Adriana Lisboa é uma escritora brasileira nascida em 25 de abril de 1970. É autora de sete romances e também publicou poesia, contos, ensaios e livros infantis. As suas obras, originalmente escritos em português, foram traduzidas para mais de uma dúzia de idiomas e publicadas em importantes revistas literárias, demonstrando seu talento como escritora em diversos gêneros. Com um portfólio literário diversificado e a capacidade de cativar leitores de diferentes culturas e línguas, Adriana Lisboa é, sem dúvida, uma figura proeminente na literatura contemporânea brasileira. Seu trabalho continua a encantar e ressoar com um público global.
Aqui estão informações sobre alguns dos livros de poesia de Adriana Lisboa: O Vivo, publicado no Brasil em 2021 pela editora Relicário; Deriva, publicado no Brasil em 2019 pela editora Relicário; Equator (Poemas selecionados), publicado na Índia em 2019 pela editora Poetrywala; Pequena Música, publicado no Brasil em 2018 pela editora Iluminuras e Parte da Paisagem, publicado no Brasil em 2014 pela editora Iluminuras. Essas coleções de poesia oferecem uma visão do talento literário de Adriana Lisboa e abordam uma variedade de temas e estilos poéticos. A sua poesia reflete a sua habilidade em expressar emoções, pensamentos e observações de forma poética, e merece ser explorada por aqueles que apreciam a poesia contemporânea.
Selecionamos a coleção Parte da Paisagem (Lisboa, 2014) com projeto de tradução de português para chinês. Esta coleção é caracterizado por uma abordagem sensível e complexa. Seus poemas exploram a dualidade de experiências humanas, alternando entre momentos de recolhimento e exposição, concentração e dispersão. A poesia de Lisboa revela uma abertura inquieta que frequentemente culmina em um espanto diante do quase indizível, reconhecendo que as palavras são apenas resíduos daquilo que transcende a expressão. Aliás, os poemas dela são marcados por uma apreciação pela ambiguidade, explorando o conceito de “quase” em muitos aspetos da vida. O estilo de Lisboa explora o equilíbrio delicado entre corpo e alma, onde ambos estão à beira de cair, destacando a profundidade das experiências humanas.
Considerando a maestria na exploração de imagens vívidas e metáforas desta coleção, a tradução tem se esforçado em preservar o sentimento poético para capturar a complexidade da vida, do tempo e da memória, permitindo que os leitores chineses apreciem a profundidade e a beleza das palavras escolhidas por Adriana Lisboa. Na tradução de “peixe”, “túnel”, “nó”, “cartola” e outras imagens, a tradutora utiliza as mesmas imagens, porém reforçando a sua associação com as referências metafóricas posteriores que remetem a essas imagens, como “almas úmidas” para “peixe”, “vaga ideia de liberdade” para “túnel”, “arremate” para “nó”, “mágico” para “cartola”, a fim de recuperar as emoções e experiências abstratas que se projetam sobre esses objetos concretos do mundo físico (Badiou, 2004).
Por outro lado, os poemas intitulados “Papelaria União”, “Museu das Relações Desfeitas”, “Ermo” e “Blue Sunday” apresentam uma narrativa espaço-temporal passada em que se acontecem as memórias. A tradução desses poemas, em vez de ser apenas a transmissão de significado, trabalha mais a sua narrativa, aparentemente objetiva e afastada, por meio de “cadernos” (em “Papelaria União”), “fotos” (em “Museu das Relações Desfeitas”), “câmaras” (em “Blue Sunday”) ou “esse lugar” (em “Ermo”), numa tentativa de capturar os reais tons dos versos e revelar a sua estética poética na língua de chegada (Venuti, 2011; Sun, 2016). O processo de tradução envolve uma abordagem cuidadosa e sensível para preservar a essência poética da obra original de Adriana Lisboa ao traduzi-la para o chinês, buscando não apenas transmitir imagens, mas também preservar a atmosfera poética e as nuances específicas de cada poema, enriquecendo a experiência do leitor chinês ao explorar a obra de Adriana Lisboa.
ARTE DA PAISAGEM
Adriana Lisboa |
部分风景(巴西)阿黛丽安娜‧里斯本 |
| Tradução: Han Lili翻译: 韩丽丽 |
PESCARIAcom ClariceComo nas festas juninas da infânciaquando pescávamos peixes de papelna areia, e prêmios nos peixes:lançar-me isca à pescariado poemano poemamesmo que ele seja como a alma úmida do peixe vivoque a real pescaria desmente. | 垂钓— 与克拉丽斯为伴像童年六月间节日我们在沙滩上钓纸鱼鱼中有奖:我抛饵去钓诗诗是鱼湿漉的灵魂真实的垂钓矢口否认 |
FRESTAPense na poesiacomo o dedo cavando a fresta ondehá ainda uma pequena chance,algo semelhante à colher numa celade presídio investindo contrao chão de barro: um túnel,a vaga ideia de liberdade. | 罅缝琢磨诗如手指掰抠罅缝还有一丝渺小的机会如狱中以勺挖泥地一条隧道模糊的自由 |
PALAVRAEsqueça a palavra –ela não tem graça alguma,serve só para isto:acercar-se do silêncioe se resumir num ponto.Serve só enquanto testemunhada própria ineficiência.Esqueça:pense no nó do arremateantes que a linha se corte,use da palavra apenasseu grau de sugestão de vida(mesmo sendo ela o índice de sua própria morte). | 话语忘掉话语吧她有什么好处只会在沉默下畏缩一隅只会目睹自身的软弱无力忘掉吧:断绳前想下死结只用话语给生命建议(哪怕是自我死亡索引) |
PAPELARIA UNIÃOEra onde eu comprava os meus cadernos.O centro da cidade era o nosso quintal.Você fotografava os gatos eos cartazes nos postes de luz da Cinelândia.Havia em nós uma modéstiaquase arriscada, quaseimodesta. De muito poucodependia a nossa sobrevivência: tempo,música, filmes. Ruas de paralelepípedos.Por sugestão sua,eu comprava os meus cadernosna Papelaria União. Anotavaali nosso futuro em versosverdes, duma confiança irrefletida.Não notava a prudênciaclarividente das folhas já amareladas,de outono, de antemão. | 联合文具店我在这里买过本子市中心-我们曾经的后院你给猫拍过照也拍过电影院灯柱上的海报我们曾经谦卑些许不羁放纵我们的生存,微乎其微:时间、音乐、电影碎石街道听你的建议我在这里买下本子以不假思索的信心书写我们的未来句句清新从没留意到,那些已泛黄的内页曾经沧海的谨慎 |
MUSEU DAS RELAÇÕES DESFEITASDa primeira ficou uma foto rasgada ao meioe a letra da balada de rock,pingando açúcar e drama.Mais tarde foram os livros estúpidosque compramos juntos e nunca lemos,nem juntos, nem separados.Poderia mandar tudo issoao Museu das Relações Desfeitas, em Zagreb,e também o telefone roído pelo cachorro,a flauta, a Missa de Stravinsky, essas bagatelasde confessionário (teve gente mandandoalgemas de pelúcia, um cavalinho de cristale até um anão de jardim). Poderia mandaro inferno ao museu, e as dedicatórias escritasnos livros de outras pessoas.Só não há como meter num frascoeste par de mãos frias, não há como registrarno correio, rumo a Zagreb, o nó cegoem que você torceu a minha garganta – este nóde marinheiro, este amor expatriadoa milhas de qualquer porto seguro,digno demaispara se apaziguar em acervo de museu. | 爱情不果博物馆第一件是撕成两半的照片和摇滚民谣歌词点滴的甜美往事然后是我们一起买的从未一起读过、也未独自读过的愚蠢的书本可以把一切都寄往萨格勒布的爱情不果博物馆也寄去被狗咬过的手机、长笛斯特拉文斯基的弥撒曲和那些忏悔者的琐物 (有人寄过毛茸手铐、水晶马甚至一只侏儒哥布尔)本可以把愁苦寄去博物馆也寄去在别人书本上写的献词但是没有办法把这双冰冷的手放入罐子没有办法在邮局登记寄往萨格勒布你拧在我喉咙上的死结儿—一个水手结儿一份已被遣返的爱情远离任何一个避风港还没尊贵到能够在博物馆香消玉陨 |
BLUE SUNDAYNão me lembro se foi on a blue Sunday,como cantava Jim Morrison em nossos ouvidos.Nem sei quantos atalhos tomamos, depois –o herói de Truffaut é hoje um cara sério,e nós, que o conhecemosda época dos nossos quatre cents coups,das nossas tardes sem nenhuma urgênciadebruçados sobre o Rio, em meio aos turistas,envelhecemos também. Sei que não disparamos alarmes por nós: não somos nem mesmovaga ameaça. Mas nesse oco mal vedadoque ficou, sigo mendicante,e carrego meias-luas sob os olhosenquanto aguardo os tempos mais brandosanunciados na canção. | 蓝调星期天记不清是否在一个蓝调星期天吉姆‧莫里森在我们耳边轻唱不知道我们走了多少快捷方式— 然后:特吕弗的男主角今天一脸严肃对他的认识是透过四百个特写镜头在慵懒的午后我们俯视里约跟随周围的游客一起老去我知道没人注意我们的警告:我们甚至构不成模糊的威胁但在特吕弗主角的虚无时空我卑微随行不休不眠同时守候最缓慢的时光在歌声中回放 |
A NOSSA OUTRA CHANCEA nossa outra chancemora na cartola de um mágicoempenhado em entreter ascriancinhas (os adultos já deixaramde afiançá-lo há muito).O mágico saca alvíssimas pombasque adejam essa paz por nós nuncaselada – e são pombas de verdade, nãobichos torturados e quebradiços.Saca dez cores amarradas em lençose mais dez, e outras dez, e continuariapelo tempo que lhe confiassem.No país que há dentro da cartola,essa nação de coisas honestase sem astúcia, tão certas de trazersentido a um mundo que já não faz nenhum,mora a nossa outra chance.Ali está ela, entre coelhose fogos de artifício:a minha mão de novona tua mão. | 我们的另一个机会我们的另一个机会住在魔术师的帽子里努力娱乐小孩的魔术师(成人早已不相信魔术)变出洁白的鸽子扑向和平我们从未实现的和平 —鸽子是真实的不是被折磨过、脆弱的生命魔术师变出十条绑在一起的各色手帕又变出十条,然后又是十条在被信任的时间中他继续游刃他的帽子里有一个国度一切是诚实的没有欺诈,确定要把意义带给一个已经没有意义的世界我们的另一个机会就住在兔子和烟花中间:我的手重新在你手中 |
ERMOVocê se lembra desse lugarcomo se fosse ontem. O pesadelo desse lugar.Seu corpo encolhido no próprio excesso,brotando inábil dos seus péscomo um pinheiro num penhasco:a última coisa verde admitida pelaaltitude, pelo frio, pela rarefação do ar.Seiva estranha à pedra – o quedeu na semente para tomar este rumo? O quedeu nela para nascer justo aqui, nesteermo sem jardineiros nem alcalóides?Neste inferno sem topiaria? | 荒野你记起那个地方如昨日再现:噩梦之地你臃肿的身躯已萎缩脚长出愚钝 像悬崖处一棵松树:海拔、寒冷以及稀薄的空气承认的最后的绿让岩石陌生的力量—种子从何而来?又是什么让种子在没有园丁没有生物碱的荒野不经修剪的地狱生根发芽? |
Referências
Badiou, Alain. “Language, thought, poetry”. In: Brassier, Ray & Toscano, Alberto (Eds.). Theoretical Writings. Londres: Continuum. 2004. p. 233-241.
Lisboa, Adriana. Parte da paisagem. São Paulo: Iluminuras, 2014.
Sun, Jingyi. “Cultural Image Compensation in Poem Translation from the Perspective of Gestalt Theory”. Cross-Cultural Communication, 12(9), p. 19-22, 2016.
Venuti, Lawrence. “Introduction: Poetry and Translation”. Translation Studies, 4(2), p. 127-132, 2011. DOI: https://doi.org/10.1080/14781700.2011.560014
Autor notes
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