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Universidade da Criativa Idade: Uma Proposta de Extensão Universitária sob a Ótica do Lazer
ANA PAULA LISBOA SOHN; RENATO BUCHELE RODRIGUES; SILMARA HOEPERS;
ANA PAULA LISBOA SOHN; RENATO BUCHELE RODRIGUES; SILMARA HOEPERS; JULIANA CRISTINA GALLA
Universidade da Criativa Idade: Uma Proposta de Extensão Universitária sob a Ótica do Lazer
Creative Age University: A Proposal for University Extension from the Optics of Leisure
Rosa dos Ventos, vol. 11, núm. 3, pp. 709-718, 2019
Universidade de Caxias do Sul
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Resumo: O presente artigo tem como objetivo descrever a abordagem conceitual e o processo de implementação da Universidade da Criativa Idade, projeto de extensão universitária da Universidade Vale do Itajaí [Univali]. A Universidade da Criativa Idade é fundamentada no comportamento de pleasure growers e objetiva proporcionar lazer e novos conhecimentos para pessoas acima de 50 anos. Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência. O projeto teve início com a oferta de um curso de extensão sobre os eixos de formação e as temáticas relacionadas às matrizes curriculares dos cursos de graduação das áreas de Comunicação, Turismo e Lazer da Univali, para 30 participantes e 10 professores. A partir da análise do primeiro ano de funcionamento do projeto constatou-se que o conceito de lazer como prática social vinculado à educação esteve presente nas atividades realizadas, evidenciando também, aspectos relacionados ao turismo pedagógico associando lazer e educação.

Palavras-chave:TurismoTurismo,LazerLazer,Extensão UniversitáriaExtensão Universitária,EnvelhecimentoEnvelhecimento,Universidade do Vale do Itajaí, BrasilUniversidade do Vale do Itajaí, Brasil.

Abstract: This article presents the conceptual approach and the implementation process of the Project University of Creative Age, a university extension of University of Vale do Itajaí [Univali]. The University of Creative Age is based on the on the behavior of pleasure growers and aims to provide leisure and new knowledge for people over 50 years. It’s a descriptive and experience report study. The project began with the offer of an extension course on training axes and subjects related to curricular matrices of the undergraduate courses of Communication, Tourism and Leisure for 30 participants and 10 teachers. The analysis of the first year of operation of the project, it was verified that the concept of leisure as a social practice linked to education was present in the activities carried out, evidencing also aspects related to pedagogic tourism, leisure and education.

Keywords: Tourism, Leisure, University Extension, Aging, Universidade do Vale do Itajaí, Brazil.

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Artigos

Universidade da Criativa Idade: Uma Proposta de Extensão Universitária sob a Ótica do Lazer

Creative Age University: A Proposal for University Extension from the Optics of Leisure

ANA PAULA LISBOA SOHN
Universidade do Vale do Itajaí, Brasil
RENATO BUCHELE RODRIGUES
Universidade do Vale do Itajaí, Brasil
SILMARA HOEPERS
Professora na Universidade do Vale do Itajaí, Brasil
JULIANA CRISTINA GALLA
Universidade do Vale do Itajaí, Brasil
Rosa dos Ventos, vol. 11, núm. 3, pp. 709-718, 2019
Universidade de Caxias do Sul

Recepção: 09 Fevereiro 2018

Aprovação: 18 Maio 2020

INTRODUÇÃO

Pode-se constatar por meio do monitoramento das alunas nas redes sociais e da indicação espontânea do projeto para familiares e colegas que a Universidade da Criativa Idade obteve um elevado grau de satisfação. Destaca-se que esta é apenas uma consideração diante dos resultados alcançados e da percepção em relação ao comportamento das participantes do projeto, e que são necessárias pesquisas de satisfação para melhor compreender as forças e fraquezas do projeto.

De forma geral, as pessoas estão vivendo por mais tempo. Avanços em diferentes campos das ciências resultam em uma maior expectativa de vida. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU, 2014) mostram que o segmento da população mundial com mais de 60 anos correspondia a 8% em 1950; era de 11% em 2009; e deverá ser de 22% em 2050. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), nos próximos 20 anos a população de idosos no Brasil vai mais do que triplicar, passando dos atuais 22,9 milhões (11,34%) para 88,6 milhões (39,2 %). As 10 cidades com maior índice de longevidade do Brasil são catarinenses, e Florianópolis está neste rol. Diante das transformações demográficas e comportamentais destaca-se importância de estudos sobre o novo papel do idoso na sociedade contemporânea e das novas necessidades de uma sociedade mais envelhecida tem-se a criação do projeto de extensão universitária Universidade da Criativa Idade.

Em termos metodológicos, trata-se de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa, do tipo relato de experiência, desenvolvido por docentes, pesquisadores, alunos e um gestor institucional da Universidade do Vale do Itajaí neste processo investigativo (Baldissera, 2001). A base metodológica adotada é a da pesquisa participativa, que possibilita tanto o posicionamento ativo e crítico, quanto a intervenção e a busca da transformação através da construção de novos conceitos e valores a partir da participação coletiva dialógico-dialética. Percebe-se que esta metodologia permite a articulação pesquisa-extensão e traz resultados ao processo de aprendizagem, o que ratifica a importância da indissociabilidade ensino-pesquisa e extensão, pilar fundamental da instituição universitária. Destaca-se, também, a existência da relação entre os pesquisadores com o planejamento e implementação da Universidade da Criativa Idade. Todos os pesquisadores deste projeto estão interligados nas ações realizadas, a fim de proporcionar a interação coletiva e participar do processo do conhecimento, com especificidades que são necessárias para que haja cumplicidade entre os envolvidos. Em relação ao método adotado aponta-se que este é um relato que requer ação tanto nas áreas da prática quanto da pesquisa, de modo que, em maior ou menor medida, terá características tanto da prática rotineira quanto da pesquisa científica (Tripp, 2005).

O presente artigo tem como objetivo descrever a concepção conceitual e o processo de implementação do Projeto Universidade da Criativa Idade. Para tanto, está estruturado em cinco sessões, sendo a primeira delas a Introdução, seguida da revisão bibliográfica sobre o envelhecimento, comportamento dos idosos na sociedade contemporânea e lazer, tangenciando o turismo pedagógico. Em seguida faz-se a descrição dos procedimentos metodológicos. Na quarta sessão do artigo tem-se a apresentação do projeto em análise. Por fim, traçam-se considerações e proposições de futuros encaminhamentos.

O ENVELHECIMENTO E O COMPORTAMENTO DO IDOSO NO LAZER

Para este estudo, é importante apresentar algumas abordagens sobre o envelhecimento e a relação do comportamento do idoso na sociedade contemporânea. Apesar de parecer distante da realidade social em que vivemos, o conceito de envelhecimento é, cada vez mais, afastado da ideia de envelhecer ou ficar velho. Sendo assim, o envelhecimento é um processo inerente da condição do ser humano, ou seja, ele não é um momento apenas na vida do indivíduo, mas sim, transcorre desde o momento do nascimento (Santos, Andrade & Bueno, 2009). Por sua vez, segundo a Organização Mundial da Saúde [OMS], a velhice ou terceira idade se inicia após os 60 anos de vida.

O processo de passagem da fase de maturidade para o envelhecimento exige uma preparação para que possa se adaptar às mudanças que ocorreram no decorrer da vida. Com o passar do tempo, o corpo se torna mais vulnerável ao envelhecimento, podendo variar de pessoa a pessoa, sendo um processo de degradação progressiva e diferencial que ocorre ao longo da vida (Barros & Gomes, 2013). Entre as pesquisas sobre a temática (Stacheski, 2012; Goldenberg, 2011; Morace, 2009; Neri & Yassuda, 2008; Lima, Silva & Galhardoni, 2008; Erbolato, 2006), serão destacados dois importantes estudos sobre novas formas de comportamento desta faixa etária, na sociedade contemporânea.

A partir de novas concepções sobre o envelhecimento, seria errôneo afirmar que envelhecer é sinônimo de doença e inativação, pois novos valores e conceitos, como o do envelhecimento bem-sucedido, são construídos e estão sendo difundidos globalmente (Lima, Silva & Galhardoni, 2008). Uma velhice bem-sucedida é vivida por idosos que mantêm autonomia, independência e envolvimento ativo com a vida pessoal, a família, os amigos, o lazer e com a vida social (Neri & Yassuda, 2008). O envelhecimento bem-sucedido tem relação direta com as dimensões socioculturais e coletivas e com as subjetividades no âmbito individual e particular (Stacheski, 2012). Pode-se observar que um dos fatores importantes do envelhecimento bem-sucedido é o contato com amigos que favorecem suporte emocional. A manutenção de contatos sociais com amigos preserva positivas emoções nas interações dos idosos, possibilitando suporte quando há o distanciamento dos filhos, netos e demais parentes. A amizade e os vínculos na velhice associam-se à proteção e à segurança, constituindo forma integrante de um modo de auto referência positiva (Erbolato, 2006).

Morace (2009) apresenta o grupo geracional de consumidores denominado pleasure growers como os boomers americanos, que não aceitam o comportamento tido como típico da terceira idade e revivem seus valores utópicos de juventude, filtrados pela maturidade, abraçando uma estética nova e regenerada, informal, juvenil, energética e psicodélica (Stacheski, 2012). São economicamente estáveis, buscam novos prazeres sensoriais por meio de experiências inteligentes. Morace (2009) vai ao encontro dos estudos de Debert (1999), trazendo à tona a noção de que as experiências vividas e os saberes acumulados são ganhos que oferecem oportunidades na realização de projetos abandonados em outras etapas e no estabelecimento relações mais profícuas. No comportamento do grupo geracional pleasure growers destacam-se três atitudes: (1) Daily Masterpiece: procuram ser reconhecidos como referência e fonte de inspiração em criar seu próprio estilo usando referências culturais, assim inspirando outras gerações; (2) Lifetime Focus: o tempo livre é o bem mais precioso que essa geração possui e através do consumo geram estímulos para experiências agradáveis; (3) Sharing Culture: procuram por ambientes mais funcionais para socialização, intensificando o prazer da permanência (Morace, 2009; Stacheski, 2012).

Complementando a visão de Morace (2009), a criação do projeto da Universidade da Criativa Idade buscou inspiração nos estudos sobre o novo comportamento do idoso realizados por Mirian Goldenberg, professora do Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia do IFCS/UFRJ e colunista, desde 2010, da Folha de São Paulo. Ao apresentar sua visão sobre o idoso, Goldenberg cita A Velhice, de Simone de Beauvoir, na qual a autora apresenta algumas dificuldades relacionadas ao envelhecimento. Em função de toda uma tradição que carregou, este tratamento ganhou sentido pejorativo, podendo agora ser encarada como uma nova a possibilidade de vida, uma ‘bela velhice’. Sendo a ‘bela velhice’ uma possibilidade de se construir um projeto singular que torne cada indivíduo autorizado a decidir sobre os seus comportamentos, não de acordo com determinadas regras mas segundo a sua própria vontade.

Neste contexto, no caso das mulheres em particular, ‘a última idade’ pode representar uma liberação, já que, submetidas durante toda a vida ao marido e dedicadas aos filhos podem enfim preocupar-se consigo mesmas. Para Goldenberg, a geração que vive a ‘bela velhice’ foi jovem nos anos 1960 e 1970 e a partir dos anos 2000 começou a envelhecer. Salienta que esta geração durante a juventude [entre 18/24 anos, fazendo uma breve referência ao Box 18/24] reinventou a sexualidade, o corpo, as novas formas de conjugalidade, casamento e família. Assim, a geração que hoje está reinventando a velhice teve como prioridade a busca do prazer e da liberdade sexual, a recusa de qualquer forma de controle e de autoridade e a defesa da igualdade entre homens e mulheres. Goldenberg é enfática ao afirmar que se trata de uma geração que não aceita o imperativo ‘seja um velho!’ ou qualquer outro tipo de rótulo que sempre rejeitou e contestou.

Em relação ao lazer e ao turismo, Ansarah (2005) ainda acrescenta que outros tipos de turismo refletem a necessidade da sociedade contemporânea em relação à atividade, e nesse novo cenário se insere o segmento de turismo pedagógico, também chamado de turismo educacional, apresentando como premissas o conhecimento, a vivência, a convivência, o respeito, o aprendizado e o lazer. Bonfim (2010) considera que o turismo pedagógico é uma prática que procura proporcionar a convivência entre pessoas de culturas diferentes, apresentando situações favoráveis para a prática do aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser, propiciando uma pedagogia participativa, na qual os alunos são estimulados a se envolver ativamente.

A partir dos estudos de Simone de Beauvoir, Goldenberg (2011) constata que quem investe muito na aparência terá uma velhice complicada, pois é inevitável que o corpo se transforme. Já para quem tem projetos de vida ou investiu em outros capitais como, por exemplo, quem trabalha com a criatividade, professores e escritores, descobriram na velhice a sua vocação. A autora ressalta que o trabalho com criatividade e a condução de projetos pessoais fazem da velhice uma oportunidade para a construção de uma nova vida.

O PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSIDADE DA CRIATIVA IDADE

A Universidade da Criativa Idade é um projeto de extensão universitária do Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Comunicação Turismo e Lazer, da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). O projeto foi elaborado por uma equipe interdisciplinar de professores visando atender aos desafios do envelhecimento da sociedade bem como a aproximação da extensão com as atividades de pesquisa e ensino. O projeto foi concebido no ano de 2014 com sua implementação a partir do ano de 2015 no Campus Florianópolis da Univali. No Estado de Santa Catarina, há outros projetos de extensão voltados esta faixa etária, como o ESAG Sênior, desenvolvido pela Universidade do Estado de Santa Catarina e pelo Núcleo de Estudos da Terceira Idade, vinculado à Universidade Federal de Santa Catarina. Destaque-se que estes projetos possuem abordagens diferenciadas do apresentado neste artigo. Na própria Univali há outros dois projetos de extensão vigentes, sendo eles: Mais e Melhor Idade em Balneário Camboriú e UniVida, no município de Itajaí, com cunho voltado para a prevenção da saúde e melhoria da qualidade de vida.

A equipe do projeto Universidade da Criativa Idade é composta por um coordenador responsável, um professor e um bolsista e conta com o apoio de funcionários da instituição e de professores e alunos que atuam de forma voluntária. No primeiro ano de atuação participaram como voluntários aproximadamente 30 alunos e 10 professores. O objetivo da Universidade da Criativa Idade é o aprofundamento do conhecimento em áreas que valorizam o potencial humano. Para o alcance deste objetivo, o projeto está organizado em duas vertentes, uma social e outra voltada à formação continuada para pessoas acima de 50 anos por meio de um curso modular com o mesmo nome do projeto de extensão, Universidade da Criativa Idade.

Na sua vertente social, a equipe do projeto desenvolve ações mensais gratuitas para idosos que fazem parte de grupos cadastrados na Prefeitura Municipal de Florianópolis. No primeiro ano, dois grupos de idosos foram atendidos e, com eles, a equipe realizou atividades físicas, palestras sobre bem-estar e beleza, leitura de poesias, atividades de canto, pintura e desenho. Tratam-se de ações de voluntariado, envolvendo a Universidade e Comunidade para objetivar a melhoria da qualidade de vida das pessoas atendidas sob algum tipo de vulnerabilidade social ou emocional. Neste mesmo ano de 2015, os grupos da Policlínica dos bairros Estreito e Monte Verde foram atendidos pela equipe do projeto. As visitas aos grupos de idosas da PMF começam em março e acontecem durante todo o ano com periodicidade mensal. A partir da parceira com a Prefeitura, participaram 130 idosas no projeto.

Na sua vertente de formação continuada, o curso de extensão Universidade da Criativa Idade foi concebido com baseado nas matrizes curriculares dos cursos de graduação ofertados no Campus Florianópolis da Univali, possibilitando a criação de quatro grandes áreas de conhecimento que foram transformadas nos quatro módulos do projeto, cada um deles com 8 semanas, totalizando 32 horas/aula de atividades por módulo e 128 horas/aula no curso como um todo, sendo eles: cultura e turismo, arte e design, bem-estar e beleza e novas tecnologias.

Esta integração da extensão universitária, evidencia a relevância crescente de conexões com a comunidade externa [local, regional e internacional], por meio de parcerias, cadeias colaborativas, e redes de pesquisa em atenção ao desenvolvimento social, de inovação na estrutura dos programas de ensino e de potencialização dos mecanismos de formação integral dos alunos, dadas as novas formas de conhecimento interdisciplinar, intercultural e voltada à solução de problemas. Percebe-se que, durante o processo, se deve encorajar uma apropriação ativa e crítica, em vez do acúmulo estático de conhecimento, pois os conteúdos discutidos precisam ter significado e relevância para os alunos (Cachioni, Ordonez, Batistoni & Lima-Silva, 2015).

Segundo o Plano de Desenvolvimento Institucional da Univali (2017-2021), a política de extensão estabelece que o processo de concepção de programas, projetos e atividades de extensão devem ser originários nos cursos de graduação e pós-graduação, a partir de questões e demandas que se estabelecem na relação do ensino e da pesquisa e suas interfaces com a comunidade. Para tanto, as atividades de extensão mantêm coerência com os projetos pedagógicos dos cursos e os planos de desenvolvimento de cada área, neste caso, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Comunicação, Turismo e Lazer. O valor do curso no primeiro ano de implantação foi de R$ 160 por módulo, pagos em duas parcelas. Para divulgação do curso a campanha promocional teve início em fevereiro de 2015 e contou com folders, banner e cartazes impressos, web page e assessoria de imprensa local e regional. Todo o material foi elaborado por professores, alunos e quatro funcionários da Universidade com mais de 60 anos de idade, que posaram como modelos. A criação e divulgação do curso ficaram sob a responsabilidade do setor de extensão e do marketing do Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Comunicação Turismo e Lazer. A coordenação pedagógica e metodológica do projeto foi realizada por uma professora, que recebeu o apoio de professora egressa do curso de Cosmetologia e Estética, ambas com experiência em projetos de extensão.

O Módulo 1, denominado de Cultura e Turismo foi ministrado durante os meses de abril e maio, e trabalhou conteúdos relacionados a atualidades e conhecimento geral. As participantes tiveram aulas sobre História da Arte, Arquitetura, visitaram o centro histórico de Florianópolis e puderam conhecer o Palácio Cruz e Souza e o Museu da Escola Catarinense. Um professor do curso de Arquitetura e Urbanismo e Design de Interiores conduziu as aulas e o estudo sobre personalidades que marcaram a história e roteiros de viagem. Foram apresentados trabalhos sobre a Itália, França, Egito, Estados Unidos, Brasil e Portugal.

O segundo módulo, Arte e Design, aconteceu nos meses de junho e julho, sendo trabalhados conteúdos relativos às atividades culturais e artísticas que envolvem desenho a mão livre, fotografia, pintura, arte digital, moda, escultura, artesanato, grafite, stencil e música. Foi realizada visita guiada à Bienal Brasileira de Design, que naquele ano acontecia em Florianópolis. Ainda no módulo Arte e Design, foi realizada uma oficina de fotografia, com conteúdo sobre enquadramento e tratamento de imagem e uma saída de campo em Santo Antônio de Lisboa, uma localidade bucólica da cidade de Florianópolis. As fotos foram expostas por dois meses no Campus Florianópolis. Também foram realizadas oficinas de stencil em tecido e de artesanato sustentável. Neste módulo, atuaram como professores alguns egressos do curso de Design de Interiores da Univali, professores dos cursos de Design de Jogos e Entretenimento Digital, Design Gráfico e Design de Moda e os artistas Tércio da Gama e Digo Terstschitsch, que trouxeram seus conhecimentos sobre a arte catarinense, nacional e mundial. As alunas tiveram a oportunidade de colorir uma cópia de duas obras dos artistas que foram doadas para o Projeto Arte e Cultura e ficaram expostas na Biblioteca Comunitária do Campus Florianópolis. Na última aula, as participantes apresentaram pesquisas sobre artistas, fotógrafos e designers como Miró, Sebastião Salgado, Vik Muniz, Annie Leibovitz, Matisse e Philippe Starck.

O módulo Bem-Estar e Beleza aconteceu entre os meses de agosto e setembro e teve a participação de professores e alunos do curso de Cosmetologia e Estética. Este módulo foca diversas questões relativas às atividades físicas, de estética e de nutrição. Foram estudadas temáticas relacionadas a moda, visagismo, automaquiagem, cuidados com cabelos e anexos cutâneos, alimentos funcionais e cuidados com a pele. As participantes tiveram a oportunidade de conhecer os serviços do Laboratório de Cosmetologia e Estética e aproximadamente 15 alunas do Curso Superior de Tecnologia em Cosmetologia e Estética participaram das atividades e oficinas deste módulo. Destaca-se que foi muito positiva a interação com as acadêmicas. A escola de dança Cenárium fez parceria com o projeto e participou do evento Tarde da Dança, com aula de dança afro. Neste evento foi debatida a importância do exercício físico para saúde e bem-estar e foram lidos e debatidos dois textos de Mirian Goldenberg na Folha de São Paulo: ‘A bela velhice’ e ‘Botox no cérebro’. Ao final foi apresentada uma pesquisa sobre mulheres que inspiram a moda e são referências de estilo: Rita Lee, Vivienne Westwood, Maria Bonita, Stevie Nicks e Frida Kahlo.

O quarto e último módulo, denominado de Novas Tecnologias, foi ministrado por professores do curso de Design de Jogos e Entretenimento Digital que trabalhou conteúdos relacionados a assuntos básicos em informática, editores de texto, pesquisa na internet, redes sociais, smartphones e aplicativos, gamification, arte digital, gerador de apresentações e projeção de dados. O módulo Novas Tecnologias conta com o apoio dos Laboratórios de Criação Digital (LCD) e de Entretenimento Digital. Como atividade final, foi promovida uma visita a empresa Cafundó - Estúdio Criativo localizada na Lagoa da Conceição em Florianópolis e que desenvolve novas tecnologias de comunicação já tendo sido premiada pelo programa Sinapse da Inovação. A formatura da primeira turma do curso aconteceu no Hotel Caldas Plaza da Imperatriz em Santo Amaro da Imperatriz-SC. Foi organizada pela coordenação do curso uma viagem para este hotel entre os dias 8 e 9 de dezembro de 2015 e participaram da formatura 16 mulheres. Ao longo do ano, participaram do curso aproximadamente 25 mulheres com idades entre 50 e 70 anos.

De forma geral, deve-se sublinhar que ao longo do primeiro ano de sua implementação foram utilizadas diferentes estratégias para o alcance dos objetivos propostos e que a maioria das atividades desenvolvidas teve presente a busca por novas experiências lazer. Dentre estas estratégias destacam-se: (1) 40 oficinas ministradas por professores e profissionais de mercado sobre as temáticas: arte, design, cultura, turismo, dança, bem estar, beleza e novas tecnologias; (2) visitas técnicas ao centro histórico, aos principais museus de Florianópolis, a Bienal Brasileira de Design e a exposição Miró; foi também realizada a visita ao Cafundó Estúdio Criativo, empresa que trabalha com novas tecnologias em prol da comunicação; (3) saídas de campo: foi realizada uma saída fotográfica em Santo Antônio de Lisboa e atividades de pesquisa com com apresentação de trabalhos. Todas as temáticas eleitas estavam relacionadas com os módulos: Cultura e Turismo, Arte e Design, Bem-Estar e Beleza e Novas Tecnologias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência aqui relatada, mostrou que, durante o primeiro ano de implementação do projeto, foram muitas as descobertas. Pode-se constatar que projetos de extensão voltados para o público da terceira idade contribuem para a ampliação dos conhecimentos sobre a maturidade e o envelhecimento e, dentro de universidades e instituições de ensino superior, promovem a interação de acadêmicos e professores com projetos de extensão universitária. Esta experiência da curricularização da extensão universitária, conforme estratégia do Plano Nacional de Educação (Tomaz & Santos, 2017), promove ações voltadas para a integração entre os cursos de graduação e os projetos envolvidos, aproxima a academia da realidade e seu entorno e produzem conhecimentos diferenciados a partir da problemática social em que vivemos.

Constata-se que, assim como demais projetos semelhantes como o ESAG Sênior, o Mais e Melhor Idade, entre outros, a Universidade da Criativa Idade proporcionou aos participantes experiências positivas, novas amizades e conhecimentos. Observa-se também que as questões sobre o comportamento revolucionário do idoso na sociedade contemporânea apontadas por Goldenberg também foram trabalhadas no projeto que atendeu um grupo de pessoas que está a inventar novas formas do idoso se relacionar com seu envelhecimento. Neste sentido, o projeto oportunizou novas experiências e a integração entre diferentes grupos geracionais, os jovens acadêmicos dos cursos de graduação da Univali e as pessoas acima dos 50 anos com tempo livre e abertas à novos conhecimentos. E, para romper com paradigmas antigos associados ao idoso fazem parte do projeto da Universidade da Criativa Idade as oficinas buscaram promover a interação entre idosos e estudantes de graduação.

O desenvolvimento das atividades do projeto foi baseado nas ideias apresentadas por Morace diante das três atitudes da geração pleasure growers. Assim, no projeto de extensão foram incluídas visitas a museus e exposições, reforçando o conceito de turismo pedagógico neste projeto, capaz de colaborar com o desenvolvimento da atividade do turismo e o fortalecimento das relações sociais e culturais dos participantes com seu entorno (Ansarah, 2005; Bonfim, 2010). Pois, para que pudessem ser reconhecidos como referência e criar seu próprio estilo usando referências culturais foram desenvolvidas e apresentadas pesquisas sobre importantes personagens da cultura, da história e das artes. Também foram registrados e amplamente divulgados os resultados destas atividades na fanpage no Facebook da Universidade da Criativa Idade.

Observou-se nas participantes do projeto comportamentos típicos dos novos idosos, corroborando as teorias sobre envelhecimento apresentadas por Morace (2009) e Goldenberg (2011). Nota-se que durante as atividades os idosos participantes do projeto buscavam ser reconhecidos como referência e fonte de inspiração para outras gerações de professores e alunos (Morace, 2009). Outra importante constatação é que o envelhecimento traz ao idoso um novo significado e uma nova relação com a passagem do tempo. Assim, as atividades desenvolvidas procuraram proporcionar experiências agradáveis e de interação social (Morace, 2009, Goldenberg, 2011).

Ressalta-se que esta é uma observação preliminar e carece de estudos aprofundados. As disciplinas e conteúdo que fazem parte do núcleo comum das matrizes curriculares dos cursos de graduação envolvidos, como Sociedade e Cultura e Projeto Interdisciplinar Comunitário podem promover projetos de pesquisas sobre estas temáticas, e os professores orientadores de estágio e dos trabalhos de conclusão de curso também podem vislumbrar no projeto uma oportunidade para fomentar pesquisas relacionadas às oportunidades e desafios de uma sociedade que está a envelhecer. Trata-se de um projeto com características inovadoras e parte dos novos paradigmas relacionados ao comportamento dos idosos na sociedade contemporânea, pois possibilita aos participantes o aprofundamento do conhecimento nas áreas relacionadas à tecnologia, inovação, humanidades, bem-estar, arte e cultura.

Pode-se constatar por meio do monitoramento das alunas nas redes sociais e da indicação espontânea do projeto para familiares e colegas que a Universidade da Criativa Idade obteve um elevado grau de satisfação. Destaca-se que esta é apenas uma consideração diante dos resultados alcançados e da percepção em relação ao comportamento das participantes do projeto, e que são necessárias pesquisas de satisfação para melhor compreender as forças e fraquezas do projeto.

Material suplementar
REFERÊNCIAS
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Baldissera, A. (2001). Pesquisa-ação: uma metodologia do ‘conhecer’ e do ‘agir’ coletivo. Sociedade em Debate, 7(2), 5-25. Link
Barros, R. H. & Gomes, E. P. (2013). Por uma história do velho ou do envelhecimento no Brasil. Revista Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, 27(1), 75-92. Link
Bonfim, M. (2010). Por uma pedagogia diferenciada: Uma reflexão acerca do turismo pedagógico como prática educativa. Turismo - Visão e Ação, 12(1), 114-129. Link
Cachioni, M.; Ordonez, T. N.; Batistoni, S. S. T. & Lima-Silva, T. B. (2015). Metodologias e estratégias pedagógicas utilizadas por educadores de uma Universidade Aberta à Terceira Idade. Educação & Realidade, 40(1), 81-103. Link
Debert, G. G. (1999). A reinvenção da velhice: socialização e processos de reprivatização do envelhecimento. São Paulo: Edusp.
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Santos, F. H.; Andrade, V. M. & Bueno, O. F. A. (2009). Envelhecimento: um processo multifatorial. Psicologia em Estudo, 14(1), 3-10. Link
Stacheski, D. R. (2012). Pleasure growers: experiências e produção de sentido do envelhecimento numa rede social digital. Kairós - Gerontologia, 15(3), 209-223. Link
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Tripp, D. (2005). Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educação e Pesquisa, 31(3), 443-466. Link
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