comunica uma lição ética por vias indiretas ou simbólicas. Por essa razão, identifica-se com o espírito da Bíblia, ainda que possa arrolar temas profanos.

Nessa direção, tomamos como corpus a “Parábola do (bom) samaritano”, encontrada no Evangelho de Lucas (Lc 10, 25-37). O interlocutor do presente artigo pode estar se indagando o porquê, dentre tantas outras, foi essa a escolhida. Explica-se: muitas vezes, nas conversas do dia a dia, nos referimos ao “bom samaritano”, a alguém que performa uma boa ação sem esperar nada em troca; o fazemos, no entanto, sem ter muita noção sobre as origens dessa expressão. Assim, da pertinência da apreensão do que agir como um bom samaritano significa, é que este recorte foi efetuado.

Para melhor entender o conteúdo da parábola, recorremos a Geoghegan e Homan (2016, p. 322), que a resumem desse modo:

Jesus conta a história de um homem judeu que, enquanto viaja por uma estrada deserta, é atacado e roubado por bandidos, e deixado para morrer. Logo, um sacerdote passa e, vendo o homem em sofrimento, atravessa para o outro lado da rua e continua seu caminho. Então um levita (outro tipo de sacerdote) encontra o homem quase morto e faz a mesma coisa. Finalmente, um samaritano, tradicionalmente um inimigo dos judeus, encontra o homem moribundo e sente compaixão por ele. E, em vez de apenas abandoná-lo à própria sorte, o samaritano enfaixa seus ferimentos, leva-o para a vila próxima e paga as despesas de alojamento e tratamento até que ele se recupere.

Desta feita, passamos à transcrição da parábola em suas duas versões. À esquerda, a versão ACF, à direita, a NTLH.



Proposta de análise
Autor(a)

Como metodologia, elegemos seis categorias de análise: entonação, palavra, estilo, traços de oralidade, atualização lexical e anacronismos, e dois recortes para cada categoria selecionada. Evidentemente, não se trata de uma análise exaustiva, visto a limitação de páginas deste artigo. Além disso, para cada pesquisador, o material a ser estudado se mostra em multifacetadas formas, e, apesar de nem todas serem de fato autorizadas, muitas interpretações podem daí surgir. Assim, algumas vezes haverá sobreposição de versículos, tal se explica pelo fato de que, nesses, encontramos mais de um dos fenômenos aqui focalizados em funcionamento.

Os itens prescrutados serão, nessa ordem: entonação, palavra, estilo, traços de oralidade, atualização lexical e anacronismos. Os três últimos, apesar de não terem sido contemplados entre as noções teóricas que estão na base do estudo, podem igualmente ser compreendidos pelas reflexões bakhtinianas.



ENTONAÇÃO
Autor(a)

O próprio título do segmento a ser lido indica tratar-se de uma “parábola”. Assim, já é criada no leitor a expectativa do que virá a seguir: uma narrativa com características conforme previamente elencadas. Na NTLH há uma adjetivação: não se trata da parábola “do samaritano”, mas “do bom samaritano”. Trata-se de uma valoração, a qual, de certa forma, direciona o ato de leitura, pois aponta, pelo próprio adjetivo, para um desfecho favorável. Refere-se, portanto, a uma apreciação – valoração, entonação – a respeito do principal personagem da parábola. Tal apreciação consta ausente na ACF.



v.28
Autor(a)

Percebe-se que, na ACF, há um certo tom de eruditismo veiculado pela forma verbal “faze”, que aparece como alternativa a “faz”; é nesse mesmo sentido que o tom pode ser aproximado ao poético. Por seu turno, na NTLH, não só as escolhas do tradutor refletem e refratam uma maior proximidade com a língua cotidiana, mas em sua própria construção já se inscreve uma exclamação que veicula diretamente a palavra de Jesus. Essa exclamação – para além de claramente definir a entonação do enunciado, em seu aspecto oral (já que serve para registro ortográfico de variadas emoções) também direciona a compreensão para uma fala mais teatral, mais vívida que na ACF. “A sua resposta está certa!” remete a uma relação falante-interlocutor do tipo professor-aluno, que, como indicado ao longo dos Evangelhos, era uma característica das pregações de Jesus.



PALAVRA
Autor(a)

Há em ambas as versões a presença de itens lexicais aparentemente equivalentes: “herdar” a vida eterna (ACF) e “conseguir” a vida eterna (NTLH). Um olhar mais detido, no entanto, indica que esses verbos entram em tensão sinonímica dado que, em herdar, encontramos uma posição de passividade: não é necessário empenhar-se com esforço para ter acesso ao bem herdado. Por outro lado, para conseguir, há a necessidade de empenho, de vontade, mesmo de abrir mão de algumas coisas, em prol de um objetivo; nesse caso, a vida eterna. Portanto, herdar e conseguir, nesse mesmo versículo, revelam sentidos levemente distintos, que podem impactar nas formas de apreensão de seu conteúdo.



v. 26
Autor(a)

Há no v. 26 várias camadas de interpretação que podem ser sobrepostas. Iniciemos por “ler a lei” (ACF) e “entender as Escrituras Sagradas” (NTLH). Primeiramente, refletiremos sobre os verbos: ler pode ser tomado em sentido estrito, como uma decodificação do texto escrito; entender, no entanto, é mais abrangente: trata-se de perceber, compreender. Adicionalmente, em “como a lês a lei” (ACF), em oposição a “como é que você entende o que elas [as Escrituras Sagradas] dizem” (NTLH), torna-se perceptível que Escrituras Sagradas dizem, ou seja, dialogam com seu interlocutor, traço ausente em “ler a lei”, em que a lei está posta, e é relegado ao leitor a ação de interpretá-la. Isso pode indicar a espécie de relação entabulada entre tradutor-leitor: na ACF, um leitor mais maduro e proficiente, habituado a práticas cristãs, que entende o que se quer dizer por “lei” (além de uma indicação de comportamento aceitável e desejável, algo como uma cláusula pétrea: é a lei, não há como dela escapar, é necessário segui-la, ou haverá sanções). Por outro lado, para o jovem leitor, há a necessidade de personificar as Escrituras, para torná-las mais próximas a ele: nesse sentido, elas “dizem”, ou seja, são antropomorfizadas.



ESTILO
Autor(a)

Temos o entendimento que todo ato de tradução engloba o fator estilístico, permeando e colorindo o enunciado desde seu interior, de sua concepção, até sua concretização. Há, no entanto, em nosso corpus, momentos em que o estilo como que grita – demanda ser ouvido, se mostra explicitamente, quer significar. É nessa seara que incluímos a questão do direcionamento de Jesus a seu ouvinte: tu (ACF) em oposição a você (NTLH). Nos parece particularmente transparente o que esses usos acarretam: com você, surge a sensação (tom) de proximidade, propiciada pela utilização desse pronome conforme configurado no momento sincrônico atual no Brasil. Assim, mesmo que se use “tu”, seguirá o verbo na conjugação na 3ª do singular (como, por exemplo, em tu “gosta”, não tu “gostas”). Tu, portanto, revela um tom de distanciamento, reverência, demarcação de hierarquia entre falantes. Nessa direção, refletindo a partir da noção de gêneros do discurso, no uso do você tende a emergir uma aproximação aos gêneros primários, mais dados à oralidade, à comunicação espontânea.



v. 27
Autor(a)

O verbo central nesse versículo é “amar”. Há apenas uma ocorrência na ACF, surgindo depois como elíptico em “e ao teu próximo” e “como a ti mesmo”. Na NTLH encontramos três ocorrências: é recuperado em “ame seu próximo” e em “ama a você mesmo”. Percebe-se a função da repetição: por meio dela, procura-se garantir que o leitor entenderá a mensagem, evita-se desse modo uma compreensão mais truncada. É como se, nessa versão, o locutor pegasse na mão do leitor e o conduzisse no enunciado de modo a garantir que a apreensão seja bem sucedida. Passemos a refletir sobre o que essa repetição pode desencadear em termos de desencadeamentos sentido. Na ACF, temos (Amarás ao Senhor teu Deus):

• de todo o teu coração,

• e de toda a tua alma,

• e de todas as tuas forças,

• e de todo o teu entendimento.

O estilo aqui se assemelha ao de uma cartilha, em que todas as condições devem ser respeitadas a fim de que se cumpra a “lei”. Assim reforçadas, significam como ordens, passos a serem normativamente seguidos. Na NTLH, esse trecho é do seguinte modo estruturado (Ame o Senhor, seu Deus):

• com todas as forças e

• com toda a mente.

“Com toda a mente” é desdobrado na ACF como “coração, alma, entendimento”. O estilo revela-se mais sucinto, resumido, objetivo: trata-se de um convite para que se ame ao Senhor, mas o traço de adoração – presente na ACF pelas reiteradas repetições – não desponta na NTLH.

A partir deste ponto, nos próximos dois itens a serem arrolados, a ênfase recairá sobre os recortes da NTLH, posto que se tratam de fenômenos ausentes na ACF, exatamente por ser a última uma tradução que se pauta pela veiculação da variante culta da nossa língua. Assim, fogem de seu escopo os traços de oralidade; relativamente ao léxico, temos na NTLH usos conforme a língua cotidiana, não tendendo ao erudito. Entretanto, no último item da análise, no que concerne a anacronismos, o foco incidirá exatamente sobre a versão ACF, pois ela fornece acesso a fatos de linguagem que, abrangentemente, não mais pertencem ao português brasileiro da maneira como encontra-se contemporaneamente estabelecido.



TRAÇOS DE ORALIDADE
Autor(a)

Na versão à direita, “acontece que” fortemente marca o traço de oralidade inerente à parábola, estabelecendo entre os acontecimentos descritos uma sequência, e consequentemente trazendo o ouvinte para a narrativa, tornando mais vívida a contação. Além disso, percebemos a substituição do pronome -o (vendo-o) pela sua forma explícita do objeto direto (quando viu o homem), esta última de alta frequência na oralidade do cotidiano. Observamos, da mesma forma, que a inversão sintática entre sujeito e predicado presente na ACF (descia pelo mesmo caminho certo sacerdote) transforma-se na ordem direta na NTLH (um sacerdote estava descendo por aquele mesmo caminho), muito mais presente nas manifestações faladas da língua.



v. 34
Autor(a)

Na versão NTLH, unindo o versículo 33 ao 34 nos deparamos com “então”. É uma palavra que implica continuidade, que liga o enunciado que está por vir ao que o antecedeu, típica da oralidade, do modo como se relata acontecimentos na linguagem falada, espontânea. Na ACF, esse papel é desempenhado apenas por “e” (E, aproximando-se...).



ATUALIZAÇÃO LEXICAL
Autor(a)

As escolhas lexicais empreendidas pelo tradutor da versão ACF podem, por vezes, causar estranhamento, por não serem de uso cotidiano. Isso ocorre em razão das peculiaridades de sua tradução e mesmo do seu auditório projetado. Para solucionar esse possível empecilho, encontramos na NTLH palavras que podem, nesse caso, funcionar como equivalentes. Desse modo, temos (à esquerda, como figuram na ACF; à direita, na NTLH):

• salteadores / ladrões (“cair na mão de salteadores” equivale a ser assaltado) • despojar / ter a roupa tirada

• espancar / bater.

Analogamente, encontramos no v. 34:




Autor(a)

É esse um procedimento similar ao que nos deparamos no item precedente. Assim, temos como possíveis equivalentes:

• aproximar-se / chegar perto

• atar as feridas / enfaixar

• deitar (nas feridas) azeite e vinho / limpar os ferimentos com azeite e vinho.

Há também o caso de “estalagem” em contraponto a “pensão”. Pensamos ser esse um exemplo de atualização lexical; na esfera do discurso bíblico, trata-se estalagem de uma casa rústica, modesta; é um vocábulo em pouco uso fora desse contexto; pensão, por sua vez, refere-se a alojamento, pousada – é um termo mais atual, que divide alguns traços semânticos com “estalagem”, mas que não os torna, necessariamente, sinônimos.



ANACRONISMOS
Autor(a)

Propomos uma análise em conjunto para os versículos 28 e 35 porque sua apreciação converge para uma constatação que parece dar conta do fenômeno de linguagem que aqui é descrito. No primeiro versículo, que já fora utilizado anteriormente quando nos referimos à entonação, traz a versão ACF a forma verbal “faze”: imperativo ausente na fala espontânea, e, parece-nos, igualmente ausente em textos escritos contemporâneos. Algo parecido ocorre no v. 35 com “to” – “eu to pagarei quando voltar” (ACF). Para uma compreensão mais clara, na NTLH optaram por explicitar o referente dos pronomes. Tais observações nos direcionam para nossas considerações finais.

PARA CONCLUIR...

Com o propósito de apresentar algumas conclusões, torna-se relevante, mais uma vez, trazer à discussão os conceitos sobre tradução previamente listados, quais sejam: os métodos de tradução por equivalência formal e equivalência dinâmica, bem como os tipos de tradução inter e intralingual.

Na descrição encontrada no website da ACF há clara referência sobre como foi conduzida sua tradução: recorreu-se ao que Nida (1964) entende como equivalência formal, isto é, procurou-se ao máximo manter as estruturas gramaticais da língua fonte, ainda que houvesse prejuízo na compreensão desse texto na língua alvo. Também pelo website tem-se a informação de que a ACF é uma tradução de caráter interlingual – foi transposta diretamente das línguas originais para o nosso idioma.

A NTLH, por outro lado, pauta-se pelo método de equivalência dinâmica, o qual preconiza ser o sentido mais relevante que a forma. E mais: é uma tradução concomitantemente inter e intralingual, dado que passou por uma reformulação já na língua alvo (o português). Assim, a versão Tradução na Linguagem de Hoje, que já era uma adaptação, revestiu-se de novos contornos e passou a ser denominada Nova Tradução na Linguagem de Hoje, versão com a qual aqui operamos.

É importante destacar que temos o entendimento de que toda tradução é, em si, um ato valorativo, e que, portanto, nunca pode ser compreendida como plenamente “neutra”, como totalmente “fiel” ao discurso original, porque transpor sentidos é uma tarefa complexa desde o ponto de vista das diferenças entre as línguas, em razão dos usos e das próprias percepções de mundo que cada língua constrói. Entretanto, pelas características que tornam peculiares cada tradução, pode-se pensar que, na NTLH, há uma maior “interferência” do tradutor quando da produção de sentidos, já que, para “adaptar” a linguagem, é necessário fazer ajustes, concessões, explicações, reformulações; tudo isso contribui para que se pense que sua subjetividade inevitavelmente transpareça no texto traduzido. No outro polo há a ACF, em que essa presença, “intromissão” do tradutor é suavizada, porque importa aqui mais a estrutura, a rigidez, que a mensagem.

Assim, pensamos que as principais diferenças entre as duas versões ocorrem em nível de estilo, o qual é erigido especialmente em razão do seu auditório projetado; enquanto a ACF prima por uma tradução que busca manter o caráter de formalidade do texto original, esse traço deixa de ser contemplado na NTLH, em nome da inteligibilidade. É desse modo que há na NTLH a tendência a gêneros primários escritos, em razão de seu direcionamento a um público possivelmente menos proficiente em leitura bem como na própria prática devocional.

Afirma Bakhtin (2016a, p. 130, grifo nosso) que:

Quanto mais convencional e tradicional o estilo, menos ele considera o ouvinte vivo, concreto e atual, e mais monológico ele é. [...] O recurso aos estilos da conversação e a ampliação do campo da linguagem literária estão intimamente ligados ao recurso dialógico; ocorre – e isso é muito importante – uma ampliação da concepção de ouvinte-contemporâneo, de sua democratização.

É dessa maneira que entendemos as versões da obra em pauta: a versão ACF, enquanto possuidora de um estilo “convencional e tradicional”, e que por esse motivo pode ser considerada de difícil acesso para leitores inexperientes, tanto em termos de religiosidade quanto no próprio ato de ler, desencorajando a aproximação a esse texto; e por sua vez, a versão NTLH, que objetiva contemplar o “ouvinte vivo, concreto e atual”, em um esforço para incluir em seu bojo um traço mais “dialógico”, propalado por um estilo que concorda com o português dos dias de hoje.

Desse modo, podemos pensar que, na contramão de uma versão monologizante, há o esforço e intuito, por parte dos tradutores da NTLH, de angariar uma nova geração de devotos, multiplicadores da palavra sagrada, a partir da edificação de um texto cujo objetivo último é a “democratização” do conteúdo da Bíblia.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, Mikhail. O discurso no romance. In: BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance I: a estilística. Tradução: Paulo Bezerra. São Paulo: Ed. 34, 2015. p. 19-241.

BAKHTIN, Mikhail. Diálogo II. In: BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. Tradução: Paulo Bezerra. São Paulo: Ed. 34, 2016a. p. 125-150.

BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. Tradução: Paulo Bezerra. São Paulo: Ed. 34, 2016b. p. 11-69.

BÍBLIA SAGRADA. Almeida Corrigida Fiel. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2019.

BÍBLIA SAGRADA. Edição com notas para jovens. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

BRAIT, Beth. Estilo. In: BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: conceitos-chave. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2014. p. 79-102.

CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Gêneros de discurso. In: CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de análise do discurso. Tradução: Fabiana Komesu. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2014. p. 249-251.

FIORIN, José Luis. Introdução ao pensamento de Bakhtin. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2016.

GILMER, Harold Ralph. Você sabe por quê as pessoas amam a Bíblia Fiel? SBTB, 30 out. 2019. Disponível em: https://biblias.com.br/artigo/voce-sabe-por-que-as-pessoas-amam-a-biblia-fielr. Acesso em: 3 ago. 2023.

GEOGHEGAN, Jeffrey; HOMAN, Michael. A Bíblia para leigos. Tradução: Samantha Batista. Rio de Janeiro: Alta Books, 2016.

JAKOBSON, Roman. Aspectos linguísticos da tradução. In: JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação. Tradução: Izidoro Bilkstein; José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 2003. p. 63-72.

MOISÉS, Massaud. Parábola. In: MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. Cultrix: São Paulo, 2004. p. 337.

NIDA, Eugene A. Toward a science of translation. Leiden: E. J. Brill, 1964.

SOCIEDADE BÍBLICA TRINITARIANA DO BRASIL (SBTB). Trinitarian Bible Society – desde 1831. 2023. Disponível em: https://biblias.com.br/sobre. Acesso em: 6 fev. 2023.

VOLÓCHINOV, Valentin. Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução: Sheila Grillo; Ekaternia V. Américo. São Paulo: Ed, 34, 2017.

VOLÓCHINOV, Valentin. Estilística do discurso literário I: O que é linguagem/língua? In: VOLÓCHINOV, Valentin. A palavra na vida e a palavra na poesia: ensaios, artigos, resenhas e poemas. Tradução: Sheila Grillo; Ekaternia V. Américo. São Paulo: Ed. 34, 2019. p. 234-265.

Notas

[1] O chamado “Círculo de Bakhtin” consistia em um grupo interdisciplinar de intelectuais que se encontrava regularmente, na então União Soviética, entre os anos de 1919 e 1929 do século passado. Concerne a nós, neste momento, a produção de Mikhail Bakhtin e de Valentin Volóchinov, por serem esses pensadores cujo maior interesse incidia sobre questões relacionadas à literatura, língua e linguagem.
[2] Entendemos que o conceito de enunciado encontra-se em estreita relação com o dialogismo, de modo que a separação entre tais noções somente pode se dar em nível de abstração, para que a explicação se torne mais didática. Ainda assim, trazemos uma citação de Volóchinov (2017, p. 184), que, em Marxismo e Filosofia da Linguagem [1929], desse modo o define: “Qualquer enunciado [...] é um elemento indissolúvel da comunicação discursiva. Todo enunciado [...] responde a algo e orienta-se para uma resposta. Ele é apenas um elo na cadeia ininterrupta de discursos verbais. Todo monumento continua a obra dos antecessores, polemiza com eles, espera por uma compreensão ativa e responsiva, antecipando-a etc.”.
[3] Do original: “In dynamic equivalence translation the focus of attention is directed not so much at the source message, as toward the receptor response. [...] One way of defining (it) is to describe it as “the closest natural equivalent to the source-language message”.


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