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Kasperska, Iwona; Villegas, Irlanda; Donés, Amaia M. Ideologías en traducción: literatura, didáctica, cultura. Frankfurt am Main: Peter Lang, 2016, 284 p.
Karine Razzia
Karine Razzia
Kasperska, Iwona; Villegas, Irlanda; Donés, Amaia M. Ideologías en traducción: literatura, didáctica, cultura. Frankfurt am Main: Peter Lang, 2016, 284 p.
Cadernos de Tradução, vol. 42, núm. 1, e77744, 2022
Universidade Federal de Santa Catarina
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Resenha

Kasperska, Iwona; Villegas, Irlanda; Donés, Amaia M. Ideologías en traducción: literatura, didáctica, cultura. Frankfurt am Main: Peter Lang, 2016, 284 p.

Karine Razzia
Universidade Federal do Ceará, Brasil
Cadernos de Tradução, vol. 42, núm. 1, e77744, 2022
Universidade Federal de Santa Catarina
Kasperska Iwona, Villegas Irlanda, Donés Amaia M.. Ideologías en traducción: literatura, didáctica, cultura. 2016. Frankfurt am Main. Peter Lang. 284 p.pp.

Recepção: 24 Junho 2022

Aprovação: 14 Outubro 2022

Publicado: 01 Dezembro 2022

Em um mundo de condutas e discursos individualistas, Ideologías en traducción: literatura, didáctica, cultura é um trabalho a várias mãos. Fruto do empenho de pesquisadores, docentes, tradutores e intérpretes da Espanha, México e Polônia, esse volume coletivo de 284 páginas é composto por 15 artigos que abordam os aspectos ideológicos da tradução. São exploradas, entre outras, a intersecção da tradução com a literatura comparada, os estudos culturais, a comunicação intercultural, a dramaturgia e os estudos da tradução.

Idealizado durante os preparativos do projeto IDEO-TRANS (Implicações ideológicas da tradução intercultural) e coeditado pelas pesquisadoras Iwona Kasperska, Irlanda Villegas e Amaia Donés Mendia, o livro examina desde a seleção dos textos a serem traduzidos à recepção de textos canônicos e periféricos nas culturas de chegada. São examinadas, ainda, a tradução de documentos oficiais e textos teatrais, a reescrita e novas leituras de textos antigos e as estratégias e políticas de tradução e edição.

Apesar dos posicionamentos distintos, os autores compartilham a importância da ideologia nos textos e nos discursos e entendem a ideologia como processo e como resultado. Assim, os artigos mencionam o entrelaçamento da ideologia com a tradução e afirmam a impossibilidade de neutralidade nos processos tradutórios, sob a premissa geral de que todo sujeito é um ser ideológico.

Cada texto de Ideologías en traducción: literatura, didáctica, cultura constitui um capítulo, listado no índice do volume. A introdução menciona, de maneira objetiva, o título, o autor e o tema central de cada texto, de forma que o leitor pode direcionar a ordem da leitura segundo o seu interesse:

Lailao la deliberada invisibilidade de la cultura catalana, de Pilar Arnau i Segarra: trata da prática da autotradução, e toma como exemplo o romance De Nador a Vic (2004) de Laila Karrouch, traduzido do catalão para o castelhano como Laila. Explora a “psicose autoral” dos autores que se autotraduzem, diferencia a autotradução opaca da transparente, e, principalmente, questiona as raízes ideológicas do apagamento das marcas de identidade catalã na tradução para o castelhano.

La traducción de intencionalidades de la literatura medieval a una lengua moderna: un aspecto más para tener en cuenta, de Miguel Ayerbe Linares: observa as dificuldades dos tradutores, suas decisões e resultados tradutórios no que diz respeito às denominações medievais referentes à Virgem Maria, dado o dilema de diferenciá-la das outras mulheres casadas, ante o propósito da perpetuação da virgindade da figura religiosa como mulher, mãe, esposa e virgem. Para tanto, faz um estudo comparativo1 de Heliand, um poemário sobre a vida de Cristo.

Canon poético y traducción creativa en una cadena de traducciones: de Miłosz a Pacheco, de Carmen Dolores Carrillo Juárez: ressalta a contribuição do poeta mexicano José Emilio Pacheco ao transportar para o domínio público os poemas do polonês Miłosz. Tais poemas, traduzidos pelo próprio Miłosz para o inglês e posteriormente por Pacheco para o espanhol, são considerados, nessa cadeia de traduções, como “aproximações”, ou seja, textos poéticos embasados nos poemas de Miłosz. Trata-se de mais um caso de autotradução.

Gombrowicz en español a cargo de Sergio Pitol: ¿traducciones irrelevantes o relevante falta de interés? de Monika Dabrowska: analisa a recepção da tradução da obra de Gombrowicz para o inglês, o francês e o espanhol, e questiona a diferença (ou a indiferença) da recepção das versões do tradutor mexicano Sergio Pitol, com a suspeita de um olhar eurocêntrico por parte dos estudiosos da obra, que considerariam as versões hispânicas periféricas.

Traducción o transliteración del texto teatral. Ejercicio minimalista de la pieza teatral Karol de Sławomir Mrożek, de Carlos Dimeo Álvarez: trata das peculiaridades dos textos teatrais quanto aos processos de tradução, e leva em consideração a participação de outros atores nesses processos, tais como o dramaturgo, o diretor de cena e o elenco.

Tendencias, criterios y divergencias en la traducción de un antiguo canto nahua, de Miguel Figueroa-Saavedra: analisa cinco versões traduzidas para o castelhano e para o inglês do canto nahua Xopancuicatl, otoncuicatl, tlamelauhcayotl, realizadas por tradutores diferentes em um intervalo de cem anos. Leva em consideração a função social atribuída à tradução, a interpretação do passado segundo os nossos próprios dilemas, os momentos históricos e os aspectos ideológicos dessas traduções.

Una novela posmemorial polaca en España. El caso de Tworki de Marek Bieńczyk, de Małgorzata Gaszyńska-Magier: enfoca os contextos de recepção da tradução para o castelhano2 do romance polonês Tworki, levando em consideração os aspectos geográficos, históricos, culturais e literários desses contextos, evidenciando a censura espanhola sob o regime franquista.

Pierre Loti e Isla de Pascua: diarios, traducciones, visiones, de Zuzanna Jakubowska-Vorbrich: observa as manipulações e o empobrecimento dos aspectos antropológicos e culturais, nas traduções para o espanhol e para o inglês do diário de viagem de Pierre Loti3 à Ilha de Páscoa, no século XIX. Tais manipulações, baseadas em fontes pouco fidedignas, contribuíram para uma visão distorcida e estereotipada dos habitantes da Ilha de Páscoa.

¿Están libres de ideología la enseñanza y el aprendizaje de la traducción? de Iwona Kasperska: aponta como as crenças e as opiniões dos sujeitos ideológicos envolvidos direta e indiretamente nos processos de ensino/aprendizagem da tradução se refletem na pedagogia da tradução, influenciando aspectos como a escolha dos textos, as estratégias didáticas e os programas de estudo. Destaca o papel da universidade como representante ideológica do Estado, enquanto subordinada ao Ministério da Educação, e defende o rompimento com a assimetria entre docente e estudante, por meio de uma prática baseada em projetos de pesquisa, para uma verdadeira autonomia nos processos de aprendizagem.

La traducción de John Milton en Hispanoamérica, de Mario Murgia: analisa diferentes traduções da obra de John Milton para o castelhano, com enfoque na bagagem ideológica e no contexto em que tais obras foram escritas, traduzidas e lidas, além de questionar o porquê da tradução tardia da obra do poeta e político inglês, de aspectos revolucionários e humanistas, para o mundo hispânico.

La ideología dominante en la traducción como ruptura de genealogías feministas, de María Reimóndez Meilán: dentre vários exemplos, faz uma análise crítica das traduções de Under Western Eyes, de Chandra Talpade Mohanty, ao castelhano4, com enfoque na (in)visibilização das tradutoras, suas condições de trabalho, a violação de seus textos e o apagamento de suas marcas ideológicas. Destaca a premissa de que nem o processo nem o produto de uma tradução são neutros ideologicamente, por mais que a pedagogia da tradução pregue a neutralidade e a objetividade da prática.

La transculturalidad en la literatura fronteriza: el problema del code switching y su traducción, de Anna Skonecka: ressalta a identidade híbrida das populações fronteiriças, manifestada por meio do code switching. Para tanto, utiliza como exemplo o romance The Brief Wondrous Life of Oscar Wao, do escritor Junot Díaz5, fazendo uma análise do texto fonte em inglês e de duas traduções6, uma para o espanhol e outra para o polonês, analisando as estratégias de tradução, as decisões de como lidar com nomes próprios e o dilema de expor ou ocultar as marcas de latinidade como caráter exótico.

La interpretación y explicación del texto especializado (documentos oficiales): el papel del traductor/intérprete, de Edyta Kwiatkowska-Faryś e Agata Wolarska: analisa uma série de documentos oficiais no par espanhol/polonês para explicar o caráter ideológico dos textos oficiais e jurídicos, apontando como esse tipo de texto especializado reflete a parte legal de uma sociedade e o tratamento dado aos setores que a compõe. Ressalta também as estratégias de tradução resultantes do conhecimento de mundo e dos preceitos ideológicos dos tradutores, os quais, de acordo com as autoras, correm o perigo de recair no que chamam de “abuso interpretativo”.

Situación de la literatura polaca sobre la Segunda Guerra Mundial en España, de Joanna Wyszyńska: evidencia a posição periférica do polissistema literário espanhol em relação ao polonês, no que diz respeito à literatura acerca da Segunda Guerra Mundial, por meio de estudo centrado na situação, no contexto europeu, das traduções para o espanhol de cinco obras canônicas: Diario del levantamiento de Varsovia de Miron Białoszewski, Nuestro hogar es Auschwitz de Tadeusz Borowski, Un mundo aparte de Gustaw Herling-Grudziński, Medallones de Zofia Nałkowska e Una mujer en Birkenau de Seweryna Szmaglewska. A autora compara as políticas editoriais de diversos países para entender a postura das editoras espanholas em relação a esse tipo de literatura, apontando as condições sociais, políticas, históricas e ideológicas do contexto espanhol.

Procesos traductorales en el aula intercultural: ejercicios discursivos y vigilancia de hábitos para la transformación epistémica, de Irlanda Villegas: demonstra como docentes e estudantes, enquanto tradutores culturais, podem insistir para uma transformação epistêmica através da ruptura da estrutura acadêmica típica de terceiro mundo que imita identidades hegemônicas. Utiliza como exemplo a experiência do uso de três exercícios dialógicos diferentes em uma aula intercultural, com base nas noções de “estético” como “deslocamento do desejo” de Spivak (2012). Reforça a necessidade de uma pedagogia transformadora e plural e o papel da educação estética como ferramenta de desmantelo de hábitos de enraizados, a fim de construir uma prática de aprendizagem intercultural.

Para as coeditoras deste volume, Ideologías en traducción: literatura, didáctica, cultura “oferece sólidas propostas de estudo e possíveis vertentes de investigação” (p. 17) para pesquisadores futuros. Conforme afirmam, o conteúdo do livro passou por “rigorosa revisão a fim de cumprir com as mais altas normas disciplinares” (p. 18). No entanto, cabe ressaltar que, apesar da premissa comum e inicial de que todo sujeito é um ser ideológico e que a tradução é permeada ideologicamente em seu processo e resultado, nem todos os textos dedicam à ideologia o mesmo grau de relevância dão à tradução. Embora os artigos de Iwona Kasperska e de María Reimóndez Meilán se destaquem pelo forte embasamento teórico mencionando autores como Althusser, Teun A. van Dijk, Lefevere, Maria Tymoczko, Tahir-Gürçaglar, Arrojo, Mona Baker e Venuti, dentre tantos outros, os artigos de Carlos Dimeo Álvarez e Carmen Dolores Carrillo Juárez fazem breves suposições de possíveis motivações ideológicas, se atendo quase que exclusivamente à tradução. A impressão final é que um artigo complementa o outro, e que, no conjunto, o volume é bem equilibrado.

Material suplementar
Referências
Kasperska, Iwona; Villegas, Irlanda & Donés, Amaia M. Ideologías en traducción: literatura, didáctica, cultura. Frankfurt am Main: Peter Lang, 2016, 284 p.
Notas
Notas
1 Com as versões de Carlos Búa, Mª Pilar Fernández e Ignacio Juanes e a de Macià Riutort.
2 Tradução de Maila Lema Quintana.
3 Pseudônimo do francês Julien Viaud.
4 Versões de María Vinós e Pilar Cuder.
5 Escritor estadunidense-dominicano.
6 Traduções de Achy Obejas e Jerzy Kozłowski.
Autor notes

E-mail: razziakarine82@gmail.com

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