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TRADUÇÃO E SABER HEGEMÔNICO NO CAPITALISMO TARDIO1
TRANSLATION AND HEGEMONIC KNOWLEDGE UNDER ADVANCED CAPITALISM
Cadernos de Tradução, vol. 42, núm. 1, e75558, 2022
Universidade Federal de Santa Catarina

Artigos


Recepção: 07 Setembro 2021

Aprovação: 15 Dezembro 2021

Publicado: 01 Fevereiro 2022

DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e75558

Resumo: A tradução ocorre em um contexto de assimetria de poder. Ao utilizar duas traduções da seminal Ästhetische Theorie de Adorno como exemplo, este estudo formula uma eclética fenomenologia do poder estruturado ao longo de três imagens metafóricas: o mercado de rua, a linha de montagem e o aparato tecnológico. Alinhando-se alguns conceitos chave da teoria crítica com os estágios de desenvolvimento do capitalismo, será apontado que recontextualizações do pensamento de Adorno em inglês podem refletir o propalado antagonismo entre a filosofia adorniana e a mentalidade cientista dominante nas ciências sociais de meados do século XX. Por fim, este estudo contempla a medida pela qual a imagem anglófona foi refratada em um discurso positivista e neoliberal, que está em desacordo com as convicções utópicas e ideológicas da teoria crítica alemã.

Palavras-chave: Tradução e Filosofia, Teoria Crítica, Assimetrias de Poder, Ideologia, Hegemonia.

Abstract: Translation occurs in a context of power asymmetries. Using two English translations of Adorno’s seminal Ästhetische Theorie as an example, this paper elaborates an eclectic phenomenology of power structured alongside three symbolic images: the street market, the assembly line, and a technological gadget. By aligning some key concepts of critical theory with the evolutionary stages of capitalism, it will be argued that recontextualizations of Adornian thought in English may reflect the well-known antagonisms between Adorno’s philosophical thought and the dominant scientistic mindset of mid-20th century American social science. Ultimately, this paper contemplates the extent to which Adorno’s Anglophone mirror image has been refracted through a positivist and neoliberal order of discourse that is at odds with the ideological, or utopian convictions of German critical theory.

Keywords: Translation and Philosophy, Critical Theory, Power Asymmetries, Ideology, Hegemony.

1. Uma eclética fenomenologia do poder

Em seu bestseller A Singularidade Está Próxima: quando os humanos transcendem a biologia (9), Ray Kurzweil faz o pronunciamento surpreendente de que “próximo ao fim deste século, a parte não-biológica de nossa inteligência será trilhões de vezes mais poderosa do que nossa inteligência humana desamparada”. Kurzweil é um dos mais reconhecidos proponentes de um utopismo tecnológico. O recôndito intelectual de Kurzweil e associados é a Singularity University, lugar onde os as pessoas mais brilhantes do Vale do Silício reúnem-se para a concepção de tecnologias do futuro. A transformação tecnocientífica da humanidade na condição de uma “singularidade” constitui o carro-chefe ideológico de Kurzweil, uma empresa científica que veio a ser conhecida como transumanismo, e a qual Slavoj Žižek recentemente cunhou “apocalipse tecnodigital” (33).

Estas reflexões iniciais sobre a ascensão da ideologia tecnocientífica fornecerá um pavimento para uma narrativa eclética distópica no âmbito da tradução na ordem capitalista globalizada de hoje. A argumentação a seguir pretende pensar a perspectiva das relações transculturais anglo-germânicas, notadamente a tradução inglesa póstuma de Ästhetische Theorie (1970) de Theodor Adorno (1903-1969). Em uma tentativa complementar aos esforços sistemáticos de sensibilização de Karen Bennett (por exemplo, “Critical Language Study and Translation: The Case of Academic Discourse” e “Epistemicide! The Tale of a Predatory Discourse”) quanto ao caráter hegemônico do discurso acadêmico anglófono, o presente texto fornecerá um retrato da interação ainda não teorizada entre poder, ideologia e tradução. Descrições valiosas, embora parciais, desta interação foram apresentadas por teóricos de tradução literária e pós-colonial, a partir dos anos 1990 (p. ex., Venuti (Rethinking Translation: Discourse, Subjectivity, Ideology); Fawcett; Liu; Cronin), e há cada vez mais informações enciclopédicas disponíveis em manuais (p. ex., Leonardi; Baumgarten). Entretanto, pesquisas que investigam a maneiras pelas quais a tradução está implicada em redes (capitalistas) globais de poder tiveram menor safra ao longo dos anos (p. ex., Sakai & Solomon), e não há praticamente nenhum estudo disponível que dialogue com a teoria crítica de linha marxista (não obstante, ver Apter; Dizdar). Então, de forma geral, estamos ainda muito distantes de alcançar um entendimento mais sofisticado do complexo triângulo tradução-poder-ideologia. O cenário distópico a ser desenvolvido reside em uma eclética fenomenologia do poder que se volta a destacar as relações de poder na tradução, a partir da perspectiva da teoria crítica de linha marxista. O argumento a seguir está comprometido com a convicção de que o saber acadêmico liberal promove uma narrativa histórica racionalista que exclui os temas da desigualdade, opressão e exploração da consciência histórica. No que se refere à formatação do arcabouço para fins da discussão analítica, algumas reflexões metodológicas, conceituais e meta-teóricas parecem fundamentais.

Proponentes de uma teoria crítica da sociedade procedem a partir da assunção de que o capitalismo desempenha um importante papel no sofrimento humano. A “abordagem genealógica” (410) de Fredric Jameson presta-se a uma ilustração desta atitude crítica. Baseia-se na explicação evolucionária de Ernest Mandel do capitalismo, e que se desdobra em três estágios dialéticos: o capitalismo de mercado, o capitalismo monopolista e o capitalismo multinacional, todos historicamente congruentes com o realismo, o modernismo, e o pós-modernismo (ibid. 35; cf.Zuidervaart, Adorno’s Aesthetic Theory: The Redemption of Illusion, 260-261). As três seções analíticas seguintes estão amplamente estruturadas acerca de três metáforas imagéticas – o mercado de rua, a linha de montagem e o aparato tecnológico chamado Brinbot – as quais resumem esta genealogia do capitalismo, e as quais serão conceituadas na referência com algumas características textuais e contextuais de duas traduções estadunidenses da Ästhetische Theorie de Adorno. Naturalmente, a história jamais poderia ser tão objetiva, porém uma redução de complexidade pode ser valiosa para desenvolver um argumento que é explícito quanto à existência de desigualdades abrangentes. Jean Baudrillard, por exemplo, insiste que a teorização acadêmica, para ser eticamente crível, deve distinguir as relações de dominação da hegemonia. Baudrillard (33), amparado na dialética histórica de Hegel e na noção gramsciana de hegemonia, sustenta que “a dominação é caracterizada pela relação mestre/escravo”, enquanto a hegemonia constitui o estágio superior da dominação, seu estágio terminal”. O crítico da tecnologia, Andrew Feenberg (16) assevera, em um viés parecido, que a “hegemonia é uma forma de dominação tão profundamente arraigada na sociedade que parece trivial aos dominados”. A hegemonia, enquanto uma ideologia, permanece largamente oculta, quase inacessível à percepção consciente.

Hoje é lugar comum defender que a ideologia do capitalismo tornou-se uma força hegemônica em nossas sociedades globalizadas. Neste contexto, e desta vez por meio de um desvio discursivo, Baudrillard crê que o mundo pós-industrial recairá um dia em um “império da simulação” que corresponde “à eliminação do humano enquanto humano” (123, 125). Guy Debord, por outro lado, mantém que a vida conhecida torna-se um “espetáculo”, o qual “tudo que uma vez foi diretamente vivido afastou-se em mera representação”, e em última instância corresponde ao “capital acumulado ao ponto em que se torna imagem” (12, 24, grifo no original). Tais reflexões distópicas relativas ao caráter discursivo da ordem capitalista portam traços significativos do determinismo teleológico e figuram uma visão do futuro largamente totalitária. Não é, entretanto, totalmente absurdo pensar que as tecnologias de produção e o impacto do consumo massivo possa um dia resultar em uma monocultura globalmente regulada. Este estudo irá, portanto, concentrar-se nas manifestações epistemológicas do “saber hegemônico”, visto em sua implicação com a construção e obliteração de sistemas de saber socialmente determinados.

No coração da teoria crítica reside, em um sentido muito amplo, uma promessa por aliviar o sofrimento humano, assim como a convicção de que a conquista tecnocientífica da natureza revelou um custo enorme. No contexto do capitalismo tardio, Wendling (33) mantêm que “em um mundo alienado, assegura-se o status político e social por conta do trabalho que executa, e não por causa de sua humanidade”. A ideologia da troca capitalista recrudesceu significativamente os níveis de alienação e, em sua ascensão aprendemos a confundir os valores humanos e espirituais com os valores socioeconômicos através de um processo inconsciente de reificação (Lukács). A reificação enseja a aparição de novas tecnologias tecnicistas, tais como o transumanismo (ver Fuller para uma perspectiva crítica), que sugere que o progresso político será obtido a partir de práticas de uma “tecnociência neoliberal” (Pellizoni & Ylönen). Conforme apontado por Žižek ((The Ticklish Subject: The Absent Center of Political Ontology); cf. Santos), entretanto, a busca pela perfeição humana – a qual descreve como um “desejo fantasmático” – não poderia desembocar em um progresso genuíno sem avanços verdadeiramente éticos. Boaventura de Sousa Santos (161-162) dedicou um capítulo inteiro às consequências políticas desastrosas “da relação fantasmal entre teoria e prática”. Segundo ele,

O capitalismo neoliberal vem sujeitando as relações sociais à lei do mercado em um patamar extremo até recentemente impensável: ele inclui a mercantilização da cultura, do lazer, da solidariedade, e até da autoestima, juntamente com a redução ou eliminação de interações não-mercantilizáveis, e que fundamentaram a construção do estado social moderno (educação, saúde, bem-estar).

Na mesma linha de pensamento, Žižek, (The Ticklish Subject: The Absent Center of Political Ontology, 349) indica que no capitalismo pós-moderno “a abstração das relações de mercado que nos determina a vida, alcança um patamar extremo”. À luz destas reflexões críticas, as observações a seguir trabalharão a hipótese da lógica racionalista do mercado concorrencial como um princípio hegemônico subjacente a volumes significativos de traduções publicadas no mundo anglófono. Ao tomar a imagem inglesa mediada de Theodor Adorno como um caso específico, modelo especulativamente a transição histórica do capitalismo de produção ao de consumo em modalidades “tradutórias” de violência epistêmica. Trata-se de um experimento conceitual que se assemelha à teoria romântica de Steiner do movimento hermenêutico (confiança de iniciativa, agressão, assimilação, compensação), embora, diferente de Steiner, intento enquadrar a tradução no contexto histórico da modernidade capitalista.

2. Alienação e dominação: tradução sequestrada?

O empreendimento intelectual de Theodor Adorno surgiu da convicção de que o positivismo filosófico e científico, vigorosamente preconizado e praticado em sua época, apenas teve um potencial muito limitado para superar a alienação contemporânea. A filosofia crítica de Adorno (“On the question: ‘What is German?’”) constitui uma rejeição do discurso dominante ocidental, um discurso que sobretudo nos países anglófonos está impregnado com a ilusão de que a ciência positivista possa trazer libertação material e espiritual. A primeira frase da epocal Dialética do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer (1) põe de manifesto uma crítica incisiva da alienação pós-industrial, assim como da cultura de consumo de massa. “O Esclarecimento, entendido em seu sentido mais amplo como avanço do pensamento, sempre objetivou a libertação dos seres humanos de seu medo, constituindo-os, assim, mestres. Porém, todo o planeta esclarecido está radiante com a calamidade reinante”. Para Adorno, a única receita contra o dogmatismo filosófico era um voo rigoroso em um sistema conceitual que desafiasse qualquer apropriação política ou intelectual (para panoramas críticos do pessimismo histórico de Adorno, sua visão soturna do capitalismo de consumo massivo e a ausência de uma teoria para fins da mudança social ver (Hohendahl (Special Issue on Theodor W. Adorno), (Prismatic Thought: Theodor W. Adorno) e Huhn). Um intérprete anglófono da Teoria Estética de Adorno, Lambert Zuidervaart (xv), descreve o livro como um “labirinto eivado de enigmas metodológicos, conceituais e estilísticos”. Em lugar de ansiar pela clareza conceitual, o discurso de Adorno é caracterizado por uma “concretude conceitual” (Waglé 132) que se rebela contra a “concretude empírica” do pensamento positivista (nota do tradutor em Adorno (Prisms) 11; ver também Waglé 134). Adorno viveu como um judeu imigrante na Inglaterra e nos Estados Unidos entre 1935 e 1949. Não obstante, um exílio infeliz. Adorno abominava o positivismo reinante nas ciências sociais anglófonas, odiava as normas de escrita que insistiam em transparência conceitual, e notadamente deplorava o clima intelectual que parecia quase totalmente conformar-se com o espírito do capital. Em seu ensaio “Sobre a pergunta: o que é o alemão?”, Adorno (“On the question: ‘What is German?’”, 211) protesta:

[o] que estava sendo exigido de mim não era nada além da aplicação lógica uniforme das leis de concentração econômica altamente avançadas aos produtos literários e acadêmicos. [...] A adequação priva as criações espirituais de qualquer coisa talvez nova e produtiva nelas, e pelo que ascendem acima das necessidades consumistas já reguladas. Neste país, a exigência pela conformação do espírito ainda não é total. A distinção ainda está marcada, embora muitas vezes com justificações problemáticas entre as criações autônomas do espírito e os produtos mercadológicos.

A recontextualização do pensamento de Adorno, sobretudo a tradução inglesa de Ästhetische Theorie, parece refletir este antagonismo dual entre sua autoimagem filosófica e a ideologia cientista dominante do pensamento anglo-americano de meados do século XX. É sabido que as reflexões de Adorno sobre a sensibilidade estética e a arte residem em um denso discurso – de fato, aconceitual – que desafia as exigências da composição linear. A ânsia de Adorno pela autenticidade intelectual reside em um ideal imaginário de “verdade artística” consoante uma “aura” singular que se vincula aos objetos históricos. A noção de aura remonta ao ensaio seminal de Walter Benjamin, A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica, o qual sustenta que as obras de arte perdem seu espirito mítico quando esvaziados de sua autenticidade via multiplicação técnica e distribuição em massa. Expor o valor simbólico da aura vinculado às obras de arte no âmbito da era industrial avançada é uma das maiores conquistas da Ästhetische Theorie de Adorno. O livro constitui um apelo ardoroso para que a arte jamais perdesse seu caráter duplo: a arte goza de uma relativa autonomia social, mas também expõe um incessante potencial para a transformação social positiva. Paradoxalmente, entretanto, a arte não serve a nenhuma agenda social, uma vez que “se uma função social pode ser predicada às obras de arte, é a sua falta de funcionalidade”. E este paradoxo reside na afirmação crítica de que “as obras de arte são plenipotenciárias [espaços cativos] de coisas que já não são distorcidas pela troca, o lucro e as falsas necessidades de uma humanidade degradada” (Adorno (c) 227). Em outras palavras, a arte pode servir como um refúgio de esperança e consolação para a humanidade alienada.

A primeira tradução inglesa da Ästhetische Theorie, de Christian Lenhardt, foi publicada em 1984, em uma época em que a recepção anglófona da quadra da teoria crítica de Adorno estava em declínio, somente para reanimar-se nos anos 1990 (Hohendahl, Prismatic Thought: Theodor W. Adorno, 3-20). Robert Hullot-Kentor, um estudioso de Adorno e tradutor da última versão inglesa (Adorno (c)), determina que a tradução de Lenhardt desestabiliza a rede conceitual fragmentada que dá ao texto alemão sua qualidade aurática e enigmática (Hullot-Kentor). Para ele, a primeira tradução compromete a arquitetura fragmentária do livro ao impor um quadro conceitual lógico orientado ao consumo fluente no mundo de fala inglesa. Em uma resenha publicada no periódico de teoria crítica Telos, Hullot-Kentor foi totalmente implacável quanto às deficiências da tradução de Lenhardt, sobretudo no que se referia à satisfação das necessidades mercantis anglo-americanas:

Fundamental a esta adaptação condescendente do livro à educação inadequada de seu mercado potencial (eles nunca aprenderão, é a suposição), [e] à dissolução da coerência interna da obra ao longo de sua ressonância histórica, é o esforço por escamotear a particularidade estrangeira da obra: o “chamativo” como chamativo é a naturalização de uma forma, já não mais vista do outro lado do Atlântico

(144-145).

Adorno denunciara reiteradas vezes o comercialismo da cultura estadunidense, cuja experiência direta teve durante seu exílio nos anos 1940 e 1950. Ele expressava isto no emprego irônico ocasional de termos estadunidenses como “chamativo” [“pin up”], termos que na época encontraram algum espaço na cultura popular falada alemã. Em lugar de ressaltar os esforços de Adorno ao pôr a nu as forças dominantes da indústria cultural estadunidense, como na versão em itálico de Hullot-Kentor, “[n]enhuma escultura grega nua era chamativa” (Adorno (c) 13-14), a versão de Lenhardt encobre este ponto irônico de distância na frase “[n]enhuma escultura grega nua era chamativa” (Adorno (b) 20). Um tipo similar de “apropriação da particularidade estrangeira”, como quiser, pode ser observado na interpretação do termo filosófico Geist (literalmente espírito), o qual de fato parece sintomático do tratamento tradutório dos conceitos:




A tradução de Lenhardt traz a tendência a explanar o significado dos conceitos, os quais no texto alemão são muitas vezes deliberadamente vagos, para que o leitor alemão disponha de uma certa liberdade interpretativa. Deixe-me ressaltar, a esta altura, que não leio as traduções de uma maneira normativa, onde um conceito fonte idealizado seria esquematicamente lançado contra diferentes opções de meta, um dos quais surgiria como a opção preferida do analista. Tampouco esta breve análise aspira exaltar uma tradução em detrimento de outra, ou exprimir decisões tradutórias em um contexto de recepção mais amplo. Mas também deveria ser ressaltado que o tratamento “apropriativo” de Lenhardt dos conceitos não constitui um caso isolado na longa tradição tradutória do discurso filosófico do alemão para o inglês. Seria possível apontar que – ao menos até que a filosofia pós-moderna tenha se consolidado gradativamente no fim do século XX – as traduções apropriativas do alemão para o inglês costumavam ser a norma, e não a exceção. No início do século XX, por exemplo, a psicanálise freudiana teve de lutar pela respeitabilidade nas instituições científicas estadunidenses. Isto teve um efeito poderoso na tradução da obra de Sigmund Freud para o inglês, idealizada por James Strachey, na primeira metade do século XX. Para ampliar a credibilidade científica, os conceitos chave freudianos, tais como das Es [o Isso], das Ich [o Eu], ou das Über-Ich [o Além-do-Eu] foram latinizados nas traduções Id, Ego e Superego (Ornston; Venuti (The Translator’s Invisibility: A History of Translation); Hall). Ao tomar um posicionamento solidário com as traduções padronizadas de Freud, Kirsty Hall mantém que os tradutores “estavam agindo sob grande pressão no sentido do uso de termos formais e médicos”, mas “não obstante suas deficiências”, eles estavam “precisamente afinados com o período” (349, 351; ver também Venuti (The Scandals of Translation: Towards an Ethics of Difference) capítulo 6). Tendo em vista a fenomenologia das relações de poder avançadas em meu argumento, entretanto, o fato de o Freud de fala inglesa empregar notadamente a fraseologia cientista – enquanto a forma alemã fora construída em um registro mais coloquial – pode, de maneira mais pertinente, ser vista como uma instância de “pressão” aplicada no universo da prevalência das normas positivistas – e por conseguinte, hegemônicas – de pensamento e escrita.

Irei agora elaborar esta alegação de apropriação positivista de modo mais exato, no âmbito da história do capitalismo. O exercício de concepção pode ser inicialmente imaginado a partir da perspectiva de uma disposição somática durável – o frequentemente invocado habitus bourdieusiano – o qual vincula atores históricos aos padrões socialmente determinados de comportamento (cf. Gouanvic). O habitus desempenha uma parcela significativa na dominação simbólica exercida por meio de forças do mercado, e é receptivo aos padrões de evolução histórica do capitalismo, uma vez que “o processo de unificação da produção e circulação de bens culturais e econômicos implica uma obsolescência progressiva do mais velho modo de produção do habitus e de seus produtos” (Bourdieu 50). Uma predisposição intersubjetiva anda emparelhada com o desenvolvimento socioeconômico, pelo que o habitus gradativamente internaliza o primado da racionalidade do mercado como princípio inquestionável (cf. as noções de Norbert Elias de ontogênese e filogênese discutidas em Simeone). A imagem do mercado descrita pelas lentes dos três estágios do capitalismo de Jameson oferece uma analogia intrigante à alienação social progressiva experimentada por aqueles engajados em troca material e intelectual. A circulação de bens no mercado de rua pré-moderno, por exemplo, foi acompanhada de uma agitação que gradativamente foi dando passagem ao conceito mais impessoal do alto comércio de rua (Ball & Sunderland 121), até ao atual impessoal comércio virtual online.

O mercado de rua, o espaço simbólico dos primórdios do capitalismo de mercado, permite a expressão de um habitus relativamente indomado, abrindo espaço para a resistência e transgressões normativas contra a ordem dominante. Este cenário clássico de mercado oferece uma franca distinção entre os dominados e aqueles que dominam, onde os atores do mercado ainda são visíveis, onde os vários interesses no poder ainda são identificáveis e perceptíveis. Tais formas não mediadas de dominação foram corroídas nos estágios tardios do capitalismo, onde antagonismos duais desapareciam progressivamente em prol do poder de mercado hegemônico (invisível), criando-se uma situação em que não há praticamente nada fora do modo capitalista de produção e consumo (Baudrillard 33-34). E enquadrado em um contexto mais amplo das relações anglo-germânicas, esta tradução pode ter perdido a oportunidade de ecoar a crítica tortuosa e aconceitual de Adorno, talvez porque não houvesse tanto espaço para a resistência consciente contra a poderosa hegemonia de mercado que regula a publicação acadêmica. Os produtores desta tradução quase-apropriativa podem ter exagerado o fosso fenomenológico e, por conseguinte, o espaço de alienação, que atravessa as duas tradições filosóficas, meramente na conformidade aos ditames da concorrência de mercado e às normas anglófonas de tradução. Em virtude da configuração hegemônica da cena de editoração internacional e devido ao empuxo gravitacional das normas discursivas, os atores partícipes de mercados poderosos estão menos suscetíveis a contrarrestar tendências de domesticação transcultural. Afinal, as traduções são produzidas em um mundo de sérios conflitos econômicos e geopolíticos, onde fortes atores de mercado tendem a atuar em Estados poderosos. Por conseguinte, as estratégias de domesticação do mercado literário anglófono, conforme proposto por Venuti (The Translator’s Invisibility: A History of Translation), também pode ser concebido como formas de marca cultural que objetivam estabelecer posições de mercado dominantes (cf. Banet-Weiser para uma relação simbiótica entre cultura, marcas e mercantilização). De fato, tais estratégias transculturais estão vinculadas a mecanismos de mercado, as quais, por sua vez, estão intimamente ligadas aos níveis crescentes de “dominação social” fundadas “na abrangente e viciosa natureza da concorrência que caracteriza os mercados capitalistas” (Smith 340).

Tendo vivido no centro do mundo capitalista, nos Estados Unidos do pós-guerra, Adorno ponderava a violência epistêmica perpetrada contra conceitos filosóficos no processo de tradução interlíngue. Asseverava que era impossível expressar “sem violência, não apenas os pensamentos altamente especulativos, mas até os conceitos precisos e particulares, tais como Geist [espírito, mente, intelecto], Moment [momento, elemento, aspecto] e Erfahrung [experiência], incluindo tudo com o que eles ressonam em alemão” (Adorno, “On the question: ‘What is German?’”, 213). As meditações de Adorno quanto à autotradução nos lembra um aparente “epistemicídio” cometido por intelectuais portugueses que autotraduzem sua obra para o inglês, quando consciente e inconscientemente distorcem seus textos alvo em direção às mais poderosas normas do inglês acadêmico (Bennett, “Epistemicide! The Tale of a Predatory Discourse”). Todo o contato transcultural reside em acessos desiguais a tipos de capital simbólico, social, cultural e econômico (Bourdieu parte 1), pelo que a violência epistêmica quase inevitavelmente ocorre quando conceitos filosóficos atravessam línguas e culturas. A distribuição desigual de recursos permanece não somente uma questão polêmica para a tradução entre uma língua hegemônica e outra não-hegemônica, porque as relações assimétricas de poder também são uma fonte de conflito para a tradução entre duas línguas hegemônicas como o inglês e o alemão, sobretudo quando contextualizadas no mercado global da editoração acadêmica internacional.

3. Reificação e hegemonia: tradução apagada?

Como sustentou Lukács (91),

[a] reificação exige que a sociedade aprenda a satisfazer todas as suas necessidades no escopo do intercâmbio de mercadorias. A separação do produtor de seus meios de produção. A dissolução e a destruição de todas as unidades de produção ‘naturais’ etc., além de todas as condições sociais e econômicas necessárias para a emergência do capitalismo moderno tendem a substituir as relações ‘naturais’ que manifestam as relações humanas de modo mais explícito, pelas relações racionalmente reificadas.

Os conceitos de alienação e reificação são fenômenos epistemológicos normativos. A evolução histórica do capitalismo, da era pré-moderna via industrialização para o capitalismo de consumo em massa, reforçou gradativamente a alienação social, e isto envolve um desprendimento emocional de nossos arredores naturais e de nós mesmos. A reificação constitui processos mentais subjacentes que internalizaram os princípios das relações capitalistas, e neste particular veio a ser diagnosticada “como o mecanismo central pelo qual a forma-mercadoria permeia toda a cultura do capitalismo” (Zuidervaart, Adorno’s Aesthetic Theory: The Redemption of Illusion, 265). Porquanto a hegemonia do mercado internalizou-se como um princípio quase-universal de conduta, as forças de resistência tendem a ser mais difíceis de orquestrar; na verdade elas se tornam adequadas e assimiladas pela ordem social dominante, que tende a fortalecer-se o suficiente para tolerar certos graus de desvio e transgressão da norma. A crescente oposição contra a globalização de feição corporativa (cf. Santos), entretanto, faz lembrar que a reificação pode apenas servir como um dispositivo explicativo para detectar amplas tendências sociopsicológicas. As relações de poder executadas nas condições da sociedade capitalista engendram um estado de espírito que Adorno em Ästhetische Theorie ((c) 154) descreveu como “consciência positivistamente reificada”.

A tradução oferece uma janela única de como o habitus de uma consciência reificada – seja da parte dos próprios tradutores ou outros agentes envolvidos no processo de mediação – mobiliza-se no processo de composição textual. Segundo Venuti (The Translator’s Invisibility: A History of Translation), a tradução para uma língua hegemônica, como a tradução para o inglês, tende a ser determinada pela tendência à domesticação, a qual entrava a particularidade estrangeira da cultura originária. Este estado de coisas é em larga medida dependente de pressões ideológicas que exigem o estabelecimento de uma experiência de leitura fluente em inglês. Ainda assim, atender uma experiência de leitura sem esforço não apenas prejudica a especificidade cultural do discurso originário, como ameaça apagar sua marca epistemológica. Um estudo futuro, portanto, teria de demonstrar de modo mais convincente que a ideologia da leitura sem esforço está fundada na reificação do modo de produção e consumo capitalista (cf. exposição sobre a tradução na economia política global de Cronin). Não seria injustificado supor que as atuais práticas de tradução do campo das ciências humanas e sociais para o inglês tendem a engendrar um gradual “apagamento” das formas de saber – por conseguinte, não anglófonas e talvez menos mercantilizadas – não-hegemônicas. O apagamento tradutório pode ser notado na versão da Ästhetische Theorie de Lenhardt, dado que desmonta a estrutura não-linear, fragmentária e aforística do livro. Para além desta não-linearidade, o texto alemão é composto de várias sequências paratáticas e dispositivos linguísticos hipotáticos, tais como o emprego raro de conjunções subordinadas. Adorno tampouco emprega referências cruzadas na forma acadêmica convencional, tais como, conforme mencionado acima ou como já mencionado. Esta é uma posição típica de apagamento da forma paratática do texto alemão, em comparação com a versão muito próxima, quase literal de Hullot-Kentor:




O apagamento da exposição paratática do livro é apenas um aspecto da reorganização estrutural de Lenhardt a serviço da legibilidade e do consumo sem esforço. Em sua resenha na Telos, publicada pouco depois da apresentação da tradução de Lenhardt, Hullot-Kentor (146) critica veementemente a reorganização estrutural e suas consequências. E mais uma vez, ele é explícito no que diz respeito às ligações entre a mercantilização cultural e as estratégias de tradução:

A Teoria estética não é a representação de uma linha de raciocínio que pode ser seguida longitudinalmente. O livro literalmente não está lá; apenas pode ser pensado pela imaginação: como Adorno diz da obra de Hegel, apenas pode ser lido associativamente. A continuidade externa que é forçada na obra por meio da tradução não torna o livro íntegro; ela o destrói em pedaços. Temas marcantes são esquecidos, certo de que serão citados infindavelmente tendo seus conteúdos eviscerados. Assim como as várias outras maneiras pelas quais a mercadoria simula proximidade, com toda a parafernália da personalização, o resultado é a despersonalização; o conteúdo experiencial da obra é destroçada ao ter sua distância cancelada, a qual é, em última instância, a intensidade deste processo interno. [...] A tradução documenta o conteúdo mítico que foi sobreposto na obra: dado que as seções não são, para nada, sequenciadas unidirecionalmente; seguir os números apenas garante estar perdido.

Afora uma elucidação detalhada de várias outras técnicas de reformulação conceitual e estrutural, a crítica de Hullot-Kentor almeja o espírito objetivista subjacente, no qual a tradução se desenvolvera. Um espírito que, dominado pela “razão subjetiva”, não parece assimilar totalmente aquele conteúdo e forma; é o idêntico no pensamento de Adorno (147). A tradução, neste sentido, surge como um exímio exemplo de pensamento identitário, o qual, ao tratar o texto alemão como uma mercadoria alienígena, parece ao mesmo tempo eliminar sua subjetividade. A tentativa de “personalizar” o texto para o leitor estrangeiro está fadado a lograr o oposto, ao apenas alienar o leitor do subsequente potencial crítico do livro. A erradicação da distância sociocultural, portanto, parece privar o leitor de um acordo total com a obra de Adorno, como “uma crítica das relações de produção: da técnica que é organizada como dominação da natureza” (ibid.). Em síntese, “uma consciência positivistamente reificada”, para utilizar a frase adorniana, inscrita nas condições estruturais do capitalismo de consumo de massa, deixou vestígios significativos nas estratégias de tradução empregadas. A desaprovação de Hullot-Kentor encontrou-se com um artigo de longa data de Christian Lenhardt, que foi impresso logo antes daquela resenha. Curiosamente, Lenhardt pareceu um pouco constrangido, e de fato por demais apologético. Sua avaliação de seus próprios esforços linguísticos ao fim do artigo é intrigante:

O alemão de Adorno é um modelo de Prägnanz (economia de palavras). Retrospectivamente, eu poderia ter tentado imitá-lo melhor, ou pelo menos alcançar um melhor equilíbrio entre este e a verbosidade que é um aspecto constitutivo da língua inglesa. Na minha opinião, o inglês é uma verdadeira língua tagarela. De todo modo, o que eu teria desejado alertar aos leitores é que o que eles têm diante deles não é a ‘coisa real’, e que se eles estivessem seriamente interessados em Adorno, que o melhor seria começar a aprender alemão. Adorno não insiste apenas que a apresentação (Darstellung) é tão importante quanto o conteúdo, mas também estava convencido, com base em sua experiência na Inglaterra e nos Estados Unidos, de que o inglês é um veículo pobre para a sua filosofia. Este pensamento de algum modo orienta-se aos tradutores que se exculpam, que se sentem apologéticos quanto ao que fizeram, e estou incluído neles

(Lenhardt 152, grifos no original).

Adorno estava, quintessencialmente, perdido nas sutilezas do anisomorfismo linguístico e nos jogos de força da editoração acadêmica estadunidense. É interessante notar que o estilo de escrita condensado e aforístico de Adorno motivou seu retorno prematuro dos Estados Unidos à sua terra natal em 1949. A edição de um de seus artigos de língua inglesa, para a sua decepção, em lugar de assentir o aperfeiçoamento das deficiências estilísticas de um falante não nativo, “desfigurou” o texto “para além de qualquer reconhecimento”, ao ponto em que “as intenções fundamentais não puderam ser recobradas” (Adorno, “On the question: ‘What is German?’”, 210-211). Para Adorno, tais práticas eram indicativas de um clima intelectual positivista, no qual o pensamento original era “filtrado por meio de um mecanismo, obediente àquela técnica de adaptação quase universal, que rearranjava e dimensionava, e ao qual autores desamparados tinham de se submeter, nos Estados Unidos” (211). Não obstante, enquanto a concisão habitual do discurso acadêmico alemão pode ter encontrado seu ápice na maneira adorniana com as palavras, é um fato empírico reconhecido que as normas de escrita inglesa exigem que “é de responsabilidade do autor apresentar material em uma forma legível”, enquanto “a tendência das culturas de língua alemã é que o leitor seja responsável pelo entendimento do conteúdo que o autor disponibiliza” (Clyne 139). Ao traduzir-se o discurso de Adorno para o inglês, surge a tentação por desembaraçar sua complexa “economia de palavras”, de forma a conformar-se tanto às expectativas normativas de um editor quanto ao público anglófono.

Apesar destes obstáculos práticos, a assertiva de Lenhardt de que os leitores monolíngues do inglês em sua leitura da teoria crítica alemã, caso “seriamente interessados”, deveriam “começar a aprender o alemão”, tem um significado mais profundo que a imagem de um tradutor jogando a toalha. Por conseguinte, seu apelo pela não tradução pode ser visto à beira de um habitus sob o domínio da lógica hegemônica da troca de mercadorias. Este habitus tradutório reificado pode ser ilustrado em outra imagem, desta vez de uma fase do capitalismo industrial que anunciou a aceleração do trabalho alienado e uma ampla mercantilização das relações sociais. A linha de montagem pode funcionar como espaço simbólico tanto do capitalismo industrial como o do consumo de massa, uma vez que fornece um sentido mais incisivo de poder centralizado e trabalho alienado do que faz a imagem do mercado de rua. Por extensão, acaba simbolizando a “correia de transmissão” das traduções domesticadas (orientadas ao mercado) para as línguas hegemônicas.

A despersonalização do trabalho e das relações sociais encarnada na linha de montagem facilita o livre fluxo de mercadorias e capital. Um mecanismo de produção racionalizado e uma burocracia centralmente regulada, ademais, deprimem as opções individuais pela resistência e transgressão. Vale destacar que em 1911, pouco depois de Henry Ford inaugurar sua linha de montagem, Frederick Taylor publicou Os Princípios da Administração Científica, um tratado posto a revolucionar a cada vez mais eficiente organização do trabalho, e aquilo tornou-se o mensageiro de uma ideologia empresarial conhecida como taylorismo (Harvey 28). Uma explanação engajada da alienação e da mercantilização do trabalho permanece um desiderato para a teoria da tradução moderna, a qual em sua reverência duradoura orientada à crítica pós-moderna da cultura e da história, negligenciou analisar os valores socioeconômicos subjacentes do intercâmbio transcultural. Há quase vinte anos, Lydia Liu (13) defendeu esta reorientação de prioridades analíticas, porque os teóricos se sentiriam, neste caso, “menos inclinados em insistir na plenitude do significado e começar a articular o problema da tradução [no contexto da] economia política do signo”. Enquanto uma virada visível na direção da problemática da economia política aguarda realização nos estudos de tradução, traduções domesticadas para uma língua poderosa como o inglês devem ser mais convincentemente contextualizadas no âmbito dos princípios hegemônicos da globalização econômica (cf. Apter).

Ao mesmo tempo, as traduções estrangeiras feitas para uma língua e cultura hegemônica estão destinadas a remar contra a maré das normas do discurso dominante e das políticas de poder acadêmico, ainda mais quando estas traduções estão fundadas em um texto fonte que minuciosamente desconstrói as próprias coordenadas de nossa existência social e econômica. Além disso, a abordagem rigorosa literal e, por conseguinte, não apropriativa, como evidente na tradução da Ästhetische Theorie de Hullot-Kentor exige grandes esforços de exegese histórica, além de uma sensibilidade considerável quanto às peculiaridades do estilo de escrita denso e idiossincrático de Adorno. Neste contexto, a avaliação de Lambert Zuidervaart (Review of Aesthetic Theory”, 195) da tradução de Lenhardt como “excelente”, exibindo “inglês idiomático que capta a essência sem perder as nuances”, uma tradução que tem a capacidade de “auxiliar, em lugar de obstruir a compreensão”, contrasta com o posicionamento crítico de Hullot-Kentor e suas estratégias de tradução, e de fato parece estar alinhado com a linha convencional das avaliações de traduções anglófonas.

Karen Bennett ((“Critical Language Study and Translation: The Case of Academic Discourse”)(“Epistemicide! The Tale of a Predatory Discourse”)) e o sociólogo da globalização Rolando Vázquez abordam o fenômeno da perda conceitual na tradução (ou o “apagamento tradutório” discutido aqui) a partir da perspectiva do expansionismo epistêmico, do ponto de vista de uma modernidade hegemônica ocidental, em lugar de uma perspectiva materialista histórica. As noções chave do “epistemicídio” (Bennett, “Critical Language Study and Translation: The Case of Academic Discourse”, 111) e da “violência epistêmica” (Vázquez 27) problematizam a violência simbólica (e por consequência largamente institucional) atrelada à difusão de saberes hegemônicos no tempo e no espaço. Ao lançar mão de uma abordagem pós-colonial, Vázquez (31) argumenta que os saberes ocidentais etnocêntricos mantêm a resistência à alteridade das epistemologias não-ocidentais, uma vez que “a violência da expansão do território epistêmico da modernidade é um desdém de todas as que não seguem aqueles parâmetros de legibilidade e correção”. Bennett (“Epistemicide! The Tale of a Predatory Discourse”) mantém que a tradução do discurso acadêmico português para o inglês tende a ser regido por mudanças discursivas de um estilo não-linear, não-romântico a um discurso de prosa linear – e por tal objetificado – em inglês. Para ela, o epistemicídio resultante é causado pela “tendência normalizadora do discurso acadêmico anglófono e sua obstinação em eliminar todos os rivais” (166), o que equivale a “nada menos que genocídio simbólico” (154). No nível textual, isto se reflete em uma “total destruição e reconstrução de toda a infraestrutura do texto, com consequências profundas no que toca a visão de mundo codificada neste” (ibid.). Pode-se argumentar que a avaliação condenatória de Bennett está em certa medida refratada na primeira tradução da Ästhetische Theorie, e que sua descrição pode também ser proficuamente ligada ao perpetuum mobile da reificação comunicativa, em outras palavras, às maneiras pelas quais subconscientemente moldamos nossa língua à hegemonia vigente das relações de mercado.

4. O império do capital: pensamento crítico assimilado?

Deixe-me aportar as modalidades da violência epistêmica por meio da tradução a um imaginário próximo, voltando ao futuro. Há sete anos, em um evento de nove dias na Singularity University, Sergey Brin, um dos fundadores do Google, orgulhosamente apresentou o “Brinbot” a seu público. Porém não o fez pessoalmente, sua imagem e voz eram projetadas por meio de videoconferência no rosto de um robô perambulando pelo auditório. Tratava-se de uma performance que apenas poderia ser disfrutada por aqueles que dispunham de meros $15.000 para a taxa de inscrição (Vance). O acesso a ciência de ponta permanece o bastião exclusivo de uma elite economicamente privilegiada, cujo resto está fadado a observar de longe o espetáculo tecnológico, ou entregar-se à realidade simulada da parafernália eletrônica (cf. Debord; Baudrillard).

Em um de seus últimos escritos, The Agony of Power, Baudrillard vislumbrou uma progressão histórica das relações de produção reais designadas para satisfazer as necessidades das pessoas com vistas a uma hiper-realidade completamente tecnologizada. Esta realidade substitutiva atende qualquer necessidade e desejo, porém ao preço do sacrifício da própria realidade. Na imaginação de Baudrillard, e lançado a um alto nível de abstração, a pós-modernidade prostra-se no limiar da emergência de um império tecnocrático globalizado que se mantém regido pelas forças do capital internacional. (Ironicamente, estou escrevendo estas palavras no dia em que uma controversa magnata da propriedade, sem experiência em liderança política, recebeu as chaves da Casa Branca!) Para meu argumento sobre o impacto socioeconômico da tradução entre o inglês e outras línguas são significativas as visões de Baudrillard quanto ao papel das relações de poder societais:

Em um sistema de dominação, quando você é um escravo ou mesmo um trabalhador assalariado, você é parte, de toda forma, do lado mais fraco. Mas você existe como tal e não como vítima. E é por isso que pode fazer greve ou revoltar-se. Em um regime hegemônico, ao contrário, não somos escravos, mas reféns. Portanto, todos somos vítimas, todos em desgraça... A era da hegemonia é a era do sistema cibernético. Ele governa, ele regula, mas não domina. Não há mais explorados ou dominados. Há outra coisa, algo mais difícil de superar de súbito. É mais difícil de criticar também, porque o pensamento crítico é desvitalizado neste caso. É assimilado...

(Baudrillard 121-122).

O que está em jogo para Baudrillard é a hegemonia do capital e a comercialização da vida cotidiana. Em sua introdução editorial, Sylvère Lotringer observa que “Baudrillard percebeu que a produção estava resvalando para o consumo... Em breve, todos seriam consumidos pela intercambiabilidade do capital” (ibid. 12). As investigações da atividade tradutória no capitalismo de consumo de massa tardio não apenas precisam reconhecer a precariedade de uma adoção irreflexiva de conceitos, como ideologia e poder, elas também precisam dar conta do impacto da hegemonia da troca capitalista no nível micro da tomada de decisão tradutória. Em um sentido parecido, Lydia Liu (19) sugere que “o estudo do significado na economia política do signo precisa ser fundada na história real da circulação global do valor-significado”, uma abordagem que tentei ilustrar quanto à primeira tradução domesticada da Ästhetische Theorie para o inglês. As visões de Adorno sobre as frequentes representações errôneas de sua escrita na tradução inglesa enquanto vivia e trabalhava nos Estados Unidos de fins dos anos 1940, prefiguram o diagnóstico de Baudrillard sobre o capitalismo hegemônico, e elas demonstram que estas interpretações errôneas apenas podem ser adequadamente entendidas quando avaliadas no quadro da modernidade ocidental capitalista:

As intenções que não estão contentes com o status quo – eu diria intenções qualitativamente modernas – vivem de seu atraso no quadro do processo da exploração econômica. Este atraso não é particularidade da nacionalidade alemã, mas demonstram contradições na totalidade societal. A história, até agora, não conheceu nenhum progresso linear. Contanto que o progresso corra em uma única vertente, nos trilhos da mera dominação da natureza, então qualquer coisa que espiritualmente se estenda para além daquilo, muito provavelmente se personificará naquilo que não se manteve completamente atado com a tendência dominante...

(Adorno, “On the question: ‘What is German?’”, 211-212).

O trabalho filosófico que é capaz de “estender espiritualmente” os parâmetros do senso concebido contribui significativamente para a construção do novo saber. A “tendência dominante”, a qual Adorno sempre se opôs, era naturalmente o positivismo científico, uma ideologia educacional que se arraigara solidamente em meados do século XX no mundo anglófono. E as pesquisas futuras poderão analisar oportunamente em que medida as ideologias positivistas transparecem nas traduções literárias e acadêmicas para o inglês. Traduções domesticadas da obra de Adorno podem ser avaliadas recorrendo à problemática do epistemicídio tradutório (Bennett, “Epistemicide! The Tale of a Predatory Discourse”). A prática da tradução ocorre em um contexto de relações desiguais de poder e, portanto, toda tradução tende ao risco de prejudicar a marca epistemológica do parceiro mais fraco no intercâmbio comunicativo. Este estado de coisas torna-se contundente no contexto do inglês como lingua franca no intercâmbio acadêmico internacional (vale também ressaltar aqui o uso do inglês como língua “intermediária” em encontros tradutórios entre idiomas não-hegemônicos). Acadêmicos de todo o mundo sentem uma pressão cada vez maior por disponibilizar sua obra em inglês. Se por um lado esta transferência interlíngue de fato aumenta o entendimento transcultural, o contato tradutório entre o inglês e as outras línguas é negociado em um contexto de “assimetria hegemônica”, termo cunhado por Enrique Dussel (155). Com respeito à criação do novo saber através do intercâmbio interlíngue, desequilíbrios hegemônicos podem ensejar ocorrências de epistemicídio, que tem o potencial de causar o apagamento gradativo de diferentes visões de mundo.

Muitos trabalhos canônicos da teoria crítica alemã são sustentados por uma tradição especulativa e utopista de escrita acadêmica que não valoriza ou promove uma experiência de leitura fluente. Percebida a partir de um habitus hegemônico anglófono, especialmente a obra de Adorno corre o risco de ser assimilada em um universo discursivo que preza a clareza conceitual e a exatidão empírica para além de qualquer outra coisa. Em sua forma histórica negativa, a tradução abraça a uniformidade e a homogeneidade, ela poderá sufocar a comunicação transcultural e ter o poder de apagar a pluralidade epistemológica. Mas a tradução não deve ser vista apenas como uma prática negativa. Assim como toda prática cultural, a tradução demonstra um potencial para a mudança positiva, um potencial que poderá manifestar-se não somente como reação às armadilhas da hegemonia cultural e as estruturas associadas de saber, mas também contra as forças centrífugas do capital internacional e da política neoliberal. Nesta perspectiva, uma tradução inglesa que não faça concessão ao leitor, tal como a refração quase interlinear da Ästhetische Theorie efetuada por Hullot-Kentor, poderá ser um desafio à ortodoxia positivista reinante da fluência acadêmica e da arquitetura epistemológica da modernidade ocidental capitalista. Para o sociólogo da globalização, Rolando Vázquez, há dois processos epistemológicos conflitantes em jogo na negociação tradutória dos valores socioculturais:

A tradução designa a permeabilidade; o movimento às bordas de uma determinada língua, um dado sistema de significado e mais amplamente de um dado território epistêmico. [...] [A] tradução como apagamento fala da colonialidade da tradução; isto é, a maneira pela qual a tradução desempenha uma função de guarda de fronteiras e expande o território epistêmico da modernidade. Por outro lado, a tradução como pluralidade fala da configuração de diálogos e do pensamento das fronteiras que desafia o sistema de opressão moderno/colonial

(Vázquez 27, grifo no original).

Do ponto de vista ético, utopista, a função histórica da tradução pode ser vista como acolhedora da pluralidade. Neste habitus histórico positivo, a tradução abraça a alteridade e a diferença, cultiva o diálogo transcultural e auxilia a manter o equilíbrio ecolinguístico em todo o mundo. A teoria da tradução moderna precisa insistir no significado da salvaguarda sociocultural e da diversidade epistemológica. É de fato imperativo destacar o potencial positivo da tradução na resistência orientada a uma expansão descontrolada do “território epistêmico da modernidade ocidental”, mas sem concentrar-se diretamente no problema do neoliberalismo globalizado orientado tecnologicamente, todos os nossos debates sobre a tradução como uma força social positiva permanecerão estranhamente desconectados das reais lutas de poder atuais.

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Notas

1 N. do T.: Baumgarten, Stefan. “Translation and hegemonic knowledge under advanced capitalism”. Target, 29, (2), 2017, p. 244-263. A tradução foi cordialmente concedida, tanto pela editora do artigo original, John Benjamins Publishing Company (https://benjamins.com/catalog/target) – Amsterdã/Filadélfia, como pelo autor.

Autor notes

Stefan Baumgarten. E-mail: stefan.baumgarten(at)uni-graz.at.Sergio Ricardo Oliveira. E-mail: serge.rk@gmail.com



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