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REFLEXÕES SOBRE O CRONOTOPO DO CAS NATAL
Muiraquitã, vol. 11, núm. 2, pp. 163-184, 2023
Universidade Federal do Acre

Dossiê

Programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagem e Identidade is licensed under CC BY-NC-ND 4.0

Recepción: 31 Agosto 2023

Aprobación: 03 Diciembre 2023

DOI: https://doi.org/10.29327/266889.11.2-10

Resumo: Neste artigo objetivamos verificar a percepção de surdos e ouvintes do Centro Estadual de Capacitação de Educadores e de Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS Natal) em relação à educação para surdos oferecida pela instituição. A perspectiva de linguagem do Círculo Bakhtiniano embasa a discussão aqui proposta, especialmente no que se refere ao cronotopo, ao compreender que as relações dialógicas acontecem em um tempo e espaço determinados. Filiamo-nos ao olhar investigativo da Linguística Aplicada, por versar sobre a linguagem como prática social. A pesquisa é de cunho qualitativo-interpretativista, sendo os dados de análise obtidos a partir da dissertação de Mestrado de Lima (2022). Como resultados, depreendemos que há uma forte ligação axiológica emocional dos participantes com a instituição, possibilitando reconhecer que as relações dialógicas efetivadas em um ambiente propulsor de aprendizagens refletem visões sobre ele e fomenta questões concernentes à educação dos surdos.

Palavras-chave: Cronotopo, CAS Natal, Libras, Surdos e Ouvintes.

Abstract: This article aims to verify the perception of deaf and hearing people at the State Training Centre for Educators and Care for People with Deafness (CAS Natal) about the deaf education offered by the institution. The Bakhtin Circle perspective on language underpins the discussion proposed here, especially about the chronotope, understanding that dialogical relations occur in a specific time and space. We are affiliated with the investigative approach of Applied Linguistics, as it deals with language as a social practice. The research is qualitative-interpretative, and the data analyzed was obtained from Lima (2022) Master’s dissertation. The results show a solid emotional axiological connection between the participants and the institution, making it possible to recognize that the dialogical relationships that take place in an environment that fosters learning reflect visions about it and promote issues concerning the education of deaf people.

Keywords: Chronotope, CAS Natal, Libras, Deaf and hearing people.

INTRODUÇÃO

Aqui o tempo está mergulhado na terra, semeado nela e nela amadurece. MIKHAIL BAKHTIN

Neste artigo, tomamos a perspectiva bakhtiniana sobre o cronotopo como fundamentação basilar das discussões que teceremos a respeito do Centro Estadual de Capacitação de Educadores e de Atendimento às Pessoas com Surdez – doravante CAS Natal, um dos centros responsáveis pela educação dos surdos no contexto brasileiro. Nesses ambientes educacionais, que se associam à educação especial na perspectiva inclusiva, a Língua Brasileira de Sinais – Libras – é a língua de instrução que orienta toda a dinâmica pedagógica da instituição.

Referimo-nos a um cronotopo singular do CAS Natal que se interliga a outros cronotopos, como o da escola comum e o da casa. Essa concatenação se dá mediante experiências discursivas compartilhadas por surdos e ouvintes, reverberando em posicionamentos de sujeitos sociais que se filiam a questões que envolvem o surdo e, especialmente, sua educação. Assim, este estudo tem como base os ensinamentos de Bakhtin (2018), no tocante à percepção de que os cronotopos se tocam, se cruzam, por meio de distintas experiências dialógicas que neles são historicizadas.

A partir dos preceitos teóricos, este artigo propõe uma reflexão ancorada nos estudos sobre cronotopo, em Bakhtin (2018) e estudiosos do Círculo de Bakhtin[1](Amorim, 2006; Casado Alves, 2012; Faraco, 2009; Machado, 2010), assim como nos Estudos Surdos (Ferreira Brito, 1995; Quadros; Karnopp, 2004; Klein; Lunardi, 2006; Perlin, 1998). Além disso, esta é uma pesquisa que congrega o caráter da área da Linguística Aplicada (Fabrício, 2017; Moita Lopes, 2006; 2021; Moita Lopes; Fabrício, 2019), à qual nos filiamos, por compartilhar a compreensão de linguagem como prática discursiva.

Considerando o exposto, o objetivo deste artigo é verificar a percepção de surdos e ouvintes do CAS Natal em relação à educação de surdos ofertada pela instituição. Para isso, o trabalho foi organizado em cinco seções, sendo a primeira a introdução; a segunda, o percurso metodológico; a terceira, a fundamentação teórica, contemplando a concepção sobre cronotopo e o surgimento dos CAS no Brasil; a quarta, a discussão, lançando luz ao cronotopo do CAS Natal a partir das análises dos enunciados dos participantes; e a quinta, as considerações finais.

PERCURSO METODOLÓGICO

Nesta seção, delimitamos o percurso metodológico deste estudo, que se insere na área INdisciplinar da Linguística Aplicada – LA (Moita Lopes, 2006; Fabrício, 2017), a qual tem por compromisso “criar inteligibilidade sobre problemas sociais em que a linguagem tem um papel central” (Moita Lopes, 2006, p. 14). Fundamentamo-nos na LA pois, tendo a linguagem como cerne da discussão, problematizamos questões presentes em enunciados de sujeitos expressivos e falantes (Bakhtin, 2011; 2017), conforme exposto nas análises norteadoras desta pesquisa.

Afiliamo-nos à LA, ainda, pois, observando as vozes do sul (Sousa Santos, 2019; 2017), especialmente ao dar visibilidade às vozes daqueles que se encontram à margem do interesse social e acadêmico (Kleiman, 2013) — isto é, de sujeitos historicamente marginalizados, como os surdos, seus familiares e professores —, ouvimos seus enunciados a partir da premissa de que “somos seres construídos social ou performativamente por meio da linguagem” (Moita Lopes; Fabrício, 2019, p. 372). Dessa forma, interessa-nos o estudo da linguagem como ação em uma prática social (Moita Lopes, 2021), em direção a qual inclinamos nosso olhar investigativo para as práticas discursivas de sujeitos historicamente situados.

O artigo é um desdobramento da pesquisa de mestrado de Lima (2022). Para atender à discussão aqui proposta, fizemos recortes de enunciados, nos quais os participantes fazem referência ao cronotopo em discussão. O locus de estudo é o Centro Estadual de Capacitação de Educadores e de Atendimento às Pessoas com Surdez – CAS Natal.

A pesquisa configura-se como de natureza qualitativo-interpretativista (Laville; Dionne, 1999), que enaltece a luz lançada sobre a subjetividade dos sujeitos. Para o estudo, elencamos o seguinte critério para a seleção dos participantes: sujeitos que aprenderam ou estão aprendendo Libras na instituição, que fossem ligados aos seguintes núcleos de atividades do Centro: Atendimento Educacional Especializado, Convivência Familiar e Capacitação em Libras e Gestão.

A construção dos dados se deu no período de outubro de 2021 a janeiro de 2022 por meio de entrevistas[2] semiestruturadas, que aconteceram de forma individual e virtualmente, via Google Meet, uma vez que vivenciávamos a pandemia da COVID-19. Com os ouvintes, as entrevistas se deram de forma oral; com os surdos, foi realizada em Libras. A pesquisa contou com onze participantes. No entanto, participaram deste estudo nove participantes, quais sejam: três surdos – Brilho do Luar, Luar e Estrela Dourada – e seis ouvintes – Iluminista, Alvorada, Estrela Brilhante, Luz do Luar, Aurora Boreal e Noiva do Sol. Os nomes dos participantes da pesquisa foram inspirados na discussão de Bakhtin (2015) sobre refração e reflexão, por isso todos eles envolvem a metáfora da luz. Na Figura 1, discorremos sucintamente sobre cada um deles.


Figura 1
Participantes da pesquisa
Fonte: organizado pela pesquisadora


Figura 1
Participantes da pesquisa
Fonte: organizado pela pesquisadora

Após a realização das entrevistas, fizemos as transcrições e seguimos em direção à análise. Esse processo foi orientado pela perspectiva metodológica da perspectiva bakhtiniana sobre o cotejo (Bakhtin, 2011), pois analisamos os enunciados em relação dialógica, tanto entre eles como com outras vozes sociais.

PERSPECTIVA BAKHTINIANA SOBRE O CRONOTOPO

A concepção do Círculo de Bakhtin acerca das relações dialógicas está intimamente relacionada à compreensão de que elas se efetivam em ambientes sociais distintamente determinados no tempo e no espaço, em que incontáveis vozes sociais se posicionam ideologicamente. Vale salientar que não nos referimos a um tempo de cunho cronológico, como o passar das horas, dos meses ou dos anos, sem referência a um espaço físico específico ou localização geográfica. Aqui, referimo-nos ao “[...] tempo e espaço que, por não existirem em si mesmos, como entidades absolutas, são transformações semióticas de vivências em sistemas culturais produtores de sentido” (Machado, 2010, p. 209).

Em outras palavras, partimos do entendimento de cronotopo enquanto produtor de sentidos às relações inscritas dialogicamente, pois, como esclarecido por Bakhtin (2018, p. 236), “[...] qualquer entrada no campo dos sentidos só se concretiza pela porta dos cronotopos”. Isso significa que, independentemente da valoração discursiva, ela acontece em um viés dialógico, que se torna possível somente com a inter-relação dos diferentes cronotopos, seja entre os diversos gêneros discursivos, seja entre as variadas manifestações da vida.

A compreensão sobre o cronotopo se origina a partir de estudos científicos da área da física, especificamente nos outorgados por Albert Einstein, com a conceituação acerca da relatividade, visto que tais estudos revelam conhecimentos fundamentais sobre o tempo e o espaço. Foi com base nesses fundamentos científicos que Mikhail Bakhtin, no interior de seu desenvolvimento intelectual, artisticamente reverberado, dedicou-se à metáfora conceitual (Machado, 2011) dos cronotopos nos estudos literários, compreendendo que cronos remete a tempo, e topo, a espaço.

Destacamos que é de forma metafórica que ele trabalha com esse conceito, e não literal, como exposto na física, pois seu interesse é exprimir a indissociabilidade de tempo e espaço, compreendendo aquele como a quarta dimensão deste (Bakhtin, 2018). Sendo assim, o “[...] cronotopo (que significa “tempo-espaço”) a interligação essencial das relações de espaço e tempo como foram artisticamente assimiladas na literatura” (Bakhtin, 2018, p. 11, grifo do autor).

O autor ressalta, ainda, que o tempo é o fio condutor do cronotopo. Assim, é a diluição do tempo no espaço que permeia toda a construção de sentido das experiências vividas em determinado momento histórico, de modo que cada sujeito o preenche axiologicamente de maneiras distintas, de acordo com as vozes sociais com que se relaciona, as quais se apoiam mutuamente, se iluminam, se contrapõe parcial ou totalmente, se diluem em outras, se parodiam, se arremedam, polemizam velada ou explicitamente e assim por diante (Faraco, 2009).

É nessa atmosfera que se revelam o significado e a importância das coisas, preenchendo-as de forma valorativa. Do mesmo modo, essa indissociabilidade se dá mediante o fato de que “[...] o espaço é a dimensão que permite fixar; inscrever o movimento ou, dito de outra forma, a dimensão em que o movimento pode se escrever e deixar suas marcas” (Amorim, 2006, p. 100-101). E estas, por sua vez, impregnam-se no tempo, que flui ininterruptamente, construindo um processo de uma festa de renovação no grande tempo (Bakhtin, 2011).

Além disso, a fluidez cronotópica constitui, entre as diferentes possibilidades, a existência de inesgotáveis cronotopos; neles, coexiste uma quantidade ilimitada de pequenos cronotopos, que “[...] podem incorporar-se uns aos outros, coexistir, entrelaçar-se, perpetuar-se, confrontar-se ou encontrar-se em inter-relações mais complexas” (Bakhtin, 2018, p. 229). Esse processo de coexistência entre os cronotopos, inevitavelmente, infere nas relações dialógicas entre os sujeitos, pois as várias vozes se cruzam, e distintos posicionamentos fomentam embates dialógicos.

Tais embates acontecem na vida e nas tramas literárias, por isso Bakhtin, como artista da palavra, se dedicou ao estudo do romance literário, ao entendê-lo como recurso basilar para desenvolver suas pesquisas sobre a linguagem. A justificativa para tal interesse está associada à compreensão de que esse gênero remete às experiências vivenciadas na própria vida dos sujeitos, em uma perspectiva socioideológica, na qual diferentes tramas vão influenciando o fluxo dos enredos que envolvem os personagens, o que se dá a partir de distintos cronotopos.

Na perspectiva de linguagem de Bakhtin e do Círculo, entendemos que, por estar conectado à vida, “[...] o conceito de cronotopo trata de uma produção da história. Designa um lugar coletivo, espécie de matriz espaço-temporal de onde as várias histórias se contam ou se escrevem” (Amorim, 2006 p. 105). Portanto, nos cronotopos, as histórias se fundem e se adensam, ganhando significados, à medida que se tornam importantes símbolos na vida das pessoas, que estão envolvidas pela materialidade das mudanças que caracteristicamente implicam os encontros discursivos.

Em vista disso, para compreender a indissociabilidade do tempo e do espaço, Bakhtin (2018) busca entender no romance literário os diferentes cronotopos, os quais se alinham às tomadas de decisão e reviravoltas (ou não) das tramas dos personagens. Assim, vemos que o cronotopo, na compreensão bakhtiniana, assume um caráter de tempo e espaço em que se dão práticas discursivas de um modo mais ou menos ritualizado, não idêntico, considerando que os eventos são únicos. No entanto seguem uma dinâmica parecida.

Por esse motivo, nos romances, o autor identifica diferentes cronotopos, como o cronotopo da estrada, do encontro, da soleira, do limiar, da praça pública, de Goethe, folclórico. Ele ressalta que os cronotopos coexistem simultaneamente de forma inesgotável, complexa e variada, pois somos sujeitos que se relacionam em diversos âmbitos sociais.

Essa renovação dialógica dos cronotopos acontece por estar intimamente relacionada à constante atuação do homem no tempo e no espaço que ocupa (Silva; Alves, 2021), pois, a partir da materialidade de suas práticas discursivas, os sujeitos se revelam, com o seu agir no mundo, retratando sua unicidade. Dessa forma, a unicidade dos sujeitos é, inevitavelmente, exteriorizada no tempo e no espaço, que se preenche quando fazemos escolhas, tomamos decisões, avaliamos e, consequentemente, nos posicionamos. Isso acontece porque “[...] o mundo interior é uma arena povoada de vozes sociais em suas múltiplas relações de consonâncias e dissonâncias; e em permanente movimento, já que o falante está sempre imerso na interação social” (Faraco, 1998, p. 167, grifo do autor).

Sendo assim, de forma ininterrupta, vivenciamos os reflexos dos posicionamentos tomados em um determinado cronotopo, que se assemelham ao cronotopo do limiar, pois podem decorrer da crise e da mudança de vida. Isto é, o sujeito constrói temporalidades e espacialidades e se constrói constitutivamente em relação a elas e por elas (Casado Alves, 2012), visto que, em outros cronotopos, outras vozes estão circulando e, consequentemente, outros sentidos vão sendo construídos.

Esse encontro entre diferentes vozes, inevitavelmente, cria embates dialógicos, os quais são, reconhecidamente, ideológicos. Os cronotopos assumem um caráter ideológico, pois carregam como eixo norteador o homem sócio-histórico, que, em suas relações discursivas, preenche o tempo e espaço que ocupa com as suas visões de mundo axiologicamente saturadas. Essa configuração torna o cronotopo um campo ideológico por excelência.

Destarte, essa constante atuação do homem permite-nos constatar que o conceito de cronotopo não está associado a qualquer visão simplista de plano de fundo ou de contexto (Silva; Alves, 2021), pois, de acordo com a orientação de Bakhtin (2018), o sujeito está situado no tempo-espaço historicizado, atuando discursivamente nele, por meio de diversas perspectivas que são constantemente valoradas em seus posicionamentos.

Dessa forma, o cronotopo é dialógico por excelência, por isso se distingue de plano de fundo ou de contexto; Bakhtin (2018) o compreende como definidor do sujeito, pois contempla seu agir historicamente situado. Cada cronotopo carrega o caráter do irrepetível, o que o torna singular e, ao mesmo tempo, interliga-o dialogicamente com outros inúmeros cronotopos. Por essa razão, interpretamos que o espaço-tempo bakhtiniano, por sua valoração axiológica, representa diferentes visões de mundo. Isso porque é nele que os sujeitos tecem relações dialógicas, tomam decisões e, consequentemente, posicionam-se ideologicamente.

Diante disso, nosso interesse, aqui, se volta às manifestações discursivas evocadas a respeito do CAS Natal, como um espaço-tempo não evocado no campo da física, mas dimensionado semioticamente (Machado, 2010), pois as diferentes relações discursivas constroem conhecimento no e sobre o mundo. Nesse sentido, o cronotopo carrega uma pluralidade de visões de mundo, expressas por meio da linguagem, que se desdobram de forma complexa, por isso Bakhtin (2018) reconhece a existência de diferentes cronotopos e distingue a unicidade do sujeito em cada um deles.

Nessa perspectiva, compreendemos que o que distingue o contexto do cronotopo, é o fato de que o espaço-tempo é saturado de valor axiológico, o qual está imbricado com a constituição de um sujeito singular. Esse sujeito, por sua vez, ocupa o cronotopo com sua unicidade, de forma irrepetível e posicionada ideologicamente mediante as interações discursivas construídas com diferentes visões de mundo.

Dessa forma, na seção subsequente, com o intuito de possibilitar uma compreensão mais adensada sobre a que espaço-tempo nos referimos, iniciamos com uma breve contextualização sobre a criação desse tipo de ambiente educacional voltado à educação de surdos no Brasil.

CRONOTOPO DOS CAS NO BRASIL

A educação de surdos no Brasil é datada desde o período do Império, em meados do século XIX, por iniciativa do surdo Francês Eduard Huet, com a criação do Colégio Nacional para Surdos-Mudos, atualmente reconhecido como Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES. O trabalho inicialmente proposto por Huet versava, especialmente, sobre a leitura de lábios, o que diverge significativamente do que é oferecido atualmente na referida instituição. Nos dias de hoje, prioriza-se a disseminação da Libras, o que denota que, no decorrer dos anos, alcançamos avanços na perspectiva da educação desses sujeitos, especialmente no que concerne ao ensino de sua língua.

Contudo, há incisivas insurgências concernentes à educação de surdos na contemporaneidade, sendo os caminhos para suas conquistas pleiteados pelas comunidades surdas brasileiras, resultando em avanços que acontecem gradativamente. Nesse percurso, vale mencionar o quão valiosas são as contribuições da legislação, destacando-se como precursores o Decreto n.º 5.626, de 2005 e a Lei de Libras, de 2022, que asseguraram diferentes conquistas às pessoas surdas brasileiras.

Essas leis representam marcos propulsores para o desenvolvimento social e educacional dos surdos no país. Entre as conquistas datadas desde o início do século XXI, sobressai-se o projeto do Ministério da Educação – MEC, em parceria com as secretarias municipais e estaduais de educação de todos os estados da federação e do Distrito Federal, que versa sobre a criação de Centros de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez - CAS, em todo território nacional.

O referido projeto é uma importante referência que visa se alinhar às prerrogativas determinadas por lei. Como exposto por Soares (2016, p. 52), “[...] o CAS foi criado para cumprir o estabelecido na Lei 10.098/2000, na Lei 10.072/2001 e na Resolução nº 02/2001 que institui a Lei de Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica”. Além disso,

O CAS foi idealizado, em virtude da experiência bem-sucedida do CAP-DV-Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual, pelo MEC, que garantia o atendimento às pessoas cegas e às de visão subnormal nos anos de 1998 a 2000, motivando assim a implantação do mesmo modelo destinado às pessoas surdas e Deficientes Auditivas, denominando-o Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez – CAS (Vilhalva; Arruda; Albres, 2014, p. 21).

Essas autoras trazem à cena a relevância da inter-relação entre as diferentes necessidades educacionais dos estudantes, independentemente de sua condição de aprendizagem, visto que um projeto bem-sucedido ligado à educação de cegos trouxe novas perspectivas à educação de surdos. A adesão ao projeto, por parte dos estados e municípios, é facultativa. Porém, uma experiência exitosa sempre conclama a agregação de novos parceiros e, assim, “[...] ano a ano, secretarias de educação foram aderindo ao projeto e mais CAS foram sendo criados” (Albres, 2016, p. 77). A adesão ao projeto foi maciça, possibilitando a criação de CAS por todo o Brasil.

No Rio Grande do Norte – RN, a adesão ao projeto ficou a cargo da Secretaria de Estado da Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer – SEEC, sendo criados dois CAS no Estado. O primeiro, em 2005, está localizado na capital potiguar e, por isso, é reconhecido como CAS Natal; e o segundo, no ano seguinte (2006), está localizado no município de Mossoró.

Em sua gênese comum, conforme exposto no site[4] do INES, os CAS têm como objetivo promover a educação bilíngue, por meio da formação continuada para profissionais que atuam no Atendimento Educacional Especializado – AEE – e na elaboração de material didático disponibilizados aos estudantes surdos e com deficiência auditiva. De antemão, ressaltamos que os CAS funcionam interligados às escolas comuns, ou seja, ofertam o AEE (Damázio, 2007), o que os caracteriza como complementares ao ambiente escolar, não como espaços substitutivos desse local.

Soares (2016, p. 40) aponta que o projeto inicial apresentava a organização dos serviços dos CAS em quatro núcleos: “(i) o de capacitação dos profissionais da educação; (ii) o de apoio didático pedagógico; (iii) o de tecnologias e de adaptação de material didático; e, (iv) o de convivência”. Por fim, a autora rememora que a aplicação e manutenção desses serviços ficou sob a incumbência de cada Estado, ou seja, cada CAS, em conformidade com as secretarias de educação à qual está vinculado, dispõe de autonomia para estruturar os serviços ofertados, em consonância com as necessidades locais.

CRONOTOPO DO CAS NATAL

O CAS Natal, palco deste estudo, abrange diferentes públicos, quais sejam: alunos surdos vinculados ao AEE, familiares desses alunos e profissionais da educação pública municipal e estadual e de outros órgãos ligados ao governo do Estado. Por esse motivo, assume uma demanda de organização pedagógica diferenciada, de forma a possibilitar o atendimento às especificidades de cada um desses grupos, fundamentando sua missão com a educação de surdos do RN.

O referido Centro destaca em seu Projeto Político Pedagógico – PPP – que tem como objetivo promover a educação inclusiva, ofertando o AEE e a capacitação continuada em Libras para profissionais da educação, familiares de surdos atendidos no AEE e servidores da rede estadual em geral. Para tanto, o trabalho pedagógico está subdivido em cinco núcleos, a saber: AEE; Capacitação em Libras; Convivência Familiar; Pesquisa e Produção de Materiais, conforme apresentado na figura 2.


Figura 2
Núcleos do CAS Natal
Fonte: organizado pela pesquisadora

Como podemos visualizar, o trabalho realizado no CAS Natal está interligado por todos os núcleos, fazendo perceber que o cerne de sua proposta pedagógica é atender à singularidade linguística da pessoa surda em diferentes âmbitos sociais, especialmente no que se refere à educação.

Além disso, os CAS são instituições educacionais voltadas ao público surdo, para as quais buscamos olhar não simplesmente como algo definido no espaço, localizado geograficamente, mas como instância espaço-temporal valorada, marcada pelas relações dialógicas que fluem nas práticas discursivas. Por essa razão, dedicamo-nos às construções discursivas de sujeitos que vivenciam experiências singulares nesse cronotopo, pois, assim, lançamos luz à importância da educação de surdos na contemporaneidade. Compreendemos que tal importância consiste na disseminação da Libras e na valorização da pessoa surda, tanto pela diversidade de sujeitos que nele aprendem essa língua quanto pelo fato de o surdo ser o cerne de sua atuação pedagógica.

Tendo em vista a compreensão bakhtiniana sobre cronotopo, entendemos que esse se refere a um lugar onde “[...] o tempo se adensa e ganha corporeidade, torna-se artisticamente visível; o espaço se intensifica, incorpora-se ao movimento do tempo, do enredo e da história” (Bakhtin, 2018, p. 12). Por conseguinte, tecemos considerações a respeito do CAS Natal por meio de enunciados de sujeitos que nele vivenciam experiências dialógicas singulares, e, por consequência, consideramos que eles o fitam enquanto cronotopo do olhar amoroso[5] de surdos e ouvintes. Vejamos abaixo, a figura 3.


Figura 3
Fachada de entrada do CAS Natal
Fonte: arquivos da pesquisadora.

Ao observar a figura acima, visualizamos, na lateral direita da imagem, que o muro está pintado de azul, em tonalidade escura, e com desenhos de contornos de mãos – em preto, que representam as configurações de mãos das línguas de sinais (Ferreira-Brito, 1995; Quadros; Karnopp, 2004). Isso significa que, desde a fachada de entrada do prédio, identificamos a presença da experiência visual[6], enquanto referência que remete à singularidade linguística dos surdos. Compreendemos que “[...]todo o ser espaçotemporal (e não só o sígnico) sempre significa mais do que é, ou seja, não tem apenas existência, mas também sentido” (Bakhtin, 2018, p. 246).

Nessa fachada, repleta de configurações de mãos, que simbolizam a experiência visual do surdo, visualizamos o que foi defendido por Estrela Dourada, ao enunciar “a Libras [como] a língua principal e não secundária como ocorre nas escolas regulares”, o que se mostra importante devido à valoração da experiência visual do surdo, visto que “[...] a linguagem visual funda-se sobre uma matriz indicial que comporta uma relação icônica ou de semelhança com os referentes do mundo” (Grillo, 2012, p. 241). Conforme exposto no Quadro 1.


Quadro 1
Enunciado de Estrela Dourada
Fonte: dados da pesquisa

Percebemos o quanto é impactante a percepção que Estrela Dourada tem desse ambiente, que se difere de outros espaços educacionais, por caracterizar, na sua dinâmica pedagógica, o foco na visão – importante singularidade da pessoa surda, que é atravessada pela experiência visual. Além disso, refere-se a um posicionamento cuja amplitude é carregada de significados: por vir de uma pessoa surda e por refletir, artisticamente, seu olhar sobre um espaço-tempo determinado, pelo qual Estrela Dourada parece ter muita estima.

Outrossim, percebemos que Estrela Dourada indica o quanto a experiência visual caracteriza as histórias dos surdos que se cruzam nesse espaço-tempo e, concomitantemente, singulariza-o frente a outras instituições educacionais frequentadas pelos surdos na Educação Básica. A título de exemplo, nas escolas inclusivas, normalmente, o destaque se dá para a Língua Portuguesa, e a Libras, quando presente, é secundária.

Portanto, é por meio da experiência visual que os surdos, enquanto protagonistas, narram as diversas histórias surdas que fluem no cronotopo do CAS Natal, corroboram com o que é esclarecido por Bakhtin (2018). Para o autor, o cronotopo é concebido pelas relações dialógicas que nele são efetivadas, e isso independe da modalidade em que a comunicação acontece em modalidade oral-auditiva ou espaço-visual (Quadros, 2019).

Essa compreensão, de que no CAS Natal o foco é a visão, é reafirmada por outros participantes desta pesquisa. Assim, há uma outra importante particularidade concernente aos serviços ofertados no Centro, que diz respeito à sua responsabilidade de contemplar todos aqueles que estão ligados ao surdo, como mostra o Quadro 2.


Quadro 2
Enunciado de Noiva do Sol
Fonte: dados da pesquisa

Luz do Luar nos apresenta o Centro como um lugar onde diferentes sujeitos se encontram e tecem interações discursivas, culminando em experiências dialógicas singulares. Por isso, o CAS Natal também se assemelha ao cronotopo do encontro, que “[...] se distingue por um alto grau de intensidade axiológica-emocional” (Bakhtin, 2018, p. 218), por estar intrinsecamente incutido por valorações afetivas que são compartilhadas por seus integrantes. Essas fluem no tempo, adentram outros cronotopos, pois atuam, efetivamente, na vida dos sujeitos, oportunizando, inclusive, diferentes inter-relações com outras visões de mundo, especialmente no tocante à surdez, corroborando o entendimento de que

“[...] aqui se consegue uma penetração no tempo histórico profunda e, de certo ponto de vista, única, e além disso apenas local e limitada. Aqui as séries individuais das vidas se apresentam como os baixos-relevos da poderosa base que abrange toda a vida comum. Os indivíduos são os representantes do conjunto social, os acontecimentos de suas vidas coincidem com os acontecimentos da vida do conjunto social, e a importância desses acontecimentos é a mesma tanto no plano individual quanto no social. o aspecto interior se funde com o exterior: o homem é todo exteriorizado” (Bakhtin, 2018, p. 183).

Esse meio social repleto de vozes é celeiro para que as histórias se apresentem, possibilitando que os sujeitos se reconheçam, conectem-se, compartilhem experiências. Em alguns casos, como em ambientes escolares comuns, a heterogeneidade é vista como algo negativo. Contrariamente, no CAS Natal acontece o oposto, pois se nutre a percepção valorativa de que essa diversidade de sujeitos se configura como importante diferencial do Centro, como destacado por Estrela Brilhante no Quadro 4.


Quadro 4
Enunciado de Estrela Brilhante
Fonte: dados da pesquisa

Novamente, é retomada a questão de para quais sujeitos o trabalho do CAS Natal é direcionado, sendo aqui enfatizado que esse diferencial está intimamente ligado ao desenvolvimento do aluno surdo. Com isso, notamos que, além da vivacidade que traz à instituição, essa heterogeneidade é uma característica que é reconhecidamente aprovada por seus integrantes, o que torna nítida a compreensão de que a instituição se destaca nesse contexto educacional por sua capacidade de acolher diferentes perfis de sujeitos.

A atuação do CAS Natal ultrapassa questões de cunho educacional do aluno surdo, pois envolve diretamente as famílias e profissionais da educação e de outras instituições interessadas no aprendizado da língua. Estas, por sua vez, são regidos pelo intuito de aprendê-la com o propósito de contribuir para o desenvolvimento do surdo em diferentes âmbitos sociais. Por essa razão, a instituição contribui com a formação de uma corrente de sujeitos surdos e ouvintes, que se unem em prol da valorização da singularidade linguística da pessoa surda, o que se justifica por intermédio do olhar da Aurora Boreal, conforme visualizamos no Quadro 5.


Quadro 5
Enunciado de Aurora Boreal
Fonte: dados da pesquisa

A heterogeneidade, entre outras características, está ligada à diferença que faz um professor que está na escola comum aprender Libras no CAS Natal e, assim, adquirir competência linguística para receber, em sua sala de aula, o aluno surdo com a dignidade enfatizada por outros participantes. Outro ponto é que, no Centro, o surdo se sente no “mundo” dele, pela circunstância de ser linguística e culturalmente compreendido, ou seja, pelo fato de não ser o único surdo presente.

Com isso, percebemos que os cronotopos – CAS Natal e escolas comuns – fundem-se, quando no entendimento da Aurora Boreal, a natureza constitutiva de que um influencia positivamente o trabalho do outro. Esses atravessamentos dialógicos que os sujeitos vivenciam em diferentes espaço-tempo, contribuem para o olhar de que os acontecimentos se desdobram nas diferentes articulações que fluem no tempo e no espaço, em cronotopos singulares como o do CAS Natal e o da sala de aula (Casado Alves, 2012).

Na coexistência de ambos, cria-se a repercussão de um “processo de troca é ele mesmo cronotópico: realiza-se, antes de tudo, no mundo social que se desenvolve historicamente, mas também sem se separar do espaço histórico em manutenção” (Bakhtin, 2018, p. 231). Ou seja, os sujeitos são partícipes ativos da constituição cronópica, a qual é determinada por diferentes posicionamentos axiológicos. Tais posicionamentos se tornam artisticamente visíveis uns nos outros e no decurso da história de diferentes sujeitos.

Evidenciamos, assim, a partir de Bakhtin (2018), que os cronotopos coexistem e nutrem uns aos outros. O cronotopo do CAS Natal se interliga ao da sala de aula, em um encontro de várias vozes discursivas, cuja perspectiva dessa inter-relação fortalece a possibilidade de inclusão do aluno surdo nas escolas comuns. Esse entendimento coaduna com a percepção de Luar sobre o CAS enquanto espaço de aprendizagem da Libras, apresentada no Quadro 6.


Quadro 6
Enunciado de Luar
Fonte: dados da pesquisa

Mais uma característica que torna o CAS Natal peculiar é o fato de ser um espaço propício para o aprendizado da Libras e, por meio dela, ter a capacidade de ampliar as relações dialógicas entre surdos e ouvintes, pois ambos se encontram em outros espaços sociais – no trabalho, nas escolas etc. Isso configura a importância de surdos e ouvintes aprenderem essa língua, como fundamentação de constituição de relações dialógicas entre sujeitos díspares.

Esse olhar se entrelaça à compreensão sobre o cronotopo, que, para Amorim (2006, p. 105), “[...] trata de uma produção da história. Designa um lugar coletivo, espécie de matriz espaço-temporal de onde as várias histórias se contam ou se escrevem”. As histórias são construídas em um constante processo se cruzar e se interligar umas às outras, o que só é possível por meio de uma comunicação efetiva; e com o surdo, o aprendizado da Libras é o sustentáculo dessa interação dialógica.

No entanto, por mais que o CAS Natal exerça a função de disseminar a Libras entre os mais distintos perfis, especialmente daqueles que estão ligados à educação de surdos, ainda assim não consegue atingir todos os espaços sociais que o surdo ocupa e, com isso, atender à crescente demanda desse público. Por isso, a Iluminista esclarece a importância dessa instituição para os alunos surdos, enquanto discorre acerca da experiência de seu filho (T2), conforme apresentado no Quadro 7.


Quadro 7
Enunciado de Iluminista
Fonte: dados da pesquisa

No entanto, por mais que o CAS Natal exerça a função de disseminar a Libras entre os mais distintos perfis, especialmente daqueles que estão ligados à educação de surdos, ainda assim não consegue atingir todos os espaços sociais que o surdo ocupa e, com isso, atender à crescente demanda desse público. Por isso, a Iluminista esclarece a importância dessa instituição para os alunos surdos, enquanto discorre acerca da experiência de seu filho (T2), conforme apresentado no Quadro 7.

Novamente, estamos diante da compreensão de que o surdo, ao estar no CAS Natal, encontra-se no “mundo dele”, o qual está intrinsecamente relacionado à questão de a comunicação acontecer em Libras, na sua língua; assim como ao fato de estar em contato dialógico com outros surdos. Isso realmente interfere no seu sentimento, pois fortalece diversas questões sociais desses sujeitos, ao inexistir, nesse caso, uma barreira linguística, como comumente ocorre em diferentes esferas sociais, quando o surdo é o único sinalizante[7] presente.

O posicionamento da Iluminista é reforçado no enunciado de outra mãe – Alvorada, que relaciona o CAS Natal ao cronotopo do lar, o qual, para ela, configura-se no sentido de ser um ambiente acolhedor para o surdo, a ponto de fazê-lo se sentir em casa, como exposto no Quadro 8.


Quadro 8
Enunciado de Alvorada
Fonte: dados da pesquisa

Essa representação do CAS Natal como segunda casa é uma questão interessante, pois Alvorada reforça que sua percepção está entrelaçada ao entendimento de que essa instituição traz dignidade linguística para esses sujeitos, indo além, pois se estende aos ouvintes que estão aprendendo a língua de sinais. Trazer dignidade ao surdo, ao propiciar estratégias que possibilitam sua acessibilidade linguística, faz parte do trabalho do CAS, mas parece que isso carrega um significado mais amplo, pois se torna algo singular aos demais ambientes.

O cronotopo do CAS Natal e da casa são totalmente distintos. Em sua gênese, são cronotopos que se distinguem em dimensões substanciais, pois são gerenciados por determinados elos socialmente construídos, em que o primeiro está ligado à educação, e o segundo, à relação familiar. Porém, a conjuntura enunciativa que essas mães encontram dá abertura para esse tipo de representação, que, perceptivelmente, contém muita valoração axiológica emocional, pois “trata-se de um vínculo especial do homem e de todas as suas ações e todos os acontecimentos de sua vida com o universo espaço-temporal” (Bakhtin, 2018, p. 119).

Podemos pensar que o CAS Natal não se restringe como um segundo lar para os surdos, pois, como evidenciado por Bakhtin (2018), o cronotopo está ligado à tomada de decisões, ou seja, de posicionamentos que se consolidam ideologicamente, o que é possível observar no enunciado de Brilho do Luar, quando enfatiza sua percepção sobre esse ambiente, no Quadro 9.


Quadro 9
Enunciado de Brilho do Luar
Fonte: dados da pesquisa

Brilho do Luar apresenta uma concepção que consolida o olhar dos demais participantes, porque repercute o que une esses sujeitos distintos e torna o Centro um espaço de luta, de esforço e propriedade, porque o foco é o interesse em aprender a língua, que traz dignidade linguística para o surdo. E esse trabalho acontece em um cronotopo coletivamente preenchido por diferentes vozes sociais, por essa interação discursiva entre surdos e ouvintes que constituem a comunidade surda.

A composição desse cronotopo, que tem o surdo, a experiência visual e a Libras como cerne de sua atuação na educação de surdos, implica construções discursivas que se pautam em valores ideologicamente saturados, pois “[...] somente aquilo que adquiriu um valor social poderá entrar no mundo da ideologia, tomar forma e nele consolidar-se” (Volóchinov, 2018, p 111).

Ter a Libras como foco constitutivo dessas relações dialógicas consolida-se em sua capacidade de permear a interação discursiva entre os pares surdos e, destes, com os ouvintes. Por isso, é importante perceber que o cronotopo do CAS Natal se integra em uma perspectiva de luta, que é coletiva e que se fortalece nos movimentos surdos (Klein; Lunardi, 2006; Perlin, 1998), para que os direitos socialmente deliberados venham a assegurar que a singularidade do surdo seja respeitada, e os seus direitos, alcançados.

Assim, reconhecemos que a dimensão do CAS Natal como um espaço de luta é articulada, tendo adquirido valor ideológico. Como afirmado por Volóchinov (2018), fica evidente que os signos ideológicos podem se formar apenas em uma coletividade de pessoas socialmente organizada. Na medida em que se insere, essa articulação é, de modo indissociável, relacionada às vivências que as pessoas compartilham em suas experiências discursivas nos diferentes cronotopos que circulam.

Por esse motivo, Bakhtin (2015) admite que os discursos são carregados por uma diversidade de vozes sociais e, sendo assim, não há regularidade entre eles. Por isso, o filósofo russo se interessa em reconhecer as consonâncias e as dissonâncias que os povoam, uma vez que “[...] delas podem resultar tanto a convergência, o acordo, a adesão, o mútuo complemento, a fusão, quanto a divergência, o desacordo, o embate, o questionamento, a recusa” (Faraco, 2009, p. 68). Ambas coexistem e repercutem tensões sociais que se adensam no tempo e no espaço e, por isso, configuram-se como posicionamentos que são regidos por diferentes visões de mundo.

Portanto, a perspectiva dialógica de linguagem difundida pelo Círculo de Bakhtin refina um requisito central para a análise dialógica do discurso, que é se apropriar de um olhar minucioso sobre as experiências discursivas dos sujeitos, pois há a compreensão de que elas acontecem e constroem significados nos cronotopos. Desse feito, as experiências compartilhadas no cronotopo do CAS Natal fluem ininterruptamente porque “[...] o tempo para Bakhtin, torna-se pluralidade de visões de mundo: tanto na experiência como na criação, manifesta-se como um conjunto de simultaneidades que não são instantes, mas acontecimentos no complexo de seus desdobramentos” (Machado, 2010, p. 215).

Isso significa que, no âmbito das reflexões apresentadas pelos participantes, em relação ao cronotopo do CAS Natal, as relações discursivas nele constituídas exercem o papel de configurar a esse espaço-tempo a sua importância no exercício de tessitura de encontros dialógicos entre surdos-surdos (Perlin, 1998) e com ouvintes. Sendo assim, percebemos a repercussão de embates com as diferentes percepções que envolvem o Centro e outros cronotopos, como a escola comum e a casa.

O Centro desenvolve trabalhos concernentes com a perspectiva metodológica da educação bilíngue para surdos – em que a Libras é adotada como a língua de instrução e a Língua Portuguesa na modalidade escrita, como segunda língua –, percebemos que os surdos almejam estudar em escolas bilíngues. Uma vez que o CAS Natal é um espaço educacional, ele está assentado nas prerrogativas da educação inclusiva e, por isso, segue em divergência com a urgência conclamada pela comunidade surda brasileira, quanto à consolidação da educação bilíngue para surdos.

Essa necessidade repercute na constante resistência da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos – FENEIS, a qual intervém pelo direito de o surdo ter acesso à educação bilíngue. A título de exemplo, referenciamos a defesa dessa instituição ao projeto de Lei - PL[8] nº 4909/2020 - que altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), que dispõe sobre a modalidade de educação bilíngue de surdos; assim como por outros documentos emitidos coletivamente pela FENEIS disponibilizados em seu site, tal como, as cartas abertas, enviadas aos senadores da república.

Para expor claramente o que está presente nas pautas de luta desse grupo, selecionamos um trecho[9] retirado da carta aberta de mestres e mestras surdos (as):

A Educação Bilíngue de Surdos é um DIREITO, que deve ser garantido a todos os estudantes surdos, surdocegos, surdos com altas habilidades e superdotação, assim como aos deficientes auditivos sinalizantes. Na atual LDB nº 9.394/1996, a “Educação de Surdos está contemplada exclusivamente na modalidade de Educação Especial, desconsiderando as especificidades linguísticas e culturais dos Surdos e a necessidade de metodologias específicas para o seu processo de ensino e aprendizagem. Fundamentados em inúmeras pesquisas no campo da Educação e da Linguística, as quais se dedicam às Línguas de Sinais, processos tradutórios e a Educação de Surdos, recomenda-se para os Surdos sinalizantes a Educação Bilíngue de Surdos, que tem como base uma Língua de Sinais como Língua de INSTRUÇÃO, ENSINO, COMUNICAÇÃO e INTERAÇÃO e a base uma Língua de Portuguesa na modalida escrita" (Loss, et al., 2021).

Esse posicionamento de defesa pela educação bilíngue com base nos pressupostos concernentes à língua de sinais é igualmente aludido pelos surdos, como corroborado na exposição de Luar, quando demonstra o desejo de que o CAS Natal seja uma escola bilíngue, conforme destacado no Quadro 10.


Quadro 10
Enunciado de Luar
Fonte: dados da pesquisa

O CAS Natal atua com o AEE, incluindo estudantes regularmente matriculados no Ensino Fundamental, mas isso se distingue da atuação de uma escola bilíngue para surdos. Por isso, Luar traz à cena tensões presentes em cronotopos distintos, com a revelação do seu desejo de transformação do CAS Natal em escola bilíngue. Contudo, mediante ao que foi apresentado sobre o CAS Natal, em especial sua heterogeneidade, vemos que ele se configura pedagogicamente de forma distinta à escola bilíngue para surdos.

Porém, na presente conjuntura do campo da educação básica, em que predomina a educação inclusiva, os surdos percebem as divergências entre essa prerrogativa e a proposta da escola bilíngue para surdos. Ademais, Luar nutre o desejo de um espaço único que proporciona o desenvolvimento de aprendizagens significativas para os surdos, sem que precisem se deslocar de um ambiente para o outro, visto que, inevitavelmente, encontram realidades diferentes, pois no Centro a experiência visual está em destaque, enquanto na escola inclusiva o surdo enfrenta a barreira da comunicação. Com isso, vemos que esse desejo está alicerçado na tese crucial de Bakhtin, a qual preconiza que “o tempo e o espaço variam em qualidades; diferentes atividades e representações sociais dessas atividades presumem tipos de tempo e espaço” (Morson; Emerson, 2008, p. 384).

Diante dos olhares lançados sobre o CAS Natal por diferentes sujeitos, depreendemos que o referido cronotopo implica vivências de cada um deles de maneira singular, pois nas relações dialógicas nele tecidas, são evocados diferentes saberes. Esses não se resumem à língua em sua composição gramatical, estendem-se a posicionamentos identitários, de luta, resistência, pois estão inseridos em uma corrente dialógica, na qual diferentes visões de mundo se cruzam, rompem-se, renovam-se discursivamente.

Sendo assim, a dinamicidade da língua viva que ecoa no CAS Natal torna-o singular para cada um daqueles que nele compartilham experiências discursivas. Desse modo, nesse espaço-tempo valorado, os sujeitos vivenciam a ressignificação da surdez, pois, por meio das relações dialógicas, ela deixa de ser pautada por uma visão patológica, que requer cura e reabilitação. Com isso, a experiência visual da pessoa surda se torna o alicerce tanto para as construções discursivas em Libras quanto para a imagem que se tem desse sujeito social, que é linguisticamente diferente do ouvinte.

Por isso, diante de outros cronotopos em que o surdo, a sua língua e cultura são desconhecidos pela maioria ouvinte, o CAS Natal se torna singular na educação de surdos, pois seu desdobramento pedagógico, além de contemplar o ensino de Libras para o aluno surdo, também é destinado aos professores e familiares de surdos e outros sujeitos que tenham interesse em aprender a língua. Essa particularidade, o constitui como um cronotopo que se difere, por exemplo, da escola comum, em que o surdo é a minoria, e a sua língua, quando presente, é secundária. No CAS Natal, ele compartilha de interações discursivas com outros surdos e com ouvintes aprendizes da sua língua também. Ademais, as práticas pedagógicas são desenvolvidas para atender às necessidades educacionais dos alunos surdos, utilizando a Libras e a experiência visual como subsídios nesse processo.

Com isso, entendemos que os surdos e ouvintes integrantes da comunidade surda têm no CAS Natal um importante cronotopo de valoração da pessoa surda e da Libras. Desse modo, a heterogeneidade discursiva evoca construções de sentindo para os surdos em diferentes âmbitos: linguísticos, culturais, educacionais e identitários, pois as relações de alteridade interferem no olhar que eles lançam para si e para o outro. Ao contribuir com a visibilidade do surdo, da Libras e das lutas da comunidade surda, bem como ao promover a disseminação da língua de sinais, o CAS Natal se alinha à desconstrução de estereótipos que circulam no imaginário social em relação ao surdo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo, fundamentado na concepção de Bakhtin (2018) sobre o cronotopo, investigamos a percepção de surdos e ouvintes do CAS Natal em relação à educação oferecida pela instituição, reforçando a afirmação do autor de que há coexistência e entrelaçamento entre diferentes cronotopos. Dito de outra forma, a vitalidade discursiva ocorre porque sua materialidade linguística está intrinsicamente ligada à fluidez dialógica no tempo e espaço que o sujeito ocupa discursivamente.

Observamos que ocupar dialogicamente o tempo e o espaço está intrinsecamente relacionado a tomar decisões, apropriar-se discursivamente de inúmeras visões de mundo, que se manifestam na forma de posicionamentos ideológicos. Todas essas construções discursivas são dadas em um meio social, em que diferentes vozes sociais se encontram, tencionam-se, convergem e divergem. Por isso, há importância de se conhecer como essas relações discursivas acontecem em tempo e espaço determinados, cujas construções fluem de maneiras distintas, pois cada pessoa relaciona suas vivências de acordo com inúmeras outras, culminando em posicionamentos ideologicamente saturados.

Dessa forma, por meio das análises, compreendemos o quanto a importância singular do CAS Natal foi pontuada por seus partícipes, os quais enfatizam como sua dinâmica pedagógica heterogênea torna-o um cronotopo educacional peculiar, assim, assumindo um relevante papel na educação de surdos. Por isso, suas particularidades, como o foco na experiência visual do surdo, são intensamente valorizadas por surdos e ouvintes, para os quais ele se tornou um significativo celeiro de aprendizagem da Libras. Consequentemente, o CAS Natal estabelece-se como um espaço de luta para as reivindicações da comunidade surda, que, entre outras questões, enfatiza a importância da dignidade linguística do surdo e a criação de escolas bilíngues.

Como exposto por Luar, o CAS Natal poderia vir a se transformar em uma escola bilíngue, o que ampliaria seu trabalho. Por isso, é importante destacar que a escola bilíngue para surdos alinha-se ao que acontece na escola comum com a oferta dos diferentes níveis de ensino – Educação infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Enquanto o CAS Natal contempla o surdo e outros públicos, como mães e profissionais da educação, essa diferença institui que o seu trabalho difere da atuação/do trabalho/do papel da escola padrão/tradicional.

Por fim, diante da crescente criação de escolas bilíngues para surdos no país, é relevante refletir sobre a importância da permanência e fortalecimento de instituições como o CAS, que têm o propósito de disseminar Libras para diferentes sujeitos, sejam surdos ou ouvintes. Abarcar essa heterogeneidade de sujeitos, especialmente os familiares de surdos e profissionais que atuam no setor público, que aprendem a língua de sinais no CAS Natal, se constitui como importante fundamento do seu papel no seio da educação de surdos e na sociedade.

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Notas

[1] Refere-se à identificação de um grupo de intelectuais russos, de diversas áreas, que se reuniam regularmente de 1919 a 1929. Dentre outros, destacam-se: Bakhtin, Volóchinov e Medvedev, pela construção de importantes obras em estudos linguísticos (Faraco, 2009).
[2] Em consonância com o Certificado de Apresentação de Apreciação Ética n.º 46968521.3.0000.5537 emitido pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UFRN.
[3] As participantes da pesquisa de mestrado que não estão neste estudo são: Aurora – aluna do curso de capacitação em Libras – e Radiante – Gestão; ambas ouvintes.
[4] https://www.ines.gov.br/ines-e-cas-apresentacao
[5] A concepção de olhar amoroso transparece em Bakhtin (2011) a partir da sua maneira de contemplar o outro, de se colocar no lugar desse outro. Ele nos faz refletir sobre nosso posicionamento em relação ao outro, ao dizer que “o excedente da minha visão é o broto em que repousa a forma e de onde ela desabrocha como uma flor” (Bakhtin, 2011, p. 23).
[6] Experiência visual significa a utilização da visão (em substitui1ção total à audição), como meio de comunicação. Dessa experiência visual surge a cultura surda representada pela língua de sinais, pelo modo diferente de ser, de se expressar, de conhecer o mundo, de entrar nas artes, no conhecimento científico e acadêmico (Perlin; Miranda, 2003, p. 218).
[7] “Análogo a ‘falante’, mas que ‘fala’ uma língua de sinais, ou seja, a pessoa que sinaliza uma língua de sinais” (Quadros, 2019, p. 34)
[8] https://feneis.org.br/wp-content/uploads/2021/09/PL-4909-2020.pdf
[9] Carta disponível no site da FENEIS . Acesso em jul. 2023.


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